Moody: Uma História a ser conhecida escrita por Emanuel Antunes


Capítulo 11
Paris en colère


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas aqui está, o encontro que aguardamos por anos, sim, desde 2013. Moody encara seu adversário e tudo pode acontecer. Espero que gostem e semana que vem teremos mais (Se tudo der certo, é claro). :D



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Et Paris se met en colère
Et Paris commence à gronder
Et le lendemain, c'est la guerre.
Paris se réveille
Et il ouvre ses prisons

Canção: Paris En Colère - Interprete: Mireille Mathieu (1990)

O grupo admirava aquela fachada que, mesmo sem desejar, já encara diversas rebeliões e conflitos. Fora ali, bem defronte, que Hugo transformara sua medonha e singela criatura em rei de toda Paris. Seria aquela fachada a responsável por dar boas-vindas às dezenas de bruxos que aguardavam o sinal para começarem a agir.

Thaise Saunière segurava a varinha como quem empunha uma espada, cada trecho de seu braço latejava, gritava, por medo ou por raiva. Ela tentava tornar o segundo sentimento algo mais forte. Algo que pudesse lhe oferecer todas as forças para despertar a bruxa que nunca fora. Presa à responsabilidade, ela recordara o que há muito se havia perdido, deixou transcorrer em sua mente, lembranças, das melhores às piores. Nesse torpor de recordações ela pode captar um cachorro atravessando sua linha de visão. O sol bateu no corpo do animal e ela pode perceber que não era ele. Mas, como que um enviado da providência, aquele cachorro mergulhou na imensidão de suas memórias e reatou laços, causou calafrios na nuca da mulher e assim, sem que pudesse evitar, sua atenção já estava totalmente fixada no passado, no seu dilacerante passado.

Os corredores de Hogwarts estavam para Thaise e Octavius como Versalles estaria para Maria Antonieta. O casal corria na surdina, usava de encosto aquelas paredes centenárias, despiam-se à sombra de gárgulas. Fora três longos anos, curtos na mente dos apaixonados, de trocas de olhares, de beijos que se despediam porque eram obrigados, de um sentimento que no fim tornou-se concreto. Quem disse que o amor é abstrato? Mas a calmaria tem suas certezas, e nessas sabemos que tal precede os desafios.

Nas veias de Thaise transcorria o sangue de uma Saunière, de uma descendente de um dos mais altos escalões mágicos. Nas de Octavius o nome Bagshot era refletido em diversas dimensões. Ambos tinham seus destino traçados, todas as vertentes desaguavam na Ordo Lumen e fora nela que mais de um romance findou.

Dois meses após a conclusão de seus ensinos em Hogwarts, Thaise e Octavius deixaram de lado suas vidas públicas. A garota abandonou sua carreira promissora no Quadribol e o garoto fez questão de errar todas as questões do NIEMs, mesmo quando tinha certeza da resposta de todas. Entraram assim no ciclo de treinamento dos aspirantes da Ordem. O pré-requisito era simples: Descartar qualquer indicio de suas vidas e dedicar cinco anos nas diversas bases de treinamento espalhadas nos continentes. Da psique ao reflexo, da habilidade física à mental. Cinco anos reservados graças à uma linhagem. Eis que a Sonserina e o Lufano agora eram membros da hierarquia, respondiam ordens sem questionar e lutavam por um ideal. Mas as coisas desandam e em meio aos projetos da Instituição o que um dia fora conto de fadas, tornou-se crônica realista.

August Bagshot assumiu a liderança da Instituição e jogou à mesa centenas de projetos. Um dos, a Operação Valquiria. Seria esse um plano arriscado, obscuro até, mas ele desejava emplacar tal sobrenome no panteão da Ordo. Meses de estudo, horas de pesquisas minuciosas e foi posto à prova. Cem bruxos, novatos na instituição, recém-formados, com pouco mais de vinte anos, mergulharam de cabeça no acontecimento. A Operação Valquiria consistia na formação de um exército não tão comum. Os planos de August convergiam a um só ponto. A construção de uma legião de Animagos.

Cinquenta câmaras de transfiguração foram construídas, cada qual com seus operadores, seria uma mudança em massa, após duas remessas ali estaria, cães, águias, serpentes, homens e mulheres transformados em instantes. Duplas identidades para uma centena.

Após checagens e apertos de mão, cinqüenta bruxos perfilaram-se lado a lado, entre eles Thaise e Octavius. O processo duraria entre dez a vinte minutos. Fora esse o tempo necessário para que a sede da Ordem fosse atacada e um dos projetos mais arriscados desde a tática sanguinária mergulha-se em um torpor de águas. A transfiguração de alguns concluí-se, já a de outros estaciono em suas respectivas metades. Thaise naquele momento era mulher e corvo. Octavius não passava de um vira-lata e nada além disso. Perdera seu corpo humano, mas não a humanidade.

Após o ataque surpresa, e a vitória breve da Ordo Lumen sobre os invasores, todos os transformados, não transfigurados, ficaram sem rumo, sem seus braços e pernas humanas, sem suas famílias, não passavam de um mini circo, onde leões, raposas entre outros animais vagavam sem sentido ou rota para seguir. Octavius, criado para aquilo e somente aquilo resolveu ficar ao lado do pai. Permanecer ali, como membro da instituição, aprisionado a um corpo canino. O jovem tomou para si missões que nunca foram dadas, usou de sua desvantagem como ponto crucial para acertos. Deixou Thaise como quem deixa um brinquedo antigo. Por ironia, sem nem se quer um latido. Eles não se viam desde sua partida para o extremo do país, para ficar ao lado de uma criança, de duas ou mais. Para ser um co-protetor. Para ser o Tintim ou Ripchip. Não importa quantos nomes ganhasse, ele sempre seria seu Octavius.

Uma lasca da varinha soltara e saltara para os degraus. Thaise notara que a força que colocava há alguns instantes tinha multiplicado, se não relaxasse perderia sua arma. Ao focar na porta central da Catedral, ela procurou dissipar as lembranças e elas se foram, por um momento. Por um milésimo de segundo.

Um trotar de cascos, uma nuvem de asas batendo sincronizadamente. Assim que olhara para trás pudera ver uma deformação no horizonte. Onde antes existiam fachadas antigas, agora era invadido por seres. Animais. Animagos.

Na frente do pelotão um leopardo corria desgovernadamente, deixando as presas à mostra. Na Companhia ainda podia-se ver rinocerontes, onças, ratos, uma diversidade imensa de seres. Todo o grupo de homens e mulheres virou-se para admirar aquilo. Thaise escutou a voz de August Bagshot afirmar em sua mente: Não devemos chamar atenção. Se aquilo não era chamar atenção, o que era?

Seu olhar partiu para o céu, que era invadido por corvos, gaviões, águias e sim, ela não conseguia acreditar, não se lembrava de algo como aquilo, não em sua sessão de transfiguração. Um animal, imenso, que ocuparia toda a praça se inventa-se de pousar, sobrevoava, dava voltas no ar, deixava os presentes boquiabertos, deslumbrante como nenhum outro. Ela estancou por instantes, deixando de lado piruetas ou outras manobras, apenas moveu as asas sincronizadamente, aqueles olhos perfuraram Thaise e qualquer outro ali. Duas fornalhas bailavam no céu de Paris. Até que ele mirou o chão. O dragão fincara suas estrondosas patas no granito e conseguira, nem que por alguns segundos, parar o tempo.

– Puta que pariu! – escapou dos lábios da mulher.

. . .

Alguém mexia na maçaneta pelo lado de fora. Uma multidão cochichava, ele conseguiu escutar. Até que...

– Consegui! – Uma mulher surgiu sob o arco logo assim que a porta foi aberta. Atrás dela um grupo com cerca de vinte pessoas apontavam para o fundo da sala. Marco observou aquilo tudo com uma desconfiança tremenda. – Sim, essa é a mais famosa obra de Delacroix, os guiarei até a liberdade! – A mulher ergueu sua caneta como se fosse uma bandeira, imitando, ou ao menos, tentando imitar a posição da Mariane no quadro que estava às costas do garoto. A mulher não tinha enxergado ele ali, só conseguira notar a presença de alguém na sala quando pediu para que os serviçais abrissem as cortinas. Os turistas admiravam, enquanto a mulher disparava um olhar severo para Marco. Ela aparentava ter dezenove anos, ou algo nesta faixa.

– Desculpe-me, mas esse horário é meu! – Marco levantou e deixou que suas sobrancelhas falassem. – Sim, reservei há duas semanas. Arrume outro grupo! Não é fácil ser guia aqui, meu querido... – E ele a deixou ali, esbravejando e disparou para fora da sala. Atravessou o grupo que absorto à beleza de uma obra não notou sua presença.

Marco não sabia bem o que estava para fazer, mas o faria. Não seria aquele que esperou horas e horas atrás de paredes bem protegidas, não aguardaria uma batalha como quem espera a chegada de uma visita. O garoto, ao chegar no corredor que dava acesso à uma das saídas do Louvre, disparou. Correu como se o mundo estivesse prestes a acabar. O porteiro ainda gritara algo, ele não fez questão de ouvir. A roupa ainda continha odores que ele nunca imaginou conhecer. Odores que ele não sabia que um dia produziria. Após alguns segundos a galope, ele pausou. A gigantesca pirâmide de duas faces lhe encarava, lhe instigava. Ali, admirando seu reflexo, ele percebeu, não só a pirâmide mas outras pessoas lhe observavam. Homens e mulheres, vestidos de um branco impecável. Uma jovem, aparentemente da idade do garoto caminhava em sua direção. Cabelos negros, olhos mais profundos ainda. Suas vestes eram simples mas incrivelmente elegantes, sua calça branca justa fez com que os pensamentos do garoto tomasse outras vias. A capa da mesma cor dançava no ritmo do vento. Ela estendeu a mão direita para ele. Marco recuou. Um, dois, três passos. Ao chegar no quarto, ele vira, que enquanto a expressão serena da garota tentava lhe reproduzir um ar acolhedor, sua mão esquerda perdia-se no amontoado da capa. Até que ela retirou uma varinha. Marco não hesitou. Em um ritmo mais acelerado, ele voltou para o prédio. Seus pés pareciam não tocar o chão. Os homens que antes apenas lhe observavam, agora pareciam estar cada vez mais próximos, e eles estavam. A garota não gritava, não expressava reação alguma, apenas corria e apontava o objeto recém-chegado para Marco. E ela disparou.

Jatos de luz de um tom de azul aterrorizante passavam por centímetros da orelha de Marco, mas ele não cessava. Seu peito doía, a asma dava o ar de sua graça no momento mais inoportuno. A boca começou a secar e sua língua teimava em escapar. Ao chegar no arco de entrada do Louvre, ele foi impedido. Uma forma fantasmagórica bloqueava a passagem. Ele reconheceu ao bater os olhos e montara Tyron com a destreza que sempre tivera. O cavalo-alado disparou para os céus, os bruxos vestidos de branco lá embaixo ainda tentaram feitiços, mas nenhum atingiu o animal, que ao realizar manobras inusitadas, desviou de todos. Marco agarrara-se no pescoço do animal tomando todo o cuidado para não puxar sua crina e assim eles tomaram altura, até que Paris parecia um imenso tabuleiro e a asma do garoto lhe dava uma folga temporária. Os pensamentos de Marco pareciam conectados aos de Tyron, pois ao atingir tal ponto nas nuvens, o cavalo começou a perder altitude, não voltava para o lugar de origem, mas sim direcionava seu focinho para o norte, mais rápido e mais agressivo. Marco não precisara dizer o caminho. O ar socava o rosto do garoto, o cavalo bradava suas asas e eles voavam desgovernadamente para Notre Dame.

. . .

7 HORAS ANTES

– Obrigado, Amélie. - afirmou tal, fazendo uma reverência casual para o nada, pois nada existia na sua frente. - Vamos à brincadeira, mon amour! - falou ironicamente, entre um sorriso maquiavélico, com a tesoura bailando em suas mãos.

Sobre suas cabeças, a abobada monumental da Catedral, como fundo para tal evento as colunas de puro mármore. Ele pousou a tesoura sobre uma pequena mesa e mirou a garota. O rosto de Rebecca começava a fugir de sua originalidade, as maçãs que um dia explodiam em um escarlate convidativo, agora eram imensas marcas arroxeadas. Os glóbulos se escondiam por entre aquelas elevações precipitadas. Ele não estava satisfeito.

Com um movimento rápido, com a mão limpa, ele acertou novamente a face esquerda da garota. Ela guinchou. Um grito aterrorizador, que atravessaria qualquer que fosse a alma. Mas não aquela. Da boca de Rebecca o sangue escorria, como um rio que desesperadamente tenta encontrar o mar, ali o mar não aparecia, nunca. O delta era inalcançável e as forças já tinham se esvaído há muito. Sem animo algum para fechar a boca, ela deixou que escorresse, o líquido ensopava o vestido azul, lotado de fuligem e ainda com cheiro de álcool. O ser voltou para a mesa. Ele tateava nas sombras como uma aranha que percorre suas teias na espera de um mal avisado que ali se perdera.

– Do começo! – disse com aquela voz aguda que Rebecca nunca conhecera mas acreditava ter uma relação mais forte do que qualquer outra. Ele deixava escapar diversos tons, hora era agudo demais, hora era um trovão ao atingir o solo. O demônio de muitas faces, ela já o denominara em sua mente. Só aquilo funcionava em seu corpo, aquilo e sua sensibilidade, pois a cada soco no estômago, a cada chute em seu rosto, o sistema disparava, a dor corria para seu cérebro e aquele grito lancinante, sem aviso ou prévia, era vomitado.

Becca fechou os olhos ao ver que Ele caminhava com a tesoura. Bailava ao seu redor. Cortejava-a.

Quando abrira, após alguns poucos segundos, focara no chão e foi nele que vira as primeiras de muitas. Mechas de cabelo vermelho vivo pousavam no chão escorregadio. Indecisas, dançavam no ar, obrigadas por uma senhora chamada gravidade, atingiam o chão. Ela não acreditava, mas também não duvidava, seu corpo já não lhe pertencia. Sua mente estava ali, pronta para reagir, mas os braços e pernas não obedeciam aos comandos. Mecha por mecha, nenhuma mais existia, sua cabeça tornou-se um emaranhado de vestígios. Nenhuma lágrima escorreu.

– Gostou do novo penteado, Becca linda? – falou com o sorriso mais sádico que já vira em toda sua vida. – Pois bem, vamos melhorar isso.

O homem tirara de suas vestes não a varinha, como esperava Rebecca, mas uma lâmina que cintilava ao receber a luz dos archotes.

– Ui! – gargalhou ao saltos o homem. Ele retirou sua capa e a jogou para longe. Moveu as mangas e retornou para a cabeça da garota.

Ao primeiro toque da lâmina, sem suporte algum, sem auxílio nenhum para que deslizasse, ela urrou. Gritou sem receio e ele, ao observar toda aquela cena, segurava a nuca de Rebecca com toda a força que já tivera. A lâmina rasgava o couro cabeludo como uma faca afiada faz ao tocar um bife, traçava rotas na cabeça da menina. Ela gritava, e aos gritos o sangue era captado por sua boca. Um chafariz brotava a cada corte, ele ainda não estava satisfeito.

– Mais, quero mais! – gritou mais alto que a menina. E enquanto ela se desesperava, esbugalhava os olhos a cada choque de dor, ele virou-se, ficou ali, bem a sua frente, encarando-a.

– AHHHHHH! – Rebecca não agüentava, Não, ela não agüentava.

– AHHHHH! – Acompanhava ele. No mesmo tom, mas não na mesma dor. Ele sentia prazer, todo o prazer do mundo. – Grite, sua vagabunda. GRITE!

O psicopata voltou à mesa, deixou a garota aos gritos e quando retornara já portava a tesoura novamente.

– Não! Não! – Ela não sabia o que de pior seria feito, não tinha o que ser pior que aquilo. Cada pontada, cada corte em sua cabeça, cada hematoma, cada pedido de socorro, tudo aquilo se reunia para por em prova seu último momento de desespero. – NÃO!
– Ah, sim. – Ele agachou-se, tocando nas cordas que atavam Rebecca à cadeira. – Olhe para mim. – Ela não olhou. Ele a fez olhar. – Ótimo. – As mãos frias do jovem tremiam, eles se encararam e Rebecca pode enfim reconhecer seus olhos, sua feição, o terror que ainda lhe esperava. – Shi... sem choro. – Ela soluçava, mas foi pausando, temia o que poderia acontecer se continuasse. – Boa garota. – Ele segurou as mãos tremulas de Becca com a sua esquerda. – Não vai doer nadica de nada. – Disse ele sorrindo, ao aproximar a tesoura da mão direita da garota. Em segundos, o dedo mindinho de Rebecca despencava e acertava a cerâmica antiga.

. . .

Os vitrais convidavam a luz do dia para residir na catedral. No peito de Alastor uma orquestra inteira reproduzia o mais agonizante som. A varinha tremia em sua mão, seu corpo era dividido entre ódio e medo, nesse misto de sentimentos ele caminhava, seguindo o grupo que sussurrava. Os bruxos apontavam suas armas para o nada, pois assim que adentraram na igreja chocaram-se com um imenso paredão, incrustado nele imagens de santos e arcanjos, Moody sabia seus nomes decorados, foi obrigado por sua mãe. “Temos que fazer nosso papel de trouxa fielmente”, dizia Elizabeth com todo seu ar autoritário. Uma fisgada em sua mente, um precipício, nele se encontrava sua mãe e seu pai. Bailando, prestes a cair nele, Brian e Rebecca. A incerteza era o que mais lhe incomodava, deixava seu corpo gélido por dentro mas ateando fogo por fora. Temia encontrar as únicas pessoas que lhe restava sem vida, sem forças para continuar a lutar. E pior do que tudo isso, aquela dúvida incrustada em sua mente graças à Thaise ainda ecoava. Seria tudo aquilo uma farsa, teria sido enganado por anos e anos? Ele descobriria em breve.

– Por aqui! – falou Batilda. Todos a seguiram. Eles viraram à direita e deixaram para trás o afresco para encontrar uma imensidão, formada por colunas e espaços vazios, lotada de silêncio e desconfiança.

– Parem. – alertou um homem bem a frente de Moody. Ele tomou a liderança do grupo, deixando Batilda e os outros para trás. Tomou uma distância de dois metros e ficou ali, paralisado, observando o vazio. O homem deu as costas para a Basílica escura e tentou pronunciar algo. – Temos comp... – Um estampido. Um tiro vindo do nada, que ecoara para todas as direções, e em segundos o senhor encontrava-se estirado, espirrando sangue, com os olhos abertos, avisando que eles não estavam sozinhos. O grupo, como búfalos em debandada correram para o afresco que já tinham abandonado. Homens e mulheres, que pareciam há alguns instantes estarem mais que preparados abandonaram o posto desesperados e rumaram para trás do mural. Moody acompanhara o mais rápido que pode todos eles. Corria como se fosse a última vez que faria aquilo.

– No três! – gritou Batilda. E todos retribuíram a frase com gestos, seja lá balançando a cabeça ou colocando suas varinhas em posição de duelo. Os quase cem bruxos estavam agachados, esperando o momento certo, enquanto disparos e mais disparos eram realizados. Mais um, e mais um, até que o silêncio voltou a imperar. – Três! – disse a senhora que correu para o que Moody imaginava ser o fim de suas vidas. Ele não hesitou, acompanhou aquela enxurrada de bruxos e disparou gritando. Não conseguia ver nada ao certo quando alcançara a avenida da Catedral, só enxergava os feitiços sendo disparados, mas nenhum voltava, nenhum era rebatido contra o grupo.

– Avada Kedavra! – amaldiçoou uma mulher. Ela estava ao lado de Frederick e ele pode sentir a raiva em sua voz. O jato de luz verde correu toda a catedral, passou por centímetros de uma cabeça amiga, reluziu em um rosto que ele conhecia muito bem e acertou a porta central do lugar. Moody vira, em segundos, o rosto de Rebecca. Não era aquele que conhecera quando criança, era bem mais a expressão da morte do que da garota que amava. Mas ele reconheceu e não demorara para suplicar.

– Parem! – gritava. – Parem! – E quando eles viram que não acertavam nada, pararam.

Batilda foi a única que bradou a varinha, mas para realizar um simples e magistral feitiço. Com o balançar do instrumento ela conseguiu atear fogo em todos os archotes e quando a luz invadiu de vez a Catedral, Moody pode perceber o porque da escuridão. Cortinas foram colocadas em cada vitral, em cada espaço onde o sol poderia invadir o lugar e no meio de tudo aquilo ali só três coisas podiam ser visíveis. Dois corpos no chão, que vestiam uniformes de oficiais trouxas e um, ainda vivo, preso à uma cadeira. Seu rosto estava transfigurado, seus cabelos não existiam, mas sua voz soou, fraca, clemente, mas com um rastro de força.

– Vovó... – disse Rebecca, ao longe, esticando o braço. Moody observava toda aquela cena e viu Batilda correr em direção a neta, mas também percebeu que ali tinha algo a mais e sem aviso, uma sombra revelou-se por trás da garota. Batilda estancou e Moody foi em direção à velha. Todo o grupo, que ainda estava em alerta, apontou suas varinhas para aquele espectro. Ele tomou a frente e disparou:

– Bem vindos, meus amigos! – Após sua última palavra estrondos e mais estrondos tomaram conta da atmosfera. Os três portões de entrada de Notre Dame pendiam, chocavam-se brutalmente com o mármore e animais e mais animais invadiam o recinto, junto a eles bruxos com sangue respingando pelos olhos. A nave central também cedera e Moody necessitou correr, assim como outras pessoas, para as laterais da Catedral para não serem atingidos por todo aquele concreto que despencava. Dezenas de vassouras adentraram, vindas de um céu que parecia escarlate, mas Alastor notara o porque daquele vermelhidão assim que um dragão também invadira o local, montado em seu dorso, Thaise Sauniere xingava os deuses.

Uma legião cercava aquela sombra, aquele enigma que Alastor desejava por tudo que é mais sagrado ou profano revelar. Todos observavam, absolutamente todos. Os animais pararam de grunhir, os bruxos não diziam uma só palavra. Até que o homem sobre a capa desfez o véu, deixou que a luz tomasse conta de seu rosto e assim jogou os segredos para os ares.

– Você? – perguntou aos soluços, Moody. E antes que o oponente pudesse responder, um cavalo alado invadiu Notre Dame, rasgou o espaço e voou em direção ao bruxo que naquele momento não tinha para onde ir. Todos pensaram que ele iria chocar-se com o homem, mas o jovem que o montava fez o inesperado. Retirou um canivete de sua vestes e ao se aproximar da refém Rebecca, cortou as cordas que a prendiam à cadeira e com uma força invejável, a puxou para o dorso do cavalo. A garota apenas balbuciou algumas palavras que ninguém ali conseguiu compreender e o animal fez a volta, mirando o outro extremo do lugar.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não gostaram muito? Comentem o que estiver ruim, o que pode ficar bem melhor e se quiserem, o que está ótimo. Muito obrigado pela leitura e até o próximo cap. :)



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