Moody: Uma História a ser conhecida escrita por Emanuel Antunes


Capítulo 10
Hymne à la guerre - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

E Moody voltou. Agradeço imensamente à Amanda Souza que por ler a história em poucos dias me impulsionou a continuar escrevendo (Estão vendo? Sejam como a Amanda, leiam, comentem, apareçam, bruxos). Enfim, espero que o capítulo não decepcione (Não vai, eu creio que não) e nos vemos daqui a uma semana com o capítulo 11.



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Anos atrás.

– Sabe, Rebecca, deveríamos mudar nossos nomes. - falou o garoto. Seus nove anos estampados na testa branca. O cabelo loiro escorrendo em cascata por sobre os ombros. Frederick alisava a cabeça de Tintim.

– Eu gosto do meu! Re-be-cca. - Soletrou a menina, ao mesmo tempo que desenhava letras inexistentes no ar. A gruta, úmida e acolhedora, tornava o plano de fundo ainda mais obscuro. As crianças estavam deitadas, entre os dois um cachorro imóvel, dormia o pequeno e velho Tintim. - Qual nome você escolheria?

– Não sei. Achei um livro antigo, em minha casa. Acho que deveria ser dos moradores, sabe, os donos da mansão. - Rebecca balançou a cabeça e tentou não fazer contato visual com Freddy. - Tava escrito: "Pertence à Batilda."

Da ponta do dedo do pé ao seu fio de cabelo vermelho, Becca arrepiou-se. "Não comente nada idiota" "Você escutou o que a vovó falou!"

– Você quer mudar seu nome para Bat... Bat o quê? - questionou a menina. Para ela, naquele instante, fora uma jogada digna de mestres do disfarce. Sentiu-se um soldado inglês acertando um tiro em qualquer nazista.

– Batilda!- bradou o menino. - E claro que não. Foi um nome que vi nesse livro. Frank... - tentou lembrar. - Frankenstein! Frankenstein Shelley!

Becca sorriu.

– Não tem nada de Shelley ai. Shelley é o nome da escritora, eu já vi esse livro, bobo. Não é um com a capa vermelho escu... - Ela parou o raciocínio.

– É vermelho mesmo. Como você sabe? - Becca tateou o chão da caverna, tomou impulso e levantou.

– As edições são as mesmas, Freddy. Ganhei de presente ano passado. – falou sem encarar o garoto.

– Pois bem, meu nome será Frankenstein! – bradou em triunfo e após segundos soltou uma risada, Becca acompanhou-o.

– Acho Frankenstein um nome não apropriado. Porque você não escolhe Moody? – sugeriu a menina, Frederick avaliou a proposta e em instantes já tinha concordado em mudar seu nome para Moody, com dois o’s como disse Rebecca.

–De onde você tirou esse nome? – A gruta marcava o tempo com as gotículas que pendiam do teto até aterrissarem no chão escorregadio.

– Achei em um livro também... O nome do personagem era Moody, Alastor Moody.

Naquela tarde Frederick ficou encantado com seu novo nome, repetiu tal mais de duzentas vezes no caminho de volta para casa. Enquanto driblava as árvores que se estendiam até alturas nunca pensadas por ele, as palavras “Alastor” e “Moody” disparavam de sua boca segundo após segundo.

“Agora sou Alastor Moody, Tintim. Moody” disse ao cachorro.

Não sabia a criança que a quilômetros de distância, em uma cidade banhada pelo mediterrâneo, encontrava-se o livro que originara seu novo nome. Grosso e empoeirado, o dono de segredos, o causador de mortes, o livro que atravessara gerações, adormecia sob a terra, sob as cerâmicas antigas, sob o piso franco. No interior do livro, seu primeiro autor assinara com tinta negra e letras finas: “Alastor Moody, o fundador”.

. . .

– Anna, você comanda o grupo ibérico. – Gritou August Bagshot sobre a mesa que há algumas horas presenciará uma reunião mais que movimentada. – Frederick, fique com Batilda. E Batilda, o grupo da Europa, é seu, tirando os... Ranieri... – A mulher balançara a cabeça positivamente. As pessoas se separavam e se juntavam aos poucos. Homens e mulheres se reunindo em pontos estratégicos do salão. – Ranieri, itálicos e germânicos.

– Ele sabe o que está fazendo? – perguntou Thaise para Anna.

– De geografia ele deve entender pouco, mas quem manda aqui somos nós? Niem, então se mova antes que ele te deixe no comando dos americanos.

– Thaise, venha aqui, por favor! – convocou o líder Bagshot. – Preciso que você seja a cabeça dos latinos e norte-americanos. Você ainda consegue falar em espanhol, certo?

– Certo! – O semblante de Thaise caiu por terra. Dividir espaço com aqueles não civilizados já era muito para sua visão eurocentrista, agora lutar ombro a ombro... Mas após pensar melhor, concluíra que seria melhor tê-los por perto, alguém teria que morrer em uma eventual batalha.

– Pois bem. Asiáticos e Africanos, por favor, na ponta da mesa, vocês irão comigo.

Moody não conseguia associar. Tentava trocar olhares com Batilda, ela deveria ter alguma resposta. Após todo o relato de Marcel, o garçom, sua visão estava embaçada, seus ouvidos não captavam som algum. Sua última fortaleza, Rebecca, despencara. No fundo da sala ele podia ver o olhar de Marco, inútil em toda a situação, um trouxa que de nada poderia servir quando o assunto pendia para o combate, o vai-e-vem de feitiços, a morte escapando da ponta de cada varinha ali presente. A morte encontrando a base de varinhas sabe-se lá quais.

– Temos informações concretas agora. Por favor, Kingsley, nos conte o que viu!

Um rapaz, com seus vinte e cinco anos, sobressaiu-se entre os diversos grupos já segregados no salão. Ele parecia uma cópia de August mas com algum cabelo, o rosto emanava seriedade e ao emitir uma primeira silaba, Moody pós sua atenção sobre ele.

– Eles estão em Notre Dame, com toda certeza. Estava há poucos minutos em frente à catedral. – O homem deixou cair sobre a mesa um acordeom e tirou a capa das costas. – Badaladas soaram e alguns policiais trouxas entraram no local. Provavelmente, de acordo com meus cálculos, não estão mais vivos.

– Agradecemos imensamente por seus serviços, Shacklebolt. – Falou August. Trocaram cordialidades gestualmente e o líder da Ordo deixou que sua voz ecoasse. – Não temos o que esperar, meus amigos. Primeiro destroem uma família, agora, levam um dos nossos. Não, não é hora para aguardar o que de pior irá acontecer. Vimos muita coisa, presenciamos homens chegarem à seus ápices e vimos também outros caindo em queda livre. – Todos os olhos corriam para August. – Nem que seja hoje o dia de nossas mortes, não temeremos. Carregamos um legado milenar, sustentamos um dos mais fortes pilares da magia. – Homens e mulheres já apertavam as bases de suas varinhas. Alastor sacara a sua. – Tenhamos algo para nos servir de conforto no dia de hoje. – Após uma pausa, após buscar em si a vontade para ir à guerra, ele declarou. – Mortos ou vivos, entraremos para história.

Assim, como se tivessem ensaiado por horas, todos, ao mesmo gritaram em uníssono: “Pugna” “Pugna” Pugna” e partiram , ordenadamente mas com sangue nos olhos, para fora do Louvre. Ao cruzar pelo arco, Moody esbarra com Marco que lhe estendera a mão. Um forte aperto selara que ali não existia mais rancor ou raiva.

– Vê se agiliza. O amistoso é às seis, e nenhuma batalha pode cruzar o caminho da seleção. – Alastor se despediu com um sorriso e não teria tanta certeza se conseguiria voltar para ver a Inglaterra entrar em campo. Não tinha certeza de nada. Corria em direção a uma morte rápida, não porque desejava ou fora preparado para aquilo, mas o sangue lhe obrigava. A paixão o fazia seguir. Brian e Rebecca, como conseguira perder duas pessoas em tão pouco tempo, depois de tudo que passara, a vida de Alastor era puxada cada vez mais pelo centro da terra e assim o que um dia habitara as nuvens, hoje despencava em direção a lava de um vulcão qualquer.

Homens e mulheres caminhavam lado a lado, divididos por suas raízes mas que no momento do combate se misturariam, falariam as línguas diversas, mas tudo ali conspirava para uma derrota rápida. Segundo os sussurros, o inimigo era bem maior, eles se preparavam há anos, estavam fechando o cerco em volta dos poucos trezentos membros da Ordo Lumen, e por ironia do destino, o tal cerco fechara no momento em que Frederick chegara. As vielas parisienses ainda despertavam, já suas avenidas transformavam o minúsculo exército da Ordem em algo bem menor. O descaramento dos bruxos não impedia que os trouxas que por eles cruzavam expelissem diversas reações. Uns atravessavam a avenida, outros mantinham certa distância. As capas arrastando, os cabelos não tão convencionais, era como se todos estivessem pintados de preto e branco, enquanto os bruxos fossem espantosos arco-íris desfilando por sobre os ladrilhos perfeitamente colocados. Por fim, ela aparecera. Altaneira entre os prédios da Île de la Cité , Notre Dame convocava quem quer que fosse. Exalava gritos, transpirava mistério.

A locomoção fora rápida. O Louvre não ficava distante da Catedral, se muito, três quadras até a Ilha. E ali, encarando a ponte Neuf, o grupo parou. August chamou os líderes de cada setor e os deu ordens claras.

Batilda voltou para o mais numeroso grupo com avisos.

– Vamos nos dividir. Não por conta das etnias ou coisa do tipo, mas isso facilitou. – Falou a mulher enquanto todos a circundavam. – O plano original é cercarmos a catedral. Não podemos atravessar a ilha como fizemos até agora, trouxeram suas vassouras?

Entre cinquenta membros, mais da metade respondeu que sim. Concordaram em formar duplas.

– Tentaremos atingir uma altura razoável para não sermos vistos. Sob nós teremos o Palácio da Justiça, uma delegacia e alguns outros estabelecimentos. Se alguém cair, não podemos voltar para buscar seus corpos. Os outros grupos farão o mesmo. Sobrevoaremos a Ilha e como ficamos responsáveis pela fachada leste, aterrissaremos na “Quai de l’Archevêché”, torçam para não ter movimento. Somos responsáveis por vasculhar todo o terreno atrás da Catedral, provavelmente esbarraremos com metade do exército deles, mas é para isso que estamos aqui. Sinto lhes-informar mas somos a isca.

. . .

Thaise travava uma batalha entre idiomas.

– Esperem, esperem! – falou em espanhol. – Adotaremos um sistema e fim, quem precisar falar em inglês, comunique-se comigo e eu passarei para todo o grupo. – ela repetiu essa frase em ambos os idiomas, até que algumas pessoas levantaram a mão, em sua conta mental, mais que dez.

– E quem fala português? – A bruxa não entendeu. A garota que falara tinha o cabelo longo, a pele morena e fez questão de se apresentar. – Meu nome é Isabel e sinto muito, mas somos do Brasil e o pouco que entendemos foi dito em espanhol.

– Mas que merda essa vadia... – xingou em francês.

– Mas lhe garanto, algumas palavras em francês eu conheço. – Disparou Isabel em francês claro. As garotas se entreolharam e viram que a solução estava longe de ser encontrada. – Acho melhor dividirmos ainda mais o grupo.

Após minutos tentando organizar as cem pessoas, Thaise passou as informações em latim, pois cada líder, de cada nacionalidade ali presente, tinha domínio da língua. Uma ideia de Isabel que funcionara.

– Entraremos pela fachada oeste. Infelizmente, como foi anunciado por August, não devemos ter pena de nenhum artefato no dia de hoje. Não podemos hesitar em destruir vitrais ou imagens ditas sagradas. Nosso grupo invadirá dividido em três, como já combinamos, o 1 entra pelo Portal da Virgem, à esquerda, o 2 tem como objetivo o Portal de Santa Ana, e o 3, o qual estou, entrará pelo central, o portal do Julgamento.

Todos se encararam e confirmaram mentalmente que nenhuma conversa deveria ser levada à tribuna. Guerra era o que os esperava.

...

Após o grupo ter se separado em terra, se encontraram no céu. Alastor ia de carona na vassoura de Batilda. A mulher, ao chegar no alto fez um sinal com a mão para August que retribuiu com um aceno. Estava claro, cinco esquadrões divididos avançavam rumo à Catedral. Moody também vira Anna comandando em latim voraz os Ibéricos, o garoto notara que Thaise fazia o mesmo com seu grupo e Ranieri repetia a tática. Apenas Batilda gritava em inglês e algumas vezes em francês. Após correr contra o vento por breves cinco minutos que mais pareciam uma eternidade, eles encostaram os pés no asfalto da “Quai de l’Archevêché”. Encontraram um gigantesco jardim a sua espera. O que separava a rua do imenso horto era uma breve calçada e uma parede formada por grades finas. Esse sistema de grades se estendia por todo o terreno. Um bruxo, alto e de rosto desafiador apontou a varinha para o portão de ferro e pronunciou:

– Reducto. – O cadeado se dividira e o portão ficou livre. Eles tentavam evitar o menor barulho e entre os passos Alastor conseguia ouvir sua barriga das voltas, suas mãos soavam, as pernas pediam para voltar. Mas ele corria contra o tempo, contra os sentidos, contra o que se pusesse em seu caminho. Passaram por estatuas, arvores de mesma feição até ficarem frente a frente com a retaguarda da Catedral. O grupo se arrastou para a direita e Moody foi levado por seus guias: Batilda e o bruxo que destrancara a porta. Ele fizera o mesmo com uma portinhola que separava o imenso jardim da igreja e adentrou. Um por um, os bruxos passavam pelo minúsculo caminho até esbarrarem com uma porta de mais ou menos dois metros. Ela dava acesso para o interior da Catedral, eis que o bruxo que comandava o grupo junto à Batilda fora repetir sua façanha.

– Está destrancada, falou Moody. – E assim, surpreendendo todos, ele deu um toque de leve na porta. Ela deslizou deixando a vista o chão coberto de mármore, que naquele momento da manhã refletia a insegurança de cada membro ali presente.

. . .

Estávamos prontos. Nunca estivemos melhor. Eles como sempre, caíram na armadilha. O que uma pessoa não pode fazer, não é verdade? Vigiamos entradas e saídas, observamos tudo do topo de Notre Dame. Os vimos chegar à Ilha, sentimos seus odores sendo transportados pelo céu. Notamos a presença deles quando aterrissaram, quando dividiram seus grupos. Os conhecemos, sabemos o nome de cada um, onde nasceram, o que fazer, sabemos cada história ali inclusa, mas veja só, eles desejam nos vencer.

Ouvi o tintilar dos vidros a cada feitiço que despejaram sobre a nave central. Senti os estrondos à medida que os portões eram derrubados. Os vi chegando em nossa retaguarda. E nós, como inocentes, ficamos estacionados no centro da igreja. Milhares de homens e mulheres apenas aguardando algumas centenas pousarem em nossas mãos. Eles pousaram como bobos e você deveria sentir o medo que sentiram ao nos ver, ao me ver, com um de seus tesouros sob um domínio fascinante. A faca bailava em minha mão como um lápis o faz quando deseja encostar-se ao papel. E a garganta, aquela jovem garganta, era meu pergaminho perfeito.

Com toda a fúria do mundo, trezentos bruxos nos circundaram, mas na verdade, na mais feliz verdade, eles que estavam sem saída.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Erros, acertos, comentem tudo que tiverem vontade. Muito obrigado por ler e até o próximo capítulo!



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