Sickly Love escrita por Baby Firefly


Capítulo 2
Agente do caos




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Era por volta das seis e meia da manhã quando acordou graças ao despertador do celular que ecoava no quarto escuro. Esfregou os olhos e sentou na cama, procurando os chinelos que mais uma vez haviam sumido misteriosamente. Irritou-se e foi de pé descalço até a porta do quarto e a abriu.

Atravessou a sala de estar e abriu a janela, percebendo uma neblina medonha do lado de fora. Com certeza era um dia em que qualquer ser humano normal escolheria ficar de baixo das cobertas a ir trabalhar. Teve um breve momento de reflexão olhando para fora, pensando se deveria ligar para o trabalho e avisar que estava adoentada e que teria de ir ao médico, ou simplesmente aceitar os fatos e ir se arrumar.

“Eu vou.” Pensou, lembrando-se de que era sexta-feira, e sexta-feira era o dia em que veria Joker. Fechou a janela e foi até o banheiro. Não demorou muito para tomar banho e fazer toda aquela coisa de higiene matinal. Voltou para o quarto e vestiu seu uniforme, que era composto por uma camisa social bordô, saia e gravata, ambas negras. E um jaleco branco com um crachá identificando-a. Contornou os olhos com lápis preto e máscara para cílios, e coloriu a boca com um batom vermelho sangue escuro. Prendeu os cabelos em um coque emaranhado e calçou os sapatos de salto negros que usava praticamente todos os dias. Pegou sua maleta e saiu do apartamento, indo em direção ao elevador.

Joker permanecia inerte sobre a cama, com os olhos fixos no teto branco do quarto. Suspirou e desviou-os pela parede até chegarem à mesa em que tivera sua consulta com Harleen Quinzel. Sobre ela havia um caderno com capa esverdeada. Levantou-se preguiçoso da cama e foi até lá, envolvendo o objeto com os dedos calejados.

– Quem diabos colocou isso aqui? Sem eu perceber? – olhou para os dois lados, debochando e rindo sozinho – Vou chamar esse meliante para ser meu capanga.

Puxou a cadeira e sentou-se, abrindo o caderno. Notou uma mensagem na primeira folha e a leu em voz alta, apertando os olhos.

– “Espero que goste do presente, Mr J. Pode escrever, rabiscar, ou qualquer coisa do tipo. Harleen.” – terminou de ler e fechou o caderno, ficando em silêncio por alguns segundos.

Harleen entrou no quarto, chamando a atenção do Palhaço.

– Bom dia. – dirigiu-se até a mesa, sentando-se na cadeira – Gostou do presente?

– Um tanto quanto desnecessário, mas adorei.

Harleen sorriu.

– Acordou cedo?

– Nem dormi.

– Hum. – Harleen tirou sua prancheta da maleta e ajeitou seus óculos na base do nariz. – Você tem insônia?

– Talvez. – Joker a encarou, observando cada movimento que ela fazia.

– É normal isso acontecer?

– É sim, acho que acontece desde a minha infância. – ele sorriu – Desde que tudo começou.

Harleen o encarou, largando sua prancheta em cima da mesa e aproximando-se mais do paciente.

– Você quer me contar sobre isso?

– Bom. – ele começou – Meu pai... Era um bêbado, e um viciado. – ele pausou por uns instantes, percebendo a concentração de Harleen. – Um dia ele chegou em casa mais doidão do que o habitual, e minha mãe pegou uma faca na cozinha para defender-se. Ele não gostou nem um pouco disso... - Joker levantou-se da cadeira e andou lentamente até as costas de Harleen, parando atrás dela com as mãos apoiadas levemente em seus ombros -... Nem um pouquinho. E daí, ele meteu a faca nela, rindo o tempo todo enquanto fazia isso. Depois ele virou para mim e perguntou: “Por que está tão sério, filho?” Ele veio até mim com a faca, e repetiu: “Por que está tão sério? Vamos colocar um sorriso nesse rosto!” E então, ele colocou a faca na minha boca e fez estas cicatrizes. – ele colocou o rosto por cima do ombro de Harleen, e com uma mão virou o rosto dela para que ela visse as marcas avermelhadas. – E... Por que está tão séria, Doutora Quinzel? – Joker gargalhou, fazendo a loira estremecer.

– Isso é horrível. – disse – Tudo o que aconteceu com você, todo esse caos.

– O mundo é cheio disso. – Joker rebateu rápido, voltando para seu lugar – As pessoas tentam ignorar, mas ele está em todos os cantos. Está impregnado tanto nos barracos imundos das periferias, quanto em mansões luxuosas e coberturas de meio milhão. É inevitável... E eu só estou tentando mostrar a realidade. Você sabe, Harley... Eu sou um agente do caos.

– É Harleen.

– Harleen. – ele sorriu.

– E o que aconteceu depois do ocorrido?

– Alguns anos depois eu cortei a garganta do desgraçado. – Joker aproximou-se de Harleen – É tão bom, sabe? Eliminar tudo aquilo que te faz mal. – explicou gesticulando com as mãos – Nunca acharam o corpo porque eu o escondi bem. – ele riu.

– Você foi pra onde depois disso?

– Eu arrumei uma namorada mais velha do que eu e passei a morar com ela. Mas ela... Ela se incomodava muito com as cicatrizes. Mas acho que ela incomodava-se muito mais quando achava corpos em sua banheira todos os sábados, daí ela me expulsou da casa dela.

– Ela nunca te denunciou?

– Eu a matei antes disso.

Harleen e Joker se encararam por alguns instantes, e o silêncio era tanto que até conseguiam ouvir a respiração um do outro.

– Você quer que eu te receite algum calmante para conseguir dormir? – ela perguntou, olhando para as próprias mãos.

– Não... – Joker sorriu malicioso em seguida – Mas acho que eu dormiria feito um anjinho na sua cama.


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