Os primeiros quatro anos passaram rápidos. Me formei na faculdade e fui contratada na filial da Disney aqui do Brasil. Virei uma das melhores alunas da turma, não saia mais com tanta freqüência e estudar se tornou minha diversão do final de semana. Namorei por quase dois anos com o André, mas terminei quando percebi que eu estava com ele porque conseguia enxergar algumas coisas de Bruno nele. Carlos era quem me dava noticias dele, já que ele nunca me respondeu um único email. Carlos e Clara tiveram um menino, Otavio. Eu e Guilherme fomos os padrinhos e eu era super apegada aquela criança. Clara largou a faculdade depois que ele nasceu e a um ano começou a faculdade de psicologia. Depois que a reforma do nosso apartamento, ele foi vendido. Clara se mudou para uma casa em um condomínio, Elena foi trabalhar em São Caetano e eu me mudei com Leon para um apartamento perto do trabalho.

Pelo o que Carlos me dizia, Bruno tinha se formado e agora era diretor da empresa do pai em Londres. Ele lia todos os meus emails, mas achava que com o tempo eu desistiria de mandar. Quando soube disso mandei meu ultimo de dois anos de perguntas sem respostas. Era véspera de ano novo e eu olhei para a tela em branco sem fazer idéia de como encerrar aquilo que foi tão lindo pra mim.

“Oi Bruno! Já desisti de perguntar como você esta a muito tempo.

Hoje estou aqui para me despedir, isso durou mais tempo que devia. Eu me sintia uma tola mandando um email por mês, mas nunca liguei, meu amor sempre foi maior do que qualquer coisa. Ainda é! Mas esse é o problema, não sei se esse sentimento é igual pra você. Então decidi escrever um ultimo email, um me despedindo e te desejando tudo de bom, você merece. Eu quero que você seja feliz!

Sempre vou me lembrar de você. Feliz ano novo!”

Desliguei o computador e me juntei ao meu pai e alguns parentes para comemorar o ano novo. Quando deu meia noite todos brindaram e eu fui para a varanda em busca de privacidade. Meu pai veio algum tempo depois.

– Filha, ta tudo bem?

– Sim – disse, mas meu pai nunca foi fácil de enganar – não! Sinto falta do Bruno.

– Se minha opinião vale alguma coisa, segue em frente. Conheça alguém legal, sai pra lugares novos. É um novo ano, Cat.

– Eu sei, mas a gente não completou nem um ano e parece que ele fez parte da minha vida toda.

– Eu já senti isso também, pela sua mãe. Depois daquele acidente eu achei que nunca mais me apaixonaria, mas eu conheci alguem.

– Como assim?

– Eu to saindo com uma mulher faz uns dois meses. Isso não segnifica que eu deixei de amar sua mãe e muito menos que eu esqueci ela.

– Por que não me contou?

– Você tava muito mal, não queria que você sentisse que eu tinha deixado sua mãe de lado.

– Nunca pensaria isso.

– A questão filha – meu pai me abraçou – é que você não pode deixar de ler outro livro só porque gostou muito do ultimo.

– Que frase é essa? – disse rindo.

– Sei lá, não achei nada melhor pra falar – meu pai deu de ombros – sorria filha, seja feliz.

Segui o conselho do meu pai. Nos próximos dois anos que passaram eu voltei a sair mais com Clara enquanto Carlos cuidava de Otavio. Conheci alguns homens, fiquei com um deles por oito meses, mas nenhum valia a pena. Estava tudo bem, minha vida voltou ao normal. Percebi que Bruno foi algo que me aconteceu na faculdade e que tinha ficado lá. Foi uma coisa muito linda, mas tinha acabado e ficar triste por causa daquilo não me fazia sentido. Carlos falava dele de vez enquanto e disse que ele tinha ficado estranho depois do meu ultimo email, saiu da empresa do pai e que agora estava tocando sua própria vida. Eu fiquei feliz por ele.

Tinha ido visitar o tumulo de Davi algumas vezes, não podia negar que não tinha vivido dois anos com ele. Eu o amei, mas não foi tão intenso como o que o seguiu. Ele era carinhoso, bom e um grande amigo, mas nunca foi o amor da minha vida.

Mais um ano se passou, Otavio estava pra fazer sete anos e eu fui ajudar Clara e arrumar a festa. Era a maior que ela já tinha feito. Todo o quintal decorado, brinquedos, cama elástica, palhaços, malabaristas e pernas de pau. O tema, lógico, era circo. A atração principal seria um mágico.

Mas a maior mágica da noite não foi feita por ele.