Cereja - Vic&Teddy escrita por Luna


Capítulo 4
Salada mista


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, obrigada pelos comentários carinhosos que me enviaram! Eu amei todos eles! :)
Espero que gostem desse capítulo também; é o meu preferido. ;)



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- Teddy, como é beijar alguém?

Surpreso com a pergunta de Victoire, Ted ergueu os olhos para fitar a menina sentada à sua frente.

- Posso perguntar por que o interesse? – perguntou, calmamente, deixando o garfo de lado, tentando não demonstrar toda a curiosidade que sentia.

- Porque a Melanie disse que eu podia participar da brincadeira de “Salada mista” de hoje. – explicou Victoire, distraída, servindo-se de purê de batatas.

Ted não respondeu de imediato. Lançou um olhar irritado para Melanie, sentada na ponta da mesa da Grifinória com algumas colegas. Melanie nunca gostara de Victoire. A loira, que Victoire lhe dissera certa vez que a lembrava Ashley, da escolinha trouxa, roía-se de inveja de Victoire, desde que a vira no Expresso de Hogwarts. O que foi o motivo de Ted e Mark, o melhor amigo dele, terem se afastado dela totalmente ainda no 1º ano. Melanie vivia procurando razões para desqualificar Victoire, mesmo sem conhecê-la. E Mark, depois de conhecer Victoire em uma ida à casa de Andrômeda, durante as férias de Natal, disse a Ted que Melanie “devia ter algum problema mental”.

- Você não vai participar, Victoire. – disse Ted, em tom definitivo.

- Isso não é justo! – protestou ela, na mesma hora. – É a minha chance de beijar o Richard! A Melanie me convidou e disse que vai me ajudar!

- Sua chance DE QUÊ? – quis saber Ted, praticamente aos gritos. – Você quer beijar Richard Green? – acrescentou, abaixando o tom de voz. – Esse cara não é para você, Victoire! Ele não vale o chão em que pisa!

- Eu posso muito bem escolher quem eu vou beijar, Teddy! Você sabe perfeitamente que eu não sou criança mais! – retrucou, empinando o nariz, arrogantemente.

Ted deixou escapar um riso abafado, incrédulo. Comentou, o sarcasmo explicito na voz:

- Ah, é claro. Tinha esquecido que para uma menina deixar de ser criança basta sangrar uma vez por mês.

Victoire apenas encarou Ted, impassível.

- Não me importo com o que você pensa. Eu vou participar e ponto final. Você não é meu pai, Teddy. – disse, em tom de desafio.

- Não, eu não sou seu pai. Mas ele pediu que eu cuidasse de você quando entrou para Hogwarts. – apontou, voltando a atenção para o prato.

- Muito obrigada, mas eu posso muito bem me cuidar sozinha.

Ted não contra-argumentou.

Tudo bem. Se Victoire achava que podia se cuidar sozinha, ok. Ela que se virasse para lá. Ele não interferiria. Já dissera a ela, certa vez, que não acreditasse em Melanie. Porque Melanie era falsa. Não teve coragem de repetir os absurdos que Melanie dissera a respeito da menina, porque era humilhante demais. Talvez devesse ter falado. Porque os alertas de nada tinham servido.

Continuaram a almoçar em silêncio. Bem, pelo menos Victoire continuou. Ted estava pensativo. Dali a pouco, com a tarde de sexta-feira livre, Ted e alguns colegas do 5º ano se reuniriam nos jardins da escola para relembrar os tempos de 1º e de 2º anos, quando brincavam de Salada Mista toda semana. Haviam combinado que aqueles que assim o desejassem, poderiam levar um convidado. E Melanie convidara Victoire. Que queria beijar Richard.

Richard Green, 5º ano, Sonserina. Era o garoto mais cobiçado de toda a Hogwarts. Alto, musculoso, cabelos castanhos lisos, nariz reto, “charmoso”. Fosse lá o que isso quisesse dizer. Era um destruidor de corações. Adorava ficar com garota atrás de garota, iludindo-as. Quando elas menos esperavam, ele já estava em outra. Simples assim. E preferia as garotas de 3º e 4º ano, mais inexperientes e ingênuas. Como Victoire. E, por uma estranha razão (para Ted, indecifrável), elas sempre acreditavam nas promessas dele. Sempre achavam que haviam conquistado o coração impenetrável de Richard, a ponto de ele não querer mais ninguém. Doce ilusão. Acabavam humilhadas, uma após a outra, de diferentes maneiras.

Ted achava que Victoire não merecia isso. Ou melhor, tinha certeza. Aliás, nem era hora de ela se preocupar com beijos ou namoros. Por Deus, ela tinha apenas treze anos! Ok, já havia passado pela primeira menstruação há alguns meses (algo de que ela se orgulhava imensamente), mas ainda era uma criança. Não conhecia bem as más intenções das pessoas, como Melanie. E Ted sabia, no íntimo, que devia protegê-la do mal. Não apenas porque prometera a Bill que o faria, mas porque se tratava de Victoire. Devia mantê-la longe de garotos inconvenientes e sem escrúpulos. Como Richard.

Richard nunca saberia apreciar Vic como algo além de um número em uma lista de “garotas já pegas”. Ele nunca veria que a cor dos cabelos lisos de Vic era única. Uma mistura engraçada do loiro platinado de Fleur com o ruivo-vivo de Bill – cor que Ted nunca conseguira colocar nos próprios cabelos com suas transfigurações de metamorfomago.  Richard nunca prestaria atenção nos olhos azul-claros de Vic. Ternos, doces, cálidos. Nunca admiraria as bochechas coradas, os lábios naturalmente vermelhos ou a pinta que Vic tinha perto da boca. Richard jamais repararia no modo como Vic andava, suave e delicada como uma bailarina, como se flutuasse pelo chão. E Richard nunca, nunquinha, saberia reconhecer a voz de Vic em uma multidão, ou admirar o som contagiante de suas gargalhadas sinceras, tampouco saberia o quão generosa e desprendida ela podia ser. Ele não reconheceria o calor dos abraços de Vic, a pureza presente em cada ato, em cada palavra dela, os sorrisos singelos, o carinho que ela era capaz de expressar. Porque Richard nunca conseguiria perceber que Vic era uma menina muito especial.       

- Teddy, você não vai para os jardins? – perguntou Victoire, arrancando-o das divagações, procurando algo na mochila.

- Daqui a pouco. – respondeu, olhando para o resto da comida no prato, intocada.

- Você está estranho, Teddy. ‘Tava me olhando com uma cara esquisita. – comentou Victoire, lançando-lhe um olhar furtivo, ainda remexendo na mochila.

- Impressão sua. – retrucou, com maus modos.

A menina deu de ombros e puxou de dentro da mochila um espelhinho e um tubo de brilho labial vermelho.

- Não sabia que crianças tinham permissão para usar batom. – comentou Ted, ironicamente.

- Não é batom. E eu não sou criança. – disse, sem se afetar, passando brilho nos lábios e conferindo o resultado no espelho.

- Victoire, você não precisa disso. – disse Ted, cansado, resolvendo mudar de tática. – Já é bonita naturalmente.

- Credo, Teddy, parece meu pai falando. – apontou Victoire, olhando-se no espelho. – Vejo você daqui a pouco. – acrescentou, levantando-se e guardando o espelho na mochila.

Ted suspirou, pesadamente, enquanto observava Victoire se aproximar de Melanie. Juntas, saíram do Salão Principal.

- Problemas, Teddy? – perguntou Mark, sentando-se no lugar em que Victoire estivera há pouco. A namorada dele, Sarah, da Lufa-Lufa, cumprimentou Ted com um sorriso e se sentou também.

- Victoire. – respondeu, resignado.

Sarah e Mark trocaram um olhar cheio de significados. Se Ted não estivesse com todos os pensamento voltados para Victoire, talvez tivesse percebido. Limitou-se a perguntar:

- Os pombinhos não vão participar da brincadeira de hoje?

- Não. Estou satisfeito só com a Sarah, mesmo. – respondeu Mark, olhando para a namorada carinhosamente.

- Vamos aproveitar a tarde livre para fazer alguns trabalhos. – explicou Sarah, parecendo chateada com a ideia.

- Vamos, então, Sarah? – chamou Mark, levantando-se. – E, Teddy... espero que tudo dê certo para você e a Victoire na brincadeira.

Confuso com a observação do amigo, Ted limitou-se a observá-lo saindo do Salão Principal com a namorada. Pensava em Victoire novamente. Por mais que lhe doesse, tinha que admitir que, aos poucos, ela deixava de ser uma menininha. Começava a se transformar em mulher. E se afastava dele. Porque, obviamente, “sabia se cuidar sozinha”.

O rapaz ia se levantar para ir aos jardins quando se deteve ao ver o tubo de brilho labial de Victoire em cima da mesa, perto do prato em que ela comera. Decerto teria se esquecido dele. Ted pegou o tubo de brilho entre as mãos, observando-o com cuidado. Aparentemente, o slogan da marca era “para lábios desejáveis”. E havia a informação de que o tal brilho tinha “cheirinho de frutas sortidas”. Ted sorriu, guardando o tubo de brilho no bolso interno das vestes.

Victoire não era tão adulta quanto julgava a si mesma, afinal.

Nos jardins, quase todos os alunos de 5º ano estavam reunidos embaixo da faieira que ficava próxima ao lago, com alguns convidados. Com um olhar para Victoire, que conversava animadamente com Melanie e outras meninas que ele não sabia direito quem eram, Ted se sentou na grama. Victoire parecia ignorá-lo. Richard estava a um canto com alguns colegas da Sonserina, com o ar arrogante que lhe era característico.

Depois que os últimos participantes da brincadeira chegaram, Melanie os reuniu e comunicou:

- Só para esclarecer: houve uma pequena mudança nas regras. Pera continua sendo aperto de mãos e uva, um abraço. Mas maçã, em vez de ser beijo na bochecha, é selinho. Por isso, salada mista agora é beijo de língua. E o número de pera e de uva a que cada um tem direito é dois.

- Melanie – chamou Ted, erguendo o braço – Por que a mudança de regras?

- Não temos mais onze anos, Ted. Já somos veteranos nisso aqui e, assim, a brincadeira fica mais... interessante. – explicou, sorrindo daquele jeito desagradável que só ela sabia, lançando um olhar de esguelha para Victoire.

Ted conhecia Vic bem demais para saber, só de olhar, que ela estava nervosa. Porque nunca tinha beijado ninguém. Sabia, ainda, que provavelmente estava apavorada com a ideia de fazer feio frente a Richard. Porque quando Victoire gostava de alguém, gostava para valer. E Melanie sabia disso, Ted tinha certeza. Não surpreenderia se ela tivesse mudado as regras apenas para fazer Victoire passar vergonha com Richard. Até porque era Melanie quem enfeitiçava a venda mágica que usavam desde o 1º ano. E ela podia muito bem deixar a venda “viciada”. Para “ajudar” Victoire, tal como prometera.

A brincadeira começou de forma tranquila, apesar de tudo. Ted apenas ficou um pouco apreensivo quando Victoire foi levada para o meio da roda de garotos depois de trocar um aperto de mãos com um garoto tímido da Corvinal, do 4º ano. Mas as preocupações de Ted logo se esmaeceram. Victoire apontou para ele depois de ser girada, dizendo “uva”. Retirou a venda e, no minuto seguinte, correu até Ted e se jogou nos braços dele, parecendo imensamente aliviada.

Ele a recebeu com carinho. Devolveu o abraço na mesma intensidade, sentindo o coração acelerar na mesma hora, sentindo o corpo de Victoire junto de si. Deliciou-se com o cheirinho de sabonete que emanava do corpo dela. Vic não usava perfume. Sentia, ainda, o cheirinho de xampu impregnado nos cabelos de cor única. Era tão viciante quanto o cheirinho do sabonete.

Poucos segundos depois, eles se afastaram e foi dada continuidade à brincadeira. Ted deu um selinho em uma garota bonita, da Sonserina. E tudo continuou na mais perfeita tranquilidade.

Até Richard ser vendado, girar e apontar para Victoire, dizendo “Salada mista”.

Imediatamente, Ted voltou o olhar verde-vivo para Victoire, que parecia radiante. Irritado, nem reparou que os olhos verde-vivo e os cabelos roxo-berrante voltaram ao tom normal de castanho que herdara do pai.

Richard retirou a venda e se aproximou de Victoire.

Ted observava, tenso.

No minuto seguinte, Richard puxou Victoire pela cintura, sem cuidado algum, e a beijou vorazmente, apertando-a contra si. Instantes depois, Victoire começou a se debater contra o menino. Ted gelou. Inacreditável. Aquilo não podia estar acontecendo.

- Richard... me larga... – murmurava, entre os lábios do sonserino, fazendo força para se soltar dele. – Rich... – mas a cada vez que Victoire fazia força para se soltar dele, Richard apenas a apertava mais e mais contra si. E a beijava cada vez com mais voracidade, impedindo-a de falar.

- VOCÊ NÃO OUVIU O QUE ELA DISSE? – berrou Ted, puxando Richard pelo colarinho da camisa, a irritação subindo à cabeça, afastando-o de Victoire, que aproveitou a oportunidade para sair correndo. – LARGA ELA!

- Qual é, Lupin? – retrucou, irritado, empurrando Ted com força. – É uma brincadeira!

- Vic é só uma criança, imbecil! Deixa ela em paz! – vociferou, lutando contra o impulso de voar no pescoço de Richard e esganá-lo. Ele havia sido rude com Victoire. Talvez a tivesse machucado, tamanha a força com que a apertava. E não escutara quando ela pedira a ele que a largasse.

- Uma criança delicio... – Ted meteu um soco na boca de Richard, impedindo-o de terminar a frase.

Otário.

Sem se importar com nada mais, Ted saiu correndo para onde ele imaginava que Victoire fora: uma clareira da Floresta Proibida, não muito distante. O lugar para onde ela sempre ia quando ficava chateada.

De fato, Victoire estava lá. Estava em pé, apoiada em uma árvore, o rosto escondido entre as mãos e entre o mar de cabelos de cor inigualável. Com cuidado, Ted se aproximou. Não tinha certeza, mas achava que a menina estava chorando.

Ele se aproximou mais dois passos, meio inseguro, lembrando-se do padrinho quando Gina ficara grávida de Lily: “se uma mulher estiver chorando, Teddy, não diga nada. Apenas a abrace. Assim você não corre o risco de falar bobagens e ter o pescoço arrancado depois”.

E foi o que ele fez.

Victoire aceitou o abraço de bom grado, correspondendo-o imediatamente. Ted acariciou o topo da cabeça dela e o beijou. Sentia que as lágrimas de Victoire molhavam a camisa que vestia. Mas não se importava, nem um pouco. Victoire era mais importante. Sempre fora.

- Me desculpa, Teddy... – balbuciou a menina, depois de longos minutos em silêncio.

- Por quê, Vic? Eu não tenho nada de que te desculpar. – respondeu, ainda abraçado a ela, tentando fitá-la. Em vão. Ela apenas afundou o rosto ainda mais no peito de Ted.

- Você me disse que o Richard não era um cara legal. E sempre me disse para não confiar na Melanie. E eu não te escutei. – disse, com a voz abafada pelo tecido da camisa do rapaz.

- Já passou, Vic. Não importa mais. – comentou, simplesmente. Porque, de fato, não importava. Victoire já tinha tido um de seus sonhos destruídos. Não havia nada mais doloroso.

- Eu achava que o Richard seria meu príncipe, Teddy. O cara certo para mim. – comentou Victoire, ainda com o rosto escondido na camisa de Ted. – Mas ele foi rude comigo. Ele não me largou quando eu pedi. E a Melanie disse que ele gostava de mim.

- A Melanie é uma mentirosa. – limitou-se a dizer, ignorando o que ela dissera sobre “príncipes”. Porque, verdade seja dita, não existem príncipes. Mas Ted achava melhor ela descobrir sozinha.

Victoire se soltou de Ted, devagar. Os olhinhos azul-claros dela e o nariz estavam vermelhos e inchados, mas parecia que ela tinha parado de chorar. Estava enxugando as lágrimas.

- Bem, meu primeiro beijo foi um desastre. E eu queria que tivesse sido bom, sabe, Teddy? Porque é o tipo de coisa que a gente se lembra pelo resto da vida. – comentou, tristemente, sentando-se na grama, o queixo apoiado nas mãos. – Como foi o seu primeiro beijo? – acrescentou, curiosa.

Ted se sentou ao lado dela, pensativo. Não sabia como falar daquilo com Victoire.

- Foi em uma dessas brincadeiras de Salada Mista. – começou, devagar. Victoire prestava bastante atenção. Parecia quase beber as palavras dele. – Com uma menina da Lufa-Lufa, do mesmo ano que eu. O nome dela é Elizabeth. – contou, dando-se por satisfeito.

- E foi só um selinho?

- Foi.

- Ainda bem. – comentou Victoire, olhando para a grama e puxando tufos dela, distraidamente. – Porque eu achei o beijo de língua meio nojento. E pegajoso. A língua do Richard parecia ter três metros de comprimento e parecia que ele me puxava com oito braços.

Ted caiu na gargalhada. Victoire pareceu ofendida, observando-o.

- Isso não tem graça, Teddy, ok? Você não faz ideia de como foi ruim!

- Nem sempre é ruim, Vic. – disse, tentando conter o riso.

- Mentira. E o Richard estava praticamente BABANDO dentro da minha boca; que nojo! – acrescentou, com uma careta engraçada. – Nunca mais eu vou beijar ninguém.

- E quando você tiver um namorado? – perguntou Ted, curioso, erguendo uma sobrancelha.

- Bem... sei lá, eu dou um jeito. – respondeu Victoire, deitando-se na grama, os olhos fechados.

- O problema é que o Richard foi com muita “sede ao pote”. – começou Ted, mas Victoire o interrompeu, abrindo os olhos imediatamente:

- Você está me chamando de gorda, Teddy? – perguntou, furiosa.

- Claro que não, tontinha. – disse ele, bagunçando o cabelo dela com uma mão. Victoire fechou a cara. – O que eu quis dizer é que o Richard foi muito rápido com você. Não é assim que se beija uma pessoa pela primeira vez.

- E como se beija uma pessoa pela primeira vez? – questionou, sentando-se novamente, curiosa. Encarava Ted em expectativa.

- A gente tem que ser carinhoso, sempre. – começou, meio envergonhado. Aquilo não ia acabar bem. – E ter paciência, porque a outra pessoa nunca beijou ninguém... – continuou. Pela cara de Victoire, ela não o deixaria em paz até que dissesse tudo. – E não assustar a outra pessoa. Se não, fica igual a você. Achando que beijos são ruins. E não são.

- Por que o meu foi ruim, então? – disse Victoire, parecendo confusa.

- Vic, um beijo depende de muitas coisas. Você vai descobrir isso um dia. – falou Ted, pacientemente.

- Mas eu não sei beijar, Teddy. – comentou, frustrada.

- Todo mundo acha isso. – contou o rapaz, despreocupado. – Até o dia em que beijam alguém que realmente tinham vontade de beijar. Na hora, você vai saber o que fazer; pode ter certeza. É muito instintivo, Vic.

Victoire e Ted ficaram em silêncio por alguns minutos. Ele pensando em que estaria se passando pela cabeça dela.

- Acorda, Vic! – disse Ted, em tom de brincadeira, dando um tapinha na testa dela.

- TEDDY! – reclamou, assustada. – Você não pode fazer isso! E se eu me machucasse?

- Até parece, né? – comentou, sorrindo com o canto da boca. – Você só diz isso porque não consegue fazer o mesmo comigo.

- Consigo, sim. – retrucou a menina, massageando a testa.

- Ah, é? Quero só ver! – desafiou Ted, levantando-se e saindo correndo clareira afora.

- Volta aqui, Teddy! – dizia Victoire, saindo correndo no encalço dele.

- Você não me pega, Victoire! – provocava Ted, correndo em círculos.

- Pego sim, você vai ver, Ted Lupin! – retrucava, os cabelos voando para todos os lados.

Por fim, Ted parou ao lado do tronco de uma árvore. Tinha se cansado da correria.

Victoire parou a sua frente, as mãos na cintura.

- Alcancei você. – disse docemente, colocando os braços apoiados no tronco da árvore, de modo que bloqueava o caminho dele.

- Mas perdeu mesmo assim. – disse Ted, invertendo as posições de ambos.

Victoire ficou com as costas apoiadas no tronco da árvore. Os braços de Ted é que bloqueavam sua passagem agora. Encostaram as testas uma na outra, tentando recuperar o fôlego.

- Não vale, Teddy. – disse, fazendo biquinho.

- Vale, sim. – respondeu, simplesmente.

Por alguns minutos, eles apenas se encararam.

Ted admirava Victoire. Tão linda. As bochechas afogueadas da corrida. Os cabelos despenteados. Boca carnuda e convidativa. Tão perto.

Sem refletir exatamente a respeito do que estava fazendo, Ted a beijou.

Devagar. Carinhosamente. Como explicara que deveria ser.

E ela não fez objeção.

Ted sentia a hesitação nos lábios de Victoire, mas ela não recuou. Deixou que a língua dele abrisse caminho pela boca dela.

Cuidadosamente, Ted levou os braços para a cintura de Victoire e a puxou para mais perto, ainda a beijando. Sentiu ela passar os braços pelo pescoço dele. Sentiu o coração dela bater contra ele freneticamente. Sentiu o corpinho dela junto ao seu. E sentiu sensações que nunca sentira antes.

Por alguma razão, aquilo era ótimo. Ted não sabia exatamente explicar. Mas aquele beijo estava sendo o melhor de todos.

E ele resolveu aprofundar o beijo.

Victoire não se opôs.

E ele a puxou para mais perto. Para mais junto dele. Que era onde ela deveria estar.

As mãos de Ted passeavam, livremente, pelas costas de Victoire. Pelos cabelos longos, lisos e sedosos e cheirosos. Cabelos que ele adorava.

Victoire começou a se afastar, lentamente. E Ted deixou. Mesmo sem querer.

Ela apoiou a testa na dele, novamente.

- Preciso respirar, Teddy. – comentou, a respiração entrecortada.

- Vic, me desculpa. – disse Ted, afastando-se dela. Criando distância.

Eles se encararam, os dois sem fôlego.

- Não peça desculpas, Teddy. Foi incrível. – comentou, o sorriso iluminando-lhe o rosto.

- Mas...

- Pode parar, Teddy. – disse a menina, em tom definitivo.

Ele engoliu em seco. Por uma estranha razão, pensou em Bill. O que ele faria se soubesse que, em vez de cuidar da filha dele, Ted a estava beijando?

- Por quê, Teddy? – perguntou Victoire curiosa, os cabelos mais bagunçados do que nunca. E Ted a estava achando mais linda do que nunca. – Por que você me beijou?

- Eu... não sei explicar, Vic. – confessou, passando as mãos pelas vestes de Hogwarts, nervoso. Não sabia, fato. Mas tinha alguma coisa em seu bolso. O brilho de Victoire! Tirou-o de dentro do bolso e o mostrou a ela. Lembrou-se do slogan. Tinha uma desculpa. Esfarrapada, talvez. Mas, ainda assim, uma desculpa. – Talvez por isso. Seus lábios ficaram desejáveis. – disse, em tom de zombaria. Mas Victoire não precisava daquilo para ter lábios desejáveis. Não mesmo. E, no íntimo, ele sabia daquilo perfeitamente.

Corando, ela se aproximou e pegou o tubinho das mãos de Ted, que ainda tinha um sorrisinho no rosto.

- Obrigada.

Por alguns segundos, não sabiam o que falar. Pela primeira vez em anos, estavam envergonhados um com o outro. Evitavam, deliberadamente, se olhar. Victoire torcia as mãos. Ted não percebia, mas seus cabelos mudavam de cor a cada segundo: pretos, loiros, ruivos, roxos, verdes, azuis, rosa...

- Acho que eu vou voltar para o castelo. – comentou Victoire, por fim, guardando o brilho labial em um dos bolsos.

Ted pigarreou, nervoso.

- Bom, daqui a pouco eu vou.

Victoire sorriu e se aproximou dele mais uma vez.

- Obrigada, Teddy. Por me mostrar que um beijo pode ser muito bom.

- Eu... bem... eu não... – os cabelos dele continuavam a mudar de cor, ainda mais rápido. – Quero dizer... de nada. – nunca havia se sentido tão... descontrolado. Não conseguia disfarçar o que sentia.

Ela sorriu. Sabia que ele estava envergonhado. Ficou na ponta dos pés e encostou os lábios nos dele, de leve.

­- Je t’aime, Teddy. Lembre-se disso. – disse, simplesmente, saindo da floresta.

Ted ficou parado, observando-a se afastar. Não entendia nada de francês. Perguntava-se o que Victoire lhe dissera.

Mas não importava tanto assim. Não agora.

Levou as mãos aos lábios, pensativo.

Victoire era diferente das outras meninas. A boca dela tinha um gosto diferente. Nada de pera, uva, maçã ou salada mista. Lembrava-lhe a cereja que roubara da taça de sorvete dela certa vez.

Ou talvez fosse apenas um resquício do tal brilho com cheirinho de frutas.

De qualquer forma, era algo só dela. Algo que Ted acabara de descobrir que adorava.

Aliás, como tudo em Victoire.  


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Notas finais do capítulo

PRE-PA-RA! Que agora é hora de deixar comentários...



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