Cereja - Vic&Teddy escrita por Luna


Capítulo 3
Plataforma 9 3/4


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! :)
Por um lado, estou feliz em ver que algumas pessoas marcaram a fic para acompanhar, e que algumas até a favoritaram! Obrigada por isso. :)
Mas, de outro lado, eu queria muito, muito que vocês me mandassem reviews com suas opiniões. E eu fico triste de ver que ninguém diz nada. #chateada
De qualquer forma, mais um capítulo para vocês. Enjoy it! ;)



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- Eu vou chegar primeiro, Teddy, você vai ver! – gritou Victoire, correndo. Vários fios de cabelo já se soltavam da trança embutida que Fleur, cuidadosamente, fizera de manhã, antes de a menina ir para o último dia de aula.

Mas Victoire não se importava. Estava concentrada em ganhar de Teddy. Tinha que chegar ao parquinho antes dele. Nem que essa fosse a única vez em que conseguia tal feito.

Cansada e com o rosto já vermelho da corrida, Victoire se sentou no balanço mais próximo, jogando a mochila no chão. Poucos minutos depois, Ted apareceu, caminhando com as mãos nos bolsos, tranquilamente.

- Ganhei, Teddy. – anunciou, presunçosa, sorrindo. Colocou um fio da franja atrás da orelha. – Eu disse que ia ganhar hoje.

- A corrida? – perguntou ele, jogando a mochila no chão ao lado da de Victoire e se sentando no balanço ao lado dela. – Só ganhou porque eu deixei. Você é baixinha, Vic, não consegue correr muito.

Victoire franziu o nariz.

- Grande coisa. Você também é baixinho. Não tem metade da altura do tio Ron. – retrucou.

- Ainda vou ser mais alto que ele. Algum dia. – acrescentou, rapidamente.

- Até parece. – comentou Victoire, com desdém. – Talvez o Hugo fique mais alto que o tio Ron. Mas você, não.

- Pelo menos eu não estou com a cara parecendo um tomate.

- Porque você não correu! E eu corri! – retrucou Victoire, irritada. Detestava que a chamassem de tomate. O sangue voltou a ferver nas veias. O rosto dela ficou ainda mais vermelho.

- Tomatinho. – disse Ted, só para irritá-la. Adorava vê-la com as faces coradas. De vergonha, de raiva, por ter acabado de fazer algum esforço físico. Não importava o motivo.

Victoire mordeu a língua e deu as costas para Ted. Do jeito que estava sentada, seria impossível se balançar. Mas precisava de um tempo para o rosto voltar à cor “normal”.

Ted e Victoire frequentavam, desde os cinco anos, uma escola primária de trouxas. Ted começara por sugestão que Harry dera a Andrômeda. Achava que seria um bom aprendizado para o afilhado, algo com que ela concordou. E Victoire começou a ir por cansaço. Havia tirado Fleur e Bill do sério, mas os convencera a deixá-la ir. Depois disso, todas as crianças Weasley, uma a uma, fizeram o mesmo. Queriam ser como Ted e como Victoire.

- Você está brava comigo, Vic? – perguntou Ted, cauteloso.

- Só um pouquinho. – respondeu, sentando-se direito no balanço. A vermelhidão em seu rosto já fora embora. Lentamente, a menina começou a se balançar.

- Agora estamos de férias. – comentou Ted, começando a se balançar também. – Dois meses sem aulas. Como foram suas notas, Vic?

- Foram boas, como sempre.

- Até em matemática? – questionou, consciente de que era a matéria em que ela mais tinha dificuldade.

- Até em matemática. Fiquei com 85. – anunciou, orgulhosa, balançando-se cada vez mais alto.

- Aposto que foi só porque eu te dei aulas particulares. – provocou Ted, sorrindo.

- Não foi nada. Aquela matéria de frações é ridícula; aposto que até a Rose consegue aprender. – retrucou Victoire, ainda se balançando mais e mais alto.

- Isso não vale. Falar da Rose. Ela só tem três anos e já sabe ler. É quase uma miniatura de gênio. – comentou Ted, admirado.

 Victoire ignorou a fala do menino e, com um impulso enorme, saltou do balanço no ar e caiu de pé no chão, graciosamente, como uma trapezista. Mais fios se soltaram da trança.

- Vamos tomar sorvete? – sugeriu, correndo para pegar a mochila. – A corrida até aqui me cansou.

- Não vamos brincar mais hoje? – questionou Ted, surpreso com a pressa de Victoire.

- Ah, Teddy, por favor. Correr mais do que você não é fácil. Além do mais, estou morrendo de sede. – disse, manhosamente.

- Claro que não é fácil para você correr mais do que eu. – comentou o menino, jogando a mochila nas costas. – Mas você podia ter maneirado na corrida, Vic. Eu ia deixar você ganhar de qualquer jeito. Porque hoje é a última sexta-feira que eu venho para a escola, então é justo que você tenha esse gostinho pelo menos uma vez.

Victoire se calou subitamente e assim permaneceu durante todo o trajeto até a sorveteria. Embora soubesse, desde março, que Ted iria para Hogwarts, evitava pensar nisso. Não conseguia imaginar como ficaria na escola, sozinha. E tudo bem. Ted e ela eram de turmas diferentes. Mas as meninas da turma de Victoire, por alguma razão, não gostavam dela. E, por essas e outras, ela e Ted estavam sempre juntos na hora do almoço, nos intervalos, na saída... e ela gostava da companhia de Ted. Demais. Até mais do que a companhia dos próprios irmãos. Dominique e Louis eram ótimos e Victoire gostava muito deles. Principalmente dos beijos melados que Louis insistia em distribuir pelas bochechas das irmãs e da mãe. Mas eles não eram como Ted.

- Algum problema, Vic? – perguntou Ted, assim que sentaram a uma das mesinhas da sorveteria.

- Nenhum. – respondeu de imediato. Não queria admitir que sentiria a falta de Ted. Com certeza ele teria uma brincadeira prontinha para fazer. E com certeza isso era decorrência da convivência com George, embora o menino não fosse tão arteiro como o ruivo.

- Não vai tirar a mochila das costas?

- É claro que vou. – disse, com as bochechas corando subitamente. Estivera tão distraída que nem se lembrara da mochila.

- Bela cabeça de tomate, Vic. – comentou Ted, despretensiosamente, enfurecendo a menina. Ela só não respondeu porque Liz, a garçonete que sempre os atendia, havia acabado de chegar com os cardápios e o habitual sorriso no rosto. No fim das contas, era até bom. Seria tempo suficiente para Victoire se recuperar da vermelhidão que tomara conta de seu rosto e não ter que aturar mais piadinhas.  

Quando Liz saiu, carregando os cardápios e assegurando-os de que “logo voltaria com os sorvetes”, Ted se voltou para Victoire, curioso:

- Você estava no mundo da lua, Vic?

- O que isso quer dizer? – quis saber a menina, curiosa.

- A madrinha fala assim comigo quando eu estou distraído. Diz que eu estou no mundo da lua. – explicou, mexendo com o porta-guardanapos que havia em cima da mesa.

- Eu não estava distraída. – retrucou Victoire, incapaz de admitir para si mesma que sentiria falta de Ted. Aliás, já estava sentindo. Por antecipação.

Ted nada disse. Liz já se aproximava carregando duas taças de sundaes, cobertos com chantilly, raspas de castanhas, um tubinho cuja consistência parecia a de biscoitos e uma cereja no topo de cada um. Para Ted, sorvete de flocos e de chocolate, com calda de leite condensado. Para Victoire, frutas vermelhas e algodão-doce, com calda de caramelo. Em suma, o de sempre.

- Bon apetit, crianças. – desejou a moça, afastando-se.

- Posso pegar um pouquinho do seu sorvete? – pediu Victoire, olhando para Ted com olhar pidão.

- Você sempre disse que meu sorvete era sem graça. – apontou o menino, pegando a colher.

- E se eu tiver mudado de ideia? – disse ela.

- Ok, então. Mas só se você me der sua cereja.

- TEDDY! Você sabe que eu adoro cerejas! – comentou, abismada com a troca que ele lhe propunha.

- E você sabe que eu adoro sorvete de flocos e de chocolate com calda de leite condensado. – disse ele, sem se abalar.

Victoire boquiabriu-se.

- Egoísta. – resmungou, pegando a colher para começar a tomar o próprio sorvete.

- Digo o mesmo para você. – respondeu Ted, com a boca cheia de sorvete e chantilly.

Victoire nada disse. Se era guerra que Ted queria, era guerra que ele iria ter. Em nome de Merlin, qual era o problema de dar a ela um pouquinho que fosse do sorvete? Aparentemente, nenhum. Mas vai entender.

Pensativa, ela mordeu um pedaço do tubinho e o mergulhou de volta no sorvete, observando Ted. Agora era ele quem estava no mundo da lua. Não parecia prestar atenção nas coisas ao seu redor, apenas no sorvete. Na mesma hora, Victoire pegou a própria colher e, esticando o braço curto por cima da mesa, pegou uma colherada do sorvete de Ted.

- EI! – protestou o menino, com a boca cheia.

- É feio falar de boca cheia, Teddy. – comentou Victoire, enfiando a colher na boca, em seguida. – Delicioso o sorvete. Você até que tem bom gosto.

- Isso não é justo, Victoire. – resmungou, decepcionado. Ela conseguira pegá-lo desprevenido. E, em resposta, apenas lhe sorriu, insolentemente.

Ele se voltou para o sorvete. Se Victoire achava que o incidente do sorvete ficaria por isso mesmo, estava muito enganada. Redondamente enganada.

Ted a observava, atento. Vez ou outra, o menino levava colheradas de sorvete à boca, devagar, para não se distrair novamente. Quando achou que ela já tinha se esquecido do que acontecera, ergueu o braço por cima da mesa e, com a mão, pegou a cereja que, com tanto zelo, Victoire sempre colocava a um canto da taça para comer apenas quando terminasse de tomar o sorvete.

- TEDDY! – disse ela, parecendo chocada. – Como você...? – as palavras fugiram da boca de Victoire quando viu Ted colocando a cereja na boca.

- A vingança é um prato que se come frio. A madrinha diz isso direto para a tia Hermione. – explicou, mastigando a fruta.

- Mas... Teddy... – balbuciou Victoire.

- Nem vem, Vic. Foi você quem começou. – rebateu Ted, defensivamente.

- Se ao menos tivesse jeito de você me devolver a cereja... – suspirou Victoire, olhando para a taça de sorvete, desolada. De repente, tomar sorvete perdera a graça.

- Eu posso devolver o sorvete que estava nela. – comentou Ted, mostrando-lhe os dedos sujos.

- Como se fosse a mesma coisa. – resmungou Victoire, cruzando os braços.

- Pode ser mais divertido. – falou o menino, passando a ponta do dedo indicador no nariz de Victoire, deixando-o sujo.

- TEDDY! – fez a menina, outra vez. – Você não pode fazer isso!

- Por quê, Vic? Você não toma banho? – provocou, com um meio sorriso.

Irritada, Victoire limpou a ponta do nariz com um guardanapo.

- Porque isso não é educado. – disse, entredentes.

Ted nada disse. Continuou com o meio sorriso no canto da boca.

Dali em diante, passaram todo o tempo provocando um ao outro e fazendo piadinhas. “Furtaram”, por assim dizer, mais sorvete da taça um do outro. Sujaram, com as pontas dos dedos, os rostos um do outro. Riram ao se olhar, com os rostos lambuzados, no côncavo das colheres que usavam. Até trocaram de taças no finalzinho dos sorvetes.

Mais tarde, entre risos e piadas, foram para a casa de Harry e de lá Victoire voltou para o Chalé das Conchas, tendo que aguentar uma bronca da mãe por ter praticamente desfeito a trança que tanto dera trabalho para ficar perfeita e por estar com o rosto grudando.

Os dois meses de férias passaram voando. Victoire se divertiu à beça com Ted, fosse na casa de Andrômeda, na casa de Harry, na Toca, ou no próprio Chalé das Conchas. Jogaram quadribol com os primos mais novos (Ted era ótimo e Victoire era péssima), fizeram guerras de balões d’água, testaram, a pedido de George e de Ron, alguns produtos da Gemialidades Weasley desenvolvidos especialmente para crianças de até dez anos, brincaram no mar, foram ao parque próximo à casa de Harry e aceitaram sugestões de Hermione de algumas brincadeiras trouxas.

Seria possível até se esquecer que Ted iria para Hogwarts se o dia 31 de agosto não tivesse chegado tão rápido. Rápido demais, até. Victoire se perguntava se alguém havia enfeitiçado os relógios para o tempo passar mais rápido. Com uma certa melancolia, fechou a mochila que levaria para a casa de Harry. Passaria o dia lá e dormiria por lá mesmo. Era o tio quem levaria Ted para King’s Cross no dia seguinte. E ela queria ir junto.

- Já arrumou suas coisas, Vic? – perguntou Dominique, sentando-se na cama em que dormia. Ela e a irmã dividiam o quarto.

- Já. – respondeu Victoire, passando as alças da mochila pelos ombros.

- Maman pediu para avisar que já está te esperando lá embaixo. – disse a loira, observando a irmã mais velha.

- Não vou de Pó de Flu? – quis saber Victoire, intrigada.

- Vai, mas maman vai com você. Ela disse que tem que conversar com a tia Gina. Provavelmente é alguma coisa chata de adultos. – acrescentou, fazendo uma careta. Dominique achava a maioria das conversas de adultos entediantes.

- Então eu vou descer. Au revoir, Domi. – disse, acenando para a loira. Antes de descer, passou pelo quarto de Louis – ele brincava com uma pequena réplica de goles – e lhe deu um beijo estalado na bochecha. Ele era um pirralhinho, fato. Mas era o pirralhinho mais fofucho que Victoire conhecia.

Ela desceu as escadas, distraída. Parou no meio do caminho ao ouvir Bill dizendo a Fleur, na cozinha:

- Fleur, você não acha que Teddy e Vic formam um casal bonito?

- O que você querr dizer com isso, Bill? – perguntou, parecendo surpresa.

- Bem, talvez eles namorem, quando estiverem mais velhos. Só andam juntos. – comentou, tranquilamente.

Victoire fez uma careta.

- Victoire e Ted são duas crrianças, Bill, por favorr. Nem sabem o que isso significa. Por que pensar nisso agora? – disse, curiosa.

- Não sei, Fleur. É só que... bem, não gosto de imaginar minhas filhas com um cara qualquer, igual a uma mocinha que foi ao Gringotts ontem. O cara “mó” folgado. Ela estava sacando todo o dinheiro que tinha no cofre para ele poder comprar uma Firebolt de última geração. E ainda olhava descaradamente para outras mulheres! – acrescentou, indignado. – Não quero minhas filhas vivendo assim. E, no caso da Vic, ela tem o Teddy. É menos pior imaginá-la com ele do que com um cara assim. Nós já o conhecemos. Sabemos que ele tem caráter. Sabemos como Andrômeda, Harry e Gina o educam.

Fleur gargalhou, gostosamente.

- Bill, você tem que deixarr Victoire e Dominique escolherem o que querem para elas. Se Vic namorar o Teddy... bem, eles decidirão isso algum dia.

- Calma, Fleur. São apenas especulações. Brincadeiras. Quem sabe, não é?

- Maman, já terminei de arrumar minhas coisas. – falou Victoire, entrando na cozinha subitamente, assim que percebeu que a conversa chata, como Domi dizia, havia acabado. Fleur e Bill estavam sentados à mesa, bebendo chá.

- Despeça-se de seu pai, Vic. – orientou Fleur, levantando-se.

- Au revoir, papa. – disse a menina, beijando a bochecha do pai.

- Au revoir, chéri. Divirta-se. – acrescentou, fitando a menina carinhosamente.

De fato, embora sentisse saudades de Ted em antecipação, divertiu-se bastante. Os dois ajudaram Gina a tomar conta de Lily, brincando com a pequena enquanto ela cuidava dos filhos mais velhos – foi uma luta para conseguir levar James para tomar banho –, jogaram quadribol com os primos mais novos, foram à sorveteria, ao parquinho...

À noite, deitada no sofá-cama que havia no quarto de Lily, Victoire pensava em Ted e na partida dele para Hogwarts. Ele conheceria outras meninas. Haveria outros colegas. E se ele se esquecesse dela? E se preferisse outra garota qualquer a ela, Victoire? Sentiu o coração se apertar.

Lembrou-se da conversa dos pais. Ridículo, pensava. Nunca iria namorar Ted. Porque, por favor, né? Era o Teddy! Que coisa mais sem pé nem cabeça! Além do mais, Ted não se parecia com os príncipes das historinhas de princesas que lia na escola. Príncipe que ela sonhava encontrar quando estivesse mais velha. Afinal, que príncipe ficaria mudando as cores do cabelo e dos olhos? Ou usaria cabelos roxo-berrante? Ou colocaria o nariz para parecer um focinho de porco só para irritá-la? E que espécie de príncipe seria desastrado feito Ted? Ele vivia derrubando tudo no chão. Mal sabia jogar futebol. Era um péssimo goleiro e um péssimo artilheiro no quadribol. Victoire imaginava que ele só dava certo de batedor porque não era preciso muito cuidado para se rebater um balaço. Sem mencionar que príncipe algum lambuzaria o rosto da princesa de sorvete. Ou faria piadinhas com ela. Tampouco apostaria corrida com ela ou a jogaria em uma piscina qualquer de roupa e tudo. Também não jogaria um balão d’água em cheio no rosto da princesa.

Na real: não, Ted não se parecia absolutamente em nada com um príncipe.

Com esses pensamentos, Victoire, por fim, adormeceu. No dia seguinte, ao acordar, a casa já estava uma bagunça. Para variar, os Potter haviam acordado com algum atraso. Quando, por fim, todos conseguiram tomar café e Harry conseguiu ligar o carro (por alguma razão, o carro parecia não querer funcionar), foram para King’s Cross.

Ao chegarem à plataforma 9 ¾ (Alvo se assustara um pouco com a ideia de atravessar uma parede e Lily, no colo do pai, parecia estar se divertindo à beça), Ted saiu, na companhia do padrinho, para colocar o malão em uma cabine. Victoire ficou com Gina, James e Alvo.

- Não vai com eles, Vic? – quis saber a ruiva.

- Não, tia, prefiro esperar aqui mesmo. – respondeu, simplesmente, olhando para os pés. Preferia ficar ali a ver Ted indo embora.

- Você também vai para Hogwarts, Vic. – disse Gina, em uma tentativa de consolá-la.

- Daqui a dois anos. – apontou a menina. – Se eu pudesse, iria agora.

Gina suspirou. De certa forma, via um pouco dela mesma no sobrinha. Todos entravam no trem e partiam... e ela ficava, sozinha. Sem companhia para brincadeiras.

- Por que você não vai se despedir do Teddy? Não quer falar nada com ele? O trem sai daqui a... cinco minutos. – acrescentou, após consultar o relógio. – Talvez já esteja cheio. Até o Teddy voltar, pode não dar tempo de falar muita coisa com a gente.

Victoire mordeu o lábio, inferior, pensativa. Será que Ted ficaria se ela pedisse?

Era uma ideia maluca. Mas não custava tentar.

- Eu já volto, tia. – disse, correndo para dentro do trem.

Passou por cabines e cabines até encontrar Ted, Harry e Lily. Estavam na última cabine do trem.

- Teddy, depois você vai se despedir da sua madrinha, tá? Ou pelo menos apareça na janela. – dizia Harry. – Vic, o que você...?

- Eu vim falar com o Teddy. Por favor, tio Harry, é rapidinho. – disse, de uma só vez.

- Tudo bem. Saia quando ouvir o primeiro apito, entendido? – advertiu, afastando-se com Lily. Ela parecia encantada. Estava mais risonha do que de costume.

Quando Harry saiu, Victoire percebeu que Ted já tinha companhia. Uma garota loira e um menino franzino, de cabelos castanhos.

- Teddy? Posso falar com você? – perguntou, tímida, consciente de que os colegas de cabine de Ted a fitavam com curiosidade. A garota lembrava uma das colegas irritantes que Victoire tinha na escolinha trouxa, Ashley. E Ashley odiava Victoire.

- Claro, Vic. – concordou o menino, saindo da cabine e fechando a porta.

- Teddy... e se você ficasse aqui? – sugeriu, esperançosa, encarando-o.

- Como assim? – perguntou o menino. Olhos castanhos desconfiados.

- Fica aqui, Teddy. Comigo. Por favor. Eu não quero ficar sozinha. – confessou, as bochechas adquirindo um tom escarlate.

- Vic... eu tenho que ir. – disse ele, simplesmente. – Eu já tenho onze anos.

- Você pode ir comigo. Quando eu tiver idade. – acrescentou, apressadamente, as bochechas ainda mais vermelhas.

- Vic, você não vai ficar sozinha. Tem seus pai, sua mãe, seus irmãos, avós, tios, primos...

- Mas não é a mesma coisa, Teddy. Eu não quero ir para a escola e ficar lá sozinha. – disse, tristemente.

- Mas a Domi, o Fred, a Molly e a Lucy também vão estar lá.

- Eles não são como você, Teddy. – disse, baixinho, olhando para os próprios pés.

Ted não respondeu. Não sabia o que dizer.

- Sabe, eu tenho medo de você me esquecer. Talvez você faça novas amigas. Novos amigos. E talvez eles sejam melhores do que eu. – disse Victoire, erguendo a cabeça para olhar Ted, a voz embargada. Era difícil confessar o que mais lhe apavorava. Mas ela tinha que falar. Talvez Ted ficasse com ela.

Por alguns instantes, Ted nada disse. Apenas fitou os olhos azul-claros de Victoire com os olhos castanhos que, originalmente, tinha – olhos castanhos que eram idênticos aos de Remo Lupin. Temerosa, Victoire sentia o coração bater forte contra as costelas. Tão forte que, por um segundo delirante, pensou que o coração fosse sair pela boca.

- Vic... é impossível esquecer você. – disse, simplesmente. – Ninguém substitui você. É a menina mais legal que eu conheço.

- Mas... por que você não fica, então? – perguntou, desolada. Não fazia sentido. Se ela era tão legal assim, o que custava para Ted ficar mais um pouco?

- Vic, a escola que eu ia era muito legal. E eu gostava. Mas nós somos bruxos, Vic. Meus pais também eram. E eu quero fazer parte desse mundo, sabe? Aprender a controlar a magia. Quero ser tão bom quanto eles foram um dia. Quero que eles tenham orgulho de mim, seja lá onde estiverem. – explicou, lentamente.

Victoire sentiu as lágrimas encherem-lhe os olhos. Olhou para o chão. Ted iria embora. Ela havia acabado de entender o porquê, mas mesmo assim. Ficaria faltando alguém enquanto ele não estivesse perto.

- Vic, eu não vou embora para sempre. Se quiser, pode me escrever. E eu prometo escrever para você, também. Pelo menos uma vez ao mês.

- De verdade? – quis saber Victoire, desconfiada, erguendo o olhar. Por ora, ganhava a luta contra as lágrimas. Contra o nó na garganta.

- De verdade. – respondeu Ted, com um sorriso no rosto.

- Promete que vai escrever hoje, ainda? Para me contar da Seleção? – emendou, ansiosa.

- Prometo.

Victoire sorriu de volta. O nó na garganta começou a se desfazer, aos poucos.

- Você não vai se esquecer de mim, não é, Vic? – disse Ted, em tom de brincadeira.

- É óbvio que não! – respondeu, levando a mão inconscientemente ao pingente de coraçãozinho do colar que ele lhe dera no penúltimo aniversário dela. Colar que, desde então, não tirava do pescoço para nada que não fosse tomar banho. Teve uma ideia. – Escuta, Teddy... quero que você leve isso com você. – acrescentou, tirando do pulso uma pulseira prateada que ganhara dos avós Delacour. A pulseira tinha o nome de Victoire gravado.

- Eu não vou usar uma pulseira. É coisa de meninas. – disse, com uma careta.

Victoire revirou os olhos.

- Não é para você usar. É para levar. Para se lembrar de mim. Você pode carregar nos bolsos, é suficiente. – explicou.

Cautelosamente, Ted pegou a pulseira da mão da menina e a guardou no bolso interno na jaqueta.

- É para você me devolver a pulseira quando eu for para Hogwarts. – acrescentou Victoire, em tom severo.

Naquele instante, o primeiro apito soou.

- Tenho que ir, Teddy. Au revoir! – disse a menina, saindo correndo pelos corredores do trem.

Juntou-se aos tios e aos primos na plataforma. O rosto ansioso de Ted apareceu em uma das janelas, acenando. Victoire e os Potter acenaram de volta, com exceção de Lily, que se divertia tentando pegar a fumaça que saía do trem com as mãozinhas gorduchas.

Victoire observou, tristemente, o Expresso de Hogwarts fazer a primeira curva, lá na frente. Ted tinha ido.

Mas, dali a dois anos, ela também iria. E tudo continuaria como sempre fora.

Ou não.


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Notas finais do capítulo

Lembrem-se: COMENTEM ABAIXO!
Próximo capítulo é imperdível, tá? Vic e Teddy vão se envolver em uma brincadeira de Salada Mista. E eu só posto com comentários. E DESSA VEZ É SÉRIO.



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