Ao entrar na boate senti o cheiro forte de álcool e algo que parecia ser cigarro, as luzes eram extremamente fortes e coloridas e se mexiam a cada momento formando desenhos, ao lado havia uma escada que levava em um mini-bar e cortinas vermelhas que julguei ser os lugares onde as pessoas vão pra ter mais privacidade. Em baixo, havia uma pista de dança com luzes muito mais fortes do que as outras e um bar, com vários garçons - gostosos - vestidos de calças e gravata.

Pedro pegou em minha mão me tirando da pequena análise que eu estava fazendo sobre aquela boate, me levou até o bar e pediu duas batidas de morango, recusei, mas ele fez questão de beber as duas. Depois de beber mais um pouco ele me levou até a pista de dança, e mesmo sem saber dançar fui.

Não pensem que nós começamos a nos esfregar em uma dança bastante sensual, na verdade, Pedro fez a questão de arranjar uma loira-alta-magra pra se esfregar. Depois de passar dez minutos engolindo suor sai da pista, mas acabei esbarrando com uma pessoa que aparentava estar a beira de um coma alcoólico.

- Olá gatinha, gostei das pernas. - falou praticamente arrastando a voz.

Ao olhar para cima quase surtei, Sam estava literalmente bêbado, com uma camisa branca aberta até a metade revelando seu peitoral definido e o cabelo levemente bagunçado.

- Gatinha? Você só pode estar bêbado! - gritei para que ele pudesse ouvir em meio ao som alto.

- Eu não estou bêbado. Eu estou feliz! - Ele falou dando ênfaze ao "z".

Arrastei ele para a porta da boate e tentei ligar para Pedro, mas foi em vão - maldita hora em que aquela loira foi aparecer. Deixei Sam - que estava rindo de tudo - sentado com as costas apoiadas em uma parede de frente a um parque e tentei achar o carro de Pedro, e adivinhem? O filho da puta tinha saído sem me avisar.

- Pare! Polícia de Londres! - ouvi uma voz grossa gritar para algo que estava no parque.

Olhei para o chão e vi que Sam não estava mais lá, desviei o olhar para o outro lado e vi o garoto "regando" a bandeira da França. Merda. Corri para o outro lado da rua atrás do policial.

- Qual o seu nome? - perguntou o policial a Sam.

- Meu nome? - ele fez uma cara de dúvida, e desviou o olhar para mim - Qual o meu nome gatinha?

- Seu policial por favor, ele está visivelmente bêbado, não há motivos para prender ele! - implorei.

- Senhorita, não sei de que planeta você vem, mas aqui, isso é crime e pode dar cinco anos de prisão. - ele pegou as algemas e virou Sam de costas - E você tem o direito de permanecer calado.

- Eu posso, pelo menos, acompanhar ele até a delegacia?

- Entra aí garota. - reclamou o cara que tava dirigindo a viatura enquanto comia rosquinha.

Depois de fazer cinco paradas em restaurantes de fast food finalmente chegamos à delegacia. O policial nos levou até a sala do delegado que fez algumas perguntas a ele. Sam estava dormindo e quase babando em meu ombro.

- Então, diga-me por que esse jovem está aqui. - o delegado perguntou desinteressado, como se já tivesse feito isso muito durante o dia.

- Ele urinou na bandeira. - e de repente a feição do delegado passou de tranquilo para assustado.

Mijar na bandeira é tão grave assim?

- Ela estava meio seca, só resolvi dar uma ajudinha. - falou o que menos precisava falar, dei um beliscão para que ele parasse de falar, e ao invés disso ele gritou.

- Porra por quê você me beliscou?!

- Pra você parar de falar merda, você já está em uma delegacia e quer piorar a situação?

- Isso tudo é culpa sua! Você fez uma das minhas dezesseis namoradas terminar comigo e sair contando para as outras quinze que eu tinha outras! Você queimou minha cozinha, e estourou meu cartão com latinhas de Coca-cola!

- Eu ainda não entendi a parte em que isso tem haver com o fato de você ter ido regar uma bandeira no meio de um parque!

- Dá pro casalzinho parar de brigar? - gritou o delegado - Garoto, você tá liberado, tenho certeza que é pior ficar com essa garota do que dentro de uma sela.

- Boa sorte. - falaram os três policiais e o delegado em uníssono.

...

- Acorda Anne. - falou uma voz feminina - Acorda querida, hoje vocês tem aula.

Abri os olhos lentamente tentando me adaptar com a claridade daquele quarto - ainda não entendi o porquê de tanta janela. E vi Olívia - que horas essa mulher chegou? - colocando algumas roupas em uma gaveta.

- Espera, aula?! - gritei - Mas ninguém me avisou nada.

- O Sam não te avisou? Hoje também começa as aulas dele, ele está na mesma sala que você.

- Mas ele não já tem dezoito?

- Tem, mas repitiu dois anos, então está na mesma sala que você. Você tem - ela falou olhando para o relógio de pulso - exatamente trinta minutos pra se arrumar e comer algo, Sam vai te dar uma carona.

Olívia saiu e me deixou só no quarto, aparentemente Sam já estava acordado, mesmo depois de ir parar na delegacia e ficar bêbado ele consegue acordar cedo, enquanto eu quase me mato tentando deixar os olhos abertos, triste realidade. Depois de me arrumar e vestir uma roupa fui até a cozinha e vi Sam comendo, imediatamente corri até a mesa e recheei uma das panquecas com calda de chocolate e pedacinhos de kiwi e morango.

- Eu já estou indo, te espero lá fora.

- Espera, eu vou também. - falei pegando minha mochila e seguindo Sam.

- Você se lembra de como eu vim parar em casa ontem à noite?

- Não se lembra? - ele balançou a cabeça em negação - Você "regou" uma bandeira.