Para minha sorte Olívia apareceu logo, fazendo Sam acordar, eu não iria precisar sair de fininho. Ela colocou a cabeça dentro do quarto e parecia que queria acordar Sam aos poucos, como eu estava enganada, depois do que vi eu percebi o porquê o garoto era assim.

– Acorda garoto! - ela gritou.

Sam se assustou e acabou caindo da cama, e logo o sono foi embora.

– Porra mãe. Eu já te falei sobre esse teu jeito de me acordar. - ele bufou.

Claro que eu não poderia ver esse tipo de situação e não rir da cara dele. Mas se eu pudesse voltar àquela hora, eu não teria rido.

O filho do capeta me jogou uma almofada, o que acabou me desequilibrando - já que eu estava na ponta da cama - e caindo com as costas no chão. Essa foi a vez dele rir. Confesso que no começo até faltou o ar, mas deu para superar.

– Eu já te disse para não falar esse tipo de palavrão na minha frente. - ela disse ignorando a minha queda e saindo logo em seguida.

Depois de se certificar de que ela havia saído me falou:

– Se arruma, minha mãe está de TPM. A gente tem que sair daqui se não quiser a marca das unhas dela enfiadas em nosso pescoço. - ele me jogou uma toalha.

Eu havia acordado e, apesar do pequeno show, quando acordo eu não tenho coragem para discutir. Entrei no banheiro e não fiz questão de ficar muito tempo debaixo do chuveiro, até porquê se eu ficasse o capeta ia arrombar a porta e me tirar pelo pescoço. Como nada é perfeito já saí do banheiro ouvindo reclamação:

– Você demora demais. - ele resmungou.

– Eu não sei porquê vou sair com você por causa que sua mãe está na Tensão Pré Menstrual sendo que você está em uma eterna Tensão Pré Menstrual. - retruquei, ele apenas fez um sinal para que eu não reclamasse e entrou no banheiro.

Meia hora depois o menino que não só tem o nome de garota, assim como a vaidade de uma saiu do banheiro. Ele olhou para mim esperando que eu dissesse algo.

– Eu não me meto mais nisso. - disse levantando as mãos.

Ele pegou a carteira e o celular e eu peguei uma mochila de couro com algumas coisas - comida - pois eu não sabia pra onde Sam iria me levar.

Ele dirigiu por um bom tempo, parecia que a estrada nunca ia terminar, de cinco em cinco minutos eu perguntava se estava perto, a resposta sempre era sim, mas o lugar nunca chegava.

– Sua mãe sabe que a gente saiu? - perguntei - Acho que ela vai enlouquecer se a gente demorar.

– Mandei uma mensagem, disse que estava tudo bem, mas não disse onde a gente estava senão ela iria nos caçar como se nós fôssemos o chocolate com licor dela. - ele falou como se Olívia realmente fosse uma maníaca durante a TPM - Chegamos.

Estava tão distraída falando com Sam que não havia percebido a vista, nós estávamos em uma praia, aparentemente deserta, mas em que havia algumas casinhas de praia, que não estavam ocupadas, já que não era época de férias nem feriado.

Fiquei tão paralisada com a beleza do cenário que me esqueci de tudo ao meu redor e só me lembrei quando Sam abriu a porta para que eu saísse. Andamos até as pequenas casinhas e entramos em uma, que não era muito grande mas que era bastante bonita. Deduzi ser da família dele, já que estava com fotos dele e de Olívia por toda parte, inclusive havia uma em que Olívia beijava um homem e Sam estava entre eles.

Eu nunca tinha ouvido falar sobre o pai dele. E como eu não consigo guardar curiosidades...

– É seu pai? - perguntei.

Ele estava do outro lado da sala, e não sabia do que eu estava falando então se posicionou do meu lado e viu a foto.

– É sim. - ele pegou o porta retrato nas mãos - Faz tempo que não venho aqui, acho que vou levar isso pra casa. - ele disse colocando somente a foto dentro da minha bolsa.

– O que aconteceu com ele? Seus pais se separaram? - perguntei novamente.

– Na verdade, não. - ele respondeu - Minha mãe engravidou cedo, ela tinha dezesseis e meu pai dezoito, mas nessa mesma época em que nasci ele teve que se alistar no exército. Quando eu tinha cinco anos ele morreu. Eu não soube a causa, mas sei que foi trabalhando.

– Mas... - ele me interrompeu.

– Não, depois a gente fala disso. - ele riu e me jogou no ombro e correu pela areia fina da praia, até me jogar no mar.

– Cria do capeta. - gritei ao sentir a água gelada.

Empurrei a cabeça dele inutilmente. Ele até poderia ter nome de menina e a vaidade de uma, mas era forte o suficiente pra não deixar ser afogado por uma magrela como eu. Mas o que tenho de magrela, baixinha, ruiva e branquela eu tenho de teimosa. Então eu não desisti, até que ele me segurou pelo pulso e me fez ficar de frente para ele.

Ele me olhou como se tivesse algo te interessante em mim, e começou a se aproximou, encostou seus lábios devagar nos meus, senti um pouco do gosto salgado, mas um onda nos atingiu, e a água gelada me fez voltar ao meu juízo, saí correndo pela areia da praia, e ele veio atrás de mim, eu nunca fui muito boa em correr, então ele não teve problemas em me alcançar.

Acabamos rolando na areia, e ele veio parar sentado em cima de mim, isso me parecia e ainda parece clichê, mas aconteceu. Ele se levantou e me deu sua mão para eu me apoiar, aceitei, e ele acabou me puxando para junto de si, colocando seu rosto bem próximo ao meu.

Deu um selinho em mim, e depois outro, em seguida aprofundou o beijo. Este não era um beijo comum, era o tipo de beijo calmo e macio, mas que tira de você tudo e te dá vontade de ficar lá até o fim de sua vida, mas o garoto acabou se afastando, e me condenei por querer que ele continuasse.

Eu definitivamente não estava em meu estado normal.