Ponto de vista: Hermione Granger.

Abri os olhos e me espreguicei na grande cama do dormitório da Grifinória. Fiquei fitando o teto acima de mim de maneira preguiçosa. Eu estava cansada, havia passado a madrugada inteira fazendo deveres e mais deveres.

Enviei uma carta pra Harry e outra para Rony pouco antes de ir dormir, e até então não tinha recebido respostas. Eu sabia que havíamos brigado e foi totalmente errado da parte do Harry esconder sobre Rony estar gostando de outra garota, mas eu sentia falta dos meus melhores amigos, além do que eu percebi que Rony não era tão importante assim na minha vida, e sim os estudos. Eu devia me focar neles e não e um relacionamento amoroso.

Me levantei e me arrastei até o banheiro depois de separar as vestes da Grifinória, tomei um banho calmo e despreocupado. O bom da escola estar vazia é que se pode demorar o tempo que quiser dentro do banheiro sem ser incomodada.

— Hermione, anda logo, eu quero usar! — Tudo bem, nem tanto assim.

— Eu já vou, Angelina! — Disse fechando o chuveiro e logo em seguida me trocando.

Saí do banheiro com uma escova de cabelos na mão passando-a em meus cachos molhados.

Terminei de me trocar e peguei a bolsa com o material do dia, que eu deixava preparado todos os dias antes de ir dormir para não ter atrasos. A pendurei nas costas e segui para o salão comunal tomar o café da manhã.

Sentei-me, como de costume, à mesa da Grifinória, de costas para a mesa da Sonserina. Por um motivo incrivelmente estranho eu sentia que alguém de lá estava me observando há tempos, e não sabia porque, ou quem – levando em consideração que apenas Malfoy e Zabini ocupavam tal mesa, era um fato estranho. Mas eu sabia que era só um delírio meu, estava há muito tempo sem amigo nenhum em Hogwarts, talvez a falta deles me causasse alucinações.

Quando estava degustando minha torrada com geleia, o salão foi invadido por duas corujas pardas, uma indo à mesa da Lufa-Lufa, e a outra despejando sua carta sobre meu prato. Era de Harry e Rony.

Larguei o garfo com um estralo no prato e rasguei o envelope, desdobrando o pergaminho e passando os olhos pela tinha preta mal desenhada por Rony.

Hey Hermione, quanto tempo.

Achamos estranho que nos tenha mandado essa carta, vide que não somos mais amigos.

Mas sim, nós estamos bem. Harry está morando nA’Toca depois de tudo que aconteceu, você sabe. Mas estamos bem, e fico feliz em saber que todo o ressentimento ficou para trás, inclusive o fato de você ter.... Bom, você sabe.

Então, como anda seu relacionamento com o... Malfoy? Merlin! É tão estranho pensar em vocês dois como um casal...

De qualquer forma, espero que esteja bem.

Harry e Rony.

Olhei para o papel perplexa. Meu relacionamento com o Malfoy? Que tipo te piada era aquela? E do que o Rony se referia na carta? O fato de eu ter feito o quê?

O dobrei e coloquei em minhas vestes. Lancei rapidamente um olhar para a mesa da Sonserina, e o loiro chamado Draco Malfoy desviou o olhar no mesmo instante. Ele estava olhando pra mim, provavelmente rindo da minha cara, era ele quem tinha escrito aquela carta, só não entendia como conseguiu copiar tão bem a caligrafia do Rony.

Me levantei lançando ao Malfoy um olhar cortante enquanto seguia em sua direção. Zabini acabara de levantar da mesa dele e seguia para a porta principal do salão comunal.

Eu marchava até lá com passos firmes e parei de frente ao Draco de braços cruzados com o papel na mão.

— Olha — Comecei, ameaçadora, olhando Malfoy de cima que me encarava de cabeça erguida por estar sentado. — Eu não sei que tipo de brincadeira sem graça é essa e nem porque você está fazendo isso, mas eu acho bom que pare logo porque isso não vai te levar a lugar nenhum. — Disparei e o encarei desafiadora.

Malfoy me encarou e eu fitei seus olhos.

Alguma coisa ali me parecia familiar e pareceu mexer comigo – ele estava tentando bancar o durão, mas seu olhar tinha uma pontada de melancolia e dor e quando ele falou parecia que sua garganta estava amarrada.

— Eu não sei do que está falando — Disse baixo, sem o típico tom arrogante que mantinha toda vez que dirigia-se a mim, o que era de se estranhar.

Joguei a carta em seu colo, e ele leu aquilo parecendo preocupado. Me encarou com um tom de preocupação no olhar e deu uma risada forçada, tentando contornar a situação.

— Eu não sei quem fez isso Granger — Retrucou com os dentes trincados, mais uma vez o tom arrogante em sua voz não funcionou como deveria. — Mas certamente não fui eu. Nós dois, em um relacionamento? Por Merlin, nem em sonho — Aquilo tudo estava ridículo.

Malfoy parecia temer. Seu olhar tinha dor, melancolia e medo, e não o toque superior que ele tinha toda vez que me olhava e o tom de voz era totalmente o oposto do que ele falava comigo: a voz arrastada, arrogante e hostil não existia mais ali, só um tom triste de preocupação e medo.

Talvez eu estivesse ficando louca e estava imaginando coisas, mas aquilo, de fato, era muito estranho.

— É uma pena que a única pessoa da qual eu tenha um contato maior dentro dessa escola seja você — Grunhi e joguei o papel em cima dele — Eu não vou responder à essa carta porque é falsa. Eu, Harry e Rony estamos brigados e deve ser por isso que ele não me respondeu carta alguma até agora, não me perdoaram. Isso aqui — Apontei pro pergaminho em seu colo — É ridículo. Malfoy, pare com isso. Eu sei que está no tédio e estar aqui não agrada você mas eu não tenho nada com isso! Me deixe em paz, isso tudo acabou, você não tem mais que fingir querer qualquer contato comigo, seja pra me humilhar, me desprezar ou o que for. Isso já se tornou cansativo.

Ele se levantou me olhando com raiva, o rosto ficando vermelho porém seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— AH, então quer dizer que a sabe tudo sangue ruim brigou com o namoradinho e está se sentindo solitária, e então, por isso, decidiu vir encher minha paciência me culpando por coisas que eu não fiz? Pelo amor de Merlin, Granger. Parece que quem está no tédio aqui é você, e sem nada para fazer, não é de me surpreender que esteja querendo me perturbar, é tudo que tem feito desde que pisou dentro dessa escola aonde você não tem dignidade para pertencer. Eu tenho o Zabini mas como você disse a pessoa que tem mais contato aqui, mesmo que seja negativo sou eu. Então me deixe em paz e vai ratear dentro da biblioteca porque eu não tenho nada a ver com isso. — Malfoy parecia bravo. Seus olhos me encaravam tempestuosos e violentos, porém a melancolia ainda não os deixava, e a tristeza ainda fazia parte de sua voz, embora esta estivesse mais dura e hostil agora.

Estávamos em um proximidade perigosa e eu encarava seus olhos enquanto seu dedo estava apontado pro meu peito. Minha cabeça estava erguida vide que Malfoy era mais alto do que eu.

Eu estava com raiva, ele não tinha direito de falar tudo aquilo que falou.

Sem pensar duas vezes eu o encarei com profunda raiva e meu braço se levantou no ar, voltando-se com força contra sua face branca em um tapa estralado.

— Não se atreva. Nunca mais. A falar comigo. Desse jeito. E nem fazer essas brincadeiras estupidas. Eu cansei de te aturar.

Sua mão parou ao lado esquerdo da bochecha onde eu havia dado o tapa e ele me encarava, perplexo.

— De... — Começou, mas seus olhos piscaram e então ele assumiu a arrogância no tom de voz novamente — Deixe-me em paz, Granger.

— Com todo prazer — trinquei os dentes e girei nos calcanhares, seguindo para as aulas.

Alguma coisa muito estranha estava havendo.

Malfoy jamais agiria daquela forma, principalmente depois de eu ter lhe dado o tapa – era a segunda vez que eu batia ele, a primeira tinha sido no terceiro ano. Ele jamais deixaria que aquilo acontecesse.

Entrei na sala e me sentei na última carteira, esperando o professor chegar, pensativa.

Por que Draco parecia tão fragilizado ao falar comigo? Sua voz arrogante não era mais a mesma, seus olhos não me encaravam superiormente como antes. Não que aquilo fosse ruim, mas aquele comportamento não cabia à ele.

Que diabos está acontecendo?