Ponto de vista: Draco Malfoy.

O motivo então bateu na minha porta. Pouco depois que encontrei com ela, quando cheguei ao meu dormitório, recebi a carta de minha tia me convocando para a casa dos Black o quanto antes que o plano dela de trazer Voldemort de volta estava entrando em ação. Eu só não pensei que fosse ser tão cruel assim.

Draco, espero que tenha feito o que lhe mandei e se livrado daquela sangue ruim, de qualquer forma, você não teria escolha. — A carta relatava. — Eu descobri como trazer nosso lorde de volta, e precisaremos dela, já que foi ela quem o fez declinar.

Preciso de você na mansão o mais rápido possível, e não pense em fugir, se esconder, porque vai ser pior pra você. Sei que não queria isso, mas você é merecedor.

Como eu queria que tudo aquilo fosse mentira. Eu mentalizava a cada momento que acordaria de um pesadelo horrível, com Hermione ao meu lado. Eu estava errado. “Precisaremos dela”. Aquilo me atormentava. Ela precisava usar Hermione para o ritual, com certeza e sem sombra de dúvidas não seria algo bom, e ela sairia machucada ou talvez morta.

Amassei o papel em minhas mãos e joguei a cabeça para trás, segurando as lágrimas que acumulavam-se em meu rosto enquanto meus olhos ardiam. Eu me odeio. Esse era o meu pensamento mais decorrente.

Vamos acabar com isso logo. Seu sofrimento é inevitável.

Infelizmente minha consciência estava certa, pelo menos dessa vez.

Eu sentia tudo e nada ao mesmo tempo; uma mistura de ódio, rancor, medo, dor, no entanto um vazio imenso se alojava em meu peito. Da última vez que me senti assim, ela estava ao meu lado.

Irritado, eu rumei para o corujal. Na metade do caminho, passei por Hermione. Não era como se fosse diferente, toda minha perturbação aumentou ao saber que aquilo dependeria dela, era ela quem estava correndo risco, era ela que seria um brinquedinho nas mãos da minha tia. E era minha culpa. Maldita hora que fui me apaixonar.

Um soluço irrompeu por minha garganta e eu passei o mais rápido que podia. Meu corpo inteiro tremia, eu não queria ter escolhido aquilo. Eu queria ter tido escolhas.

Desde que eu conseguia lembrar, tudo que há dentro de mim, só queria se encaixar.

Ao entrar no corujal, me apoiei em uma das janelas, a cabeça baixa, enquanto eu deixava toda a agonia que sentia escapar por meus pulmões doloridos.

Eu nunca fui um para dissimulados, tudo o que eu tentei ser só não combinava comigo.

— Maldita hora que ela foi entrar na minha vida! Maldita hora que eu fui me apaixonar por aquela maldita sangue ruim! Maldita Granger! — Mais lágrimas escorriam.

A lembrança dos seus olhos marejados quando eu tirei sua memória veio à minha mente mais uma vez. Ela me amava e eu tive que destruir tudo.

Se eu te dissesse o que eu era, você viraria as costas para mim? Mesmo se parecesse perigoso, você ficaria com medo?

Eu estava absolutamente sozinho. Meus pais haviam desaparecido e a única pessoa que eu podia ter comido não fazia ideia de quem eu era realmente.

Minha cabeça girava em toda as direções, todos os sentidos, tentando pensar em algo para me livrar daquela situação. Eu simplesmente não conseguia.

Sou só um homem com uma vela para me guiar; Eu estou lutando para escapar do que está dentro de mim: um monstro, um monstro. Eu estou virando um monstro.
Um monstro, um monstro, e está ficando cada vez mais forte.

Meu peito doía, os soluços irrompiam de forma violenta, como se meus pulmões necessitassem escapar deles. Meus dedos enrolaram-se em meu cabelo platinado, apertando-os com força. Abri os primeiro botões da camisa e mordi fortemente o lábio. Eu precisava parar de chorar. Eu precisava;

As lágrimas escorriam sem que eu tivesse controle sobre elas, e as lembranças pareciam queimar em meu cérebro. Os toques de Hermione quando tivemos nossa primeira e única vez. Seus dedos delicados passando por minha bochecha, meus cabelos... Nós éramos um só e agora a vida dela corria risco e eu não podia fazer nada para mudar isso.

Posso ficar com a consciência limpa, se eu sou diferente do resto, tenho que fugir e me esconder?

Ergui a cabeça para trás, piscando algumas vezes, tentando manter a calma. Meus olhos ainda ardiam e meu peito ainda insistia em soltar soluços repentinos. Era como se eu não tivesse mais controle sobre mim mesmo.

Eu sentia raiva.

Sentia nojo.

Arrependimento.

Dor.

Tudo isso misturava-se dentro de mim.

Raiva daquela situação; nojo da minha tia; angustia por não poder fazer nada; arrependimento por ter chegado aonde cheguei, eu podia ter continuado, e fazer com que Hermione ficasse ao meu lado; dor por não tê-la mais comigo e não poder fugir daquela situação.

Eu nunca disse que queria isso. Esse fardo veio até mim e me fez de sua casa.

Meu punho se virou contra a parede e esmurrou-a uma vez. Senti dor na mão, e a pele começou a sangrar, mas eu não me importava; então, eu esmurrei o vidro da janela, cortando meus dedos e as costas de minha mão. Doía, mas não era tão forte quanto a dor que eu sentia por não tê-la comigo.

Então, de repente, eu senti algo segurando meus braços, me impedindo que eu desse um terceiro murro.

As malditas lágrimas voltaram a romper por meu peito. Era mais que tudo aquilo, era desespero, eu estava desesperado. Eu não podia fazer nada senão me curvar ao que estavam ordenando, e, honestamente, estava cansado de tudo aquilo. Não foi a vida que eu escolhi.

Eu não sabia quem estava atrás de mim, então me debati e dei meu terceiro murro, quebrando um segundo vidro. Seus cacos voaram torre abaixo e eu gritei em pleno pulmão, tudo que precisava era liberar tanta raiva, mas parecia impossível.

— MALFOY! — Eu não queria me virar.

Não depois de ouvir a voz da pessoa que estava me segurando. Balancei a cabeça, e controlei o choro. Talvez fosse realmente um pesadelo, e que agora estava se transformando em um sonho. Doce agonia. Doce demais para ser ela a estar ali. Agonia demais por ser ela que estava ali. Eu podia conviver com aquilo se fosse um pesadelo se tornando um sonho, mas infelizmente, era minha dura realidade. Eu não queria encarar seus olhos de novo.

— Vai embora, Granger! — Me virei e tentei ser o mais rude que eu podia.

Seus olhos estavam arregalados e assustados, ela então deu dois passos para trás. Eu estava assustando-a. Talvez fosse melhor assim. O primeiro passo era me livrar do sentimento que eu nutria por ela, não? Mas tudo que eu queria fazer ao ver os olhos castanhos assustados e arregalados era tentar tirar o medo deles. Acontece que eu era o problema do medo. Eu era o problema da vida dela estar arruinada e ela sequer ter ideia do que estava acontecendo, era tudo culpa minha.

Se eu te dissesse que eu era, você viraria as costas para mim? Mesmo se eu parecesse perigoso você ficaria com medo? Tenho a sensação apenas, porque tudo o que eu toco não é obscuro o bastante, se o problema está em mim.

— Vai. Por favor, vai — Meu peito se contorceu enquanto outro soluço irrompia de meus pulmões.

Eu odiava aquele sentimento.

Sou só um homem com uma vela para me guiar; Eu estou lutando para escapar do que está dentro de mim: um monstro, um monstro. Eu estou virando um monstro.
Um monstro, um monstro, e está ficando cada vez mais forte.

Eu odiava estar apaixonado por ela. Eu odiava tentar me livrar daquilo.

Eu me odiava, porque cada centímetro do meu ser era composto pelo que eu sentia por Hermione.

— Só depois que me explicar o que está acontecendo. — Afirmou decida, mas seu olhar ainda carregava o medo.