P.o.v Austin

Senti uma leve brisa atacar o meu rosto, e meus olhos abriram-se involuntariamente, encontrando uma pequena claridade espalhada pelo quarto onde eu me encontrava, e que por acaso, não era o meu. Olhei para a grande janela num canto do quarto, observando que várias nuvens cinzentas escondiam o Sol, e o ambiente começava a ficar um pouco mais gélido. Tentei lembrar onde eu estava, ou se eu já havia vindo aqui antes, quando eu me deparo com um monte de cabelos castanhos em minha cara. Bem, aquele aroma de frutas que eu não consigo mais identificar eu conhecia.

Era a Ally.

E eu sorri quando vi que ela estava bem ali, pertinho de mim, de novo.

E sorri ainda mais quando me lembrei da noite passada. Não achei que aconteceria de verdade, quer dizer, aquela era Ally Dawson, a garota a qual eu sempre estive em pé de guerra (ela mais que eu), a garota a qual eu sempre fiz questão de irritar, apenas para tê-la sempre ali perto de mim, porque eu sabia, e esperava que ela também soubesse, que nós nunca iríamos nos afastar. E cara, olha agora, eu to aqui numa cama com ela. E tipo, eu não poderia estar mais feliz, eu acho.

Meus dedos encontraram a sua pequena franja desarrumada, afastando-a para que eu pudesse beijar sua testa, e eu vi quando um pequeno sorriso formou-se nos lábios dela quando eu havia a beijado.

– Bom dia – murmurei, não querendo muito desfazer o silêncio gostoso que estava entre nós.

– Bom dia – ela respondeu, suspirando e enterrando seu rosto em meu pescoço. Eu ri de sua manha e a cheguei para mais perto de mim.

– Dormiu bem? – perguntei.

– Quer que eu minta pra você? – ela disse, movendo o rosto e sorrindo pra mim.

– Prefiro a verdade.

– Melhor noite da minha vida – aquilo me pegou de surpresa, e eu não sabia o que fazer a não ser retribuir o sorriso dela – Isso aí que eu tô vendo no canto do seu olho é uma lágrima, senhor Moon? – ela se afastou e começou a rir. Eu limpei meus olhos, constatando que não havia nenhuma lacrimação.

– Que? Filha, já ouviu falar de pequenas lacrimações matinais? Pois é. – ela me olhou não muito confiante, mas sorriu de novo, enterrando novamente o rosto em meu pescoço.

– Seu cheiro é tão gostoso, sabia? – ela murmurou – Sei lá, me deixa nas nuvens, me faz viajar... eu sei, não faz sentindo, mas... – a interrompi, enterrando também meu rosto em seu pescoço.

– Caramba, pensei que só eu pensasse isso – ela arqueou a sobrancelha – eu meio que já to viciado em seu cheiro, uma droga talvez. – afastei -me, encarando-a.

Ela sorriu.

Ficamos em silêncio.

O melhor silêncio do mundo.

Seu olhar se misturou com o meu, nossas respirações engatadas, sua mão caminhou lentamente por meu abdômen nu, parou e segurou minha corrente, puxando-a para si. Meu rosto foi puxado para baixo, nossos lábios a milímetros de distância. Eu os rocei, fechei meus olhos, mas não a beijei.

– Tenho que ir – sussurrei entre seus lábios, fazendo-a abrir os olhos um segundo depois.

– O que? – ela arqueou as sobrancelhas – Tá de brincadeira, não é?

– Eu tenho que ir embora. – repeti.

Ela me encarou com um olhar inexpressivo e fez um gesto de negação com a cabeça. Se ajeitou para sair debaixo de mim e levantar da cama. Fiquei com cara de tacho ali, sem entender nada de sua reação.

– O que aconteceu Ally? O que eu fiz? – vasculhei com os olhos o chão do quarto e achei minha cueca, enquanto a Ally vestia a primeira peça de roupa que havia encontrado pelo chão, e que por um acaso era a minha camisa. Ela correu até o banheiro, mas eu fui mais rápido e a agarrei pelo braço.

– Me solte seu imbecil! - seus olhos encheram de lágrimas, eu podia ver, mas ela se impedia de deixa-las escapar. Aquilo estava me intrigando e eu não conseguia entender o porquê daquilo tudo.

– Não antes de você me dizer o que foi que aconteceu. O que eu fiz de errado?

– Vai logo embora, vai Austin. Não é isso que você quer? Que você faz, pra ser mais exata.

– O que? – agora eu estava extremamente confuso.

– Demorou, mas eu entendi.

– Entendeu o que?

– Eu sou só mais uma, Austin. Não finja mais. Primeiro você faz charminho, diz que eu sou especial, um monte de merda, e a burra aqui caiu, só pra depois você transar comigo e cair fora, não é? Admite.

– Mas o que... De onde você tirou isso, garota?

– “Tenho que ir”. Um bom argumento, não? Por quê?

– Nós temos escola, e provavelmente já devemos estar atrasados.

– E desde quando você se preocupa com a escola?

– Desde quando você não se preocupa?

– Desde a hora em que eu percebi que acordar ao lado de alguém que eu amo é melhor que tirar um A em Inglês ou Matemática.

– “Alguém que eu amo”? – aquilo me pegou de surpresa, sinceramente, e quando eu vi já estava colado com a Ally, esperando uma resposta que comprovasse que eu não estava pirando.

– Você me ama? – ela perguntou, a duvida em suas palavras.

– Eu não sei – disse, abaixando a cabeça, tentando entender aquilo tudo.

– Você não gosta de mim.

– Eu nunca disse isso.

– Me dê uma prova.

– Eu conheço todas as suas manias – Ally arqueou uma sobrancelha, como se duvidasse do que eu disse – Viu? Primeira, você adora arquear as sobrancelhas, quando estar surpresa arqueia as duas, quando está em duvida, arqueia a direita.

– Isso todo mundo faz Austin – desdenhou.

– Segunda, você tem mania de umedecer os lábios de cinco em cinco minutos – ela passou a língua pelos lábios, um sorriso de canto formando-se em seus lábios.

– Terceira, quando está distraída, enrola os cachos do cabelo no dedo indicador. Quarta, roça os dedos do pé quando está nervosa ou impaciente. Quinta, coloca o cabelo atrás da orelha sempre que está envergonhada, ah, e também morde os lábios e...

– Isso é ser observador, Austin. Não quer dizer nada.

– Não quer dizer nada quando você não admira cada uma dessas manias.

– Você admira?

– Eu acho fofo.

– Fofo? Sério? – seu sorriso caiu, e o meu cresceu ainda mais.

– Você tem manias e hábitos comuns Ally, como o de muitas garotas. Mas tem uma coisa; Cada vez que você morde os lábios, ou os umedece, cada vez que você põe o cabelo atrás da orelha ou roça os dedos dos pés, é único. É um jeito seu, um jeito próprio, peculiar. Você é desajeitada e ao mesmo tempo adorável. E eu gosto disso, gosto de ver você sendo você. Sua peculiaridade, seu jeito, suas manias, me atraem, me deixam mais próximo de você, e eu amo isso.

– Austin, me responde uma coisa? – ela tinha um sorriso nos lábios, mas duvida nos olhos.

– Certo.

– Em qualquer situação, você esteja passando pelo que for, você poria as necessidades de um outro alguém na frente das suas? – ela perguntou. Aquela pergunta me deixou confuso, mas eu pensei bem antes de respondê-la.

– Eu não sei, eu... – fitei seus olhos, procurando, de alguma forma, uma resposta dentro deles – Eu sempre me pus na frente, tudo tinha que ser como eu queria, e antigamente, antes de te conhecer, me conhecer, eu diria que não. Mas hoje, bem, eu pensaria duas vezes antes de responder a isso. Porque, olha, eu aprendi que não sou só eu que importo. Eu consegui ver, e consegui sentir também, por mais incrível que seja, a importância de outra pessoa, e ela era mais importante que eu. Nosso sentimento era mais importante, e maior, que nós dois. E Ally eu... – olhei novamente para aqueles olhos, descendo meu olhar para seus lábios e deles serem sussurradas duas palavras, aquelas que me fizeram comprovar algo que eu já havia sentindo faz um tempo, mas não sabia realmente o quão grande poderia ser.

“Fica comigo?”

– ...Eu te amo.