Quando acordei e olhei em frente saltei da cadeira assustada. Alexy encarava-me contente, provavelmente esteve a observar-me desde que acordou, mas quando teria sido isso? Lancei-lhe um olhar mortal que o fez encolher (falsamente) com um sorriso no rosto.

–Bom dia! – Disse-me num sussurro amoroso.

–Bom dia… – Respondi com uma voz ensonada enquanto continha um bocejo.

–Já te disse que fazes uma expressão muito fofa quando dormes? – Corei com o comentário.

–C-Cala-te!

–Oh que lindo! É a primeira vez que te vejo corar e oiço hesitar!

–Também não é caso para tanto…

–Desmancha prazeres. – Censurou-me.

–Ei Alexy… – Chamei baixinho assim que me lembrei de algo. Ele acenou incentivando-me a continuar. -É verdade que já te vais embora hoje?

–Sim. – Respondeu no mesmo tom baixo.

–Que pena, gostava que ficasses mais tempo. – Desabafei sem pensar.

–Oh Meu Deus! O mundo vai acabar! Desde quando é que te tornaste assim?

–Assim como? – Eu não estava a entender nada do que ele dizia.

–Assim! Sei lá, mais aberta e verdadeira! Antes eras sempre fechada e reservada, por vezes era difícil falar contigo, pôr-te a sorrir e a agir como uma rapariga normal! Ontem eu bem notei que estavas diferente, mas preferi não comentar, ainda bem que tive esta oportunidade agora…

–Oh isso…

–Como assim isso? Isto é um milagre do céu!

–Menos Alexy, menos… Eu apenas percebi que não estou sozinha no mundo e que posso ser mais feliz se tiver amigos…

–Como eu? – Sugeriu.

–S-Sim.

–E o Armin também?! – Continuou, referindo o irmão e fazendo-me recordar o mesmo. Como é que ele estaria mesmo?

–Sim, também.

–E o Nathaniel como namorado!?

–S… O quê? – Engasguei-me.

–Hahaha ‘tou a brincar, a brincar… Ou talvez não. – Disse com um sorriso brincalhão.

–Já te disse para parares com isso!

–Pronto, pronto já parei senhora resmungona. – Afirmou encolhendo os braços para perto do peito em sinal de rendição.

Tirei a língua de fora como uma criança pequena faria, o que fez Alexy rir-se. O mesmo retirou algo do bolso e colocou nas minhas mãos, era um pequeno porta-chaves retangular que dizia: “You’re always welcome here!” Virei o pequeno retângulo, na parte de trás havia uma inscrição com uma morada e um número de telefone fixo.

–O que significa isto? – Perguntei um pouco confusa.

–Significa que tens de nos vir visitar um dia, o Armin ficaria muito feliz. E se não o fizeres eu venho cá raptar-te, okay?

–Okay, mas eu prometo que vou visitar-vos assim que puder.

Alexy levantou-se, dirigiu-se a mim e acariciou-me o cabelo, quer dizer, despenteou-me o cabelo, como um irmão mais velho faria. Depois, arrastou-me até lá fora. Após um beijo final na bochecha e um piscar de olho maroto subiu na sua vespa e partiu acenando. Acenei também em despedida apesar de saber que ele não estava a olhar, uma lágrima caiu-me nos olhos, mas eu enxuguei-a rapidamente. Não é um adeus definitivo, pensei.

Mais calma, entrei novamente a tempo de ver China e Lysandre a descer as escadas e Nathaniel a acordar. Todos tinham uma cara de sono. Murmurei uns “Bons dias” sendo logo respondida pelos três. China foi a primeira a perguntar:

–O Alexy?

–Já foi, acho que ele estava com pressa. – Menti na parte final sem saber que outra desculpa dar.

–Está mesmo um dia agradável para ir à praia. – Comentou Lysandre olhando através da janela.

Segui o seu olhar até lá fora, ele tinha razão, o sol brilhava como nunca e o céu parecia mais claro do que é costume, além de não ter sinal algum de nuvens. A praia começava a tornar-se uma boa ideia, eu preciso mesmo de descansar, relaxar e clarear algumas ideias, então nada melhor que o mar que tanto adoro para me acalmar.

–Então, nós vamos andando, né? Até já Aya. – Disse-me China.

Acho que distraí-me um pouco e só percebi o que China disse quando começaram todos a mover-se em direção à porta.

–Até já. – Murmurei um pouco atrapalhada.

Depois de todos saírem a casa ficou silenciosa. Um silêncio que até chegava a fazer confusão. Será que eu já não estava acostumada ao sossego? O tempo também passou devagar, preparar as coisas para a praia demorou menos tempo do que eu esperava. Como eu tenho quase tudo arrumado foi bem fácil encontrar o meu único biquíni juntamente com a toalha de praia, o protetor solar, os chinelos e os óculos de sol. Preparei uma mochila com a toalha, o protetor, alguma comida, uma garrafa bem grande de água, algum dinheiro e outros pertencentes pessoais indispensáveis. Depois vesti o biquíni, por cima pus um vestido que me ficava um pouco solto e calcei os chinelos, terminei o meu look com os meus óculos de sol que ficaram no topo da minha cabeça, pois não há sol dentro de casa.

Entretanto também almocei, arroz com atum, já que estava com preguiça de cozinhar algo mais elaborado. O resto do tempo foi ocupado primeiramente comigo a tratar da roupa, apenas a minha já que Nathaniel tinha insistido para eu não me preocupar com a dele (afinal dentro de muito pouco tempo deixaremos de viver na mesma casa), de seguida vi um programa que passava na televisão, algo relacionado com o Universo, por fim ouvi também um pouco de música, isto tudo porque ainda não tinha comprado um novo livro para me entreter.

Tocava Know You Enemy – Green Day quando oiço a campainha tocar. Quem teria sido o primeiro a despachar-se? Abro a porta e deparo-me com Nathaniel, já vestido a rigor para uma tarde bem passada na praia, o mesmo sorriu entrando.

–Tentei ser discreto e apenas falei com a minha mãe… Ah ela disse-me que amanhã o meu pai quer falar connosco pela manhã, espero que não tenhas planos para essa altura.

–Nem por isso…

–Ainda bem. – Murmurou num tom quase inaudível.

De repente a campainha toca novamente, dirijo-me à porta ao mesmo tempo que Nathaniel se afasta para me deixar passar. Em frente à mesma encontravam-se China e Lysandre também já vestidos apropriadamente para a “ocasião”. Sorrio discretamente enquanto faço sinais para entrarem, peço para esperarem só um pouco e subo até ao meu quarto para ir buscar a minha mochila, quando desço novamente já estão todos sentados nos sofás à minha espera. Saímos todos em fila, espero que todos passem e fico para última de maneira a ser eu a fechar a porta.

***

No autocarro, que não demorou muito a chegar, China sentou-se com o namorado e eu, sem outra escolha, tive de sentar-me ao lado de Nathaniel. Insisti para que eu ficasse na janela, queria ser a primeira a avistar o mar… Durante a viagem mantivemos uma conversa animada, que teve de ser interrompida devido a umas senhoras muito simpáticas que nos mandaram calar. Ainda bem que elas também não ficaram muito tempo no autocarro, a própria conversa delas, que também era feita num tom muito baixo, sobre as suas queridas netas profundamente educadas já começava a irritar-me.

A nossa conversa também não continuou, pois o mar já começava a tornar-se visível. Entusiasmada espreitei pela janela, oh como eu tinha saudades de poder dar um belo mergulho no oceano. Quando o autocarro parou descemos do mesmo juntamente com mais meia dúzia de pessoas que provavelmente teriam o mesmo destino que nós. Olhei para a praia, apesar de não ser das maiores continuava a ser perfeita, as ondas grandes, mas não gigantes pareciam chamar-me e eu não hesitei em procurar rapidamente com o olhar um lugar agradável para nós nos instalarmos.