Não sei quanto tempo Alexy esteve fora, mas devido ao choque da sua visita inesperada não fui capaz de responder a nenhuma das perguntas que os meus amigos me faziam, pelo contrário, apenas consegui atirar-me para o sofá e permanecer lá. Confusa, perdida e sem reação são algumas palavras que podiam descrever-me perfeitamente neste momento, eu não esperava receber tão cedo a visita de alguém, aliás eu não esperava que alguém me viesse visitar sequer!

Tinha sido sempre uma sombra desde que aquele “incidente” aconteceu e tentava sempre afastar ou esquecer as pessoas que induziam uma aproximação. Alexy era a única uma pessoa que eu poderia ter vindo a considerar amiga, sem contar com o seu gémeo que era praticamente arrastado pelo irmão. Talvez se eu tivesse ficado mais algum tempo na cidade onde os conheci as coisas pudessem ter avançado e uma amizade nascido, apesar de eu evitar sempre que possível uma aproximação, com Alexy não havia hipóteses, aquele rapaz era mais teimoso que eu! Armin, o seu irmão gémeo, apesar de parecer estar sempre distraído nos seus próprios assuntos (que basicamente são games) chegava a ser cúmplice do irmão e acho que os dois conspiravam contra mim, tentando sempre tirar-me daquele meu modo depressivo (como Alexy costumava dizer)… Não sei porquê, mas sempre suspeitei que eles conseguiam ver através de mim, apesar de não saberem o que se tinha passado, ambos desconfiavam (e com razão) que eu nem sempre tinha sido assim, também nunca me perguntaram acerca disso, talvez compreendiam que eu não queria falar e preferiam o meu silêncio ao meu incómodo e consequente afastamento.

Desviei-me dos meus pensamentos com o toque da campainha, Alexy já estava de volta? Será que eu tinha ficado assim tanto tempo a pensar ou foi ele que se despachou bem rápido? Vi Lysandre a aproximar-se da porta e abri-la, de onde transpôs o rapaz acompanhado de milhões de sacos, todos eles cheios de snacks e garrafas (pelo menos foi o que me pareceu). Pela primeira vez consegui reagir, levantei-me e disse:

–Para quê isto tudo? – Questionei apontando para o molho de sacos que já começavam a espalhar-se pelo chão.

–Para a festa obviamente.

–Oh opá, tu nunca mudas? Bolas, ninguém merece. – Reclamei abanando a cabeça em sinal de negação.

–Não sejas cortes Ay, tu vais divertir-te tal como todos nós!

–Mas… – Eu não sabia o que dizer, aliás eu nem sabia o que sentia, quanto mais por isso em palavras. Deveria estar contente, zangada, ansiosa ou intrigada?

Reuni alguma coragem e perguntei finalmente algo que tinha entalado na garganta:

–Alexy…

–Já te disse para não me chamares pelo nome todo, é tão seco! – Cortou-me.

–Al… Nós já não nos vemos nem falamos há tanto tempo, porque é que vieste?

–Porque eu tinha saudades tuas, sua tonta! Os dias não são os mesmos sem ti. O Armin também tem saudades e ficou triste por não poder vir, mas ele manda beijinhos.

Naquele momento e ao ouvir aquelas palavras não consegui evitar soltar algumas lágrimas que já se acumulavam nos meus olhos, abracei Alexy e chorei como raramente tinha chorado, chorei pelas saudades que tinha, mas reprimia, dos gémeos, chorei por saber que eles ainda se lembravam de mim, chorei sem saber que mais razões tinha para fazê-lo, simplesmente chorei. O rapaz apenas afagava-me o cabelo sussurrando algumas palavras doces, deixei-me envolver por aquele carinho e acabei por me esquecer das restantes três pessoas que se encontravam na minha sala.

Ouvi alguém a clarear a garganta propositalmente e afastei-me rapidamente do rapaz, corando envergonhada. Murmurei um pedido de desculpas e sugeri que fossemos colocar na cozinha aqueles sacos todos. Cada um pegou no saco que tinha mais próximo, mas Lysandre retirou lentamente o saco que a namorada tinha nas mãos e, dando-lhe um leve beijo na bochecha, avançou para a cozinha, deixando para trás uma China completamente vermelha. Nathaniel ia fazendo o mesmo comigo, no entanto eu desviei-me facilmente correndo para a cozinha. Coloquei o meu saco na mesa, onde já lá estavam os dois que Lysandre trouxe. Nathaniel entrou uns segundos depois com o quarto e último saco, que colocou ao lado dos nossos. Comecei a abrir os sacos e quase saltei com o seu conteúdo, pelo menos metade eram bebidas alcoólicas!

–ALEXY! – Gritei em plenos pulmões fazendo Lysandre e Nathaniel saltarem de susto, China juntamente com o rapaz que eu chamara entraram de rompante na cozinha. -O que é que significa isto? – Continuei, desta vez num tom mais baixo, apontando para os sacos.

Todos espreitaram os sacos, China fez uma careta de desgosto, Lysandre e Nathaniel mantiveram-se imparciais e Alexy sorriu respondendo:

–Eu disse que ia haver festa!

–Tu sabes que eu detesto álcool, aliás eu não suporto sequer o cheiro!

–Mas tu não precisas de beber, álcool é para os machos e corajosos. – Afirmou empinando o nariz.

Revirei os olhos murmurando um “Que seja.”. Abri a geleira e retirei de lá uma garrafa de sumo, de seguida peguei em dois copos e entreguei-os a China sussurrando-lhes umas palavras rápidas, procurei nos sacos alguns snacks e deixámos a cozinha em simultâneo. Sentámo-nos no sofá e esperámos que os rapazes voltassem, estes apareceram uns minutos depois com umas garrafas de não sei o quê.

POV Lysandre ON

Depois das raparigas terem saído da cozinha ficámos a olhar uns para os outros completamente confusos. Nathaniel foi o primeiro a quebrar o silêncio:

–Como é que conseguiste estas bebidas? – Ele tinha razão, não é qualquer loja que vende esta quantidade de bebidas a rapazes de 16 anos.

–Comprei-as. – Respondeu o outro rapaz.

–E ninguém te perguntou nada? – Questionei eu desta vez.

–Porque haveriam? Oh é claro, esqueci-me de contar-vos um pormenor: eu já tenho 18. – Surpreendi-me, ele não parecia ter 18 anos, quem o visse até diria que tem a nossa idade. -Então, vai haver festa ou não? A não ser que sejam demasiado medricas para isso. – Comentou provocativo.

POV Lysandre OFF

Assim que os rapazes entraram na sala sentaram-se em redor da pequena mesa que existia no centro, Alexy lançou uns olhares desafiadores, que não se adequavam propriamente à sua personalidade, aos rapazes e estes corresponderam com a mesma intensidade. De seguida foram colocados três copos pequenos na mesa que se encheram rapidamente, os três rapazes engoliram o conteúdo num só gole enquanto eu e China fazíamos uma careta, há pouco não foi preciso a rapariga dizer-me que não gostava de álcool como eu, eu já tinha entendido pelas suas reações.

–Ahh agora que o primeiro desafio já está completo vamos conversar. – Disse Alexy inclinando-se na mesa e olhando para mim. -Então Ay conta-me como é que começaste a namorar!

Engasguei-me com a minha própria saliva, por pouco não era com o sumo, nesse caso, cena havia de ser gira, ou não. Corei ligeiramente e olhei para o loiro, este fitava-me curioso como se também quisesse saber a resposta. Maldito!

–Bem… Eu… – O que é que eu haveria de dizer? A verdade provavelmente, eu não seria capaz de mentir, além disso o rapaz sempre percebeu quando eu o fazia.

–Oh vá lá despacha-te! Eu quero saber quem é que se confessou primeiro!?

Paralisei, esta pergunta é ainda pior que a anterior, não há escapatória possível, eu tenho de dizer a verdade. Abri a boca para responder-lhe, mas fui interrompida por uma voz:

–Fui eu! – Alguém disse, não alguém, Nathaniel disse. Olhei chocada para o rapaz, ele não ia contar a verdade? Porquê?

Alexy parecia satisfeito com a resposta, mas, para variar, ainda acrescentou:

–És uma sortuda Ay, teres um rapaz a confessar-se a ti, ai quem me dera! Mas… – Tinha mesmo de vir um “mas”? -Eu quero ver um beijo! – Exclamou dizendo cada palavra devagar e pausadamente, mas dando um entoação mais forte na palavra final.

Olhei mais uma vez para Nathaniel, que também me encarava. Engoli em seco, sem saber o que fazer, quando vi o loiro levantar-se e a dirigir-se a mim.