A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 21
Demônios das Águas


Notas iniciais do capítulo

Ligeiramente triste. Vamos ver se sou boa com dramas.
Comentem!



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Kalyssa considera a opção de se transformar e se tornar novamente a sua forma de tigresa. A sua forma real, forte e poderosa. Mas por mais que seja tentador ela sabe que não poderia, pois assim não seria mais capaz que coletar a água de luz que vem do coração dos demônios da água. Então ela apenas continua com sua espada, que não é tão longa, mas é imensamente afiada e brilhante. E ela sabe muito bem como usar essa espada. A cada ataque ela atinge uma dos demônios, no pescoço, no braço, nas pernas, mas quando um membro se desfaz outro cresce no mesmo lugar. O único modo de mata-las é atingindo o coração, e apenas isso.
Kalyssa sabe que a cada golpe elas ficam mais fracas, e por mais que saibam como não demonstrar, elas sentem dor. Ela acaba de matar mais uma e colher mais uma ampola de agua de luz quando vê Elizabeth matando uma. E quando isso acontece, todas, absolutamente todas as outras se viram para ela. E o guincho que elas fazem é tão alto que machuca os ouvidos de Kalyssa, principalmente por sua audição ser mais beneficiada que a dos outros. Ela sabe exatamente o que isso quer dizer. Os demônios da água agora começam a lutar com muito mais garra e determinação.
— Precisava matar a rainha delas!? — Kalyssa reclama com Liz enquanto se defende de dois demônios da água.
Elizabeth, que também luta com outro demônio, a ouve e bufa.
— Rainha? — Ela não sabia disso. A mulher com quem ela luta esboça um sorriso malicioso e a ataca. Ela defende com a espada.
Alexander está com sua espada. A espada longa e larga cheia de serras na ponta. Ele luta com um demônio aquático de cabelos longos e pernas de cobra (Lembrando que cobras não têm pernas).
— Ssssss... — A mulher de água sibila como uma cobra. Alex a ataca na área dos ombros, mas ela desvia e continua rindo. — Muito bom... Você será delicioso... — Ela ri novamente.
— Acho que você não vai conseguir saber disso. — Ele ri, e no mesmo momento lhe dá um golpe, direto no coração.
A mulher de agua geme enquanto a luz azul se espalha por seu corpo como uma corrente elétrica. Alex pega uma das ampolas e pega a água de luz azul antes que ela derreta completamente. A luz azul fluorescente demora um pouco para se extinguir, mas logo se torna água normal. O demônio de água se torna apenas uma poça de água no terceiro convés. Então quando ele começa a sorrir e olha em volta, percebendo que não é tão ruim assim lutar com os demônios, ele ouve um grito.
— Ah!
Elizabeth acaba e ser atingida por uma das mãos-espada de um demônio da água. Não chegou a machuca-la tanto, afinal ela desviou, mas um corte se fez na lateral de sua cintura e o toque da lâmina agiu como ácido. A ferida queima e ela solta um gemido. E então o demônio sorri e aproveita para lhe dar o último golpe, o golpe mortal.
Prepara suas lâminas e ataca.
Mas no último momento uma espada se entrepõe entre Elizabeth e o demônio, protegendo-a do ataque. A espada é longa, afiada, e lisa como aço. Ele ataca o demônio, cortando seu pescoço. A cabeça dela explode e água se espalha por todo lado. Mas quase que imediatamente outra cabeça cresce ali novamente, o mesmo rosto, também feito de água.
— Cara, essas garotas são difíceis...
Elizabeth ri.
— Foi você quem quis lutar. — Ela responde.
Então ela tenta esquecer a dor em sua cintura, fingindo que não está ali. Por um momento ela consegue, e então ajuda Luke. Quando ele ataca o demônio novamente, fazendo-lhe um rasgo na barriga, que jorra água como uma bica e aos poucos se fecha, Elizabeth ataca a mulher por trás.
— Direto no coração.
— Ataque certeiro.
E o demônio solta um ganido de agonia enquanto a luz azul se espalha pelo seu corpo. Luke pega o vidro e o enche com a água de luz, depois fecha a ampola. O demônio de água derrete.
Os dois riem, sem fôlego.
— Obrigada. — Elizabeth agradece, depois solta um riso abafado e limpa o suor de sua testa.
Agora que não estão mais envoltos pela cúpula de água, o sol bate diretamente neles. Mesmo que próximo do pôr do sol, ele ainda é intenso e cansativo. Mesmo que as ondas os tenham impulsionado por vários metros, eles ainda estão bem no meio da Rota das Rochas.
Uma mulher feita de água chega gritando e voando por volta do navio. Ela aterrissa bem ao lado de Luke e Elizabeth, e quando faz isso esguicha água para todo lado. Imediatamente os dois voltam a ficar alertas. Empunham suas espadas com força.
— Arg! — O demônio de água guincha. Esta tem pernas normais, humanas. — Vocês a mataram!
— Ela tentou nos matar! — Elizabeth grita, tentando parecer firme. Depois percebe que se pareceu mais como uma explicação ou pedido de desculpas. Ela troca a posição das pernas, que começam a formigar.
— Não importa! — O demônio grita e ataca.
Luke se põe a frente de Elizabeth e bloqueia o ataque.
— Pronto! — Ela ouve Kalyssa gritar não muito longe. — Já temos o suficiente! Vamos sair daqui!
Ela se vira e vê Kalyssa recolhendo mais uma ampola de água fluorescente. E com isso cinco demônios já foram mortos. Na conta certa.
— Elizabeth! — Alexander grita. Ela o vê lutando com duas mulheres feitas de água e com lençóis de água no lugar das pernas. — Já pode nos tirar daqui!
— Como?! — Ela se defende de um ataque de um demônio que quase a pega de surpresa. Imediatamente sente o ferimento em sua cintura queimar.
— Você que é a filha do mar aqui! Se vira! — Kalyssa grita.
Tá bom então.
¬¬¬
Olho para trás e vejo Luke matar a mulher de água com quem lutava. Também vejo uma marca de sangue em seu ombro, mas ele não parece se importar. Por mais que queira ajudar, eu sei que ajudo mais nos tirando daqui.
Então corro pelo terceiro convés. Preciso achar um lugar mais próximo do mar possível, de preferência na parte traseira do navio. Então eu corro até o segundo convés e subo a escada de cordas correndo, digo, escalando o mais rápido que posso.
E depois subo até o primeiro convés. O leme está vazio e incrivelmente não há ninguém aqui. Nem pirata, nem demônio aquático. Então percebo que o melhor lugar é em cima do primeiro convés, no “terraço”. Mas não há escada, e é muito alto para eu subir. Não me orgulho disso, mas não sou muito alta. Sou quase do mesmo tamanho que a Emily, apenas alguns centímetros maior, pouca coisa. Então eu olho para trás e vejo que todos já estão cansados. Estão lutando o máximo que podem, mas já passamos tanto tempo aqui nessa guerra que vamos morrer. Preciso tirar todos daqui logo, antes que haja uma perda permanente. Não posso deixar ninguém morrer.
— Alguém me ajuda aqui por favor! — Grito.
Alex olha para mim, mas então desvia de um ataque e se defende com sua espada. Então olho para o outro lado do convés e vejo Law correndo até mim. Ele é grande e muito alto, vai ser uma escada perfeita. Quando chega até mim, ele mal está ofegante.
— Eu preciso que... — Olho para cima.
— Entendi.
Sem nem mandar ele me segura pela cintura e me levanta. E se eu me achava pequena perto do Luke, então perto dele eu sou uma formiga. Quando tenho altura suficiente eu me seguro ao telhado e me impulsiono para cima. Law me ajuda, usando suas mãos como base e me empurrando também. E com um último pulo de repente já me vejo sobre a parte mais alta do navio. Não tinha percebido antes o quanto eu me sinto desconfortável num lugar alto até agora. Meu quarto ficava na torre mais alta do castelo (Como num daqueles contos de fadas), só que lá haviam paredes para me impedir de cair. Aqui, com o movimento imprevisível do mar balançando o navio, sinto minhas pernas bambas e quase caio.
Então Law me segura, me impedindo de cair. Como ele subiu aqui tão rápido? Como se entendesse minha pergunta ele responde:
— Costumo vir aqui quando preciso pensar. — Ele sorri. Então move os braços, mostrando os músculos. Não vejo relação, mas imagino que puxar peso seja o jeito dele de pensar. Rio e ele ri também.
— Muito obrigada. — Agradeço imensamente.
— Tudo bem, não vou deixar você cair.
Compartilhamos de um olhar de cumplicidade. E com ele aqui em cima, eu sei que não vou cair.
Então vou até a borda do navio. Aqui, aqui é perfeito. É a hora perfeita. Olho para trás uma última vez. Todos lutam, todos ainda resistem. Mas desde as seis demônios da água que morreram, parece que estão mais raivosas. Elas querem vingança. Matamos muitas delas. Restam só dez. Elas vão nos matar.
Então vejo Law sorrindo para mim. Ele é um garoto tão grande, e tão brincalhão, e tão cuidadoso. Ele me segurou quando quase caí, mas não usou a força que eu sei que ele tem. Teve cuidado para não me machucar. Eu gosto dele, gosto mesmo. E sei que todo mundo aqui também gosta, não só o Alex que o considera um irmão, mas também a Emily, o Jack, o Vinny e o Sony, até mesmo a Kalyssa. Eu sei que ele é uma pessoa muito querida aqui. Eu sei que ele está se arriscando ficando aqui em cima comigo e me protegendo, e até uns dois dias eu nem tinha reparado muito nele, mas ele parece se importar comigo. Parece querer me proteger, e ele o fez. Sorrio para ele, e ele também sorri, me incentivando.
— Manda ver regaLiz. — Ele ri. Eu também não me controlo.
Esse é um apelido e tanto. Então vamos lá. Me viro para o mar. Esse lado do navio é bem alto, muito alto. O.K. Fecho os olhos e respiro fundo. Só preciso fazer o mar nos empurrar. Aqui na parte traseira do navio vai ser fácil. Olho para Law antes de começar.
— Precisamos de alguém para guiar o leme, ou vamos bater nas estátuas. — Digo.
— Entendido. — Ele vai para a outra borda e olha lá para baixo. — Imediata! Hora de trabalhar! Guie o navio!
— Estou meio ocupada aqui! — Ouço Kalyssa reclamar.
— Alex! — Law grita.
— Deixa comigo! — E a voz dele já está mais próxima.
— Pronto princesa. — Law se vira para mim. Então faz uma expressão confusa. — Você disse bater nas estátuas?
Apenas rio. Homem. Não vê as rochas como realmente são. Eu corrigiria o que eu disse para ele, mas em viro de novo para o mar. Preciso ser rápida.
Respiro fundo novamente. Sinto o navio desviar de uma estátua que deve ter uns três metros. Alex está guiando o navio. Tudo ótimo. Fecho os olhos e respiro fundo novamente. Ergo os braços e sinto o poder se espalhando por mim, começando em minhas mãos e passeando por meus braços como uma corrente elétrica. A mesma agulhada no meu peito retorna, novamente eu a ignoro. Controle. Preciso ter controle. Respiro fundo de novo. Então ponho minha imaginação em ação. Sinto a água se erguendo, subindo e formando mais uma daquelas ondas mortais. Abro os olhos devagar, e vejo uma pequena onda de uns quatro metros. Deve ser o suficiente... Mas é melhor ter mais impulso. Então agora com os olhos abertos eu continuo fazendo-a crescer. Meu recorde: Sete metros. Pretendo batê-lo.
Então ouço o som de espadas cortando o ar bem atrás de mim. Uma espada. E logo depois sinto respingos de água em minhas costas e pernas. Suspiro. Um demônio da água deve ter vindo aqui me atacar, e graças a Deus Law está aqui para me proteger. Então ouço um gemido de dor, e meus olhos se arregalam, minha garganta fecha e não consigo mais puxar o ar. Olho para trás rápido, assustada. E ao constatar que estava correta, um grito de pavor se faz em minha garganta, mas não chega a se libertar. Sinto a onda que criei cair de novo ao ver minha falta de interesse nela, e isso impulsiona o navio por alguns metros. Mesmo assim ainda estamos na rota das rochas, embora eu imagine que já estejamos perto do fim.
Esse não é o problema.
Law, com uma lâmina de água atravessada em seu peito. O sangue dele, foi isso que respingou em minhas costas. E enquanto ele não aguenta a própria dor, o demônio da água está acima dele com a boca aberta. Uma fumaça esbranquiçada sai da boca dele e vai para a de Law, ou é o contrário? É o contrário. O demônio está sugando a alma dele. E aos poucos sua pele fica mais acinzentada e sem vida, até que seus músculos já não parecem tão poderosos. Estou assustada e atônica demais para me mover. Mas mesmo assim eu sinto as lágrimas se formando em meus olhos, que estão prestes a transbordar.
— Law! — Ouço o grito de Alex lá embaixo.
Então outro sentimento se forma em meu peito. Não é mais pavor. É raiva, é ódio. Esse demônio maldito matou o Law. E as lágrimas escorrem por minhas bochechas, que estão quentes.
— Law... — Eu choro.
Mas continuo firme. O demônio larga o corpo sem vida de Law no chão. Ele me salvou. Pela última vez. Ele se pôs a minha frente para me proteger do golpe dela, mas acabou pegando o golpe para si. De repente a ferida em minha cintura não dói mais. É isso. Nunca senti tanto ódio na minha vida.
Quando o navio fantasma nos atacou, eu perdi o controle sem querer. Agora eu quero perder o controle.
A morte de Law não ficará assim.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Eu pirei nesse capítulo. Quase chorei, sério.
E você?