A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 20
Ondas são assustadoras SIM!


Notas iniciais do capítulo

Nhaaa, não sou boa em cenas de luta. Mas, vocês qe sabe.
Bejjitos com doritos!



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Tá bom, é agora. Respira fundo Elizabeth. Respira garota! Ai meu Deus, eu estou ferrada. Meu corpo está tremendo e eu estou com medo. Eu estou mesmo com medo. Será que eu devia ter feito o que o Alex mandou? Eu devia ter me escondido no quarto?
Não apareceu nenhum demônio da água ainda. Nós só estamos atravessando passando pelas rochas. O lugar é assustador. Lembra muito o triângulo das bermudas, ou pelo menos como as pessoas acham que o triângulo das bermudas é. Dizer que a água é muito funda, isso sim, é uma bela demonstração de ignorância. Mas confesso que isso passou pela minha cabeça. É realmente muito profundo, parece que não tem fim. É tudo negro lá em baixo. Nenhum peixe, nada se move lá. Parece uma cidade deserta, e isso porque eu estou falando do mar. A superfície é muito pior. Dizer que á rochas, picos e pedras por todo lado não é suficiente para descrever. Sim, claro, afinal o nome do lugar é rota das rochas. Mas não parecem rochas, são mais... Esculturas. Esculturas de mulheres formosas, esculturas de cavalheiros com espadas, esculturas de mulheres comendo cavalheiros. Tudo muito deformado, e aparentemente eu sou a única que consegue enxergar as imagens nas rochas cheias de musgo e limo. Mais ninguém parece estar assustado ao ver mulheres com rostos deformados, peles rasgadas, braços maiores do que deveriam e garras como tesouras. E é claro, pernas em formato de cauda de cobra. Isso em algumas esculturas, porque outras aparentam ter apenas água no lugar de pernas. Sou mesmo a única que enxerga isso?
Não
— Você também vê?
Emily para bem ao meu lado. Estou com minha espada empunhada, longa negra e brilhante. Ela havia me dito que não costumava usar muito espadas, mas mesmo assim também empunha a sua. E também vejo que as costas de sua bata azul já estão abertas, e ela não usa mais o corpete preto, exibindo completamente a tatuagem em forma de asas de borboleta. Claro, ela precisa do caminho livre para abrir suas asas quando precisar.
— Vejo. — Ela responde também fitando as estátuas. — Só não sei o porquê.
— É porque somos mulheres. — Ouço a voz de Kalyssa atrás de mim.
Seus passos ecoam enquanto ela anda até o meu lado esquerdo, longe de Emily. Eu ainda não havia percebido que elas não se dão muito bem, mas ela prefere ficar do meu lado ao do dela? Pensei que ela me odiasse.
— E...? — Emily a induz a começar.
Kalyssa revira os olhos, como se estivesse sendo obrigada a ensinar o alfabeto a crianças de dez anos de idade.
— Mulheres tem a mente mais ampla. Somos mais intelectuais do que físicas. Por isso que o canto das sereias não atingem mulheres. — Kalyssa explica.
— Então somos mais inteligentes, e por isso enxergamos melhor. — Digo. — E ouvimos também.
— Não princesinha. — Ela cospe a palavra como um insulto. — Apenas não somos atingidas pela magia delas. Elas iludem os homens, pois preferem se alimentar das almas deles, mas quando se trata de se exibir, são tão vaidosas quanto nós. Essas estátuas — Ela aponta para uma delas, que passa à direita do navio, tão perto que tenho a impressão de que está arranhando o casco. — são apenas uma exibição. Para mostrar que são poderosas.
— Então são troféus, de cada homem que já mataram? — Emily pergunta.
— Não. Aqueles são os troféus. — Kalyssa aponta para um lugar ao noroeste.
Vários, muitos mesmo. Navios de reinos, de pescadores, botes de pessoas desavisadas, todos destruídos e apodrecendo num canto seco, em volta de uma formação de rochas que lembra um altar. Alguns ainda têm velas visíveis, um por exemplo tem um brasão roxo e dourado. Nunca vi isso na vida, então provavelmente é um navio bem antigo, apesar de bem preservado. Mas são tantos navios expostos ali, que já consigo imaginar mais um. Um grande navio de madeira mogno, cheio de esculturas de sereias e detalhes prateados, detalhadamente entalhados. Ah, e é claro a grande vela exibindo uma caveira negra atravessada com duas fadas. O Andrômeda é um troféu e tanto. Sinto um frio na espinha.
— E o que os outros veem? — Emily se vira para trás. Toda a tripulação está alerta, espadas em punho, olhos atentos, olham em volta. Alguns no centro do terceiro convés, outros perto dos parapeitos. Mas todos espalhados pelo navio.
Só agora também percebo que os barris que sempre estão no terceiro convés agora já não estão mais aqui. Foram levados lá para baixo, é claro. Todas as portas também estão bloqueadas com móveis e tudo mais. A porta da dispensa, bem no segundo convés, onde eu fui presa a primeira noite que passei no Andrômeda. A sala do capitão, onde eu vi a Kalyssa saindo enrolada num lençol. E também o alçapão que leva para o complexo inferior do navio.
— Apenas rochas. — Kalyssa diz. — Por isso o nome Rota das Rochas. Foi um homem que batizou esse lugar.
— Se fosse uma mulher, o lugar se chamaria Rota das Esculturas Macabras. — Emily fala.
Estremeço ao passarmos por mais uma escultura, essa com quase sete metros de altura. O tamanho da minha onda gigante. Trata-se de uma mulher nua com um coração sangrento na mão direita e uma cabeça na outra. Olhos deformados e dentes de demônio, com direito a uma língua de cobra enorme saindo da boca.
— Então eles só veem uma montanha. — Falo.
Emily e Kalyssa assentem. Todas estremecemos ao olhar a Escultura. Até Kalyssa.
— Sinistro. — Emily comenta.
— O que estão fazendo? — Jack chega por trás de Emily e a abraça, depois beija sua boca apaixonadamente, mas não por mais de um segundo.
— Nada. — Ela diz e sorri.
Ouvimos um estrondo. Não um estrondo, um gemido, como um ronco-rosnado gigante. E veio de debaixo do navio.
— Vai começar. — Kalyssa se afasta do parapeito. — Preparem-se! Afastem-se das bordas!
Todos a ouvem e obedecem. Mas eu ainda estou um pouco atônica. Dou dois passos para trás, quando o resto do pessoal deu quase dez.
E então o inferno começa. Um grito agudo e tremulante, irritante e ensurdecedor se faz ouvir. E ao mesmo tempo o mar começa a nos cercar. Ondas de quase dez metros se formam em volta do Andrômeda, eles nos prendem numa cúpula feita de água salgada. Fecham até o teto, onde apenas algumas gotas de água respingam sobre nós. Isso é muito, muito pior do que o que eu fiz para treinar meus poderes. Isso é imbatível. E agora estamos encurralados.
Meu medo do mar retorna. Estou assustada demais para me mover.
Ouço espadas cortando o ar, lutando mas não atingindo nada. Então meu cérebro volta a funcionar e eu olho para trás.
Elas parecem mulheres fantasmagóricas feitas de água em movimento. São tão translúcidas quanto a água pode ser, e tão mortais quando uma motosserra. Seus braços parecem lâminas, espadas, eles atacam os piratas e se chocam nas espadas como se fossem sólidas. É só acertar o coração. A Kalyssa disse. O coração é uma massa azul fluorescente no lado esquerdo do peito delas. Lembra um pouco os polvos de água brilhante que eu produzi quando lutei contra aquele pirata metido a Jack Sparrow. Vejo de relance Jack enfiando sua espada bem ali, no coração fluorescente. A luz azul se espalha desde o coração por todo o corpo do demônio da água.
Jack tira um vidro de seu bolso. Uma das ampolas de Kalyssa. Quando a luz se espalha completamente pelo corpo da mulher de água, ela derrete e cai em cima de Jack. A água que sai direto do coração enche a ampola com água azul brilhante, então a luz desaparece e passa a ser como água normal. Ensopado com água de demônio, Jack fecha a ampola e a guarda no bolso.
Já foi uma.
Faltam Quinze.

A onda gigante ainda nos prende, sem permitir nem um feixe de luz do sol. Claro que a essa hora o sol já deve estar se pondo, mas um pouco de luz aqui até que seria interessante. Parece que a única luz aqui é a que atravessa a cúpula de água (Vinda essa do sol) e a dos corações dos demônios de água. Todos lutam bravamente, mas até agora só uma morreu. E nenhuma veio atrás de mim.
— Ei! Estou aqui! — Balanço os braços acima da cabeça. — Venham me pegar! Aqui!
Três demônios da água se viram para mim. Uma é atingida no coração por Kalyssa, que rapidamente colhe a água de luz. As outras duas voltam a lutar sem me dar atenção.
— Arg. — Reclamo.
Então vejo minha própria sombra se estendendo a minha frente, envolta por uma luz azul. Olho para trás e ali está. A luz vem do coração dela. Ela me encara, com os cabelos d’água voando pelo ar como se fossem de seda. Os olhos fundos e sem pupilas, com apenas mais água. São pequenos redemoinhos sem alma. A boca normal, lábios carnudos expressando um sorriso. O corpo como o de uma mulher normal, um pouco avantajada demais. Exceto pelas pernas, que se estendem como um lençol de água até o mar. Mudando continuamente de posição, nunca sendo feita da mesma massa de água. Ela me encara.
Empunho minha espada. Ela não tem reação.
— Filha do mar... — Sua voz é ecoante como se viesse do final de uma caverna. Sinceramente, nem sei como ela pode ter voz, afinal acho que ela não tem cordas vocais, tem?
— Sabe quem eu sou? — Fico interessada, mas continuo alerta.
— Claro que sei. — Ela responde e seu riso parece o som do mar em uma tempestade. — Todos os seres do mar já sabem que você está aqui. Desde que mergulhou pela primeira vez no mar...
— Foi na Ilha Karley. — Reflito. Quando senti meus pulmões queimarem e percebi que podia respirar em baixo da água. Quando Luke chegou.
— Somos seres aquáticos...
Ela me rodeia, prendendo-me num círculo de água. Mas não parece ter a intenção de me intimidar. Olho para o outro lado e vejo que os demônios da água continuam lutando com a tripulação. Mas estranhamente... Parece até que estão brincando. Ouço risos?
— Nós te servimos. — Ela diz. — A você, e ao Rei do Mar.
Ela ri novamente. Ela... me serve?
— Então parem com esse ataque. — Tento parecer confiante. — Estamos a caminho de La Isla.
— Shh. — Ela voa pelo ar, ficando agora acima de mim. Preciso levantar a cabeça para olhá-la. Suas pernas ainda estão ligadas ao mar. — Ninguém está te atacando. Vocês que nos atacam...
— Nós precisamos.
— Precisam nos matar? — Ela volta a ficar na minha frente. — Isso não é justo, é? Nós só queremos sobreviver...
— Matando as pessoas? — Aperto o punho de minha espada com mais força.
— Vocês matam vacas e galinhas para se alimentar, e não são crucificados por isso... — Ela sorri.
Respiro fundo, mas sem demonstrar fraqueza.
— Liberte-nos, tire essas ondas da nossa volta e eu penso no caso.
Ela ri, então roda a minha volta de novo. Já me vejo completamente cercada por água, mas eu não tenho medo. Eu controlo água. Não tenho medo dela.
— Você sabe a história dessa espada que empunha tão confiantemente? — Seu riso ecoa como se não houvesse mais nada em volta.
Por um momento eu hesito. Olho para minha espada e me lembro da garota, cujo nome era Donatéia. Ou lady Mina. Só sei que vi a luz negra que envolvia a garota e a espada. E por um momento me pareceu que a mesma luz estava ali agora.
— Você nem mesmo fez o juramento. — Ela fica bem na minha frente. — Sabe que seu tempo é curto, não sabe?
Manipuladora.
— Por mais interessada que eu esteja nesse seu papinho, eu prefiro voltar ao assunto anterior. Nos solte, e nós vamos embora sem matar todas vocês.
— Quantas matará? Três? Cinco? Eu não vou aceitar isso.
Sorrio satisfeita.
— Ótimo então.
E num movimento rápido eu a ataco com minha espada. Não no rosto ou no coração, mas em suas pernas infinitas. A água se separa e ela cai no chão. As águas que nos prendem também caem imediatamente, provocando ondas tão poderosas que nos impulsionam para frente e quase batemos numa das enormes esculturas. Eu já havia notado que era ali seu ponto fraco. Eu já havia planejado ataca-la. Agora, posso mata-la.
Enquanto ainda se recupera do tombo eu atinjo seu coração. Sua expressão de dor e agonia não me incomodam. Pego uma das ampolas que Alex e Kalyssa distribuíram e coleto a água de luz. Perfeito.
Duas já foram. Faltam quatorze.


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Notas finais do capítulo

Simples assim. E então?
Poem me xingar à vontade, kkk