A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 12
Ilha Karley


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, espero que gostem.
U ps, que duvido que alguém não saiba: Law significa Lei em inglês.
Fora isso, mais nada. Espero coments, byee!



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— Puta que pariu.

Olho para ele. Aperto os lábios e intensifico meu olhar de reprovação. Sei que não vou conseguir educar um pirata que passou a vida inteira xingando em apenas alguns dias, mas que ele entenda que na minha presença isso é um insulto. Alexander suspira e balança a cabeça, esticando o pescoço e desviando o olhar de mim. Eu sei, o olhar sempre funciona.

— Escolhe logo uma Liz. Temos que voltar logo para o navio, o horário está apertado. — Ele reclama.

Estamos numa das lojas da Ilha Karley. É uma ilha bem bonitinha, mais parece como uma vila da Renascença. O chão é ladrilhado com pedrinhas lisas de concreto cinza. As lojas e casas são também de pedras, cinza-escuras, e têm telhados cor de abóbora. A entrada desta loja é aberta, sem porta. Não andamos muito para chegar até ela. Depois que saímos do navio viemos andando até o centro em apenas dois minutos, caminhando pela larga rua principal. A maior parte da tripulação se dispersou, entrando em outras lojas, com seus saquinhos cheios de ouro (E facas prontas para um assalto). Eu ri quando o Law disse que ia cumprir a lei. Contando que a lei não concorda com pequenos assaltos a lojas de roupas e comidas.

Passam pessoas de um lado para o outro o tempo todo. Usam roupas bonitas, vestidos longos e lenços de seda. Tudo colorido e social. Não são roupas tão perfeitas quanto as que vestimos na minha cidade, quanto mais em meu castelo, mas com certeza são de qualidade. Um grupo de piratas mal vestidos se evidenciam muito nesse meio. É a primeira vez que as pessoas olham feio para mim quando me veem.

A loja em que estamos se chama “Flechas & Lâminas”. Há armas, espadas, arcos e lanças presos às paredes como se fizessem parte de um papel de parede. Há prateleiras iguais àquelas de lojas de sapatos, e em cima delas várias espadas sendo exibidas como troféus (Ou mercadorias). Dá vontade de puxar uma espada daquelas e sair correndo, mas estão presas por uma fina corda de ferro. (Acho que a convivência com os ladrões está começando a dar resultados). A loja é grande, mas não tanto quanto as outras que estão ao seu lado. Alexander e Emily vieram comigo, me ajudar a escolher uma espada. O problema é que estão impacientes, pois eu já peguei em mais de dez espadas e não fiquei satisfeita com nenhuma delas.

— Tem uma mais leve? — Pergunto ao vendedor com um sorriso estampado.

O homem gordo com tatuagens nos braços e um piercing no nariz sorri para mim. Ele é careca e tem uma barba preta e espessa. Uma criatura bem peculiar, cuja eu nunca tive a oportunidade de avistar. Não existem pessoas assim em Alásia.

— Aqui está querida. — Ele diz gentil (Mesmo que sua voz seja áspera). Pega uma espada em baixo do balcão, no lado do armário que os clientes não veem. A espada é longa e afiada, em formato de trapézio. Sua lâmina é brilhante e fina, reluzindo diante da luz branca no teto da loja. O cabo é anatômico, envolvido numa faixa de couro. Só de olhar para ela sei que não servirá, mas não quero fazer desfeita.

Pego a espada e a ergo. Numa coisa o homem está certo, ela é mais leve. Bem mais leve. Consigo movê-la sutilmente e imaginá-la cortando a pele ou a garganta de alguém. Sei que seria muito eficaz. Mas há um problema, seu cabo é muito grosso e não me dá muita firmeza. Minhas mãos são pequenas, não dão nem a volta completa no cabo da espada. Fico desconfortável. Solto-a em cima do balcão e faço a expressão de rejeição novamente. Alex suspira ao meu lado, pondo as mãos na testa e apoiando os cotovelos no balcão, visivelmente impaciente.

— Não gostou dessa? — Emily me pergunta. Sei que sua voz é doce e gentil, como ela sempre faz, mas não sinto a mesma alegria que sempre há. Mesmo que tente esconder (E faça isso muito bem), percebo que há algo errado.

— Não tem muita firmeza. — Respondo encarando seus olhos. Ainda me deixa intrigada o fato de seu olho esquerdo ser roxo e o direito ser azul. É uma marca de nascença?

— Eu tenho uma guardada. — O homem diz. Sinto em sua voz que também está cansado. — Mas ninguém já quis compra-la.

— Por quê? — Pergunto interessada. Já experimentei quase todas as espadas dessa loja, ao menos uma tem que ser boa.

— Foi a espada usada para matar o último dragão de Tyron. Dizem que é amaldiçoada. — Ele diz. A cicatriz em seu olho se move de um modo estranho quando ele faz uma careta.

— Traz essa. — Alex manda. — Talvez ela finalmente escolha alguma. — Ele me olha com um olhar acusador.

O vendedor olha para mim. Assinto para ele, então ele entra numa sala passando por uma porta atrás do balcão. Passam-se alguns segundos em um silêncio constrangedor até que ele volte. Meus olhos arregalam, eu solto um suspiro e um Uou de surpresa.

Ele põe a espada em cima do balcão com cuidado. Ela é longa, muito longa. Tão longa que parece ser do tamanho do meu braço inteiro. Negra e brilhante como obsidiana. É em forma de pirâmide, uma pirâmide longa e extremamente afiada. O cabo é fino e negro, envolto também em couro marrom. É incrível, arrebatadora, de arrancar uma cabeça com apenas um golpe. É a espada perfeita para mim.

— Posso? — Digo hesitando para encostar na espada.

— Mas é claro. — O homem responde sorrindo.

Pego no cabo da espada. O que parecia que seria pesado e desconfortável na verdade é leve como uma pluma e se molda perfeitamente a minha mão, como se o cabo fosse feito de argila molhada. Ergo-a com cuidado para não atingir ninguém. Do jeito que está afiada eu não duvido que arranque um braço apenas com um arranhão. Eu a tiro de cima do balcão e me viro para o lado. Alexander, que estava do meu lado também observando a espada, recua imediatamente, provavelmente como um reflexo ao sentir a lâmina indo a sua direção. Eu e Emily soltamos um riso abafado. Alex bufa e cruza os braços, me observando sem abandonar a expressão de impaciência.

— É muito boa. — Movo-a como se fizesse um corte no ar. Todos a minha volta reagem, como se tivessem medo de serem atingidos. Rio. — Boa mesmo.

— Que bom que gostou. — O vendedor diz ao meu lado.

Olho para ele, então levo a espada até sua mão. Ele a pega com as duas mãos, uma apoiando a lâmina e a outra o cabo. Coloca-a com sutileza por sobre o balcão, como se ela pudesse se enraivecer caso fosse tratada sem respeito. Depois volta seu olhar a mim.

— Vai querer essa? — Alexander pergunta.

— É muito boa. — Emily diz. — Eu não uso muito espadas, mas compraria essa assim mesmo.

— Eu a quero. — Respondo de volta. — Ela é boa mesmo. Parece ter sido feita para mim.

— São nove mil daques. — Ele diz ao meu lado.

Está barata, que sorte! As coisas do meu quarto eu nunca soube o valor, mas já ouvi meu pai dizer que minhas cortinas foram duas púrpas, ou seja, vinte mil daques. Comparando com isso, nove mil daques não é nada. Então eu olho para Alex e Emily, e vejo seus queixos caídos.

Depois do baque, Emily se apoia no balcão e olha para o vendedor. Ela lança um olhar suspeito para Alexander, que me deixa meio preocupada.

— Será que o senhor não poderia nos dar um desconto? — Ela pergunta com a voz dengosa, jogando todo o seu charme.

O homem está evidentemente encarando o decote de Emily, que está oportunamente aberto, revelando mais do que deveria. Agora sei o porquê de ela ter vindo conosco.

— Quanto vocês tem? — O homem pergunta, realmente considerando a opção.

Alexander joga um saquinho de couro pesado em cima do balcão, que ao cair faz som de moedas batendo.

— Cinquenta e sete daques. — Alexander diz rindo. Ele sabe muito bem que nem toda a sedução do mundo seria capaz de fazer o homem ter tamanho prejuízo.

O homem balança a cabeça negando. Se afasta da mesa, tirando o olhar de Emily. É, ela perdeu a sua chance. Antes que ele diga algo Alex pega de volta a bolsinha e guarda-a em um dos bolsos de sua calça.

— Sinto muito. — O homem diz. — Acho que nenhuma espada aqui é tão barata assim. — Ele ri, zombando de nós como se fôssemos uma família pobre.

Isso me insulta. Não interessa se sou uma princesa, se sou rica, se sou da realeza. Nem o homem mais desprovido merece tal tratamento. Quando estou prestes a lhe dar uma resposta bem mal-educada, Alex segura meus ombros e cochicha em meu ouvido direito.

— Tem certeza que quer essa? — Ele pergunta como um pai que compra um presente a sua filha mimada.

— Sim. — Eu respondo também baixo, mas com medo do que virá a seguir.

— Corra quando eu mandar. — Ele diz e se afasta.

Então tudo acontece bem rápido. Emily pega a espada de cima do balcão tão rapidamente que faz parecer que a espada simplesmente se transportou para seus braços. Quando o homem se dá conta disso ele agarra os ombros de Emily com violência, sua simpatia desaparecendo num átimo.

— Devolva sua ladrazinha! — Ele grita alto.

Vejo um borrão passar por mim. Alex dá um soco no homem, o que eu vi foi seu punho muito próximo do meu rosto. Ouço seu pescoço estalar com a força aplicada a ele. Então olho para Alexander, que segura meu braço com firmeza e me empurra para longe do balcão. Emily já está correndo para a saída com a espada negra nas mãos.

— Corre. — Alex diz.

Não hesito. Obedeço-o, correndo com toda a rapidez que tenho. Olho para trás, já na saída da loja, e vejo o antes muito simpático vendedor com uma espada enorme apontada para Alex, ainda atrás do balcão. Vejo Alexander desviar de um golpe e dar-lhe mais um soco, agora no queixo. Sua mandíbula trinca. Os olhos rodam e a cabeça gira, visivelmente tonto. Alex sai dali antes que o homem retorne à consciência, o que não demorará muito.

Enquanto corremos lado a lado pela cidade, os únicos loucos mal vestidos e com pressa na Ilha Karley, ainda podemos ouvir os gritos do homem não muito longe de nós.

— Eu ainda vou pegá-los! Seus ladrões!

Mesmo sem olhar para trás eu posso imaginar perfeitamente a cena. Um homem gordo, baixinho e careca, com tatuagens e uma cicatriz no rosto. Barba preta e espessa cobrindo o queixo e se moldando em costeletas. Com o braço direito erguido e o punho fechado. Socando o ar acima de sua cabeça. E com o nariz franzido e olhos raivosos ele grita “Vocês me pagam crianças enxeridas!”. Rio com a minha própria imaginação enquanto chegamos cada vez mais perto do Andrômeda.

¬¬¬

Um tigre albino, lindo e grande. Já o vi antes. Já a vi antes. Quando fui sequestrada.

Kalyssa em sua forma animal está correndo pela passarela de madeira até o Andrômeda. Vejo Carlos, Sony, Drobt, Law e os outros todos lá em cima, no terceiro convés. Apenas nós e Kalyssa aqui em baixo. Não. Apenas nós.

Ao chegar à ponta da passarela ela dá um salto (Realmente muito alto) e se agarra ao parapeito do navio. Os outros ajudam-na a terminar de subir. Quando menos notamos já há um tigre dentes de sabre branco com listras pretas dentro do nosso navio.

Olho em volta. Achei o problema.

— Vocês são piratas, não já tem algum tesouro? — Pergunto enquanto corremos pela passarela até o porto.

— Temos. — Alexander responde. Ele é o que corre mais rápido, está a nossa frente. Eu e Emily uma do lado da outra.

— Então por que simplesmente não compraram a espada? — Pergunto olhando para Emily, que ainda segura a espada com força.

— Se gastássemos o ouro roubado, nosso tesouro estaria menor. — Ele diz, então olha para mim com um sorriso travesso.

Com o tempo eu aprendi a gostar desse sorriso. Ele ainda não é uma boa pessoa, ainda é um pirata, mas sabe que eu nem estou muito incomodada com o fato de termos roubado essa espada? Na verdade, eu tenho um “bem feito!” na ponta da língua para aquele vendedor. Ainda não engoli o modo como ele falou conosco, quando viu que tínhamos pouco dinheiro. Muito pouco mesmo.

Agora estou mais preocupada com outra coisa. Um navio, de madeira clara (Que entra em muito contraste com o mogno do Andrômeda), está vindo em direção a ele. Está quase batendo. E eu achei que pararíamos na Ilha Karley para fazermos os reparos do navio, mas pelo visto não vai dar tempo. O pior é que eu reconheço o navio. As velas do navio são douradas, e numa delas está estampado em vermelho e dourado, como uma medalha de orgulho. O brasão de Alásia. E ao lado, na outra vela, o brasão azul e prata. Galatéia.


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Notas finais do capítulo

Ah é, ficou bem pequenino não?
E aí...?