A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 11
Aprendendo


Notas iniciais do capítulo

Uma ceninha de amor fofo pessoal. Vamos ver se vocês gostam. ;)
Mandem coments, byee



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Não é certo, não mesmo. O barco balança o tempo todo, não consigo me equilibrar e sim, a espada da Emily é pesada. Como ela consegue carregar isso?

— Hey princesinha. — Ele diz me provocando. — Anda logo, tenta me acertar!

Vou para cima dele mais uma vez. Estamos no terceiro convés, aquele mais amplo e mais perto do mar. As ondas quebram a nossa volta, e a cada movimento do barco mais eu caio. Ao tentar ataca-lo eu acabo tombando para o lado. Ele desvia do meu ataque e me pega por trás. Põe a sua espada na minha cintura, apertando-me. Sei que não é para me machucar (Ou talvez seja), mas sinto a pele se rasgando onde a espada toca.

— Você não me ensinou nada. — Digo com a voz estrangulada. — Só me fez tentar ataca-lo o tempo todo e me causou três arranhões. — Mostro minha calça, que está rasgada e manchada de sangue superficialmente onde a espada dele já me atingiu.

Ele ri de mim. Está se divertindo, tenho certeza. Só está zombando da minha cara. Me solto dele empurrando sua mão com violência e me afasto. Me desiquilibro de novo, mas consigo me manter de pé.

— Mereço um pouco de diversão. — Ele diz. Não curto seu comentário, faço cara feia até ele parar de rir. Quando para ele olha para mim e suspira. — Tudo bem... — Ele revira os olhos.

Alex se aproxima da mim. Ele tira o colete vermelho, deixando seus músculos à mostra. Minhas bochechas coram, tento esconder, mas sei que ele percebe. Ele ri e desvia o olhar de mim, fingindo não ter percebido. Joga o colete longe e segura na minha mão fortemente. A mão que segura a espada. Ele fecha meu punho tão forte ao redor do cabo que sinto meus ossos estalarem.

— Firmeza. — Ele diz olhando-me nos olhos. — É a primeira coisa que precisa aprender. Nunca solte sua espada.

Assinto ignorando a dor. Quando ele solta minha mão eu a sinto dormente. Não deixo isso transparecer. Lembro-me de quando lutei contra o aspirante a rei, assassino mortal, pirata pirado (São muitos adjetivos), lembro-me que quando caí do primeiro convés minha espada voou para longe. Eu devia ter segurado com mais força. Aperto a espada com força até minhas juntas ficarem brancas.

— Segundo. — Ele diz.

Seu movimento súbito me surpreende por um momento. Ele pega minha cintura e me puxa para perto de si, colando meu corpo ao seu. Afasto meu rosto do seu, ficando com a coluna curvada, assim como uma letra C. Ele me encara, como se considerasse uma opção convidativa, então sorri e me solta. Dou um gritinho abafado e caio no chão de costas. Meu ombro estala.

— Finque os pés no chão. — Ele diz me olhando ainda deitada. Ele bate com o pé direito no chão, perto demais de minhas pernas. Como reflexo eu as afasto. Ele ri. — Não pode cair em momento algum, não pode ser surpreendida.

Ok. Levanto-me, reprimindo os vários xingamentos que passam em minha cabeça. Não posso ofendê-lo agora, não agora. Depois, quando a aula acabar. Fico à sua frente novamente, tentando fazer o que ele me disse. Mesmo assim ainda não consigo ficar firme no chão.

— Uma dica. — Ele se aproxima de mim de novo. Desta vez eu recuo um pouco, mas ele é mais rápido. — Flexione as pernas. — Ele se curva e põe as mãos em minha perda direita. Fecho os olhos e bloqueio um suspiro. Ele dobra meus joelhos à força. Antes que ele faça o mesmo com a esquerda eu já a dobrei.

Está certo, assim é bem mais fácil me manter equilibrada. Mas eu não posso ficar assim o tempo todo. O barco se move para a direita. Estico a perna esquerda e aperto a direita no chão, instintivamente. Não caio.

— Muito bem. — Abro os olhos e o vejo sorrindo para mim. — Terceiro...

Ele desembainha sua espada. Imediatamente tiro minha espada de minha cintura e a aponto para ele. Estou com medo da próxima coisa que ele vai fazer. Quando ele vê minha reação ele sorri, não de deboche, mas algo parecido com... Orgulho.

— Sempre estar preparada. — Ele diz balançando a cabeça positivamente. — Acho que essa parte você já sabe.

Rio.

— Não sou tão ruim assim, sou? — Bato minha espada de leve na dele. — Acho que tenho um talento natural para isso.

— É mesmo? — Ele levanta uma sobrancelha.

Então com rapidez ele me ataca. Como fiz antes com aquele pirata, eu me defendo. Ponho a espada a minha frente como um escudo. Arregalo os olhos ao ver que ele realmente me atacou, não foi um golpe fraco. Ele ia me machucar.

— Está maluco?! — Exclamo. Ele ri.

— Já sabe tudo que precisa saber. — Então me ataca novamente.

Nem tenho tempo de respirar. Ele mira no lado esquerdo do meu corpo, a altura da cintura. Eu consigo desviar, mas ainda estou de olhos arregalados. Ótimo então, se você quer lutar pra valer, então que assim seja.

Levanto minha espada e o ataco também. Ele se defende e empurra minha espada para o lado. Ela quase se solta de minha mão, o que me lembra de que preciso ter firmeza. Aperto o cabo com força.

— Está indo bem. — Ele comenta enquanto vem me atacar novamente.

Desvio e desfiro um golpe em sua barriga, com força e raiva. Porém ele desvia (Inclinando-se para trás e encolhendo a barriga). Rio dele. Meu erro, ele me ataca novamente.

— Não se distraia. — Ele diz quando sua espada bate na minha, produzindo um som alto e irritante.

— Pode deixar. — Falo e empurro com força, deslizando a espada para a direita.

As duas produzem faíscas. Pulo para trás antes que seu golpe me atinja. Emily me disse que sua espada está meio enferrujada, já que ela não a usa muito. Quando fomos até seu quarto pedir-lhe a espada emprestada, Emily estava na cama, sentada e coberta com o rosto tampado pelo travesseiro. Pouco tempo antes nós vimos Jack voltando do corredor com um sorriso no rosto. Mesmo assim ela não parecia feliz, parecia triste.

Ele me ataca novamente. Caio sentada no chão, mas antes que me ataque de novo bato em sua espada com força. Ela voa longe, para cima do segundo convés. Nos olhamos por um segundo, então ele corre até sua espada. Levanto-me com pressa, mas não vou atrás dele.

O terceiro convés está quebrado. As madeiras em um dos lados estão quebradas, estilhaços jogados pelo chão. Parece até que ácido corroeu essa área. Eu fiz isso não foi? Foi disso que Alex reclamou. Eu estraguei o seu barco na hora da luta. Não pode ter sido pela colisão com o navio fantasma, afinal eles colidiram na direção do primeiro convés. Fui eu.

A lâmina aperta meu pescoço, com força, quase arrancando sangue.

— Atacar por trás é covardia. — Digo.

— No mundo dos piratas, isso não existe.

— Honra, isso não significa nada para você? — Pergunto. Ele afrouxa pouco a espada, o suficiente para eu poder virar o pescoço e ver seu rosto.

Respiro fundo. Não havia percebido que tinha prendido a respiração até agora. Seu rosto está perto demais do meu, o suficiente para eu ver a parte escura em seu rosto onde a barba fora há pouco raspada.

— Sim. — Ele responde. Sinto seu hálito quente em minha bochecha. — Mas eu já perdi seu sentido há muito tempo.

Ele me solta e me empurra para frente com força. Violência. Isso me enraivece, eu quase caio de novo. Abro os braços para me equilibrar (Fico parecendo um pinguim tentando alçar voo). Mas quando me viro para trás minha raiva desaparece. Ele está com o rosto abaixado. Não consigo ver seus olhos, mas vejo que estão tristes. Dou dois passos em sua direção, mas vejo seu corpo recuar.

— Chegamos! — Ouço-o gritar lá do alto.

Eu não tinha visto, mas Drobt estava lá em cima, no mais alto mastro (Numa área pequena e circular de madeira). Ele viu tudo que aconteceu aqui? Abaixo o olhar para o chão.

— Ilha Karley, aí vamos nós! — Ele grita de lá.

Quando olho novamente vejo que ele está descendo do mastro, não por uma escada ou nada disso, mas deslizando pelo mastro sem dificuldade. Aliás, não há nenhuma escada que ligue o pequeno observatório lá em cima ao mundo aqui em baixo. Ele escalou tudo aquilo?

Ele cai no chão com um barulho alto. Alex olha para mim, então desvia o olhar e se vira para Drobt.

— Avise os outros. Vou guiar o navio até o porto. — Ele diz indo até o primeiro convés.

— Sim senhor capitão! — Drobt responde batendo continência como um militar. Depois ele ri e desce as escadas, mas antes ele dá uma piscadinha para mim.

Sim, ele viu tudo.

¬¬¬

Ela levanta e vai até o espelho. Fica de frente a ele, observando seu reflexo. Por muito tempo ela odiou a própria aparência, pois era a mais feia onde vivia. Naquele lugar, onde nenhum humano jamais foi e nunca irá. Emily repara em cada detalhe de seu corpo. Ela é baixa, não tem mais que um metro e cinquenta. Seus cabelos louros têm sutis mechas cor de rosa na nuca, onde ninguém consegue ver. É uma marca de nascença, uma prova de que ela é sangue impuro. Seus olhos díspares, um cor azul celeste e outro roxo escuro. Com o tempo as pessoas no navio foram se acostumando com esse detalhe, mas no início não conseguiam deixar de olhá-los. Esses olhos hipnóticos. Seu corpo é farto, seus seios são grandes e ela é magra, a cintura é fina, tem quadris largos. Mesmo assim não consegue se achar bonita. Ela se vê como uma mistura imperfeita, um quebra-cabeças montado errado eternamente.

Ela põe a mão no corpete de couro marrom e o aperta mais e mais. Não é incômodo, é comum. De onde ela veio todas são acostumadas a fazer tudo pela beleza, a estar sempre apresentáveis e deslumbrantes. Quando fugiu e passou a conviver entre humanos e outras criaturas, Emily viu o quanto podia ser bonita, o quanto era, e passou a se aproveitar disso. Ela escondeu suas inseguranças na área mais funda de seu ser, onde ninguém pode encontrar. Ninguém, exceto Jack.

Depois da noite que passou bebendo, Emily foi levada até seu quarto pelo Jack. O garoto gentil estava sempre ao dispor dela, sempre ao seu lado para ajuda-la. Ele a pôs na cama e ela desmaiou num átimo. Quando acordou, Emily viu que Jack dormira no chão ao seu lado. Ela chegou a expulsá-lo de seu quarto, mandando-o voltar para seu quarto. Mas ele ficou batendo em sua porta e chamando seu nome, ela simplesmente não pôde deixa-lo ali. Não afetada pela ressaca (Já que para pessoas da sua espécie é impossível), ela o deixou entrar para tentar convencê-lo a sair por própria vontade.

— Não vou te abandonar aqui. — Jack disse de braços cruzados. Seus olhos azuis deixavam Emily nervosa, eles a impediam de fingir.

— Não vou estar abandonada. — Ela respondeu mantendo a voz estável. — É apenas meu quarto.

— Eu me preocupo com você. — Ele se aproxima dela.

Não foi a primeira vez. Jack estava sentado ao lado de Emily, em sua cama. Ela já estava descoberta e ele estava sem a habitual blusa branca (Já que a noite foi quente). É um garoto jovem, não é musculoso nem nada disso. Não é isso que deixa Emily nervosa perto dele.

— Eu sei, mas não devia. — Ela responde e abaixa a cabeça.

Jack segura seu queixo e o levanta, fazendo-a olhar em seus olhos novamente.

— Sim, eu devo. — Ele diz. — Eu gosto de você.

Jack controla a respiração. Passou muito tempo esperando para dizer essas palavras. Muito tempo observando Emily e tentando tirá-la de sua cabeça, mas sem conseguir. Agora que finalmente decidiu ter coragem e contar, ele tem medo que a reação dela seja outra. Tem medo que ela o rejeite. Tem medo, pois ela não diz nada por muitos segundos. O silencio o mata a cada segundo.

— Claro. — Ela diz balançando a cabeça e forçando um sorriso. — Você é como um irmão para mim. — Ela aperta a bochecha dele e solta.

— Você não entendeu. — Ele respira fundo e a fita. — Eu gosto de você.

Emily fica calada. Isso de novo não. De novo não.

— Eu... — Ela abaixa a cabeça. — Também gosto de você.

Jack sorri. Seu mundo fica mais claro de repente, fica mais bonito. Ele nunca imaginaria que uma garota como ela realmente um dia chegaria a gostar de um garoto como ele. Ele faz novamente, segura seu queixo e o levanta, aproximando seu rosto ao dela.

Ela respira rápido, ofegante diante da possibilidade. Sabe que não pode beijá-lo, não poderia, mas a vontade é grande. Ele não hesita, pressiona seus lábios nos dela com força e suavidade. Ela se entrega á sensação, movendo os lábios em conjunto com os dele. Mas ela não pode. Depois de um tempo, ela volta à noção.

Solta-o, empurrando-o para longe. Ele resiste, mas ao perceber que ela o quer longe ele se afasta.

— O que foi? — Ele pergunta quando ela desvia o olhar. — Pensei que gostasse de mim.

— E gosto. — Ela diz. Seus olhos começam a se encher de lágrimas. — Mas não posso ficar com você.

— E por que não? — Ele pergunta, puxando o rosto dela para frente do seu. Lágrimas caem por suas bochechas. Ele não consegue vê-la chorar.

— Porque eu sou uma fada. — Ela diz entre soluços reprimidos. — Fadas vivem mais de cento e cinquenta anos, praticamente não envelhecemos.

— Eu não ligo. — Ele diz aproximando-se novamente. — Fico com você o quanto tempo puder.

— Esse não é o problema. — Ela abaixa a cabeça novamente. — Há uma maldição na minha família. Não podemos amar, pois aqueles que amamos morrem. Sua vida lhe é sugada e adicionada à nós, assim podemos sofrer por mais tempo. Não quero fazer isso com você, não posso.

Enquanto as lágrimas caem Emily aperta o lençol da cama com força, quase cravando suas unhas nele. É uma tática, para fazer o choro parar. Adianta aos poucos, mas seus olhos ainda estão úmidos. Ela sabe o que terá que fazer, como já fez tantas outras vezes.

— Então você me ama? — Ele pergunta, seus olhos brilham.

Emily assente, com dor no coração.

— Eu também te am... — Ela põe o dedo indicador em sua boca, impedindo-o de continuar a frase.

— A maldição só age se o amor for recíproco. — Ela abaixa um pouco o queixo, encarando suas pernas. — Sei que você não me ama, não ainda. Você mal me conhece.

— Mas posso conhecer.

— Esse é o problema. — Emily diz, então olha-o nos olhos. — Se você me conhecer e me amar, morrerá. Não quero isso. Eu já te amo, mas você precisa me esquecer.

— A gente mal conversa Emily. — Ele diz. Ele sente raiva. Como pode isso? Ele não a deixará. — Você também não pode me amar.

— Está enganado. — Ela responde. — Já conversamos muito Jack, sei muito sobre você. Você também já soube sobre mim um dia, mas se esqueceu.

Ele fica confuso. Como assim? Desde que entrou na tripulação Emily nem dá bola para ele, ela se afasta sempre que ele chega. Só não o fez quando estava bêbada pois afinal, estava bêbada. Se pudesse ela sairia da sala de jantar apenas para não ter a sua presença. Por isso sempre achou que ela não gostasse dele, por isso nunca teve coragem de dizer à ela o que sente.

— Como assim me esqueci?

— Eu te fiz esquecer. — Ela volta a olhá-lo. — Fiz você esquecer que me amava, até mesmo que gostava de mim. — Ela põe as mãos no rosto quando vê que não controlará as lágrimas. — Mas não importa quantas vezes eu faça isso, você sempre volta e se declara de novo. Eu não consigo mentir para você. Você sempre volta, sempre.

— Me fazer esquecer... — Ele fala baixo ainda não entendendo bem.

— Sou uma fada Jack. — Ela diz secando o rosto. — Assim como leio pensamentos também posso apaga-los. Memórias. E vou ter que fazer isso de novo.

— Vai me fazer esquecer de novo? — Ele pergunta encarando-a.

Os olhos azuis. Ela não consegue resistir a eles. Por quê? Por que ele sempre tem que voltar? Por que ele simplesmente não vive sua vida e se esquece de mim? Por quê?! Emily assente, ainda soluçando.

Jack abaixa a cabeça. Milhões de perguntas passam por sua cabeça. Quantas vezes ela fez isso? Por que ela simplesmente aceita essa maldição? Por que não tenta mudar?! Mas só um pensamento permanece, e Emily o ouve perfeitamente. Não vou admitir isso.

“Sim, você vai.” Ela responde.

Ela segura seu rosto. O garoto não revida, nem mesmo tem reação. Ao tocá-lo, ela o colocou num transe que só ela pode provocar. Olha em seus olhos, e seus olhos coloridos começam a brilhar. Os olhos azuis de Jack ficam brancos. Tudo é rápido.

“Cada momento que passou comigo...” Sua voz passa ecoante na mente de Jack. “Cada vez que conversamos e eu fui gentil com você, até você perceber o que sentia...” Ela continua. Lágrimas caem por seus olhos enquanto sua mente trabalha. “Esqueça. Esqueça tudo. Esqueça seu amor por mim.”

E acaba. Ela solta Jack, ficando apenas com uma enorme dor de cabeça. Jack ainda está parado olhando para ela enquanto seus olhos voltam do branco ao azul demoradamente. Ela o olha, enquanto está parado como um zumbi. Mais uma enxurrada de lágrimas cai por seu rosto, mas ela o seca rapidamente. Se levanta, segura na mão dele e o puxa. Ele levanta, seguindo seus movimentos, com olhar vazio e sem olhar para nada.

Ela abre a porta de seu quarto e o coloca ali. Então, antes de manda-lo para fora, ela segura seus ombros e cochicha algo em seus ouvidos.

— Vai, e seja feliz. — Ela diz com sua voz doce.

Ele assente quando seus olhos voltam ao azul vivo habitual. Ele volta à sua consciência, então Emily bate a porta e ele se vê no corredor.

Emily voltou para sua cama. Deitou-se nela e afundou-se em suas cobertas. Deixou que o colchão absorvesse suas lágrimas, que só cessaram depois de vários minutos. Mais uma vez ela precisou fazê-lo esquecer, mais uma vez ela abdicou de uma vida feliz. Por ele.

E agora, olhando-se nesse espelho, ela percebe o quanto é imperfeita. O quanto ele não a merece. Ela vê, que fará isso quantas vezes for necessário. Não vai deixa-lo morrer egoistamente. Nunca. Emily se afasta da penteadeira e sai do quarto. Está na hora de ver como Elizabeth está se saindo.

¬¬¬

— Joguem as cordas! — Ele grita quando chegamos ao porto.

Sony, Drobt e Tom (O garoto que conheci ontem no jantar) pulam do navio até a larga passarela de madeira que se estende desde o atual ponto em que estamos até a ilha. Não é muito longe, apenas uns vinte metros. Daqui do Andrômeda eu vejo Law jogando três cordas lá em baixo. Corro para a borda do navio, segurando-me à passarela com um sorriso. Depois de tanto tempo em mar, finalmente a terra. Sony e os outros pegam as cordas e prendem-nas todas juntas num poste de madeira e ferro, muito bem preso ao porto. Fazem três nós unidos, com certeza muito fortes. Com minha visão periférica sinto a presença de alguém ao meu lado e viro-me para olhá-lo.

— Por que vocês não jogam a âncora? — Pergunto a ele.

Ele, que antes observava os garotos lá em baixo prendendo as cordas, olha para mim me fitando. Ele é loiro, mas um loiro muito mais claro que o de Luke. Sua pele é clara, quase tão clara quanto a de Kalyssa. Ele é alto, provavelmente da mesma altura que Alex. Seus olhos são negros, tão pretos que é impossível distinguir sua pupila. Ele não é muito musculoso, mas é bem bonito. Apesar das várias cicatrizes na parte esquerda de seu rosto, uma delas muito próxima ao rosto.

— Demora muito para puxar a âncora. — Ele responde. Sua voz é semicerrada, como uma lâmina. Mesmo assim, é suave aos ouvidos. — Com as cordas nós podemos fugir mais rápido.

Ele sorri, movendo a cicatriz que atravessa seus lábios. Tenho vontade de tocá-la, sentir e sabe como é. Eu reprimo essa vontade, afinal eu quase não falei com ele esse tempo todo. Na verdade, acho que só o conheci agora.

— Qual o seu...?

— Carlos. — Ele responde como se lesse minha mente. — Meu nome é Carlos, Elizabeth. — Ele se curva e beija minha mão.

— Ah. — Sorrio.

— Agora você conhece todo mundo. — Ouço a voz grave ao meu lado.

Alex, com uma expressão nada feliz, está olhando para a ilha. Ela é grande, tem várias lojas e casas. Sinto Carlos saindo do meu lado e indo para o outro lado do terceiro convés. Que pena, eu ainda queria conversar mais com ele.

— Dispensadas as apresentações. — Ele olha para mim. Seu olhar é vazio, como se olhasse algo através de mim.

— É. — Digo. — Precisei de um dia inteiro para conhecer toda a tripulação.

— E agora precisa da sua espada. — Ele diz.

Segura no parapeito no navio. Ouço um click, então ele puxa-o e se abre uma porta. Ele ri para mim sem mostrar os dentes.

— Vamos lá comprar? — Ele convida, dando-me sua mão.

— Como vamos descer? — Seguro sua mão devagar.

— Assim. — Levanta a mão e segura numa das cordas do navio, daquelas que seguram as velas.

— Mas oque...?

Ele move a corda e me puxa para perto de si, apertando meu corpo ao seu. Sei o que ele vai fazer, e não concordo com isso. Antes que possa dizer algo ele pula do barco, me levando consigo. Eu grito, muito alto mesmo. Mas durante a queda, com o vento empurrando meus cabelos e a respiração de Alex em minha nuca, eu não tenho medo. Eu grito, me divertindo. Mas não posso deixa-lo perceber isso. Então calo minha boca em seu ombro e fecho os olhos até estarmos no chão.

Finalmente estamos aqui. A Ilha Karley, a primeira parada até o meu destino. Depois daqui, só pararei quando encontrar meu pai.

¬¬¬

Se ele pudesse fazer o tempo correr mais rápido, se pudesse fazer os ventos serem mais violentos, ele o faria com certeza. O seu navio é rápido, mas não o tanto que deveria. Cada minuto em sua sala esperando, é uma tortura. Esteve esse tempo todo esperando para encontra-los, para cravar sua espada no peito de seu pr...

— Capitão. — Um homem baixinho e com roupa de guarda real abre a porta da sala. — Chegamos à Ilha Karley.

— Já? — Luke se levanta de sua cadeira.

— Sim. — O homem responde. — E há um navio ancorado no posto. Um navio pirata.

Não é necessário dizer nada. Luke pega sua espada e sai dali, correndo para o convés. Sim, ali está. O mesmo navio que ele viu fugir de Alásia com Elizabeth sequestrada. Não está muito longe, apenas alguns minutos para alcança-los. Então enfim ele os encontrará. Enfim, ele matará Alex. E salvará Elizabeth.


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