O Sorriso Psicopata escrita por Wendy


Capítulo 21
A irmã do demônio


Notas iniciais do capítulo

História em seus últimos capítulos...

Boa Leitura, pessoas!



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Meus olhos encararam a garota loira à minha frente, porém, minha mente insistia em não acreditar no que estava diante de mim.

–Você... –Tentei falar, mas minha voz falhou.

–Olá... –A garota parecia prestes à chorar, mas continuou. –Irmã. Aliás, você não merece ser chamada de irmã e também não me chame assim, nunca mais!

–Não pode ser! –Falei. –Isso é impossível... Você... Você estava morta!

–Ou talvez... Seja apenas o que você pensou... –Disse Julie.

–Mas... Eu me lembro. –Eu falava cada vez mais alto, ignorando a dor que, em hipótese alguma, queria desapegar-se de mim. –Eu senti; Minha faca perfurou seu corpo... –Fui interrompida por uma tosse de sangue.

–Por muito pouco... –As lembranças de Julie voltavam como uma tempestade em sua mente. –Você se lembra do meu antigo urso de pelúcia? Era sujo e rasgado, mas mesmo assim, sempre foi meu brinquedo favorito. Ele estava ao meu lado e eu o abracei por debaixo das cobertas quando ouvi barulhos estranhos, mas logo voltei a dormir. Quando acordei, você estava diante de mim com sua faca e eu quis gritar, mas você não deixou, tampando minha boca e então senti uma pequena dor em meu peito: a ponta da lâmina da faca. Não sabia se aquilo era a realidade ou apenas um terrível pesadelo, como eu queria que fosse... Fechei meus olhos e quando os abri você já não estava mais lá. –Seus olhos encheram-se de lágrimas. –Quando fui ver, o ursinho estava ainda mais rasgado e nossos pais... –Lágrimas desceram por seu rosto. –Como você pode?! Eles eram nossa família, cuidaram sempre muito bem de nós! Apesar de sempre me maltratar, eu gostava de você, Jane, você era minha irmã!

–Julie... –O “sentimento” estava ficando mais fraco, era a primeira vez que isso acontecia sem morte, dando lugar à uma pequena sensação que eu não conhecia muito bem: O arrependimento. –Julie, eu...

–Não venha se desculpar! –Gritou ela, chorando. –Você matou aquela vez, pode matar de novo. Agora que está feito, eu sei do que você é capaz, Jane... Você é um demônio!

–Cuidado com o que diz Julie... Se eu sou um demônio... Isso faz de você a irmã do demônio.

O tapa de Julie foi mais fraco que os de Daniel, mas toda a sua raiva foi transmitida por ele.

–Não me chame de irmã! –As lágrimas interrompiam os gritos da loira. –Daniel... Já falei com ela... Ainda não quero acreditar nisso... Vamos dar continuidade ao plano, quero ver o que irá acontecer.

–Eu também estou muito curioso e ansioso... –Disse ele. –Para a polícia prender os dois juntos. –Sorriu. –Isso é, se ela sobreviver, é claro.

–Do que vocês estão falando?!

–Você já foi pescar, Jane? –Perguntou Daniel. –Sempre queremos um peixe grande, mas precisamos de uma boa isca para atraí-lo, algo que lhe interesse.

–Jack é o nosso peixe. –Completou Julie, que já havia parado de chorar e estava séria.

–A polícia recebeu um telefonema ontem. –O homem de cabelos castanhos explicava. –Um dono de bar afirma que seu priminho, Jack, estava pela região e sempre frequentava os bares da cidade. Mesmo com discrição, ele foi reconhecido pelo cara do bar, que sempre assiste à TV e com medo, decidiu comunicar a polícia de lá, que nos informou.

–E o que vocês pretendem fazer? Me Levar a esse bar?

A isca não vai até o peixe... Mas o peixe vai até a isca. Você irá ganhar um emprego, Jane. Mesmo que por poucos minutos...

–Não estou te entendendo, Daniel.

–Uma lanchonete foi assaltada recentemente, o lugar está uma bagunça! Só precisamos que você apareça ajudando os funcionários da limpeza, aos fundos de onde o dono será entrevistado. Faremos questão de que seja mostrado nos jornais do dia, tarde e noite e também nas chamadas dos mesmos.

–Uma hora Jack verá e quando essa hora chegar... -Falava Julie, antes de caminhar para a saída. –Ele virá atrás de você, Jane e a polícia irá prendê-lo.

–Espera! Julie, como você e Daniel se conheceram? Para onde você foi depois daquele dia? Me diga o que aconteceu! Julie!

Chamei por Julie várias vezes, porém ela não voltou e logo Daniel também saiu, sem dizer nenhuma palavra. Depois de certo tempo, ele voltou para cuidar das feridas que ele mesmo havia feito, mas não parecia estar satisfeito com o fato de ter que fazer isso.

O silêncio e a dor tomavam conta do local. Meusferimentos ainda doíam muito e acompanhados de uma tempestade de sentimentos, não me deixaram dormir aquela noite. Não conseguia parar de pensar sobre o que havia acontecido na minha vida, sobre Julie e também sobre Jack.

***

No dia seguinte, a entrevista com o dono da lanchonete aconteceu, como eles haviam dito. Daniel encontrou uma maneira de me levar até o local, falando ao dono e aos outros funcionários que eu iria prestar serviços comunitários. Não havia meio de sair, policiais cercavam toda a área, se eu tentasse escapar, uma palavra de Daniel bastava para que eu fosse capturada. O lugar realmente estava uma bagunça: Cadeiras jogadas e até quebradas por todos os lados, cacos de vidro pelo chão, assim como bebida e comida. Algumas máquinas estavam quebradas, principalmente o caixa eletrônico.

Não demorou muito até a equipe de jornalismo chegar e quando a entrevista começou, fui obrigada a ficar aos fundos, limpando o balcão. Meus cabelos e a blusa com mangas disfarçavam os machucados. Eu e pelo menos mais dois funcionários, estávamos bem visíveis à câmera.

Tentei agir naturalmente, mas acabei não percebendo o que fazia, pois mergulhei em pensamentos, até que cometi um pequeno deslize: Sem pensar, olhei para a câmera. Foi aí que veio em minha mente que todas as chances de Jack não me reconhecer estavam acabadas, o que não deixou meu humor melhor.

***

Estava de tarde. Os funcionários haviam sido despedidos por hoje. Ficamos na lanchonete até que todos saíram, Julie também estava lá. O fato de Daniel ser policial tinha suas vantagens.

A entrevista já deveria ter ido ao ar há algum tempo e qualquer pessoa com uma TV ou internet poderia a assistir.

Julie insistia em não apenas não falar comigo, mas como também não dirigir seu olhar à mim, que estava com mãos e pés algemados. Preferia ficar em silêncio, ou comentar algo com o policial.

–Julie. –Disse Daniel. –Tem certeza que prefere ficar aqui? Pode ser perigoso quando Jack chegar.

–Não se preocupe, eu quero. Quando ele chegar, vou ficar na cozinha até que tudo seja resolvido.

Um tempo se passou até que, de repente, ouvimos que alguém tentava entrar onde estávamos. Seria Jack? Tão rápido assim? Julie foi para a cozinha junto à Daniel, que já havia preparado sua arma enquanto observava pela janela da cozinha atrás de mim. Uma pessoa conhecida entrou, porém não era meu primo, mas eu desejei que fosse. Não queria que isso estivesse acontecendo, mas era tarde demais para impedir. Thomas havia assistido ao jornal hoje.

–Jane?! –Thomas estava confuso e ao mesmo tempo assustado enquanto aproximava-se de mim. –O que está acontecendo aqui?

Não queria responder. Também não sabia o que responder.

–O que está fazendo aqui, garoto? –Daniel guardava sua arma enquanto caminhava na direção dele. –Estamos no meio de um caso da polícia muito importante.

–E o que isso tem a ver como ela? Está toda algemada e... O que são todos esses machucados? –Ele parecia muito preocupado. –Vi você na TV hoje, não fazia a menor ideia de que trabalhava aqui. Quando olhei seu rosto, pude ver algumas marcas estranhas e achei melhor ver se estava tudo bem, mas... O que está acontecendo aqui?

Não conseguia encarar seus olhos azuis.

–Vejo que vocês são muito próximos... –Julie estava saindo da cozinha. –Visto que se preocupa com ela, mas não deveria!

–Do que você está falando?

–Essa garota é um verdadeiro demônio!

–Como você pode ofendê-la desse jeito?

–Entendo... –Ela virou-se para mim. –Estava tentando esconder sua verdadeira face, não é mesmo? Bem... –A loira aproximou-se de Thomas. – É uma longa história.

Julie contou tudo, nos mínimos detalhes. Em certos momentos, ela parava para chorar, mas logo voltava a contar nossa história. Sempre a achei chorona, mas só agora conseguia entender, mesmo que apenas um pouco, o que ela sentia. Apesar de tudo, ainda pensava que tanto choro era desnecessário.

–Isso não pode ser verdade... –Thomas estava pensativo e incomodado.

Daniel havia gravado tudo o que eu dissera durante a tortura e mostrou, em seu celular, para o ruivo.

Longos e agoniantes minutos se passaram, a mente de Thomas parecia estar querendo explodir. O piso do lugar tinha vários pontinhos; Nunca havia encarado o chão por tanto tempo.

–Há tanto ódio, tanta raiva... –Thomas quebrara o silêncio. -Mas eu sei que no meio de todos esses sentimentos ruins, em meio a todo caos, mesmo que seja no lugar mais obscuro, tempestuoso e amargo de seu coração... Ainda há espaço, mesmo que muito pequeno, para sentimentos bons. E eu não ligo que seja pequeno, por que mesmo tão pouca, a luz se destaca na escuridão e eu quero estar nessa luz que, eu tenho certeza, ela existe na Jane. Mesmo após perder a visão... Mesmo após ter dificuldades... Mesmo após sofrer preconceitos, eu nunca desisti e eu não vou desistir de nada que seja importante para mim, como não desisti da minha vida... –Virou-se para mim. -E como não vou desistir de você, Jane.

Finalmente, olhei para seus emocionados olhos.

–Eu sei que você pode melhorar... –Continuou. –Eu tenho certeza! Você nunca fez nada de mal para mim, sei que com os outros pode ser a mesma coisa, você está tentando melhorar! –Foi em direção à Daniel e Julie, que estava chorando muito. –Nós precisamos dar uma chance à ela.

–Você não pode estar falando sério...

–Daniel... –Julie o interrompeu. –Todos os dias, eu tenho sentido muita raiva de Jane, mas... Eu nunca seria capaz de machucá-la. Eu confiei em você e você disse que poderia me ajudar, então aceitei, mas eu nunca seria capaz de fazer o que você fez. Você não imagina o que senti e o que ainda sinto vendo ela desse jeito... –Julie começou a chorar mais, eu diria que poderíamos encher um balde. Ficamos em silêncio mais uma vez, até que Julie aproximou-se de mim e continuou. –Mesmo fazendo coisas ruins para mim durante toda a vida, eu ainda gostava de você e sabia que no fundo você não era má como parecia... Apesar de tudo, eu te admirava e pensava que tudo isso não passasse de um problema com o controle da sua raiva e... E eu era a maior responsável por te irritar, talvez a única... A verdade é que eu sempre me senti culpada pelas coisas que você fez, apenas não tentava pensar dessa maneira... Me desculpe!

–Não Julie... –As palavras saiam trêmulas de minha boca. –Não é você quem precisa se desculpar.

–Eu só quero a minha irmã de volta! –Gritou ela. –Eu já sei... Já sei! Eu vou achar uma cura! Eu vou te curar, Jane, nós finalmente poderemos viver em paz! Eu não quero que nada disso aconteça de novo... Eu não quero que nada de ruim aconteça com a minha irmã!

–Julie, do que você está falando?! –Gritou Daniel. –Você está fora de si, ela é uma assassina!

–Eu gastei horas com visitas à psicólogos que nada me adiantaram! Eles só serviam para esconder minha culpa, aumentando a raiva contra ela, mas nunca foi isso que eu realmente quis!

–Você está dizendo sem pensar!

–Você não entende! Você por acaso sabe como é ter uma irmã assim, hein? Hein, Daniel? Que mata e você não pode fazer nada para ajudar? Eu acho que não! Tudo o que eu quero é ajudá-la a ser uma pessoa melhor e você não entende isso!

Daniel ficou em silêncio. Algo parecia ter atingido suas lembranças mais secretas.

–Jane... –Thomas abaixou-se perto de mim. –Você está tentando melhorar... Não está?

Nesses últimos anos, eu havia realmente evitado mortes, porém, conheci Dra. Natasha. Contei a eles sobre isso, não queria esconder mais nada de Thomas e Julie.

–Você... –Falava baixinho Thomas, com sua voz querendo falhar. –Você fez isso por mim?...

–É isso! –Disse Julie. –Essa médica... Ela pode ser a resposta dos nossos problemas, Jane! Ela pode curar você! Precisamos falar com ela, agora!

–Vamos precisar de um carro. –Falei. O único que poderíamos usar era o de Daniel.

–Daniel, vamos lá! Eu sei que você quer prender Jack, mas ele estava longe, vai demorar até chegar aqui e também não sabemos se ele virá hoje.

–Eu não sei se quero ir a esse lugar. –Ele parecia um pouco tenso.

–Você disse que iria me ajudar de qualquer maneira, lembra? Você sempre foi muito fiel a nós!

–A nós? –Perguntei.

Daniel parecia cada vez mais nervoso, até que finalmente concordou:

–Tudo bem. Deixar de lado por mais tempo não resolve em nada... –Sussurrou para si mesmo e depois recuperou o tom de sua voz. –Mas Jane, eu ainda vou deixa-la algemada!

***

Já estava escuro quando estramos no carro. Eu e Julie estávamos no banco de trás. Ela me contava que havia sido adotada por uma família muito rica, porém, o casal não podia ter filhos. Daniel havia sido o detetive particular deles por algum tempo.

–Eu os amo muito... –Disse ela. –Mas não são meus pais verdadeiros.

Eu falava em qual caminho Daniel deveria seguir, porém ele me ignorava e parecia já saber por onde deveria ir. Thomas estava ao seu lado, observando cada detalhe de tudo.

–Bingo... –Daniel sussurrou, parecia estar ficando nervoso novamente, ele olhava com atenção e seriamente para a sua frente, mas sempre checava o espelho retrovisor.

–O que aconteceu, Daniel? –Perguntou Julie.

–Creio que não seja uma boa hora para isso, mas... Estamos sendo seguidos.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo de hoje?