O Sorriso Psicopata escrita por Wendy


Capítulo 18
Show de horrores


Notas iniciais do capítulo

Música que da nome ao capítulo, caso alguém esteja interessado:

https://www.youtube.com/watch?v=s707qxKrBGU

E a do capítulo passado:

https://www.youtube.com/watch?v=htCBWwiVmIQ



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O apresentador do circo, um conhecido de Dra. Natasha, caminhou para fora da lona principal, onde estávamos e eu o segui. As únicas pessoas presentes eram os artistas, todos da plateia já haviam ido embora. Caminhamos em direção à outra lona, parecida com a que estávamos, porém, esta era muito menor. As luzes coloridas estavam sendo desligadas (aquela havia sido a última apresentação do dia) e com isso, o local parecia ainda mais estranho. Entramos na pequena lona, onde algumas pessoas, ainda maquiadas e com suas fantasias, conversavam sobre o show daquela noite.

–Pessoal! –Disse o apresentador, ficando ao meu lado. –Olhem que estava em meio ao nosso público hoje.

Todos pararam o que estavam fazendo e olharam pra mim, curiosos.

–Essa seria... –Uma contorcionista estava prestes a perguntar quando foi interrompida pelo apresentador, que agora acendia um cigarro que achara por ali;

–Sim, nossa convidada especial. –Disse ele indo para fora fumar.

–Seja Bem-Vinda, querida. –Um homem de meia idade aproximou-se e quando olhei para ele, tudo o que vi foram chamas em minha direção, tão próximas que por muito pouco não me alcançaram. Achei que meu rosto acabaria queimado e afastei rapidamente, mas logo o fogo despareceu e o ar esfriou.

–Jimy! –Gritou uma garota com longos cabelos vermelhos. Com certeza os cabelos mais compridos que eu já havia visto. –Quantas vezes eu preciso falar para que você entenda que: Cuspir fogo só no show! Entendeu?! Este lugar pode acabar em chamas e, além disso, você assustou a pobre menina!

–Mas é engraçado! –Ele disse rindo. –Você não viu a cara dela? Essa é a melhor maneira de cumprimentar alguém: Calorosamente! Entendeu? Hahaha.

A ruiva suspirou e depois dirigiu-se a mim.

–Nos desculpe por isso, ninguém consegue impedi-lo. Ele é meio obcecado por fogo.

–Entendo... –Olhei, ainda desconfiada, com atenção para Jimy, que brincava com uma tocha acesa. Havia várias marcas de queimadura em seu corpo, contudo, ele parecia muito feliz.

–Eu sou Rebeka. –Disse ela. Parecia querer continuar a conversa, porém, foi interrompida por alguém.

–Rebeka, você pode dar uma conferida aqui? –O mágico, agora sem sua cartola, mexia em algo dentro de sua caixa, que usara mais cedo durante o show.

–Oh droga... –A garota encarava algo dentro da caixa.

–Está mesmo inútil? –O mágico parecia desapontado.

–Idiota! Vários shows iguais a este e você serra o lugar errado! Agora teremos que encontrar outro coração saudável. Se Natasha estivesse aqui, você seria um mágico morto.

–Ei, eu não tenho culpa, ok? Achei ter dito pra ela não se mexer, mas aposto que a trouxa foi mais para a direita. Um mínimo detalhe faz toda a diferença em um truque de mágica, sabia?

–Ótimo... Sequestrar pessoas fica cada vez mais difícil nos dias de hoje. Dessa vez eu não vou ajudar. E trate de fazer isso direito, seu inútil.

–Inútil? Olha só quem fala! Eu agradeço por você não ir, só atrapalha! Trabalho melhor sozinho. E você não me dá ordens, ouviu?

–Eles parecem brigar sempre. –Uma voz suave disse ao meu lado. Só então eu percebi que uma garota, de claros cabelos loiros (curtos e ondulados) e olhos verdes, estava ao meu lado, observando a discussão. Ela parecia ser mais nova do que eu. Usava um simples vestido e estava sem maquiagem, diferente dos outros.

–Sim. –Respondi.

–Mas também são do tipo que se entendem rápido... –Ela sorria. - Para brigarem novamente depois.

Deixei escapar um leve riso.

–Você está aqui há muito tempo? –Perguntei.

–Não. Aliás, sou Melina. –Apresentou-se ela.

–Jane. Mas já deve saber, assim como todos por aqui, não?

–Sim, eu sei.

Ficamos em silêncio por um tempo, ouvindo a discussão que parecia não ter fim.

–Ah não... –Uma garota de cabelos lisos e pretos entrou no local. Ela possuía uma aparência oriental. –Esses dois brigando outra vez... Ah, sou Lauren. Acho que eles nem se importaram em te explicar o que está acontecendo, não é mesmo?

–Realmente... – Respondi. - Estou um tanto confusa.

–Bem... Vou esclarecer as coisas, então. Como você deve ter percebido, nós não somos um circo “normal”. Na verdade, todos aqui foram diagnosticados com algum tipo de problema e geralmente não nos importamos em tirar a vida de alguém. Sabendo disso, a Dra. Natasha nos pediu para que trabalhássemos para ela, pois com tantos estudos e experimentos com seres ainda vivos, ela raramente consegue tempo para escolher suas vítimas. No começo, não queríamos concordar, mas ela nos faz acreditar que somos especiais e não apenas um incômodo. Ela realmente nos ajudou nos unindo. Foi então que, para disfarçar as mortes e desaparecimentos, decidimos criar um circo, além de ser algo muito divertido, tanto para nós, quanto para as pessoas de cada cidade em que apresentamos. Descobrimos coisas que realmente gostamos de fazer e ainda podemos retribuir.

–Uau... Mas ninguém nunca desconfiou?

–Nós somos bons no que fazemos. –Ela parecia estar ficando irritada com a discussão à nossa frente. Claro, já aconteceu de alguém perceber o que estava acontecendo ou tentar fugir, mas essas pessoas não duram muito... E... Será que vocês podem parar de brigar?! –Gritou ela, sua paciência havia acabado. –Fracamente... –Suspirou e logo depois riu. –Todo dia isso, daqui a pouco vocês vão se casar.

–Cala a boca! –Gritou Rebeka que ficou ainda mais irritada com o comentário.

O mágico aproximou-se de nós e ao girar sua mão direita, uma flor de papel apareceu. Ele a assoprou e ela se desfez em poeira, que voou na direção de Lauren, fazendo-a espirrar.

Tudo parecia ter se acalmado, até que Lauren começou a se coçar... E não parou.

–O que você fez, maldito?! –Gritou ela enquanto tentava coçar suas costas com uma mão e a perna com a outra. Era um bom momento para ser uma contorcionista.

–Quem ri por último ri melhor, engraçadinha. –Disse o mágico em tom irônico.

Não pude conter um riso. Olhei para Melina, mas ela havia saído.

–Chega de bagunça, crianças! –Disse Jimy. –Temos trabalho a fazer! A noite está apenas começando; Agora começa o verdadeiro show.

Todos saíram da lona e logo encontramos o apresentador, ainda com seu cigarro, acompanhado de mais algumas pessoas.

–Bom pessoal... –Disse ele. –Hoje será a vez do nosso grupo fazer o trabalho e claro, teremos uma companhia especial esta noite. –Ele andou até mim. -Natasha deixou uma lista especial para você.

Ele entregou-me um papel de carta que estava dobrado em seu bolso. Eu li suas frases e o devolvi. O apresentador o jogou para cima e chamas acabaram com sua existência. Eu fiquei em estado de alerta por alguns segundos, odiava quando Jimy fazia aquilo, principalmente sem avisar, contudo, mais ninguém parecia dar importância, provavelmente já estavam acostumados.

Caminhamos até um ônibus do circo, que o apresentador iria dirigir. Lá, todos pegaram uma mochila para cada que haviam sido preparadas para esta noite, eles pareciam ser muito organizados. Rebeka e o mágico continuaram discutindo durante toda a viagem até uma cidade próxima, irritando ainda mais Lauren, que ainda se coçava muito.

–Você me paga, idiota! –Falava ela. –E será que dá pra vocês calarem a boca?!

Jimy ensaiava novos truques no fundo do ônibus, conversando (sempre animado) com um atirador de facas que nos acompanhava. Ele ensaiava seus malabarismos e às vezes atirava uma de suas facas para um alvo pendurado em uma das janelas.

Enquanto não chegávamos, Lauren me explicava sobre o circo e seus integrantes. O apresentador, na verdade, se chamava Edward, o Mágico Ronald e o atirador de facas Hans. Sua coceira parecia finalmente estar diminuindo. Ela também me contou que havia uma garota em especial que não fazia parte dos show, ela apenas os visitava de vez em quando, provavelmente para aliviar o stress, conhecida como Lady Christine. Conversamos bastante, Lauren era uma pessoa muito legal, apesar de ficar irritada facilmente.

Quando descemos, a cidade estava vazia. O silêncio tomava conta das ruas, todos estavam em suas casas.

–Bom, vamos nos separar. –Disse o apresentador. –Já devem ter estudado suas vítimas, assim como suas residências. Quando terminarem o trabalho, voltem para o ônibus e esperem o resto do grupo. Não exagerem e tomem muito cuidado. Boa diversão a todos. Ah e Jimy, nada de fogo, está ouvindo?

–Você é muito chato, Edward! –Resmungou ele.

–Que seja. –Ignorou ele.

–Mas, Edward. –Lauren havia parado de se coçar. –E quanto à Jane?

–Natasha já escolheu as vítimas dela. –Ele dirigiu-se à mim- Lembra-se dos números das casas, certo?

–Sim. –Respondi. – Número 36, 44 e 59 próximos a um museu.

–E não podemos nos esquecer de que Ronald tem mais uma tarefa, por ter sido um idiota no show de hoje. –Disse Rebeka.

–Você... –O mágico estava prestes a iniciar uma nova discussão.

–Vocês não vão começar a discutir de novo, não é pessoal? Não agora! –Interrompeu Lauren.

–As pessoas vão começar a acordar com todo esse barulho! –Disse Hans, brincando com três facas em sua mão esquerda.

–Pirralhos... –Resmungou baixinho Jimy.

–Vocês não tem jeito... –Edward sussurrou baixinho com um sorriso em seus lábios e logo depois falou alto para chamar a atenção. –Que comece o show!

Todos seguiram por caminhos diferentes, caminhando rapidamente ou até correndo.

***

A casa de número 36 era bem simples e possuía um gramado com algumas flores em sua entrada. Da janela era possível enxergar um brilho que sempre mudava sua cor: O morador da casa estava assistindo TV.

Andei ao redor da casa e encontrei uma janela por onde consegui entrar na residência. Na sala, uma mulher de meia idade assistia a um programa de culinária sentada em sua poltrona. Ela estava curvada para frente. Aproximei-me devagar e silenciosamente, preparando-me para o ataque. Decidida a finalmente atacar, puxei seus cabelos presos para trás, fazendo com que ele se assustasse, mas antes que pudesse gritar, minha faca já estava banhada em vermelho, mesma cor de algumas gotas que foram em meu rosto.

Abri a mochila, onde havia vários tipos de recipientes e peguei dois. Dra. Natasha iria fazer uma experiência com parte do fígado e certa quantidade de sangue. Depois, levei a mochila até minhas costas novamente e saí da casa, Edward havia dito que eles iriam cuidar dos corpos mais tarde.

Naquela mesma rua, a casa de número 44 também era simples. As luzes estavam apagadas e um gato apreciava a paisagem noturna pelo telhado. Estava mais complicado do que a ultima vez em que eu abri uma porta, mas persistindo, consegui entrar pelos fundos.

A casa estava silenciosa. Deixei a mochila em uma mesa próxima a porta e caminhei pelo corredor até uma sensação estranha me invadir. Parei por alguns instantes, prestando atenção no lugar, até que de repente senti que precisava me abaixar e rapidamente o fiz, antes que algo acertasse a parede atrás de mim.

A luz do corredor se acendeu e um homem segurando um bastão de baseball olhava assustado para mim e minha faca um pouco suja, sem saber exatamente o que fazer. Ele tentou atacar novamente, mas eu desviei e quando fui observar a situação, a camiseta azul que cobria seu peito já estava manchada de vermelho. Ele ajoelhou-se e tossiu algumas vezes, um pouco de sangue sujou o chão. Mas ele não estava na lista.

Abri algumas portas até encontrar um pequeno quarto com alguns aparelhos comuns em hospitais. Lá, um senhor dormia em sua cama com a ajuda de aparelhos respiratórios. Ao seu lado, havia uma foto sua, porém a aparência do senhor era mais jovem e ao lado dele um garoto muito parecido com o homem que manchava cada vez mais de vermelho o piso branco do corredor.

A médica também queria realizar testes com o sangue do senhor, mas dessa vez, precisaria de mais.

Retirei a máscara que levava ar até ele. O senhor não acordou, porém, era possível ver que o pobre homem não conseguia respirar. Seu corpo estava perturbado, procurando uma saída para aquilo, até que aquietou-se, seu coração já havia parado de bater.

***

Finalmente, eu estava diante a casa número 59. Havia muitas flores e alguns enfeites de jardim.

Tudo estava escuro e logo eu já estava do lado de dentro. Subi uma escada e encontrei quartos vazios, exceto por um, onde uma garota dormia tranquilamente com um pequeno abajur aceso. Fiquei ao seu lado por um tempo, mil lembranças passavam pela minha mente, como se estivessem em uma tempestade. Aquela menina era uma das amigas da minha irmã Julie. A garota me lembrava muito ela, fiquei pensando se havia sido escolhida pela Dra. Natasha por este motivo.

Seus olhos abriram-se.

–Quem está aí? –Perguntou muito confusa e com sono.

Não respondi. Antes que ela pudesse falar algo, sussurrei as últimas palavras que ela iria ouvir:

–Vá dormir...

Antes que a garota pudesse falar algo, seu sangue já manchava cada vez mais a cama e alguns bichinhos de pelúcia ao lado. Eu não queria ter feito aquilo, já fui muito grata à garota, pois Julie sempre ia brincar em sua casa e me deixava em paz por algum tempo.

Dra. Natasha queria seu corpo para realizar experimentos.

***

Após um bom tempo, todos estavam reunidos em frente ao ônibus e prontos para voltar. Rebeka e Ronald tentaram conversar normalmente, mas isso era impossível. Dessa vez discutiam para saber quem havia realizado o trabalho de maneira mais criativa.

–Eles sempre fazem isso. –Explicou Lauren. –Brigam para saber quem é o mais criativo entre eles.

–Como assim você invadiu todas as casas da rua, deixou uma parte desnecessária de corpos em cada, do lado da cama das pessoas, no teto ou no chão, com expressões ou gestos estranhos pra quando elas acordarem logo darem de cara com isso e ninguém percebeu você entrando? –Perguntou Rebeka.

–Um mágico nunca conta seus segredos. –Debochou ele.

–Está mentindo! –Gritou Rebeka.

–Veremos nos jornais de amanhã!

–Vocês chamam muito a atenção com essas “competições” entre os dois, daqui a pouco a polícia vai vir nos investigar de novo.

–Você perde toda a diversão, Hans! –O mágico arrumava sua cartola.

–Bom, estão todos aqui? –O apresentador olhou ao redor, parando as conversas paralelas. –Espere... Cadê o Jimy?

Chamas no ar foram vistas próximas a uma esquina perto de nós e logo apagaram-se.

–Ah, está chegando. –Edward respondeu a si mesmo e caminhou em direção ao ônibus. -Bom, vamos embora, pessoal! O show desta noite foi um sucesso.


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Notas finais do capítulo

Opiniões? :3