O Sorriso Psicopata escrita por Wendy


Capítulo 17
Circo para um psicopata


Notas iniciais do capítulo

O capítulo tem o mesmo nome da música que eu estava ouvindo quando o criei, caso alguém queira ouvir:

https://www.youtube.com/watch?v=htCBWwiVmIQ

E também, o título do próximo capítulo:

https://www.youtube.com/watch?v=s707qxKrBGU

Boa leitura ^^



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Fiquei em silêncio. Não conseguia acreditar no que acabara de ouvir; Aquilo parecia ser algo impossível. Thomas frequentava regularmente o hospital, porém nunca recebera a notícia de que algum dia poderia ter sua visão novamente.

–Está mentindo! –Gritei. – Thomas nunca me contou que poderia ter sua visão novamente, nenhum médico afirmou isso!

–Mas eu estou afirmando e eu não sou uma médica qualquer. –Ela levantou-se. –Sabe Jane... Como eu já lhe havia dito, tenho acesso aos dados do seu amigo e inclusive já o examinei. Eu já havia visto casos como o dele antes. Foi necessário o uso de bom tempo da minha vida com estudos e testes para que eu chegasse à cura completa e posso provar, caso você não esteja satisfeita.

A doutora caminhou em direção à uma gaiola, onde um gato cinza encontrava-se e retirou-o de lá, trazendo-o para mais perto de onde eu estava, junto com uma pequena garrafa transparente que possuía um líquido claro, que havia pegado no quarto ao lado.

O gato olhava para todas as direções, sem entender o que estava acontecendo.

Natasha sentou-se novamente à minha frente, dessa vez com o felino perto de si, que possuía a orelha direita mais torta que a esquerda. Ela o segurou de uma maneira em que ele não conseguiria fugir, segurando seu pescoço por trás. Posicionou seu indicador em frente aos olhos do gato e movimentou-o. Os olhos verdes e brilhantes o seguiam. Com sua mão livre retirou a tampa do pequeno recipiente e cuidadosamente, puxou a pele ao redor dos olhos do bichano, tornando mais fácil observar o brilho verde em seu olhar. Cuidadosamente, a médica derramou uma pequena gota do líquido e repetiu a ação com o outro olho. O animal remexeu-se em seu colo, parecia ainda mais confuso do que antes, porém não gritava, apenas abria levemente sua boca, onde não havia dentes.

–Não se preocupe, ele já não tem mais suas cordas vocais. –Aos poucos, o felino acalmava-se em seus braços, tentando se esconder. –Dê-me dois dias e irei provar que o que digo é verdade.

Após alguns minutos, o gato foi solto e tentava abrir vagarosamente seus olhos. Tentava andar, porém, não conseguia guiar-se tão bem quanto deveria. Estava completamente cego, seus olhos pareciam destruídos. Ele foi levado de volta para sua gaiola e a mulher de cabelos ondulados voltou com algumas chaves.

–Irei deixá-la ir. –Ela abriu o local em que eu estava e retirou minhas algemas. –Não me procure e muito menos ouse pensar em contar algo para alguém, creio que você já esteja ciente das consequências. Aliás... O que você acha de ir ao circo?

***

Dois dias se passaram desde que aquilo havia acontecido. O gato de Tia Violet parecia faminto, já havia um tempo que eu não o alimentava com sua ração para gatos, provavelmente estava sobrevivendo à base de caças de passarinhos e ratos. Não podia evitar a lembrança do gato cinzento da Dra. Natasha ao vê-lo.

O sol baixava-se lentamente, à procura do horizonte, o qual encontraria em pouco tempo. O céu ao seu redor estava colorido e logo seria tomado pela escuridão e junto à ela, pequenos pontos brilhantes.

De repente, o felino ficou paralisado, olhando para fora, atrás da janela. Parecia muito curioso. Caminhei em sua direção e olhei o quintal à procura de algo que estivesse chamando a atenção do animal, até que encontrei. Aproximando-se de onde estávamos, havia um gato muito parecido com o bichano ao meu lado, porém, o que andava em nossa direção possuía pelos cinzentos, olhos verdes e uma orelha um tanto mais torta que a outra.

Aproximei-me do animal e pude confirmar o que estava pensando: Era o gato da Dra. Natasha.

Seus olhos já não brilhavam tanto como no dia em que eu havia os visto pela primeira vez, mas pude ter certeza de que enxergavam. Levei meu dedo indicador próximo ao focinho do felino, que o seguiu com seus olhos conforme eu apontava para a esquerda, direita e logo depois para cima e baixo, assim como a médica havia feito há dois dias. Era certeza absoluta: O pobre gato que teve seus olhos danificados voltara a enxergar. Thomas também poderia ter sua visão de volta.

Poucos minutos haviam se passado e o gato saiu andando em direção à floresta, provavelmente voltaria para o estranho laboratório do qual havia saído.

Olhei-me no espelho, minha pele continuava tão pálida quanto porcelana. Encarei-me até encontrar uma estranha gota negra manchando meu rosto. Ela parecia multiplicar-se, aparecendo em vários pontos na minha pele, que parecia chorar. Muitas concentraram-se no meio, tive a impressão que meu rosto queria separar-se e a imagem no espelho parecia se mexer rapidamente, entretanto, apenas por curtos momentos. Fechei meus olhos e apertei-os com força. Quando os abri, tudo havia voltado ao normal.

No tempo em que passei fora da cidade, tentei esquecer qualquer coisa relacionada à morte, porém era impossível. Alucinações como essa, e até piores, eram comuns. Eu não conseguia as evitar e muito menos me acostumar com o fato de elas não me abandonarem. Também sentia que precisava voltar para esta cidade, quem sabe aqui elas finalmente parassem.

Passei meu batom preto, como de costume e saí em direção a um pequeno campo, apenas um pouco afastado da cidade. Muitas crianças animadas acompanhadas de seus familiares e amigos caminhavam na mesma direção. Olhando para frente, muitas luzes coloridas podiam ser vistas e músicas altas animavam ainda mais o ambiente. O circo havia chegado à cidade.

Uma placa próxima da entrada dizia: “Não perca hoje nossa apresentação especial: o Show de horrores!”. Apesar de todas as luzes e músicas, o circo possuía uma aparência que não seria muito amigável em um lugar abandonado e sombrio. Suas cores eram meio apagadas e havia tendas rasgadas. No topo uma bandeira, também danificada, tremia com o vento e havia máscaras de palhaços que não pareciam nada simpáticas quando as olhávamos com mais atenção.

O local não estava tão cheio, então consegui um bom lugar próximo ao palco e um pouco à direita do meio. Aos poucos, as pessoas foram aparecendo, até a plateia ficar completamente cheia. Dra. Natasha havia dito que eu saberia o que fazer após o show dos artistas de circo, mas não havia falado mais detalhes. Eu estava confusa, observando todos os detalhes daquele lugar, até que um homem vestindo um terno, chapéu e com desenhos pretos em seu rosto pintado de branco apareceu diante de seu público. A música parou e logo o barulho de conversas foi tomado por um rufo de tambores, seguido pela voz do apresentador.

–Senhoras e Senhores! –Disse ele. –Respeitável público! –Caminhou para frente. –Estão preste a ver coisas que seus olhos não vão acreditar! –Caminhou rapidamente para a sua direita. –Alguns dizem que eles são extraterrestres. –Caminhou rapidamente para a sua esquerda. –Alguns dizem que eles são estranhos. –Foi para o meio novamente. –Alguns dizem que eles não pertencem a este mundo. –Olhou confiante para a plateia. –Venha um... Venham todos! –Sorriu. –Sejam Bem-Vindos... –Pude jurar que agora ele olhava para mim. –Ao nosso show!

Uma música tocou e os artistas de circo apareceram por todos os lados: Vindo de trás do palco, da entrada principal e passando por baixo de partes aleatórias da lona, que já havia sido preparada para isso. Todos usavam roupas diferentes e apareciam entre a plateia dançando, fazendo pequenos truques de mágica e várias expressões. Todos usavam maquiagem e/ou máscaras.

Quando a música acabou, todos correram para fora da visão da plateia e segundos depois, palhaços apareceram. Eles faziam piadas, acrobacias e sempre encaravam o público, mexendo com as pessoas que pareciam estar se divertindo. Eles as olhavam com atenção como se estivesse as estudando, mas sempre mantendo o bom humor.

Quando saíram, foi a vez do mágico se apresentar. Ele aproximou-se de mim com uma rosa branca, tomando cuidado com seus espinhos, até que empurrou o cabo em direção à flor e ergueu sua mão fechada para cima da mesma. Quando a abriu, algo parecido com glitter vermelho foi jogado e logo mais as pétalas da bela rosa (agora sem cabo e espinhos) estavam manchadas de vermelho. O homem, mesmo realizando sua magia, olhava fixamente para a pessoa à sua frente, para quem ele entregou a flor antes de voltar para o centro do picadeiro. O glitter parecia ter transformando-se em líquido, causando a impressão que a flor estava ferida.

De sua cartola, ele retirou uma serra e a mostrou para o público. Uma assistente apareceu empurrando uma caixa decorada e mostrando pra as pessoas que não havia meios de escapatória após alguém ser trancado lá dentro. Ela entrou na caixa e logo depois ele a serrou ao meio. Após momentos de suspense, a mulher apareceu próxima à plateia. Mais tarde, o mágico hipnotizou outra assistente. Eu não a vi após esse número. Depois de agradecimentos, o mágico realizou outros pequenos truques e foi embora.

O show continuou e contorcionistas, bailarinos, atiradores de facas, cuspidores de fogo, palhaços e trapezistas apresentaram seus incríveis números. Todos se surpreenderam ainda mais quando um domador e uma domadora entraram com um enorme tigre para realizar alguns truques.

Realmente, houve uma apresentação mais assustadora, como a placa ao lado de fora avisava. Havia muitas sombras e músicas diferentes. Suas máscaras, roupas e danças pareciam ainda mais estranhas, tal como acrobacias e risadas. Havia também o som de gritos e ferramentas batendo. O público ficou assustado, mas ao mesmo tempo maravilhado com tantos efeitos e aplaudiram animados quando a luz voltou ao normal.

Todos juntaram-se novamente e curvaram-se; O show havia acabado.

O público ia embora, mas eu continuei sentada em minha cadeira, observando algumas pessoas arrumarem o picadeiro. Eu podia sentir algo estranho naquele circo, mesmo com o fato de ter ido raramente a circos.

Enquanto eu os olhava, o apresentador, ainda maquiado, sentou-se ao meu lado, esticando uma perna enquanto curvava a outra por cima e descansava seus braços acima das costas das cadeiras ao seu lado.

–Boa noite, Madame. –Ele olhava para frente. –Gostou do nosso show?

–Alguns efeitos pareciam bem reais. –Eu também olhava para frente.

–Concordo... Tem uma boa observação. Conheço uma pessoa assim também. Acredito que tenha sido enviada por alguém aqui, não?

–Uma médica um tanto diferente.

–Essa mesma. Dra. Natasha também nos trouxe aqui, para que ficássemos unidos e com todos cooperando, teríamos mais discrição. Bem, vou lhe explicar melhor. –Ele levantou-se e estendeu sua mão para mim. –Convido você a dar uma olhada nos nossos bastidores. –Sorriu como havia feito no começo do show. –Seja Bem-Vinda ao show de horrores.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?