O Sorriso Psicopata escrita por Wendy


Capítulo 16
A aposta


Notas iniciais do capítulo

Capítulo maiorzinho haha! Boa leitura, pessoas :}



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O lobo (ou pelo menos o que restara dele) ocupava diversos lugares da casa, muito bem escondido. Enquanto caminhava em direção à porta dos fundos, ouvi o ranger da outra abrindo-se; Dra. Natasha já estava ciente de que havia alguém em sua residência.

Com a ajuda da minha faca, abri a porta e entrei numa pequena sala. Logo á frente havia um pequeno corredor repleto de portas e entradas para outros cômodos, pelos quais eu andei a procura de algo fora do comum. A casa tinha um ar antigo, mas não deixava de apresentar as mais variadas tecnologias. Livros estavam presentes em todos os cantos: Nas lotadas prateleiras, em cima das mesas e alguns abertos no chão. A maioria falava sobre medicina e tinham algumas anotações e observações espalhadas tanto em suas páginas, como em folhas entre elas.

Nas paredes havia vários tipos de quadros, todos pareciam antigos e a maioria com retratos de pessoas. Aproximei-me de um em especial, que estava no meio de uma estante de livros. Um sério homem de meia idade lia um livro de capa azul-escuro enquanto uma mulher mais jovem, que sorria levemente, estava sentada em uma cadeira ao seu lado e um pouco mais a frente. Ela estava debruçada para a minha esquerda e possuía um leque aberto. Os dois usavam roupas que aparentavam ser de décadas atrás.

Observei a pintura. Os olhos da mulher pareciam encarar os meus e por alguns instantes fiquei hipnotizada observando os detalhes da obra. Aqueles olhos pareciam realmente seguir-me... Os olhos de ambos... Foi então que lembrei-me de um inusitado detalhe: Inicialmente, os olhos do senhor encaravam o livro e não a mim.

Pisquei o mais forte de pude a esfreguei meus olhos, mas ambos continuavam me encarando. O homem ainda sério e a mulher ainda sorrindo, olhando diretamente para mim. Ao mesmo tempo, eu tinha a estranha sensação de que havia algo além daquela prateleira e aquilo me incomodava. Foi então, que algo me incomodou ainda mais: A moça da pintura debruçou-se ainda mais para a esquerda em sua cadeira.

...Uma TV? –Pensei, aproximando lentamente minha mão do quadro, até tocá-lo. –Não... Isso é papel... Mas como?...Talvez eu esteja delirando por causa do sono...

A senhorita debruçava-se muito lentamente para a esquerda, onde havia uma fileira com vários livros antigos. Percorri minha mão levemente trêmula sobre eles, não conseguia sentir completamente medo, porém aquilo me incomodava e não trazia uma sensação boa. Não existia lógica. O senhor voltou seu olhar para a leitura e virou uma página de seu livro azul-escuro... Este que se parecia muito com um presente no lado esquerdo da estante.

Peguei-o, porém o livro não saiu, estava preso à estante e atrás havia uma detalhada chave. Procurei pela estante toda por possível entrada para a chave, até que, sem sucesso olhei para o quadro novamente. Todos estavam como quando eu havia os visto pela primeira vez, mas agora algo que eu não havia dado importância prendeu-me a atenção: Na parede do quarto em que os dois encontravam-se, havia um quadro e nele apenas a figura de uma chave.

Retirei o quadro da parede e o que eu suspeitava realmente estava lá: A tão procurada entrada para a chave, acompanhada de uma maçaneta. Girei a chave e puxei a maçaneta, uma porta disfarçada abriu-se facilmente. Havia um quarto bem iluminado por um lustre e abajures dourados. Fechei a porta, que por dentro não tinha nenhuma prateleira a escondendo e observei o quarto. Havia muitas coisas que pareciam valiosas, como joias, objetos de decoração e um cofre. A sala me trazia a mesma sensação que senti com a prateleira, mas dessa vez não vinha da parede e sim do chão.

Observando mais a sala, encontrei algo no chão, escondido atrás de uma mesa, porém não parecia ser nada feito de ouro, prata ou diamantes; Se parecia com uma pessoa.

Uma pequena menina levantou-se e parou para me observar. Tinha longos e negros cabelos cacheados, que estavam despenteados. Tinha profundas olheiras, mas sua pele era pálida e parecia desnutrida. Estava descalça, usava apenas um vestido branco com rendas em suas bordas. Seu olhar transmitia dor, mas ao mesmo tempo um brilho único. Ela não se movia e não emitia qualquer som, até que dirigiu-se para o local em que estava sentada e abaixou-se. Não disse nenhuma palavra, porém seu olhar parecia estar me chamando.

Aproxime-me devagar e ela levantou-se, dando espaço para que eu pudesse enxergar um tapete com desenhos abstratos. Arrastei-o com o pé e lá havia uma maçaneta parecida com a que eu havia encontrado minutos mais cedo. Ao puxá-la, deparei-me com uma escada que levava para o subterrâneo e dando uma última olhada para a garotinha, que continuava quieta, desci os degraus, fechando a entrada logo em seguida. Os enigmáticos olhos da pequena garota encaravam-me enquanto a porta ia fechando-se, até o local ser tomado pela escuridão.

Logo à frente, pude enxergar uma luz e andei em sua direção. Era um brilho muito fraco, contudo, facilitou (mesmo que pouco) minha caminhada até lá. Apesar da escuridão e de encontrar-se no subterrâneo, não parecia ser um lugar mal cuidado. Não havia teias de aranha, ratos correndo pelos degraus ou qualquer inseto pelas paredes.

Em pouco tempo, já não havia mais degraus a serem descidos e sim, uma sala maior do que eu poderia imaginar. Minha curiosidade não permitiu com que eu voltasse para trás, então caminhei adiante, observando os detalhes que aquele lugar escondia: Estava repleto de armários, mais livros com anotações e vários tipos de equipamentos médicos, muitos dos quais eu nem se quer imaginava para que teriam utilidade. Além de tudo isso, encontrei freezers, geladeiras e potes com estranhos tipos de carne. Possuía também mesas de operação, luzes que no momento estavam apagadas (apenas uma estava ligada, com seu brilho fraco) e uma porta de madeira. Aproximei-me dela e graças à colaboração de minha faca, mais uma vez, consegui deixá-la aberta, porém, não foi uma das visões mais adoráveis que já tive, mas sim, uma das mais perturbadoras.

Eu estava em outra sala, tão grande quanto à outra, mas bem ocupada. Havia várias jaulas (algumas vazias) e correntes abrigando o que pareciam ser experimentos. Ao andar pela sombria sala, percebi que se tratava de experimentos vivos, pois, mesmo que inconscientes, respiravam e eram, em sua maioria, humanos. Encontrei pessoas de vários tipos e idades: Crianças, adultos, idosos, negros, brancos, altos, baixos, mas todos com danos em seus corpos nus ou cobertos com lençóis.

Muitas pessoas estavam com cicatrizes profundas, algumas ainda com pontos e outros com vários tipos de manchas em suas peles. Havia vômito em uma jaula com um homem preso a uma corrente. Em outra, um senhor parecia ter um horrível pesadelo, também estava com hematomas e algumas feridas que sangravam um pouco. Achei ter visto uma pessoa com um braço a mais e outra sem os dedos dos pés. Os animais (ratos, cães e gatos) estavam na mesma situação. O cheiro que exilava do conjunto de jaulas não era dos melhores.

Perto de uma parede, havia um monte de papéis jogados no chão e em meio deles, um jornal. Pegue-o e li sua manchete que estava acima de uma foto antiga, já amarela: “Testes em crianças acabam com cientistas mortos”. Na imagem aparecia um possível laboratório repleto de manchas de sangue.

A notícia me chamou a atenção e mesmo com muita dificuldade, esforce-me para ler as pequenas letras, até que senti uma sensação estranha. Estava pronta para virar em direção à porta, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, senti uma pequena dor, algo estava picando meu pescoço. A imagem do jornal em minhas mãos, que logo o soltaram, estava ficando embaçada e confusa. A pouca luz que eu estava enxergando foi desaparecendo até o mundo entrar na total escuridão e senti que meu corpo, muito fraco, iria cair.

***

Por alguns segundos, não me lembrei de nada que havia acontecido. Meus olhos abriram-se lentamente e com o tempo, conseguiram identificar onde eu estava. Minha cabeça doía, assim como meu corpo. Eu estava em um pequeno e escuro espaço, com grades à minha frente. Meus braços estavam erguidos, então tentei puxá-los, mas eles não obedeceram aos meus comandos. Eu estava acorrentada. Antes ajoelhada, consegui sentar e dobrar minhas pernas com um pouco de dificuldade, observando se havia alguma maneira de sair daquela mini prisão.

Minutos depois, ouvi passos que pareciam cada vez mais próximos. Quando finalmente pararam, vi uma silhueta escura diante de mim, ela sentou-se de frente à jaula e começou a falar.

–O que está fazendo aqui? –Dra. Natasha havia ascendido algumas luzes da outra sala, porém ainda estava um pouco escuro onde estávamos. Seu olho esquerdo misturava-se com a escuridão, já o mais claro possuía um brilho com mais destaque.

–Me tire daqui! O que você está fazendo com essas pessoas?

–Você me seguiu, invadiu minha casa, matou meu precioso animal, espalhou ridiculamente as partes de seu corpo por todo o meu quintal e como se não bastasse ter achado, de alguma inesperada maneira, este lugar ainda consegue ter o estúpido pensamento de achar que tem o direito de fazer as perguntas? -Sua expressão continuava a mesma.

–O que você faz com essas pessoas... É horrível! –Tentei me aproximar, mas as correntes não permitiram.

–Não é pior do que você já fez. Sabe... Jane... Você esteve dormindo por tempo o suficiente para que eu pudesse estudá-la brevemente. Devo ressaltar o fato de que você precisa de uma alimentação mais saudável. Aposto que vive à base de lanches baratos. Aliás, belos olhos! Ao vê-los pude ter certeza que você é a menina que perdeu a família, há algum tempo. E também sei que não foi exatamente seu primo que matou seus queridos parentes...

Eu estava pronta para negar, porém, a mulher interrompeu-me antes:

–E não é necessário negar, já utilizei minha técnica de sonambulismo: Você falou tudo o que perguntei enquanto dormia, após as doses certas que preparei para uma nova injeção.

–Então já deve saber que eu não tenho nenhum motivo específico para estar aqui, certo?

–Oh, claro... Inclusive por estar preocupada que seu namorado frequente um hospital com uma médica tão... Digamos... Excêntrica, não é mesmo?

–Ele não é meu namorado! –Ficaria envergonhada, se não estivesse tão preocupada e irritada.

–A princípio, achei que você seria uma ótima fonte de estudos em experiências, mas acredito que você tem potencial e eu estou sem tempo ultimamente... Minhas belas cobaias não estão vivendo durante tanto quanto planejei. Preciso acelerar os testes planejados e comprar novos aparelhos. Eu guardarei seu segredo, se você guardar o meu.

–Por que confiaria em mim?

–Posso até não confiar... Mas seu amigo cego confia, não? Como era o nome dele mesmo?... Ah, sim, Thomas! Eu tenho acesso aos dados do hospital e logicamente, posso descobrir informações valiosas dos pacientes: Endereço, parentes, suas doenças, alergias, sintomas... Ele tem familiares na Irlanda não é? Ah e não é ele quem tem duas irmãzinhas gêmeas? Aqui também havia gêmeas há algumas semanas... Foi realmente uma pena, eu as adorava.

Tentei desesperadamente soltar minhas mãos, mas novamente, elas não saíram.

–Não ouse chegar perto deles... De nenhum deles!

–Estou apenas sugerindo uma troca de favores, é simples! Eu preciso cuidar deste lugar e também preciso de dinheiro para novos equipamentos, que não sairão nem um pouquíssimo baratos. E os humanos são muitos engraçados! Valorizam os bens materiais mais do que tudo nesta galáxia, mas na verdade, mesmo que bem no fundo de cada núcleo celular, sabem que o que mais vale são eles próprios, mesmo não dando a devida importância.

–Do que está falando? –A doutora parecia animada, porém, senti que havia raiva também.

–Você sabe quanto vale o corpo humano, Jane? Oh, quando se trata de dinheiro: Muito, acredite! É algo que não pode durar sem os devidos cuidados, principalmente do lado de fora e sem ligação com o resto. Além de utilizar corpos para testes que podem revolucionar a vida humana, ainda posso vender algo para os gastos exigidos e é para isso que quero a sua contribuição. Os humanos preocupam-se demais com sua aparência e demenos com o que há por dentro. Traga-me órgãos saudáveis!

–Você é louca... –Sussurrei e Natasha sorriu com o comentário.

–Mas espere um momento... –Disse ela, pensativa. –Tenho uma ideia que torna tudo mais interessante! Quero que você faça um trabalho descente, então precisa de uma motivação, certo? Vejamos o endereço desse tal de Thomas...

–Espere! Você disse que não iria fazer nada contra ele! –Meus gritos poderiam ter acordado todas as pessoas ali presentes, se elas estivessem apenas dormindo.

–E você não disse que eu era louca? –Ela sorriu. –E você estava certa... Eu sou louca... Por uma boa aposta! Vamos apostar?

–Que tipo de aposta? Quer jogar cartas comigo? –Minha paciência estava indo embora, deixando espaço cada vez mais para a raiva e com ele, o sarcasmo e a ironia.

–Obviamente não, quero algo muito mais emocionante! Quero enviá-la para onde meus empregados estão e escolherei suas vítimas. Parece-me que tem evitado matar pessoas... Vamos ver se irá obedecer a todas as minhas ordens. Se recusar-se a obedecer, apenas umazinha, farei testes com Thomas. Nada que o mate, apenas coisas leves, mas nada posso dizer com a relação se ele irá voltar o idêntico à antes, ou se precisará viver ao lado de um bom psicólogo.

Tive vontade de matar a mulher que sorria cinicamente à minha frente. Mas respirando fundo e controlando minha voz que lutava para sair trêmula, perguntei:

–E se eu ganhar?

–Se você ganhar... –Abriu, aos meus olhos, seu psicótico sorriso. Entretanto parecia ser sincero. –Se você ganhar, eu posso trazer de volta a visão de Thomas.


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Notas finais do capítulo

Olá leitores fantasminhas, como vão? Deixem aqui suas opiniões, elogios, xingamentos, cumprimentos... E até o próximo capítulo ^^