Lágrimas caem dos meus olhos, mas não me arrependo do que fiz. A casa está em um silêncio horrível e há sangue por todo o chão.

Isso não era pra estar certo, mas me sinto bem, aquele sentimento finalmente foi embora e já posso ficar e paz, pelo menos por enquanto.

O relógio marcava 22h31min ainda era cedo, então sem nada para fazer decidi deitar em minha cama, mas o sono não chegava. Não era por culpa, era simplesmente por estar cedo. Olhei para o teto e comecei a pensar em minha vida. Foi então que me lembrei de que havia um piso falso em meu quarto. Fui até ele e tirei o que estava escondido lá: meu diário.

Aquilo me deixou com muita nostalgia, tinha aquele caderno desde que me conhecia por gente, até antes de saber escrever. Eu simplesmente desenhava o que havia acontecido em meu dia, era bem divertido na época.

Sentei ao pé da cama e comecei a lê-lo.

Na primeira folha havia um desenho de uma menina com cabelos e olhos pretos e um longo sorriso. Lembrei-me de quando eu tinha cinco anos, meu rosto era angelical, tinha um sorriso lindo e meus cabelos eram lisos e pretos. Eu gostava de brincar com as outras crianças e era normal e feliz.

Morava com meu pai, minha mãe e Julie, minha irmãzinha. Todos viviam alegres e sorridentes, eu também era assim. Mas com o tempo comecei a mudar.

Virei algumas páginas do diário.

8/5/2007

Nossa! Faz muito tempo que não escrevo nesse diário, é uma pena eu ter perdido e achado ele apenas agora, que já tenho nove anos!

Hoje eu estava assistindo filmes de madrugada, os melhores passam nessa hora, são incríveis! A maioria tem muitas mortes. Só não entendo por que são recomendados apenas para maiores de 18 anos. O problema é que minha mãe acordou e começou a reclamar.

–Que horror! Como você consegue assistir essas coisas?! - Ela disse.

Eu não entendi como ela pode não gostar daquilo, mas parece que ela não estava muito bem, já que foi para o banheiro vomitar depois.

Dei uma risadinha com isto de depois virei mais páginas.

7/1/2008

Hoje eu fui brincar com as meninas da escola, elas estavam brincando com bonecas, parecia legal. Mas foi muito chato então fui brincar sozinha, é muito mais interessante. Com as meninas as bonecas sempre estavam com as amigas, conversando sobre moda ou meninos e arrumando a casa. Nas minhas brincadeiras as histórias eram emocionantes, tinha ação, aventura e monstros, mas no final elas sempre morrem ou perdem alguma parte do corpo, talvez seja por isso que era mais legal.

19/3/2008

Julie queria brincar comigo de novo, não suporto as brincadeiras daquela garotinha, mas sou obrigada a aguentá-las, porque minha mãe teve que ter outra filha? Mas até que não é tão ruim assim, sempre desconto minha raiva nela e a tonta começa a chorar e depois vem correndo querendo brincar. Isso me deixa brava, mas fazer o que? Pelo menos tenho alguém para descontar a raiva, quer dizer, quando papai e mamãe estão longe.

21/3/2008

Minha irmã começou a correr pela casa me chamando e fui ver o que era. Olhei para sua mão e vi um bichinho, era um Hamster.

– Olha Jane! Mamãe me deixou comprar um Hamster! Ele não é fofinho? - Ela disse.

Não quis saber e fui pro quarto. Quando todo mundo foi dormir eu comecei a observá-lo e tive uma sensação, um sentimento... Sei lá, só sei que era a primeira vez que sentia isso e incomodava muito! Depois de um tempo ele passou, mas o Hamster não estava mais lá, bem, pelo menos não com vida. Fui dormir e só acordei com o grito de Julie, que viu o bichinho dividido ao meio e cheio de outros bichinhos comendo seus órgãos. Aquilo foi horrível pra ela, mas pra mim não foi nada demais.

Eu disse que deixei a janela aberta e o gato da vizinha poderia ter entrado e matado ele (claro que eu não ia dizer que eu era a verdadeira assassina). Mamãe disse que iria comprar outro, mas dessa vez Julie pediu um cachorro. Pela primeira vez na vida ela não foi burra.

1/4/2008

Julie adotou um cachorro, ele e se chama Rex, ele é grande e bonito, é um labrador de pelos marrons e adora pular e brincar, mas às vezes me irrita.

Hoje eu estava entediada brincando com uma faca de carne na cozinha e minha mãe começou a dizer que eu iria me machucar, quantos anos ela pensa que eu tenho? Mas eu fui para meu quarto e comecei a brincar de novo. Quando vi estava cortando meus pulsos, mas até que não era tão ruim assim, o problema foi que minha mãe me viu fazendo isso e pegou a faca.

Ela ficou muito pensativa depois disso.

8/4/2008

Agora sei no que minha mãe estava pensando, ela me levou para um psicólogo. Não entendo, eu não preciso de ajuda. A sala estava ceia de livros e tinha um aquário, fiquei olhando os peixes praticamente o tempo todo. O doutor fez alguns testes e me perguntou coisas, conversei com ele durante uma semana inteira e depois conversou com a mamãe. Eu ouvi tudo, mas eles não me viram.

– Olá senhora. Bom, vamos direto ao ponto. Eu já vi casos assim, na verdade sempre vemos, assistimos na tv e lemos no jornal coisas praticadas por pessoas com isso. Fiz testes para ver como sua filha pensa e cheguei a conclusão que ela tem sinais de... Psicopatia, em outras palavras, uma mente psicopata.

E mamãe disse:

–Você só pode ser louco! Como assim minha filha pode se tornar uma psicopata?! Você não sabe o que diz só fez alguns testes e acha que tem razão!

Depois disso paramos de ir ao psicólogo. Eu não entendi muito bem... O que é um psicopata?

"Você já vai descobrir, pequena Jane...” Pensei e dei um suspiro. Já estava quase dormindo e o diário quase acabando. Comecei a lembrar do que havia acontecido depois disso e acabei dormindo. Lembrei-me de Rex, de Zoey e do aniversário.