La Rose escrita por Yuu-Chan-Br


Capítulo 1
A Rosa


Notas iniciais do capítulo

Dedico essa história à Kurama-Chan. É, foi e sempre será meu Pequeno Príncipe, o amor da minha vida.



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"As flores são fracas. Ingênuas. Defendem-se como podem. Elas se julgam terríveis com seus espinhos"...

 

    Foi uma tolice, sim. Devia tê-lo impedido. Uma vez na vida, deveria, ao menos ter passado por cima de tão estúpido orgulho e dizer o que sentia de verdade, não? Mas não pude, não fui capaz, deixei-o ir.

    Egoísmo pode ser a primeira opção de muitos ao cogitarem os motivos de tal ação, e não os condeno por isso. Pelo contrário, aplaudo de pé esta constatação. Verdade, sim, não o impedi pelo mais puro egoísmo. Orgulho, ele sempre regeu minha vida, desde meu primeiro suspiro de vida neste pequeno planeta. Seria muito pedir que ele ficasse junto a mim, em vez de partir em sua tão esperada viagem pelos confins do universo. Eu bem sabia, estaria-o prendendo caso fizesse tal pedido absurdo. E não o queria. Engoliria minhas lágrimas, minha tristeza e minha solidão, mas, jamais, pediria algo tão baixo. Não preciso de sua companhia por pena, não o quero, se assim for. Para ficarmos juntos, que seja por sua vontade, e não pelo capricho de uma rosa carente.

    Sempre tive, em meu íntimo, certo medo de ser abandonada. A cada pedido, cada capricho, cada vaidade, sentia como se iniciasse uma contagem regressiva para que me deixasse. Sempre fui geniosa, não era novidade. Mas sentia, pouco a pouco, a paciência de meu príncipe se extinguir. Infelizmente, para mim, mudar tão drasticamente da noite para o dia sempre foi tarefa impossível. Mais ainda, gostava... gosto de ser assim. Sempre fui dada a elogios e mimos, é de minha natureza.

    Paguei caro por minha petulância, de fato.

    Finalmente o fatídico dia da despedida chegou, então.

    Os dias, tão curtos em nosso pequeno asteróide, agora pareciam durar uma pequena eternidade. Talvez nem tão pequena assim. A cada instante eu sentia falta de meu Pequeno Príncipe... Acordava sempre de bom-humor, revolvia os dois vulcões e logo vinha correndo em minha direção. Rapidamente aquele rapazinho irrequieto era tomado por uma súbita admiração.Sentava-se a meu lado, com aqueles dois lagos cristalinos fixados em minhas pétalas rubras, ouvia minhas reclamações fúteis.

    Pobre criança, ao menos compreendia o quão vazias eram, esforçando-se ao máximo para cumprir minhas exigências sem motivo de ser. Por vezes exauria-se e por isso, culpo-me.

    Recordo-me de sua doce voz enquanto conversávamos banalidades, seus olhos brilhantes cheios de atenção sobre mim. Oh, como sinto sua falta.

    Mas foi melhor assim. Posso ser orgulhosa, mas estupidez não é uma de minhas virtudes. Foi embora por minha causa, eu bem o sei. Meus caprichos foram tantos que acabam por cansá-lo. Não poderia ser mimada para sempre, sabia, sempre soube. Deixei que partisse por empáfia. É ruim ter ao lado quem não te quer. Muito melhor ficar só, certo? Nunca antes julguei estar tão errada. Constrangi-me de tal ato, mas já não havia mais meu principezinho para tossir e fingir desmaios e mortes, a fim de um pouco de atenção.

    Mais uma vez, egoísmo, a mais pérfida e cruel possessividade. Mesmo convivendo com seu sofrimento diariamente, seu enfado. Ainda assim preferia tê-lo comigo a estar só. Como as flores são más! Pior ainda sou eu, ao chamar todas da mesma forma para justificar perversidade.

    E assim passei o tempo em companhia apenas dos dois vulcões, e, oh, alguns baobás já começavam a se apossar do planeta. Mas não me importava mais, de verdade. Que sugassem todos os nutrientes, que me extinguissem até a última gota de vida. Não havia sentido nenhum em existir sem meu príncipe.

    Podia ainda sentir minhas forças de esvaindo, pétalas murchando. Meus espinhos já não poderiam mais me proteger, e eram sempre tão poderosos! Suspirei, e então, por falta de energia, desmaiei.

    Tive um sonho deveras adorável, aconchegante. Tão logo abri os olhos, deparei-me com o jovenzinho, agora mais velho que em nosso último encontro, de cabelos dourados. Ele sorria e caminhava de um lado a outro, ora revolvia os vulcões, ora arrancava ervas daninhas do solo. Fui tomada por uma paz. Ergui-me lentamente do chão, e logo tinha os olhos cristalinos sobre mim novamente. Riu-se e se aproximou. Deu-me de beber e então disse, finalmente:

-Bom dia!

-Bom dia -respondi, ainda incrédula pela cena.

    Ali continuava, fitando-me com os orbes admiradores que tanto sentira falta.

    Juro que tentei, mas não consegui. As lágrimas já escorriam-me pela face a contra-vontade. E então acordei, no chão, novamente só.

    "Um sonho", pensei. Havia de ser um sonho, não? Meu principezinho havia me abandonado, nada poderia mudar tão cruel -e merecido- destino. Enxuguei as lágrimas, mas não me atrevi a levantar do chão. Merecia ficar ali. Sentia como se todas as estrelas do céu apontassem-me e rissem. "É o que mereces, por ser tão interesseira"! Riam e riam. E sentia novamente as lágrimas. Voltei a enxugá-las quando, distraída, ouvi aquela vozinha doce:

-Por que choras?

    Estremeci e olhei na direção.

-É uma miragem, outro sonho? -disse, já preparando para me erguer.

-Não é sonho. Se sonhas, sonhamos juntos. Por que choras?

    Por fim ergui-me completamente. Tossi e desviei o olhar.

-Não choro, foi impressão tua -menti, novamente.

-Oh! -pareceu surpreso com a resposta. Riu. Apesar de tudo, mantinha a visão fixa em mim.

-Q-que fazes? -estava desconsertada, constrangida. Olhei-o de esguelha, curiosa como só.

-Aprecio a beleza de uma rosa única -pausou então, pensando. -Sabes, na Terra...

-Que tem a Terra? -interrompi. Arrumei as pétalas da melhor forma possível e sentei no chão. Sentia-me mal por sua murchez, mas não poderia fazer nada sobre isso, no momento.

    Ele riu novamente, agora contido, como que reparando meu embaraço.

-Na Terra descobri... há muitas como você, um jardim inteiro! -esticou os braços para lados opostos, como se assim pudesse ilustrar o tamanho do lugar.

-Muitas?!

-Sim, muitas! -assentiu, contente.

-Como... Como dizes isto?! Se agora mesmo me chamaste de única.

-E és.

-Não fazes sentido... -movi negativamente a cabeça. -Como algo que existe aos montes na Terra pode ser único? Ensandeceu?

-Ainda não entendes... -olhou-me triste, mas logo pareceu se recuperar. -Tu és única, pois és minha rosa. Foi a ti que cuidei e ouvi, admirei. És única pois és a rosa que eu cativei. Sou responsável por ti.

    Ainda não compreendia as palavras do jovem em minha frente por completo, mas, de alguma forma, elas me trouxeram alívio. Abaixou-se em minha frente e enxugou uma pequena lágrima recém formada num canto de minha vista.

-Por que choras?

-Tu não cessas estas perguntas! -desviei novamente o rosto, agora enrubescido.

-Por que haveria de cessar se tu não me respondes? Por que choras?

-Cala-te, não aguento mais! -cobri os ouvidos com as mãos e espremi os olhos, a fim de não ver ou ouvi-lo.

-Não sejas assim... Voltei de tão longe por ti... Di-me, por que choras?

    Nada disse. Apenas solucei, sentindo as gotas d'água escorrerem bochecha abaixo.

-...Por que choras? -havia agora um tom preocupado em sua voz. As mãos, maiores que antes, apressaram-se em afagar-me o rosto molhado.

-Porque senti tua falta, príncipe desnaturado! -e chorei mais intensamente ainda.

    Ele corou, sorriu. Corei também, mas continuava triste, apesar de não haver novas lágrimas em meus olhos.

-Também senti tua falta. -colocou delicadamente uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.

-Tu mentes. -olhava para o chão, acanhada.

-Oh! -franziu as sobrancelhas. -Não me acuses injustamente! Não minto, jamais menti!

-Dizes a verdade...? -ergui os orbes até ele e recebi um meneio positivo de cabeça em resposta.

    Ficamos os dois ali, embasbacados. Ora nos olhávamos, ora desviávamos para outra direção, embaraçados.

-Bem-vindo de volta -disse baixinho, fitando-o de solsaio.

-Obrigado. -Respondeu-me com um sorriso amável. Abraçou-me então, pela primeira vez.

    Mesmo uma rosa egoísta, possessiva, vaidosa e maléfica como eu é capaz de prender o coração de um príncipe. E isso me fez extremamente feliz. Abracei-o também, ainda maljeitosa. Finalmente havia novamente naquele pequeno planeta um motivo para seguir em frente.

 

 

"Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando as contempla".


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Notas finais do capítulo







S2
Agradecimentos especiais à Mayako-Chan, que betou pra mim! ;_;
Para quem quiser ver a história em forma de quadrinhos, é só ir em http://yukiko-kun.deviantart.com/art/La-rose-Solitude-134943186 Na parte dos comentários do artista(logo abaixo do desenho), é só clicar no link "next". Apenas em Inglês, desculpe.