Capítulo 9 - Muggle Studies

O fim de semana havia passado na velocidade da luz. Hermione estava magoada. E o motivo era que desde quando se recuperara da queda da arquibancada, Ron vinha evitando-a. Ela tinha plena consciência de que a noite de estudos com o ruivo não tinha sido confortável, mas ela suspeitava de que ele não quisesse nada com ela e queria deixar isso bem claro. Hermione também não tinha mais encontrado Malfoy desde o episódio da Torre de Astronomia mas o sonho estranhamente modificado que tivera dois dias atrás ainda perturbava sua mente. Sua conclusão tinha sido de que os últimos dias não poderiam ter sido piores.

Naquele exato momento, Hermione estava terminando de montar os horários fixos das rondas. Como a Diretora McGonagall tinha instruído brevemente, as rondas deveriam acontecer em pares. Ela decidiu que era ideal os pares serem mistos e trabalharem dia sim, dia não. Ela faria rondas com Miguel Corner enquanto Cho Chang faria as rondas com Draco Malfoy.

Ela deu uma olhada no seu relógio de pulso e amaldiçoou baixinho; estava atrasada para as aulas da tarde. Hermione jogou seus livros e os horários das rondas dentro da mochila, saiu pelo buraco do retrato e em seguida correu desenfreadamente até a Sala de Transfiguração no primeiro andar. A nova professora de Transfiguração já tinha sido apresentada na aula passada e aos olhos de Hermione, ninguém nunca seria melhor do que a Professora McGonagall.

Ela se aproximou da sala e suspirou de alívio ao ver os alunos ainda na porta esperando para entrar. Ron e Harry estavam em um canto, conversando baixinho. Ela foi até eles e parou ao lado de Harry para recuperar o ritmo da respiração.

"Não te vimos no almoço." Ele comentou.

"Tive que terminar de programar os horários oficiais das rondas." Contou a castanha.

Harry assentiu em compreensão e logo a professora chegou. O trio sentou na primeira carteira, a pedido de Hermione que tentou a todo custo prestar atenção na aula. Ron e Harry continuavam a conversar baixinho sobre algo que a grifinória não deu a menor importância. A Sra. Harrison chamou a atenção dos dois e eles finalmente pararam com os cochichos.

A aula de Transfiguração fora uma maravilha. Na opinião de Hermione, as aulas com a Lufa-Lufa eram sempre calmas e proveitosas. Quando a aula chegou ao fim, a castanha juntou suas coisas e deixou seus dois amigos para trás. Ela precisava falar com a Diretora McGonagall. Ela correu até o sétimo andar e parou em frente à Torre da Gárgula. Dizendo a senha, a Gárgula afundou na parede mostrando a escada. Hermione deu duas batidas na porta e ouviu um suave “entre”.

"Com licença, Diretora." Hermione pediu se aproximando da mesa.

"Srta. Granger, um prazer vê-la aqui, em que posso ajudar?"

"Terminei os horários da ronda e achei melhor mostra-la logo."

"Ótimo! Faremos uma reunião hoje após o jantar, avise aos outros monitores por favor?"

"Sim senhora."

"Obrigada. Agora acho melhor a senhorita correr para não se atrasar para a próxima aula." Apressou carinhosamente a bruxa mais velha.

"Sim, até mais tarde." Hermione sorriu e rapidamente deixou o escritório.

Hermione saiu da Sala da Diretora e agradeceu à Merlin que a sala de Estudo dos Trouxas era somente dois andares abaixo. Em menos de cinco minutos de corrida ela conseguiu chegar à sala de aula. Pediu licença à professora e sentou em uma das muitas carteiras vazias.

A aula de Estudo dos Trouxas era sempre calma para Hermione. Poucos alunos se inscreviam para a matéria, embora o número tenha aumentado um pouco após o fim da guerra. Ela gostava dessa aula, era apenas mais uma forma de lembra-la de seu mundo. O único mundo que conhecia até os seus 11 anos.

Hermione abriu sua mochila com cuidado e tirou Vida em Casa e Hábitos Sociais dos Trouxas Britânicos de dentro, seguido por um tinteiro, uma pena e uma porção de pergaminhos. Minutos depois, um alvoroço na porta da sala obrigou Hermione a procurar saber o que acontecia. A professora, Sra. Paver, levantou-se e foi até lá. Antes que chegasse a entrada da sala, alguns alunos entraram sendo seguidos pelas três pessoas que Hermione nunca esperava ver ali.

"Que bom que vieram." Constatou a professora seca.

"É sempre uma honra aprender sobre os trouxas." Zabini ironizou.

Os três sentaram na última carteira mas a professora chamou-lhes a atenção.

"Quero os três aqui na frente, se não se importam."

"Nos importamos." Malfoy afirmou arrogantemente. A professora apenas continuou a olhá-lo impassível.

Bufando, Malfoy levantou e os amigos o seguiram. Ele sentou no canto, Zabini no meio e Nott na ponta. Pela expressão assassina de Malfoy, aquele era o lugar que ele menos queria estar na vida.

Segundos depois, Parvati Patil e Susan Bones entraram na sala e sentaram-se com Hermione.

"Merlin, o que estou vendo é sério?" Parvati perguntou a Hermione quando sentou ao seu lado.

"Parece que sim." Ela comentou.

"Eu pensei que nunca fosse viver para ver três sonserinos em uma aula de Estudo dos Trouxas, ainda mais um deles sendo Malfoy." Susan disse sorrindo.

Hermione gemeu. “Isso não vai dar certo!” Não havia como ser positiva sobre aquela situação. Mais uma vez Malfoy e seus amiguinhos estragariam uma das coisas que mais gostava pelo simples fato de fazê-la se lembrar de casa.

"Ah, qual é Hermione, isso vai ser engraçado." Parvati bateu palminhas alegre e a castanha bufou.

Finalmente, a professora pediu a atenção de todos e iniciou a aula. Embora quisesse muito prestar atenção no que a Sra. Paver dizia, ela não conseguia desviar o olhar dos sonserinos um pouco mais ao lado. Ela viu Zabini fazer uma careta engraçada quando a professora começou a falar sobre o que eram celulares.

"Deixa eu ver se entendi," Zabini interrompeu com seu típico tom arrogante. Na opinião da castanha, esse era seu tom natural. "Os trouxas usam isso para se comunicar uns com os outros?"

"Isso está certo, Sr. Zabini." A professora felicitou.

"Que aula mais inútil." Malfoy resmungou e Nott deu-lhe uma cotovelada em reprovação. Dos três, Theodoro Nott era o único quem ao menos era capaz de fingir estar disposto a estar presente naquela aula.

"Legal!" Zabini exclamou excitado para a professora, que riu, sendo acompanhada pela turma.

"Os trouxas usam o telefone celular para falarem uns com os outros, para solicitarem emergência ou para simplesmente conversarem. É uma das invenções de que eu mais gosto. É rápido e prático, totalmente diferente do nosso correio-coruja." Sra. Paver falou.

"O que há de errado com nosso correio-coruja? Não vejo problema algum." Malfoy rebateu. Parecia levemente ofendido. Hermione simplesmente quis gargalhar. 

"Não disse que havia algo errado, Sr. Malfoy." A professora respondeu calmamente. "Veja, um telefone celular seria a mesma coisa que eu estar falando com você, é ao vivo, na hora. Uma carta demora horas e até dias para chegar e ainda mais tempo para encaminhar resposta. Os trouxas são muito inteligentes quando o assunto é tecnologia."

"Bobagem." Malfoy fez descaso. "A inteligência pertence a quem tem sangue mágico nas veias. Os trouxas são apenas inúteis e ficam tentando suprir a falta de magia com essas coisas ridículas."

"Sr. Malfoy, se não vai levar esta aula a sério, peço por favor que se retire." ralhou a Sra. Paver.

"Com todo prazer." Ele levantou.

Nott agarrou sua capa antes que ele saísse do lugar.

"Não faça besteira, Draco."

Malfoy rosnou.

"Me solta, Nott." Conformado, Nott soltou o amigo e o viu sumir porta a fora.

(…)

Draco saiu da sala furioso. Ele odiava McGonagall por obriga-lo a fazer isso. Ele não conseguiria suportar mais cinco minutos ouvindo aquela mulher, que se dizia professora, idolatrar aqueles trouxas inúteis.

Ele subiu as escadas direto para a Torre de Astronomia. O ar fresco era tudo de que ele precisava. Quando chegou, sentou-se no chão e jogou a cabeça para trás encostando-a na parede. Sua respiração pesada rapidamente começou a se tornar mais controlada. Hoje ele não tinha cigarro para fumar, uma vez que tinha acabado com eles no fim de semana.

O dia estava frio, mas sendo início de outubro, era o que se esperava. O vento gelado bateu em seu rosto e pareceu acalmar mais um pouco sua raiva. Pensando com coerência, pela primeira vez naquele dia, ele decidiu que estava ferrado. Sem dúvidas receberia uma detenção ou algo pior. Ele sabia que a Diretora lhe passaria um sermão longo e cansativo e gemeu por isso.

Ele assistiu a luz do dia se extinguir e a Torre tornar-se absurdamente escura. Ainda sim, não queria ter que sair de lá. Talvez fosse melhor ir para seu dormitório e dormir. Seus planos mudaram de rumo quando seu estômago roncou de fome. Droga! Ele teria que ir jantar.

Com um suspiro resignado, Draco levantou do chão e colocou a mochila nas costas. Não havia ninguém nos corredores até o térreo e ele sinceramente agradeceu por aquilo. Não sabia se seria capaz de aguentar qualquer piadinha ou coisa do tipo envolvendo ele.

Quando estava prestes a entrar no Grande Salão, uma voz o chamou do fim do corredor. Ele virou-se para ver a Granger correndo em sua direção.

"Que bom… que… te… encontrei…" Ela pegou fôlego e retomou a falar. "McGonagall marcou uma reunião com os monitores para depois do jantar, acho bom você estar presente."

Ele gemeu de novo. Teria que levar o sermão mais cedo do que o previsto.

"Ok, Granger." Ele virou-se e entrou no Salão.

A maioria dos olhares caíram sobre ele. Mas é claro que todos já sabiam o que tinha acontecido. Fofocas são inevitáveis. Ignorando todos, sentou-se entre Theo e Daphne.

"O que você estava pensando?" Perguntou Daphne com raiva.

Ótimo, tudo só estava apenas melhorando. Só que ao contrário. Draco limitou-se a servir seu jantar em silêncio; quanto mais rápido comesse, mais rápido poderia sair dali,

"Obviamente ele não estava pensando, Grengrass." Blaise rebateu e olhou para Draco. "Nós estamos ferrados e a culpa é toda sua."

"Nós?" Draco perguntou, subitamente furioso. "Até onde sei você estava adorando tudo aquilo!" Acusou.

"Não. Mas eu também não sou um idiota patético como você." provocou Blaise.

No limite de sua raiva, Draco voou para cima de Blaise mas foi interceptado por Theo que estava sentado entre os amigos.

"Parem já os dois!" Theo gritou. Agora todos estavam olhando com curiosidade para a mesa da Sonserina. "Blaise, a culpa é do Draco e somente dele então deixe-o resolver sozinho, nós não temos nada a ver com isso. E Draco, pare de ser tão estúpido! Você sabe que esse seu comportamento vai te trazer problemas, então faça-me o favor de parar."

Dito isso, Theo levantou com brusquidão e deixou a mesa. Draco e Blaise estavam com a boca ligeiramente aberta pela reação de Theo. Em todos os anos de amizade o amigo nunca tinha levantado a voz para ninguém. Ninguém nunca havia visto-o com tanta raiva.

"Sabe, Theo não está tendo um bom dia mas, honestamente? Ele está certo." Daphne disse e também deixou a mesa.

Com um suspiro cansado, Draco ignorou a saída de Blaise e serviu-se da comida.

O loiro deixou a mesa após o fim do jantar. Seguindo à distância um grupo de alunos da Grifinória, ele chegou ao sétimo andar. Indo na direção oposta ao grupo, ele avistou a Torre da Gárgula. Dito a senha, a estátua afundou na parede dando-lhe passagem.

Como já era esperado, Granger já estava lá, junto de Miguel Corner. Sob o olhar severo da Diretora, ele sentou-se na cadeira mais longe dos outros dois. Em poucos minutos, Chang chegou e McGonagall deu início a reunião.

"Bom, tenho aqui então, as rondas. Um esquema simples mas interessante, Srta. Granger."

Draco deu uma olhada na garota só para vê-la corar com o sutil elogio. Patética!

"Eu apenas gostaria de fazer uma singela alteração." Ela pegou a pena elegante descansando ao lado de um tinteiro de ouro e rabiscou no pedaço de pergaminho. "Sendo assim, temos três rondas por semana para cada dupla. As duplas irão intercalar entre dia sim e dia não… E as duplas serão, Granger e Malfoy, Corner e Chang. Alguma objeção?"

Draco levantou a mão e a diretora deu-lhe permissão para falar.

"Não quero fazer rondas com a Granger." Ele murmurou como se fosse óbvio. Aos olhos dos outros mais parecia uma criança de cinco anos quando era contrariada.

"O problema é que você não está em posição de escolher, Sr. Malfoy." Ela lançou-lhe um olhar frio e Draco se recolheu em sua insignificância. "Sendo assim, algum problema Srta. Granger?"

Hermione olhou para a diretora, depois para Malfoy e negou com a cabeça. Draco bufou e jogou as costas de volta na cadeira.

"Ótimo. Srta. Chang, Sr. Corner, vocês começam suas rondas esta noite. Os dois estão dispensados. Quanto aos senhores, quero falar com vocês."

A velha bruxa esperou que os outros dois monitores saíssem para olhar minuciosamente os dois alunos à sua frente. Parecia que ela estava ponderando sobre o que iria dizer.

"Soube o que fez na aula de Estudo dos Trouxas, Sr. Malfoy e não aprovo sua conduta."

Draco estava esperando pelo sermão desde a hora que entrou ali. Ele só não esperava que fosse recebê-lo na frente de Granger. Ele teve que se segurar seriamente para não dar as costas à Diretora e sair da sala.

"Sei que é difícil mas por favor, comporte-se. Espero não receber mais nenhuma queixa da professora ou sofrerá as consequências."

Então era isso? Sem castigo?

"Como punição, a professora sugeriu que você e a Srta. Granger fizessem um trabalho juntos." A bruxa olhou para os dois por cima dos óculos. "Você, Srta. Granger irá ajudá-lo no que for preciso e o mesmo irá fazer o Sr. Malfoy. Não aceitarei menos do que um Excede Expectativas." Agora focando seu olhar no sonserino, pressionou. "Estamos entendidos?" Malfoy assentiu brevemente. "Na próxima aula, a Sra. Paver irá dizer o que devem fazer."

Certo. Ele podia suportar a presença dela durante algum tempo, não podia? Ele esperava que sim.

"Estão dispensados."

Os dois saíram sem trocarem olhares. Hermione acelerou o passo e deixou Malfoy para trás. Ele desceu para as masmorras tão rápido quanto podia e quando entrou pela porta que apareceu magicamente na parede, deu de cara com Blaise.

"E então?" Blaise perguntou.

Lançando um olhar nada agradável para o amigo, sentou-se no sofá da Sala Comunal.

"Tenho que fazer um trabalho em parceria com a Granger."

Blaise fez uma careta.

"Espero que com isso você aprenda a controlar seu temperamento." O loiro deu de ombros. Poderia ter sido bem pior. " Bem, já que tudo está de volta ao normal, vou dormir. Boa noite, cara."

"Noite." Respondeu de mau-humor.

Draco ainda ficou algum tempo sentado no sofá, pensando. Tudo sempre podia piorar não é? Bem, ele preferia não acreditar nisso.