Hold On - Dramione escrita por karistiel


Capítulo 40
Chapter 40: Vulnerability


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vcs estão? Desculpem a demora, estive viajando e não pude vir aqui postar o capítulo que estava pronto há tempos pra vocês.
Já vou dizendo que o capítulo é INTENSO. Sério mesmo. Escorreu algumas lágrimas ao escrevê-lo e tudo. Mas não me odeiem, eu prometo que é para o bem maior e o final é tudoooo hahahaha



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Na manhã de quarta-feira, Hermione acordou com uma angustia enorme no peito. Havia sonhado depois de muito tempo que Bellatriz Lestrange matava seus pais naquele Salão horrível e sombrio. O sonho era tão vívido que ainda podia visualizar a vida se esvaindo através dos olhos de sua mãe.

Havia ingenuamente pensado que tinha se livrado desses pesadelos horríveis mas parecia que não iam a lugar algum por um bom tempo.

Em cima de tudo isso, havia acordado atrasada e se debateu mentalmente por ter esquecido de ligar o alarme da sua varinha. Mal teve tempo de vestir o primeiro conjunto de uniforme que encontrou, pegar suas coisas e sair às pressas do seu dormitório em direção ao Salão Principal onde seus amigos deveriam estar se perguntando por ela.

Chegou arfando na mesa da Grifinória faltando apenas quinze minutos para o término do café da manhã e se jogou ao lado de Ron, que franzia a testa em sua direção.

“Correu até aqui ‘Mione?” Perguntou Harry, escondendo um sorriso para a amiga sem fôlego. Hermione apenas lançou-lhe um olhar e respirou pela boca, tentando fazer seu coração desacelerar.

“Esqueci de ligar meu alarme.” Confessou envergonhada quando conseguiu falar propriamente.

“Uou.” Comentou Ginny. “Essa deve ser a terceira ou quarta vez que se atrasa esse ano. Devo dizer que estou impressionada!” Exclamou divertida.

“Ginny!” Hermione brigou.

“Isso é um número absurdo pra Hermione Granger.” Comentou Harry, pensativo, entrando na brincadeira.

Hermione bufou e revirou os olhos. Queria achar aquilo engraçado mas seu pensamento não estava ali. Ainda tinha flashes do pesadelo e um estômago vazio embrulhado. Ao ver a falta de reação da castanha, os amigos cessaram a brincadeira e olharam atentamente para ela.

“O que houve, ‘Mione?” Perguntou Ron preocupado. Havia largado sua colher com um baque alto dentro da tigela e se virado para ela.

“Apenas um sonho ruim.” Ela respondeu, suspirando e passando a mão pelos cabelos emaranhados.

“Quer falar sobre isso?” Perguntou Harry. “Talvez mais tarde?” Ele ofereceu, percebendo os olhares da mesa vermelha e dourada sobre eles.

“Talvez.” Hermione assentiu, tendo seu suspiro ocultado pelo barulho estridente do sinal para a próxima aula soando.

“Pronta pra derrotar Malfoy em Defesa mais uma semana?” Perguntou Ginny, caminhando ao lado da castanha.

“Sempre.” Respondeu Hermione sorrindo pela primeira vez naquela manhã.

Xx

“Essa semana continuaremos a treinar suas habilidades em duelo com feitiços não-verbais. Juntem-se com seus pares e ao trabalho!”

“Preparada?” Perguntou Draco divertido. Hermione apenas sorriu e mirou sua varinha para ele. Toda aula prática de Defesa Contra as Artes das Trevas era o mesmo. Draco e Hermione duelavam e o resultado era sempre um mistério. Os dois eram muito bons no que faziam e por isso a disputa era sempre acirrada.

A maioria dos alunos paravam no meio de seus próprios duelos para assistir quando as coisas ficavam intensas; e vez ou outra o Prof. Marshall tinha que intervir quando ficavam muito intensas.

Dessa vez, Hermione perdeu a varinha para Draco com menos de cinco minutos de duelo. A maioria da turma parou para olhar o que havia acabado de acontecer e até Draco parecia um pouco espantado. Hermione suspirou irritada e aceitou a varinha que Draco lhe ofereceu de volta. Pela primeira vez desde que entraram em sala, o loiro parou por uns momentos para olhar para a mulher à sua frente. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo mal arrumado, seus olhos estavam cansados e era visível que sua mente não estava presente ali naquele momento. Rapidamente o espanto foi substituído por preocupação.

Com uma chamada de atenção do professor, os outros alunos voltaram a seus afazeres, deixando três duplas paradas no canto da sala.

“’Mione?” Perguntou Ron, olhando enquanto a castanha se preparava mais uma vez para atacar Draco.

“Sim?” Respondeu ela sem dar muita atenção. Harry cutucou o ruivo e balançou a cabeça negativamente. Ron franziu o cenho e continuou observando enquanto Hermione investia contra Draco e perdia a varinha mais uma vez.

Hermione bufou, frustrada consigo mesma, avançando contra Draco e tomando a varinha das mãos dele. Com mais um aceno de Harry, o ruivo voltou-se para seu par e recomeçou seu duelo.

Draco, ficando tão frustrado quanto Hermione, segurou o braço dela antes que pudesse se afastar rapidamente dele.

“O que está acontecendo?” Perguntou entredentes.

“Nada.” Afirmou ela, desfazendo o aperto da mão em seu braço e desvencilhando-se. “Vamos mais uma vez.”

Dessa vez, quando Draco investiu, ela estava preparada. Levantou um escudo forte enquanto mandava um feitiço na direção dele. Draco respondeu na mesma moeda, sendo tão rápido quanto e quando o feitiço passou raspando por ela, Hermione respirou, possessa, e investiu contra Draco com raiva. Quando o feitiço atingiu Draco no braço com tamanha força que o loiro foi jogado de lado no chão, o Prof. Marshall finalmente interviu.

“Srta. Granger, Sr. Malfoy, acho que isso é o suficiente.” Bradou, vendo quando Hermione voltou a si e olhou para a cena à sua volta. O sinal tocou, fazendo os alunos gemerem e recolherem suas coisas, começando a sair da sala. “Semana que vem trabalharemos alguns novos feitiços. Para isso, quero me tragam em um palmo de pergaminho como um feitiço sobrecarregado de força mágica pode afetar seu oponente.”

Com o aceno de várias cabeças, o Prof. Marshall dispensou a turma.

“Srta. Granger? Posso ter um minuto?” Chamou.

Hermione, que ainda estava estática olhando para o chão, assentiu. Harry e Ron, que estavam logo ao lado dela, colocaram uma mão reconfortante em seu ombro e saíram, deixando Hermione, o professor e Draco. A castanha olhou para cima e focou seus olhos nos olhos cinzas repletos de confusão, ainda segurando o braço atingido como uma criança.

“Sr. Malfoy, talvez uma ida à Ala Hospitalar seja uma boa ideia.” Disse o Prof. Marshall, dispensando-o de maneira mais que óbvia. O loiro lançou mais um olhar à Hermione e deixou a sala.

“Srta. Granger?” Chamou o professor quando ficaram a sós. Hermione ainda não havia movido um musculo. “Hermione?”

Finalmente a castanha se virou para o professor e o bruxo mais velho se espantou ao ver lagrimas escorrendo pelo rosto dela.

“Sim?” Sussurrou, engolindo em seco.

“O que aconteceu?” Perguntou o professor, preocupado.

“Eu não sei.” Ela sussurrou de novo, passando os braços em volta de si protetoramente. “Eu estava em outro lugar, por alguns momentos.” Continuou.

“Que lugar?” Tornou a perguntar. Hermione apenas sacudiu a cabeça e apertou os braços mais fortemente em volta de si. O professor suspirou e se aproximou dela. “Tudo bem, não precisa falar disso comigo.” Ela disse. “Mas precisa falar disso com alguém.”

“Eu não.. eu.. não, mas...” Ela gaguejou, parecendo perdida e o Prof. Marshall passou os braços em volta dela, abraçando-a superficialmente.

“Foi apenas uma sugestão, você não precisa falar sobre isso agora se não quiser.”

Hermione assentiu, desgrudando os braços à sua volta e abraçando-o de volta com força, como se pudesse sentir seu pai naquele abraço.

Minutos depois, Hermione se afastou, secando as lágrimas e virando-se de costas para ele. Sentia uma imensa vergonha de ter tido um colapso nervoso em sala de aula, ter descontado sua raiva em Draco e por fim chorado no ombro do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

“Se não se importa, aconselho a se desculpar com o Sr. Malfoy.” Sugeriu o bruxo quando Hermione estava prestes a sair da sala. A castanha olhou para ele e assentiu.

No minuto que pôs os pés para fora da sala foi recebida por dois pares de braços a puxando para um abraço grupal. Hermione teve que respirar fundo para segurar o choro que ameaçava voltar com força.

Sem falar nada, os dois garotos passaram o braço por cada lado dela e a levaram pelos corredores cheios até o Salão Principal.

Ginny já estava sentada à mesa, conversando mais uma vez com Neville e Simas. A ruiva ria alto quando o trio se aproximou abraçados e quando seus olhos os alcançaram ela franziu o cenho e seu semblante se tornou preocupado.

“O que aconteceu?” Perguntou, quando a castanha sentou-se ao lado dela sob os olhares preocupados de Ron e Harry. A resposta ficou presa na garganta quando o burburinho no Salão aumentou e muitas atenções se dirigiram para a entrada.

Draco chegava acompanhado de Blaise e Meg, uma expressão de tédio em seu rosto, enquanto os dois conversavam em sussurros exasperados. A atenção de Hermione foi desviada dos dois e focada na bandagem branca que sustentava o braço de Draco que fora atingido pelo feitiço.

A castanha levantou-se abruptamente e saiu do Salão Principal com Ginny dizendo algo para Harry e Ron e a seguindo pelos corredores até o banheiro feminino. Hermione entrou na primeira cabine que viu e vomitou. A ruiva segurou seus cabelos e esperou até que ela terminasse.

Hermione vomitou até o que não tinha no estômago e mais um pouco. Quando seu estômago começou a doer e nada mais a sair, ela deu descarga e sentou-se no chão, encostando as costas na divisória do banheiro.

“O que aconteceu, ‘Mione?” Perguntou Ginny com um tom de desespero em sua voz.

“Eu o machuquei, Ginny.” Chorou Hermione. “Eu machuquei Draco.”

“Hermione, você já o machucou antes.” Tentou a ruiva soltando uma risada nervosa.

“Dessa vez é diferente.” Hermione secou as lágrimas e levantou-se. “Eu não.. ele não merecia, eu descontei meus problemas nele e...” Voltou a chorar ao apoiar-se na pia e olhar no espelho. Sua aparência estava tão horrível quanto se sentia. Olhos inchados, bochechas molhadas e cabelos uma bagunça.

“Hermione?” Chamou alguém da entrada do banheiro e Hermione quase entrou em pânico. Ginny, vendo o olhar da amiga ao reconhecer a voz, fez menção de impedir que ele entrasse mas a castanha respirou fundo e sacudiu a cabeça, encontrando os olhos de Ginny através do espelho.

Hermione lavou o rosto rapidamente e virou-se para ver o loiro entrar pela porta, olhando em volta até encontrar as duas mulheres juntas em frente a pia.

“Tem certeza?” Perguntou Ginny, ainda preocupada, olhando entre Hermione e Draco, ainda hesitante paralisado na porta do banheiro. A grifinória assentiu com a cabeça e Ginny se aproximou da porta, colocando uma mão no ombro de Draco antes de deixar os dois sozinhos.

O toque da ruiva o despertou e o fez se mover, fechando a porta atrás de si e os isolando do mundo.

“Hermione, o que diabos está acontecendo?” Perguntou, finalmente vocalizando toda sua irritação e frustração.

“Me desculpa, eu.. não foi minha int...” Ela bufou, irritada, com as lágrimas que escorriam novamente por seu rosto. Odiava sentir-se vulnerável daquela forma; a fazia sentir-se como uma criança.

“Nós estávamos bem ontem!” Ele apontou. “O que aconteceu no meio tempo entre ontem à noite e essa manhã?”

“Eu.. eu..” Ela gaguejou, sentindo as palavras presas em sua garganta junto com a lembrança daquele pesadelo horrível.

“Foi o Potter, não é?” Acusou Draco, raiva evidente em seu rosto, a mão livre passando com força pelos fios longos loiros.

“Não, ele não teve nada a ver com isso.” Desdenhou Hermione, subitamente com raiva.

“Então, Granger, o que diabos aconteceu?” Rugiu, deixando Hermione atordoada por uns momentos ao ouvir o seu sobrenome sendo falado com tanta frieza.

“Eu tive um pesadelo, ok?” Vociferou Hermione. Tinha certeza de que toda a conversa poderia ser ouvida por qualquer um que passasse no corredor naquele momento, mas pouco se importava. “Bellatriz matava meus pais e me fazia assistir.” Continuou, no mesmo tom raivoso. “Essa era a minha punição.”

“Hermione, você sabe que isso não é re-“ Começou Draco, em tom condescendente fazendo a raiva de Hermione triplicar.

“Você estava lá, Draco!” Gritou ela, apontando o dedo na direção dele. A acusação fez Draco se encolher e Hermione se assustar, fazendo-a parar por um momento e pela primeira vez desde que acordou naquela manhã, perceber o que a havia afetado de forma tão trágica naquele pesadelo que não era mais nenhuma grande novidade. “Você estava lá, e ria junto com ela.” Contou sobressaltada, em meio as lágrimas que embaçavam sua visão. “Você se divertia.” Ela sussurrou, cobrindo o rosto com as mãos e voltando a se apoiar na pia, dando as costas para ele.

Quando o silêncio tornou-se quase palpável, Hermione levantou o olhar para o espelho, procurando os olhos de Draco que permanecia parado, olhando-a com uma tristeza tão profunda que a fez querer chorar copiosamente.

“Draco..” Hermione chamou, baixinho, mas o som ecoou pelas paredes de azulejo, fazendo parecer que havia gritado.

“Eu preciso... ir.” Ele murmurou, despertando do transe, parecendo perdido por uns minutos e recusando-se a olhar na direção dela, deu meia volta e saiu pela porta que havia entrado minutos atrás.

Xx

Draco saiu corredor a fora, mecanicamente caminhando até a Torre de Astronomia. Quando chegou lá e sentiu o vento batendo em seu rosto, mal lembrava como havia feito o caminho até ali.

Suas mãos tremiam quando puxou o maço de cigarros do bolso e o isqueiro dourado, já conhecido por suas mãos. Mal conseguiu acender o fogo, mas por fim, a chama azul apareceu e o cigarro foi aceso. Tragou uma, duas, três vezes mas suas mãos ainda tremiam quando tentou enfiar o isqueiro de volta no bolso, fazendo-o cair no chão e fazer um barulho alto com o impacto que o assustou de uma forma que lhe tirou o fôlego. Se agarrou ao cigarro como se fosse um bote salva-vidas e o tragou até o fim, acendendo outro e fazendo o mesmo.

No meio do terceiro cigarro, Draco sentia-se um pouco mais capaz de pensar e suas mãos não tremiam mais, embora ainda sentisse um frio na espinha. Sentou-se no chão da Torre e escorou-se na parede de madeira.

“Merlin!” Ele murmurou, quando as imagens daquele fatídico dia voltaram à sua mente como flash brilhantes e vívidos. Como ele poderia ter se divertido com aquilo? Ou qualquer coisa horrenda que sua tia havia feito na vida? Apertou os olhos com a mão do braço dolorido, esquecendo momentaneamente dele. A dor o fez lembrar, no entanto, voltando sua atenção aquilo. Não admirava o que ela havia feito com ele essa manhã; Draco tinha visto o quanto ela parecia perdida, depois frustrada e por fim, possessa. Havia sentido o impacto do feitiço, não só em seu braço, mas seu corpo inteiro. E o choque no rosto dela quando pareceu ter saído de um transe. Draco abaixou a cabeça e apoiou a testa em seus joelhos, cansado.

Foi nessa posição que Hermione o encontrou. O sinal do fim do almoço tocou mas os dois mal ouviram quando seus olhares se encontraram. Draco, indecifrável, Hermione, exausta. A castanha sentou-se ao lado dele e juntos, observaram o topo das árvores da Floresta Proibida.

Depois de alguns minutos em silêncio, Draco apagou o cigarro que já queimava seu dedo e suspirou.

“Sabe por que eu gosto tanto de vir aqui?” Perguntou, de repente. Hermione negou com a cabeça mas ele não olhava para ela. Seu olhar estava perdido, dentro da própria cabeça. “Foi aqui, no momento em que vi a pena nos olhos de Dumbledore que eu soube que nada mais era brincadeira. Foi o momento que tudo se tornou completamente real.” Confessou. “Foi aqui que eu deixei de ser aquele garoto arrogante e mimado e me tornei um homem. Naqueles míseros segundos eu me tornei um homem com medo, com dúvidas, com escolhas absurdas a fazer no meio de opções ainda piores.”

“Draco, você não precis-“ Começou Hermione, mas foi interrompida por Draco, como se sequer tivesse falado algo. Por fim, calou-se e passou a ouvir.

“Foi o olhar de Dumbledore, o olhar de quem esperava por aquele momento, de quem sempre esperou aquilo de mim, que me fez hesitar.” Ele contou. “Eu estava com tanto medo.” Quando ele pausou, Hermione percebeu que algumas lágrimas escorriam pelo rosto pálido dele. “Eu passei aquele ano inteiro com medo, me esgueirando pelo castelo, tentando terminar o que havia sido me dado como tarefa especial, tentando orgulhar meu pai, meu Lorde.” Ele riu, quase histericamente. Uma risada difícil de ouvir, cheia de desespero. Hermione colocou sua mão sob a dele, oferecendo apoio e ele a agarrou com força. “Mas nada se compara ao medo que eu senti quando vocês três foram levados até a Mansão Malfoy.

Nada se compara ao terror que eu senti quando minha tia descobriu aquela espada. Nada se compara ao desespero que senti quando apenas fiquei ali, paralisado, assistindo, enquanto você era torturada. Merlin! Eu tenho pesadelos com seus gritos até hoje. Às vezes, é como uma música que você odeia muito, mas fica grudada na sua cabeça em repetição.”

A essa altura, Hermione chorava abertamente junto com ele.

“Eu não fiz nada.” Ele sussurrou. “Eu vou viver pra sempre com essa culpa.”

“Você não podia ter feito nada, Draco.” Hermione implorou. “Você foi tão vítima disso tudo quanto todos nós, éramos apenas crianças.”

“Eu podia ter-“

“Olha pra mim.” Pediu ela, com um desespero nítido em seu tom, levantando-se nos joelhos e posicionando suas pernas uma de cada lado do quadril dele e sentando-se em seu colo, impedindo que ele olhasse para qualquer outro lugar. Hermione segurou seu rosto de cada lado e o obrigou a olhar para ela. “Não havia nada que ninguém pudesse fazer.” Ela repetiu. “Eu lembro de olhar pra você e ver o choque em seu rosto. Eu nunca tinha entendido se o que eu tinha visto era real ou se era apenas um desejo profundo meu que havia me feito imaginar.” Ela confessou.

“Foi naquele momento que eu tive certeza de que tudo que eu acreditava era uma completa mentira. Tudo que eu fui ensinado a vida toda, tudo que eu ouvi, tudo que me fizeram acreditar, era uma mentira. Não éramos melhores, éramos apenas um bando de assassinos com poder.” Ele confessou em um sussurro, os olhos ainda presos nos dela. “Tudo o que eu fiz foi pra ter o orgulho fajuto de um assassino sedento por poder.”

“O importante é que você percebeu, Draco, você percebeu que não valia a pena.” Hermione chorou.

Ele riu com desdém, tirando as mãos dela do rosto dele e tentando afastá-la.

“Um pouco tarde demais.” Ele cuspiu. “O que tinha a fazer a não ser esperar pelo pior?” Ele desviou o olhar, novas lágrimas de raiva caindo livremente. “Eu e minha mãe havíamos ido muito fundo, não tínhamos como sair. Além disso, ela não podia deixar Lúcio pra trás e eu não podia deixa-la.” Ele contou. “Então eu fiquei.” Sussurrou, um soluço engasgado saindo de sua garganta.

Então Hermione o abraçou com toda a força que conseguiu reunir enquanto ele se agarrava a ela e chorava todas as lágrimas que não havia derramado pelos seus erros e medos do passado. Poderiam ter passado horas, dias, ali, abraçados. 

Muito tempo depois, quando o sol começava a descer no horizonte Draco relutantemente a soltou. Os dois estavam uma completa bagunça da cabeça aos olhos inchados. Quando Draco ajustou o braço machucado na tipoia, soltou um gemido de dor.

“Draco, me desculpe por isso, eu não tive a intenção, eu não estava...” Ela tentou, frustrada e ainda mais cansada consigo mesma. Draco suspirou e deixou a cabeça cair com um baque na parede atrás de si.

“Eu sei.” Ele murmurou, levando a mão boa ao rosto dela e secando as trilhas de lágrimas ainda presentes na bochecha. “Amanhã estarei novo em folha.” Ele murmurou com tanto significado que ela assentiu com um sorriso triste no rosto.

Finalmente, Hermione reuniu forças o suficiente para levantar enquanto ainda havia luz na Torre. Ofereceu sua mão a ele que prontamente a pegou e também levantou. Os dois olharam por alguns momentos para as mãos entrelaçadas até Hermione sorrir e, ainda segurando a mão dele na sua, começar a andar.

Não havia muitas pessoas pelos corredores e as poucas que encontraram mal lhes deram atenção. Quando parou em frente ao retrato da Medusa a mulher olhou-os por alguns segundos e sem precisar da senha, abriu a passagem. Hermione riu, ainda puxando Draco atrás de si.

“Devemos estar em ótimas condições considerando a falta de um mísero conflito por parte dela.” Apontou Hermione.

Olhando dela para si, Draco fez uma careta. “Com certeza já estivemos melhores.” Murmurou cansado.

Hermione suspirou e caminhou para o quarto, tirando os sapatos e sentando na cama.

“Eu não quero voltar lá fora.” Ela confessou, olhando para os próprios pés. “Podemos ficar aqui só um pouco?” Ela pediu, deitando na cama e estendendo a mão para ele. Draco tirou os sapatos também e sequer hesitou ao deitar e puxa-la para si, passando os braços ao redor dela, fazendo com que ela descansasse a cabeça em seu peito. Exaustos, pegaram no sono minutos depois.

Xx

Hermione foi quem acordou primeiro. A princípio, não sabia o que a havia despertado, mas então ouviu as batidas suaves na porta. Desvencilhando-se de Draco, caminhou até a porta, tentando descobrir que horas eram. Se espantou um pouco quando alcançou sua varinha e fez as horas aparecerem. Eram pouco mais de sete da noite. Abriu a porta e encontrou Ginny do outro lado, um olhar extremamente preocupado.

“Graças a Merlin!” Exclamou a ruiva quando viu a amiga. “Você precisa parar de sumir assim, não sei mais como controlar os meninos. Tive que prometer aparecer com você no jantar pra que não colocassem esse castelo abaixo.”

“Me desculpe.” Murmurou Hermione, a voz ainda pesada de sono. “Não foi minha intenção.”

“Tudo bem, ‘Mione.” Sorriu a amiga, entrando quando Hermione lhe deu espaço para faze-lo.

“Como foi com Malfoy?”

Hermione ponderou por alguns segundos, pensando na resposta. “Péssimo, horrível, bom.” Decidiu. Ginny parecia confusa com a resposta, mas não questionou.

“Então estão bem?” Perguntou a ruiva com cuidado.

“Estamos chegando lá.” Afirmou a castanha.

“Isso é bom.” Suspirou, a preocupação tornando-se evidente de novo. “O que aconteceu?” Perguntou, apontando para a grifinória em si.

“Muitas coisas.” Suspirou Hermione. “Talvez outra hora.” Desconversou. Ginny suspirou tristemente e encarou a amiga.

“Eu sei que está guardando coisas de nós, ‘Mione, além dessa coisa entre vocês.” Falou Ginny. “E não quero te forçar a nada, mas quero que saiba que estamos aqui por você, seja o que for, nós estaremos aqui por você.”

“Obrigada Ginny.” Respondeu Hermione, abraçando a amiga.

“De nada.” Disse Ginny devolvendo o abraço. “Mas agora vamos lavar esse rosto e jantar.”

“Ginny, não posso deixar Draco sozinho.” Contou Hermione, apontando para a porta do seu quarto fechada. As sobrancelhas da ruiva subiram tão rapidamente até a linha do cabelo que Hermione ficou com medo delas saírem do lugar. A castanha esperava por algum comentário, porém mais uma vez, Ginny ignorou o fato e seguiu em frente.

“Hermione, isso não está em discussão.” Disse a ruiva, colocando a mão na cintura e batendo o pé. “Água no rosto, bilhete pro Malfoy, jantar. Vamos!”

“Ok.” Disse Hermione, revirando os olhos e estendendo a mão como quem se rende. “Mas só porque eu preciso falar com Michael e Cho.”

Lavou rapidamente o rosto, escreveu uma nota rápida em um pergaminho e deixou o dormitório acompanhada de Ginny.

Foi assaltada por dezenas de perguntas quando sentou-se na mesa da Grifinória no Salão Principal.

“Não estava me sentindo bem do estômago.” Mentiu. “Preferi descansar até me sentir melhor.”

Neville lhe desejou melhoras, assim como Simas e as gêmeas Patil. Ron e Harry a perturbaram pelo sumiço o resto do jantar mas no fim cederam aos esporros incansáveis de Ginny. Hermione conseguiu comer algumas garfadas do seu prato e tomar uns goles de suco de laranja antes do jantar acabar e a comida desaparecer. Quando todos começaram a sair, Hermione se separou dos amigos e foi à procura de Michael e Cho. Encontrou os dois momentos depois, conversando e caminhando de mãos dadas e por um momento se sentiu mal pelo que pediria ao casal.

“Michael, Cho.” Cumprimentou, se aproximando.

“Hermione.” Os dois saudaram em uníssono. Ao ver a expressão e os olhos ainda um pouco inchados de Hermione, os dois rapidamente desataram a perguntar o que havia acontecido. A castanha teve que segurar um suspiro irritado, estava de saco cheio das pessoas fazendo a mesma pergunta o tempo todo, só queria voltar para o seu dormitório, deitar em sua cama e dormir com Draco ao seu lado.

“Sei que é em cima da hora e me desculpe por isso, mas poderiam fazer a ronda de hoje?” Pediu. “Malfoy e eu assumiremos o horário de vocês amanhã sem problemas.”

“Claro, Hermione.” Garantiu Cho e Michael assentiu.

“Obrigada.” Agradeceu a castanha, aliviada.

Finalmente se despediu do casal e seguiu a passos largos e apressados de volta para o seu dormitório.

Por um momento, ao passar pelo buraco do retrato, achou que encontraria o lugar vazio. Mas seu coração aliviou quando viu a porta do quarto entreaberta e a luz das velas iluminando o corredor.

Abriu a porta o mais silenciosamente que conseguiu e foi recompensada pela visão de Draco sentado em sua cama com uma cópia surrada de O Iluminado aberto em sua mão. Foi uma visão que fez Hermione sorrir. Aquele homem havia chorado seus pecados em seu ombro apenas algumas horas atrás e Draco Malfoy não poderia lhe parecer mais humano quanto agora, sentado, descalça, uniforme amarrotado e cabelos uma bagunça com um livro na mão e a testa franzida enquanto lia algo que o fazia pensar por alguns momentos.

Foi naquele momento que Hermione percebeu que estava definitivamente apaixonada por Draco Malfoy.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?? Me contem tudo