Hold On - Dramione escrita por karistiel


Capítulo 4
Chapter 4: Forgiveness


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vcs estão???
Esse capítulo ficou bem grande, espero que gostem!
Beijosss



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Capítulo 4 - Forgiveness

Draco tinha dormido feito pedra. Havia acordado a alguns minutos mas continuava deitado. Ouvia os murmúrios além da porta do quarto mas não prestava atenção. Ainda estava com as roupas da noite anterior e seus dedos fediam a cigarro. Não tinha vontade de levantar dali, mas sabia que precisava. Ele precisava ir para as aulas, ele precisava estudar, ele precisava monitorar, ele precisava ser responsável. Ele precisava voltar a ser Draco Malfoy e não O Seguidor de Voldemort.

Com um súbito de disposição que ele não soube da onde veio, levantou da cama e pegou um uniforme limpo no malão. Assim que saiu pela porta, viu o motivo dos murmúrios: algum animal estava demorando no banheiro fazendo com que todos acabassem se atrasando. Essa era uma das coisas que mais odiava; ter que dividir a porcaria do banheiro com um monte de marmanjo idiota. Com um bufo irritado, voltou para o quarto e pegou sua mochila, colocando a muda de roupas dentro. Era cedo, pouco mais de sete horas então os corredores estariam vazios. Ele iria usar o banheiro dos monitores e não era como se ele não pudesse; ele era um monitor e não era à toa que sabia a senha.

Saiu do Salão Comunal da Sonserina e deu de cara com os corredores vazios. Pelo vidro de uma das janelas viu que ainda chovia mas nem tanto. Lembrou-se de Granger, e lembrou-se também que era uma ótima ideia ir até a Ala Hospitalar pedir uma poção para não sonhar. Como ele sabia que aconteceria quando a viu na torre, sonhou com os gritos e com a voz de sua tia. Tia não, ela estava longe disso. As imagens da tortura que Granger sofreu nas mãos de Belatriz morreriam com ele, como uma assombração para o resto da sua existência. E ele achava que o castigo era justo. Ele ainda sentia o peso da culpa sobre os ombros. Ele poderia ter feito qualquer coisa, poderia ter dito à tia qualquer coisa que desviasse sua atenção, que tivesse feito ela parar com as maldições, mas ele não fez. Apenas ficou parado, observando inquieto enquanto a sangue-ruim gritava a plenos pulmões.

Sentiu um gosto amargo subir pela garganta mas forçou-o de volta. Ele não poderia se culpar para sempre. Ela estava viva, não estava? E ele não precisava ficar se corroendo com isso pelo resto da vida. Ele tinha visto muitos serem torturados, ele tinha visto sua antiga professora de Estudo dos Trouxas morrer em sua frente, mas sentiu o sangue sumir de seu corpo quando viu o trio de ouro na sala de sua casa naquela noite. Naquele momento tinha acabado de perder todas as esperanças. E ver a Granger ser torturada daquela forma sádica por um parente seu, fez seu estômago dar voltas e mais voltas. Mas era só porque tendo ela morta, os outros dois também logo estariam e o mundo se inundaria em trevas para sempre; ao menos era o que ele queria pensar. E, há algum tempo ele tinha revelado para si mesmo que não era o que ele queria que acontecesse. Ele desejava internamente que Harry Potter vencesse a Guerra.

Finalmente depois de muitos devaneios chegou à frente do banheiro, cinco portas à esquerda da estátua de Boris, O Pasmo. Pronunciou a senha “responsabilidade” e entrou. Particularmente, Draco achava que não tinham muita criatividade para senhas já que todas eram ridículas e um tanto quanto indiretas para aqueles que as pronunciavam.

Só tinha entrado algumas vezes no banheiro dos monitores e em nenhuma delas tinha realmente reparado no lugar. Todo o banheiro era forrado de azulejos brancos. De um lado, algumas cabines, do outro uma banheira grande o suficiente para ser uma piscina. Draco abriu todas a torneiras para encher a banheira e deixou sua mochila em um canto qualquer. Se despiu rapidamente e entrou na banheira. A temperatura da água estava perfeita para relaxar e era o que ele pretendia.

Fechou os olhos e ficou submerso na água, todos os músculos do seu corpo relaxando e seus pensamentos esvaindo; a dor de cabeça quase sumindo completamente. Queria ficar ali o resto da manhã mas tinha que sair e enfrentar os olhares de desprezo da escola inteira.

Mas pelo menos ele não estava sozinho. Theo e Blaise estariam esperando por ele na mesa da Sonserina e isso lhe dava uma leve injeção de ânimo.

Quando a água começou a esfriar, deixou a banheira e pegou uma das toalhas felpudas que tinha numa das prateleiras e se secou. Pegou o uniforme na mochila e vestiu. Apertou a gravata verde e prata envolta do pescoço e se olhou no espelho; os cabelos loiros quase cobriam-lhe os olhos mas ele gostava, fazia ele parecer mais velho do que realmente era. Constatou também que sua aparência não estava tão ruim apesar das linhas roxas marcando a pele abaixo dos olhos. Ele já esteve muito pior.

Sentiu seu estômago se contorcer de fome e resmungou. Juntou suas coisas e esvaziou a banheira com um aceno da varinha. Quando saiu, o corredor já estava lotado de gente. Alguns corvinais passaram por ele e jogaram piadinhas, outros apenas lançavam olhares de desdem, outros ainda tinham medo. Ignorou todos os insultos e colocou um sorriso debochado no rosto. É, parece que as coisas realmente haviam mudado.

Entrou no Salão Principal e procurou por alguns conhecidos na mesa da Sonserina. Blaise já estava lá, conversando sobre algo com Flint, o capitão do time de Quadribol da Sonserina desse ano. Ele se aproximou e os dois caíram num silêncio incômodo. Draco deu de ombros e sentou ao lado de Blaise.

"E aí ,cara?" Blaise cumprimentou um pouco sem jeito.

"E aí." Draco se limitou a responder simplesmente.

Outro silêncio incômodo caiu sobre os três. Irritado pelo desconforto dos outros dois que estavam tirando sua paz momentânea, Draco largou o talher que havia acabado de pegar fazendo com que o som ressoasse pelo Salão.

"Qual o problema de vocês?" Draco perguntou irritado.

"Temos uma notícia não muito agradável."

"Pois então falem logo!" Esbravejou. Se tinha uma coisa que odiava é que testassem sua pouca paciência.

"Os testes pro time vão ser semana que vem…" Começou Blaise.

"E?" Indagou inquieto.

"E daí que ninguém quer você no time." Flint terminou e deu de ombros. "Lamento por isso." Pelo seu tom de voz, ele não lamentava nem um pouco.

"Ótimo!" Draco respondeu de mau humor. Com uma força desnecessária, colocou a jarra de suco de abóbora em cima da mesa com um estrondo chamando, mais uma vez, a atenção de algumas pessoas por perto. Sua cara devia estar no mínimo vermelha de raiva.

Ignorando todas as palavras de Blaise durante o café da manhã, pegou seu horário e saiu sem nem mesmo dizer nada. Estava com raiva e não queria explodir na frente de todo mundo.

Foi o primeiro a chegar nas masmorras, na sala de Poções onde tivera aulas com seu padrinho durante seis longos anos. Sentia falta dele, sem dúvidas. Por mais que não admitisse, gostava de Snape. Além de que o homem foi um dos poucos que realmente se importavam com ele. Mas agora ele estava morto e ele só tinha Narcisa. Lucius estava preso e mesmo que não estivesse não faria diferença; era ridículo considerá-lo como um pai depois de tudo.

Alguns alunos começaram a chegar e se acomodar nas carteiras. Draco estava sentado na última fileira e não queria ser incomodado, não queria companhia. Ainda estava irritado por não poder jogar Quadribol, por ter sido vetado pelo inútil do Flint e o restante do time que sequer estava montado. Talvez se ele conversasse com o diretor de sua casa, ele conseguisse jogar e foda-se o que os outros queriam. A tatuagem em seu antebraço pareceu pesar e pulsar em sua carne, mas ele sabia que era só sua imaginação. Ela, agora, simplesmente estava ali para lembrá-lo a todo momento que ele não merecia estar ali depois de tudo o que fizera. Ele não merecia nada. Ele tinha certeza que muitas pessoas provavelmente comemorariam sua morte.

Alguns grifinórios passaram por ele e pararam. Um garoto grande e alto, que ele se lembrava muito bem, sorria com escárnio.

"Olhem só o que temos por aqui… Um Comensal da Morte." Os demais que o acompanhavam riram. Draco bufou impaciente.

"Olha aqui McLaggen, não é só porque eu fui um Comensal," Ele colocou uma grande ênfase no fui. "que você tem o direito de me dirigir a palavra. Você ainda é um grifinoriozinho de merda."

Draco sorriu ao ver suas feições se contraírem e seu rosto ficar salpicado de manchas vermelhas. McLaggen sacou a varinha e apontou para o loiro que pulou da cadeira e fez o mesmo, embora ainda mantivesse o sorriso no rosto.

"Eu vou acabar com você, seu desgraçado!"

"Assim como Voldemort acabou com a sua família?" Ele soltou um risinho pelo nariz e somente sentiu o feitiço atingir seu peito com força. Seu corpo saiu do chão e foi jogado para trás uns bons metros por cima das carteiras. As pessoas já se acumulavam atrás de McLaggen para saber o que estava acontecendo.

Draco levantou cambaleante sentindo um filete de sangue escorrer pela sua nuca e sorriu. Sorriu sombriamente. E isso fez boa parte dos expectadores se afastarem. Ele era um Comensal e com Você-Sabe-Quem morto ou não, ele ainda tinha suas habilidades em magia negra.

McLaggen, que pareceu finalmente se dar conta do acontecido, deu um passo para trás com a varinha ainda em punho, um feitiço de proteção preparado na ponta da língua, mas nada aconteceu. No exato momento em que Draco se preparava para lançar um feitiço, o trio de ouro entrou acompanhado do Professor de Poções. O Professor Slughorn rapidamente interveio e a multidão se dispersou. No meio da classe, apenas Malfoy e McLaggen com as varinhas levantadas ameaçadoramente.

"O que significa isso?" O professor perguntou, visivelmente irritado. Nenhum dos dois respondeu. "Abaixem essas porcarias de varinha!"

Relutantes e ainda encarando um ao outro, abaixaram as varinhas. Draco respirava descontroladamente, seus olhos cinzas estavam quase negros. A linha de ódio entre os dois era quase palpável.

Da porta da sala, Hermione observava a tudo atentamente. Viu quando o professor falou algo e eles abaixaram as varinhas, embora Hermione acreditasse que se fosse possível matar com os olhos, McLaggen já estaria morto a séculos. Desviando do rosto do loiro, viu o líquido vermelho que manchava seus cabelos e pescoço, adentrando na capa negra que vestia.

"Os dois estão em detenção durante a semana inteira. Menos 50 pontos para cada um. Malfoy, deveria dar o exemplo, onde já se viu? Você é um monitor!"

Blaise Zabini que só então havia dado as caras, finalmente se pronunciou no meio de toda aquela confusão. “Mas Draco não azarou ninguém, quem fez isso foi o McLaggen.” Alguns sonserinos concordaram, para a surpresa do loiro. Mas ele estava irritado demais e ter alguém defendendo-o era ainda mais irritante.

"Tudo bem Sr. Malfoy, vá até a enfermaria antes que tenha uma hemorragia." O professor olhou para o seu aluno como se ele fosse um estranho. E só então Draco percebeu que sua cabeça doía. "Senhorita Granger, por favor o acompanhe."

Hermione olhou incrédula para o professor ao ouvir seu nome. Ron e Harry também ficaram surpresos ao seu lado.

"Por que eu?" Ela perguntou, mais para ela mesma que para o professor.

"Você é a monitora-chefe de Hogwarts." Ele explicou como se fosse óbvio, e olhando por esse lado, era mesmo. "Apenas vá logo."

Com um último suspiro indignado ela girou nos calcanhares e saiu pela porta, Malfoy logo atrás em seu encalço. Ainda sentiu os olhares sobre os dois enquanto caminhavam até o fim do corredor.

"Não devia ter vindo, Granger." A voz arrastada e fria dele fez sua pele arrepiar.

"Não sei se você lembra mas não tive escolha. Não é como se eu pudesse questionar a ordem de um professor." Respondeu indiferente enquanto andava a passos rápidos pelo corredor.

"Ah, claro que não." Ele debochou, um sorriso irônico dançando em seus lábios. "A sangue-ruim é submissa demais para dizer um simples não." Continuou.

Ela virou-se bruscamente para ele, fazendo seus corpos quase se chocarem. A fúria nos olhos castanhos quase cegaram o sonserino. Em instantes a varinha dela apertava sua jugular. Ele engoliu em seco.

"Você é um covarde, Malfoy. Acha que xingar as pessoas vai te fazer se sentir melhor? Pois eu tenho uma novidade para você: Não vai! Você é um merda que não merecia nem estar vivo. Apenas cale essa sua boca imunda antes que eu tenha vontade de tirar todo o sangue-puro de dentro do seu corpo até você implorar para que eu pare." As orbes castanhas faiscaram, pareciam em chamas.

Ele tinha se afetado mas não podia demonstrar. Nunca havia visto aquele lado dela, mesmo durante a Guerra. Então ele sorriu ironicamente, como sempre fazia. A varinha deixou seu pescoço e ele viu ela fechar os olhos na tentativa inútil de se acalmar.

"Não sabia que era tão selvagem, Granger."

Ela voltou a abrir os olhos mas a fúria parecia ter se extinguido. Ela apenas virou de costas para ele e voltou a andar. Draco soltou o ar de seus pulmões que nem sabia que havia prendido e voltou a andar em seu encalço.

Finalmente chegaram às portas da Ala Hospitalar. O sangramento na nuca de Draco parecia ainda pior quando ele passou por ela e entrou. Ele se sentia fraco e podia desconfiar que tinha perdido uma boa quantidade de sangue. McLaggen pagaria por aquilo.

Madame Pomfrey estava dando petiscos para a coruja da torre que esperava na janela com um pergaminho enrolado na pata quando chegaram na enfermaria. A enfermeira pegou o pergaminho, desenrolou-o e leu. Logo depois seus olhos caíram sobre os dois alunos que haviam acabado de entrar. Ela suspirou e fez sinal para que se aproximassem.

"Sente-se aqui Sr. Malfoy. Me deixe ver esse ferimento." a enfermeira virou-se para Hermione. "O que faz aqui Srta. Granger?" perguntou um pouco em dúvida ao ver os dois juntos.

"O professor Slughorn pediu que o acompanhasse." ela respondeu baixo, deixando claro que estava ali por obrigação.

"Ah sim, claro." Madame Pomfrey voltou sua atenção ao sonserino à sua frente, avaliando a profundidade do ferimento. "Foi apenas um corte, nada que um feitiço e uma poção para dor não resolva. Mas como o senhor perdeu muito sangue, aconselho passar o resto da manhã aqui para que eu possa repor o que perdeu."

Como esperado, ele reclamou, mas Madame Pomfrey era sempre irredutível. Com um muxoxo indignado, ele tirou a capa coberta de sangue e ficou apenas com a camisa branca, a qual estava também coberta de sangue. Muito sangue. Hermione deixou escapar uma exclamação de surpresa e logo se repreendeu por isso. Não tinha nem dez minutos que ele a tinha chamado de sangue-ruim. Balançando a cabeça negativamente, virou-se para a saída.

"Bom, se é assim, avisarei ao professor. Com licença."

Hermione praticamente correu de volta até as masmorras. Já tinha perdido um bom tempo de aula e era a primeira aula do ano; e tudo por culpa de Malfoy. Abriu a porta da sala sem cerimônias e explicou para o professor que Malfoy não voltaria para a aula. Desviando o olhar, sentou ao lado de Harry já que Ron estava sentado com Parvati Patil. Ela reparou que eles conversavam animados, animados demais para o gosto dela. Harry percebendo os olhares da amiga apenas sorriu. Era mais do que visível o quanto ela gostava dele.

"E então, Malfoy vai morrer?" Harry perguntou, fazendo ela desgrudar os olhos do casal ao lado e olhar para ele. Ela riu baixinho.

"Infelizmente não. Mas o McLaggen fez um bom trabalho." ela deu de ombros mas logo se sentiu mal pelo comentário maldoso que havia acabado de fazer. Desviou o olhar de Harry para Mclaggen que tinha um sorriso sinistro e satisfeito no rosto. Hermione estremeceu.

O restante da manhã foi longa e cansativa. Já tinham milhares de deveres de casa para fazer e Ron não parava de reclamar.

Hermione não sentia fome alguma mas acompanhou os amigos até o Salão Principal. Da porta, ela deu uma olhada rápida pelo salão e viu Malfoy na mesa da Sonserina, acompanhado de Zabini e Nott. Os cabelos tinham voltado a ser loiros e suas roupas brancas, apenas o pequeno curativo na cabeça indicava que ele tinha se machucado.

"Ei Mione!" Ginny apareceu correndo atrás deles, o rosto vermelho pelo esforço. "Mamãe mandou um beijo e disse que já está com saudades."

Hermione sorriu minimamente, agradecendo o recado à amiga e se despediu. Era chato como qualquer coisa a fazia se lembrar de seus pais, e era mais chato ainda o fato de não conseguir controlar suas próprias emoções.

Caminhou a passos largos até a Torre de Astronomia e pediu a Merlin para que Malfoy não voltasse a aparecer ali; era irritante saber que ele também havia escolhido aquele lugar como uma espécie de refúgio na noite anterior.  Assim que chegou encostou-se em uma das paredes, cansada por ter corrido até ali. Ela sentia vontade de chorar mas não queria fazê-lo. Chorar demonstrava fraqueza e ela não podia se dar ao luxo de ser fraca. Deixou o corpo escorregar até o chão e deixou a cabeça pender até encostar a testa nos joelhos. Algumas lágrimas caíram mas logo cessaram. Apenas o soluço que vinha do fundo de sua garganta era ouvido. Ouviu alguns passos e levantou a cabeça, apenas para ver Malfoy parado à sua frente; bufou. Ela queria xingá-lo e mandá-lo embora mas não conseguiu.

Ficaram se observando por alguns segundos mas Draco desviou. Escondeu a expressão de surpresa ao encontrá-la ali de novo e fez o que melhor sabia fazer: a ignorou. Sabia que ela estava chorando mas não se atreveria a perguntar o por que. Puxou o maço de cigarros do bolso e a varinha e acendeu um. Tragou longamente, enchendo os pulmões de fumaça para soltar parte dela depois. Sabia que Granger o observava mas não desviou o olhar da paisagem lá fora. Se ela quisesse, que saísse, ele não iria a lugar nenhum. Para a surpresa dele, ela apenas esticou as pernas e se acomodou melhor onde estava. Arriscou uma olhada e viu ela enrolar uma mecha de cabelo nos dedos enquanto olhava para a chuva fina através das grades do parapeito.

Ele odiava estar ali fumando na presença dela, mas odiava mais ainda estar gostando da companhia silenciosa dela; não, gostar era uma palavra muito forte. Apenas, não se importava que ela estivesse ali.

"Malfoy." ela chamou meio receosa. Ele não olhou, mas apurou os ouvidos para ouvir o que ela faria. "Por favor, não me ignore!" ela pediu. Ao ouvir o "por favor" ficou ainda mais curioso.

Ele deu uma última tragada no cigarro antes de jogá-lo torre abaixo e virou de frente para ela que ainda estava sentada no chão com as pernas esticadas.

"O que quer, Granger?" ele parecia realmente irritado. Ela olhou apreensiva. Não acreditava que estava prestes a fazer aquilo, mas sentia-se culpada.

"Me desculpe pelo que falei mais cedo." ela começou baixinho. "Foi cruel e eu não devia ter falado aquilo." ela continuou o encarando afim de capturar qualquer coisa em sua expressão mas a única coisa que viu foi o típico e irritante sorriso irônico se formar em seu rosto.

"Mais alguma coisa?" ele resistiu ao impulso de chamá-la de sangue-ruim, não queria começar uma nova discussão, ele tinha ido ali para fumar e somente isso. "Se não, com licença."

Ele começou a sair e ela bufou irritada.

"Idiota!" murmurou mais para si mesma do que para o loiro que já havia partido.

(…)

As aulas da tarde foram ainda piores que as da manhã. Cansativas demais e trabalhosas demais, era ano de NIEM’s e não podia simplesmente relaxar. Tinha combinado de ir até a biblioteca depois do jantar com Harry, Ron e Ginny para começarem a fazer os trabalhos para a semana que vem ou não dariam conta.

Sentados numa das mesas mais ao fundo da biblioteca, conversavam e discutiam sobre os trabalhos, principalmente o de poções. Um pergaminho de 30 centimetros sobre os efeitos colaterais da poção Polissuco. Hermione estava mais do que tranquila pois tinha feito tal poção ainda no segundo ano. Ela era inteligente e ninguém podia negar. Uma sabe-tudo irritante, como diziam.

A paz dos amigos foi perturbada quando viu alguns sonserinos sentarem na mesa ao lado. Malfoy, Zabini e Nott estavam no meio deles. Uma rápida olhada para a mesa deles e Hermione notou que Malfoy a observava. Ou assim parecia. Seus olhos estavam um pouco desfocados mas ele olhava fixamente para ela. Desconfortável com a situação, Hermione se remexeu na cadeira, chamando a atenção de Ginny que olhou dela para Malfoy. Ron bufou, tirando a atenção das duas.

"Não consigo acreditar que é apenas o primeiro dia de aula e nós estamos afundados em livros velhos e empoeirados."

Harry assentiu e Ginny deu de ombros. Hermione olhou estupefata para ele.

"O que você esperava Ronald? Não estamos numa colônia de férias."

"Eu esperava que o último ano fosse mais fácil."

"Como poderia ser mais fácil se é o mais importante? Os NIEM’s decidirão nossa vida!"

"Eu sei!" Ele murmurou com uma careta. "Mal vejo a hora de nós sairmos daqui para trabalharmos no Ministério. Vocês sabem que temos nossas vagas lá como aurores não é?"

"Sim, e eu não acho isso certo…" Harry comentou. "Acho que deveríamos conseguir por mérito próprio."

"Acho que matar Voldemort foi uma prova muito melhor do que qualquer NIEM." Ron deu de ombros.

Hermione sabia que era bem verdade, e sabia também que ela não queria ser uma auror. Ela estava cansada dessa loucura toda e ela só queria paz. Então ela precisava dos NIEM’s mais do que nunca. E estudar era absolutamente necessário. Sempre.

Terminando seu último trabalho do dia, ela se despediu dos amigos e juntou suas coisas. Uma última olhada na mesa dos sonserinos mostrou que Malfoy não tinha voltado a olhar para ela.

Chegou quase se arrastando no seu dormitório, largou a mochila pelo caminho até o quarto e colocou os pijamas. Ela agradecia que não tinha ronda nessa noite porque ela se sentia exausta. E ela esperava que conseguisse dormir.

(…)

Fazia um bom tempo que Draco e seus amigos tinham voltado da biblioteca. O toque de recolher já tinha iniciado e ele tinha que sair para a ronda. McGonagall estipulou um horário temporário até que a monitora-chefe montasse os horários oficiais das rondas. Draco tinha sido escolhido para monitorar o castelo hoje à noite. Antes de começar porém, ele passaria na Ala Hospitalar para pedir uma Poção do Sono para Madame Pomfrey. Ele planejava dormir tranquilo essa noite.

Com dois vidrinhos da poção tilintando no bolso ele deu início à ronda. Começou pelo sétimo andar. Aquele andar trazia as piores lembranças de seu sexto ano quando ele tinha sido designado a consertar o Armário Sumidouro. Aquele andar era seu inferno particular. Não querendo se demorar muito por lá, deu uma olhada rápida pelos corredores e desceu. No sexto andar, ele abriu todas as portas das salas e nada encontrou. Quinto andar era onde ficava o dormitório de monitor-chefe, consequentemente, de Granger, embora não sabia onde especificamente. Como no andar anterior, entrou em todas as salas mas nada encontrou.

O quarto andar era o mais deserto e escuro, pouquíssimos archotes iluminavam o caminho até a biblioteca. Já extremamente cansado, soltou um suspiro que quase encobriu o som de algo se chocando com uma estátua no final do corredor em que estava. Num reflexo, ele apontou a varinha para o lugar de onde veio o barulho e lançou um petrificus totalus como feitiço não-verbal. O estrondo de um corpo se chocando com o mármore frio foi inconfundível. Ele sorriu com o “djavu” e se aproximou, sabendo exatamente quem ele atingira.

Para sua surpresa, não era O-Menino-Que-Sobreviveu mas o pobretão. As coisas não podiam melhorar. Seu sorriso tomou conta do rosto com pura satisfação.

"Ora, ora Weasley, me seguindo pelos corredores desertos do castelo… Deveria saber que isso não acabaria bem. Para você, é claro." Ele riu. Os olhos do ruivo apenas seguiam Malfoy. "Eu vou tirar 50 pontos da Grifinória pelo seu passeio fora de hora e um mês de detenção. E se eu pegar você me seguindo de novo, pobretão, você vai se arrepender." Ele rosnou.

Com um aceno da varinha ele virou as costas deixando um Ronald Weasley atordoado para trás.

 


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Notas finais do capítulo

E os comentários? Tenho tido tão poucos ):
Obrigada aos que comentam, vcs fazem meu dia feliz!