Capítulo 20 - Nothing

Dois dias haviam se passado desde que todos haviam voltado das férias de Natal. Draco estava sentado na mesa Sonserina inquieto, olhando para a mesa do outro lado do Grande Salão.

Granger estava sentada na mesa da Grifinória rodeada por seus amigos. De vez em quando arriscava um olhar para ele e corava. Ela não falava com ele desde que saíram da Torre de Astronomia há dois dias atrás. Ele poderia jurar que ela estava evitando-o, mas isso não continuaria por muito tempo. Eles tinham um trabalho de Estudo dos Trouxas para o dia seguinte e ele tinha certeza que Granger daria o braço a torcer por isso.

Ele continuou observando-a, enquanto ela mal tocava no seu prato e ocasionalmente ria de alguma coisa que o Weasley falava. Draco fez uma careta e finalmente desviou o olhar.

"Que tanto você olha, cara?" perguntou Blaise procurando o lugar que Draco pudesse estar olhando.

"Nada." deu de ombros.

"Sei…" respondeu Blaise desconfiado.

Felizmente Blaise não tornou a perguntar mais. O café da manhã mal assentou no seu estômago e Draco já estava levantando para ir para a próxima aula. Três horas de Transfiguração seriam o seu fim.

(…)

"Adivinhem de quem recebi uma coruja esta manhã?" perguntou Ginny no almoço.

"De quem, amor?" perguntou Harry curioso.

"Jorge!" ela exclamou feliz. "Ele disse que pretende voltar a abrir a Gemialidades Weasley!"

"Isso é fantástico!" exclamou Harry, tão feliz quanto a namorada.

"Graças a Merlin que Jorge voltou a si." comemorou Ron.

"Na verdade, graças à Hermione." comentou Ginny olhando para a amiga. "Não sei o que foi que disse à ele mas tem dado certo. Obrigada, Hermione." expressou Ginny.

Hermione sorriu.

"Não precisa agradecer, ele também é como um irmão pra mim Ginny e estava me matando vê-lo daquele jeito. Fico feliz que ele esteja cada dia melhor."

"O que foi que disse a ele, Mione?" perguntou Ron curioso.

Ela riu.

"Foi uma conversa particular, Ron. Entre mim e Jorge. Mais ninguém." ela ralhou.

"Tá." ele bufou.

"Temos o próximo tempo livre, o que acham de nos reunirmos no seu quarto, Mione?" perguntou Ginny.

"Hã…" ela começou incerta. "Eu tenho um trabalho pra terminar pra amanhã e pretendia usar o tempo livre." ela desculpou-se.

"Nós podemos ajudar você." garantiu Harry. Hermione sorriu à sua oferta, sabendo que eles mais iriam atrapalhar do que ajudar.

"É um trabalho em dupla." ela revelou. "Com Malfoy." fez uma careta.

"O que?" explodiu Ron. "Não acredito que vai trocar a gente por aquele furão, Hermione!"

"Pare de gritar, Ron!" ela irritou-se, ignorando os olhares que a voz de Ron havia atraído. "Não seja um idiota, é um trabalho escolar e não tem nada a ver com a minha vontade, foram ordens da diretora."

"Quando eu digo que essa mulher anda pirando ninguém acredita." murmurou Ron.

"Mais respeito, Ronald." ela lançou um olhar mortal em sua direção.

"Desculpe." ele suspirou. "É que eu odeio tanto o Malfoy que eu perco a cabeça. Você me entende não é, Mione?" ele segurou suas mãos e olhou em seus olhos.

O que ela deveria dizer? Ela não tinha certeza se ela chegou um dia a odiar verdadeiramente Malfoy. O olhar de Ron estava perfurando os seus e ele esperava uma resposta.

"Sim Ron, eu entendo." ela suspirou baixinho quando o viu sorrir minimamente.

"É por isso que eu te amo." ele soltou sem querer.

Embaraçada, Hermione desvencilhou suas mãos da dele e voltou a atenção para o seu prato.

"Então, já que Hermione vai estar ocupada, nós vamos para a Torre da Grifinória mesmo." Ginny cortou o silêncio constrangedor. Hermione fechou os olhos agradecendo mentalmente a Ginny.

"Vão vocês, eu-eu vou indo na frente." murmurou Ron incoerentemente se levantando e derrubando comida no processo.

Ele saiu do Salão Principal à passos largos e sumiu pela escadaria.

"Eu vou indo também." suspirou Harry levantando e indo pelo mesmo lugar que o amigo havia sumido.

"Hermione…" começou Ginny.

"Eu entrei em pânico." assumiu. "Eu vi nos olhos dele que ele também estava em pânico ao se ouvir dizer aquilo."

"Não se preocupe. Isso é um bom começo sabe, ele finalmente começou a admitir pra si mesmo que te ama."

"Sim, um bom começo." Hermione suspirou. Sentiu um olhar queimar sobre si e olhou para frente, atrás de Ginny. Malfoy estava observando-a novamente. Seu olhar carregava uma intensidade que fazia seu estômago revirar.

Ela tinha o evitado dois dias seguidos depois do beijo. Naquela manhã ela se deu conta de que teria que falar com ele pois precisavam completar o trabalho. Ela entrou em pânico, da mesma forma como a poucos minutos atrás.

"Um bom começo." Hermione repetiu enquanto ainda encarava Malfoy.

"Eu vou indo, bons estudos e tente não matar Malfoy, embora…" Ginny olhou significativamente de Hermione para Draco e balançou a cabeça. "Deixa pra lá, até mais tarde Mione."

"Até mais, Ginny." ela acenou para a amiga que já havia levantado.

Tomando coragem, fez o mesmo. Seus olhos seguiram de novo para Malfoy e ela olhou para ele e indicou a porta. Ele assentiu e também levantou.

Hermione viu quando ele murmurou algo para Blaise Zabini e se afastou. Ela começou a andar para fora do Grande Salão e parou quando ultrapassou as portas, Malfoy logo atrás dela.

Ele parou de frente para ela, esperando que ela dissesse algo.

"Então.. hã.. nós temos aquele trabalho para terminar." ela pigarreou para limpar a garganta. "Pensei que nós poderíamos terminar agora. Se você não tiver algo pra fazer é claro, se tiver nós podemos terminar mais tarde e-

"Granger, cala a boca." ele cruzou os braços e assistiu os sentimentos da mulher à sua frente mudar de embaraço para raiva. Ele sorriu. Preferia quando ela estava com raiva, era mais fácil de lidar.

"Não me mande calar a boca, Malfoy. Quem você pensa que é?" ela retrucou.

"Você quer fazer o trabalho agora, nós faremos o trabalho agora." ele evitou sua última pergunta e respondeu à inicial.

"Ótimo." ela começou a caminhar.

Malfoy jogou a mochila sobre o ombro novamente e a seguiu. Ele a seguiu por quatro lances de escadas e uma passagem secreta que não era tão secreta assim. Pararam em frente ao quadro da Medusa e Hermione murmurou a senha.

"É o seguinte," ela começou assim que entraram no cômodo. "Nós terminaremos esse trabalho nas próximas três horas e amanhã apresentaremos à turma como a Diretora nos informou."

"Certo." Draco deu de ombros.

"Eu faço a minha parte e você faz a sua." ela se jogou no sofá e abriu a mochila. "A última porta do corredor é uma biblioteca caso você queira algum livro para consultar."

Bufando, Draco sentou na mesa de café e espalhou vários pergaminhos por ela.

"Achei que fôssemos fazer o trabalho juntos, Granger." ele resmungou.

"Não estamos juntos?" perguntou inocentemente.

"Bruxa maldita." ele resmungou sob a respiração.

Ela ignorou seu xingamento e começou a escrever. Já havia tido algumas ideias do que fazer e isso a distraiu do loiro impaciente na sua sala.

"Granger?" ele chamou com a voz grave.

"Sim?" ela respondeu com os olhos fixos no pergaminho.

"Até quando vai me evitar?" perguntou simplesmente.

Finalmente ela parou de escrever e levantou a cabeça.

"Não estou te evitando." ela respondeu mais segura do que se sentia.

Ele gargalhou e Hermione franziu o cenho.

"Você é uma péssima mentirosa." ele estalou a língua. "E você sabe do que estou falando."

Ela engoliu em seco. Tinha rezado à Merlin para que eles não chegassem nesse tópico mas aparentemente chegou mais rápido do que o previsto.

"Não quero falar sobre isso." ela concluiu.

"A Princesa Grifinória não quer falar? Uau, isso sim é inédito. Preciso mandar uma carta para o Profeta Diário." ele riu com desdem.

Hermione levantou, derramando o tinteiro em cima do sofá.

"Pare de ser um completo idiota, Malfoy!" gritou com raiva.

"Pare de fugir de mim." ele falou calmamente de volta.

"Por favor, vai embora." ela pediu respirando pesado.

Ele se aproximou dela e ela deu dois passos para trás.

"Aquele beijo foi um erro." ela garantiu. "Nunca deveria ter acontecido. Não significou nada." ela sussurrou incerta.

Draco se aproximou mais um pouco, encurralando-a na parede ao lado da porta.

"Qual deles foi um erro, Granger?" ele pediu. "O primeiro ou o segundo beijo?" ele a encarou.

"Todos." ela afirmou.

"Quer dizer que você não sente nada quando eu me aproximo de você?" ele perguntou chegando ainda mais perto.

"S-sim." ela gaguejou, ele sorriu.

"Quer dizer que você não sente nada quando eu toco em você?" ele perguntou de novo enquanto sua mão esquerda agarrava a cintura dela e a direita subia por suas costas.

"Nada." ela garantiu mas tinha os olhos fechados. Se olhasse para ele estaria perdida.

"Quer dizer, Hermione, que você não sente nada quando eu te beijo?" ao som de seu primeiro nome, ela abriu os olhos.

Ele estava tão próximo que ela podia sentir sua respiração bater em seu rosto. Seus olhos eram da cor do mercúrio.

"Nada, Draco." sua voz saiu em um sussurro rouco e entrecortado. Ela tinha lhe feito um desafio e não havia como escapar.

"Você é uma péssima mentirosa, Granger." ele sussurrou antes de prensar seu corpo contra o dela e atacar sua boca.

Draco estava com raiva e queria transmitir isso pelo beijo. Sua boca era feroz contra a dela, sua língua devastando tudo pelo caminho. Hermione agarrou os cabelos dele e puxou. Ele apertou sua cintura com força, trazendo-a para mais perto.

Vários sentimentos explodiram dentro dela. Ela sentia tudo ao mesmo tempo em que queria sentir nada. Hermione lembrou de Ron no almoço a menos de uma hora atrás. Ele havia dito que a amava, mesmo sem querer, e ela estava em seu dormitório beijando outro cara. Muitas pessoas estariam decepcionadas com ela se soubessem. Ela estava.

Separaram os lábios depois do que pareceram dias. Hermione tomou uma respiração profunda e deixou a cabeça cair no ombro de Draco. Aquilo era um erro sim. Ela não podia fazer isso com ela mesma. Ela queria Ron e Malfoy estava confundindo sua cabeça.

Ainda com a cabeça em seu ombro, ela respirou fundo mais uma vez e sussurrou em seu ouvido.

"Por favor, vai embora." ela implorou. "Não posso fazer isso."

Ela ouviu ele suspirar em seu ouvido, o ar batendo em seu pescoço arrepiado. Ele tinha muitos efeitos sobre ela e o cérebro de Hermione começou a emitir um alerta. Ela devia sentir nada.

"Certo, Granger." ele sussurrou afastando seu corpo do dela. "Vou terminar minha parte do trabalho na biblioteca, nos vemos amanhã na aula."

Ele nem sequer arriscou um olhar em direção à ela. Juntou suas coisas que estavam espalhadas pela mesa de centro e bateu a porta do dormitório deixando para trás uma Medusa indignada com a agressividade.