Hold On - Dramione escrita por karistiel


Capítulo 18
Chapter 18: Christmas II


Notas iniciais do capítulo

Olá babies!!! Passando só pra postar o capítulo rapidinho porque correria é meu sobrenome este ano!

Eu gostei bastante do resultado deste capítulo e espero que vocês gostem também! Eu o escrevi ouvindo uma música que gosto muito (Volcano - Phillip Phillips) e tornou tudo mais "emocionante", então sugiro a vocês que ouçam uma música que lhes emocione ao ler esse capítulo (ou não, vocês quem sabem).

O capítulo não foi revisado por falta de tempo, então desculpem qualquer erro :(

Até lá embaixo na prévia!



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Capítulo 18 - Christmas II

Draco desceu do barco e tremeu quando o deck balançou com a força da água. Ele suspeitava que era encantado para não quebrar, assim como o barco, mas isso não diminui seu medo em nada. Ele ajudou Narcisa a descer e o Auror Johnson veio logo atrás.

"Eu vou na frente." disse o auror e seguiu, deixando os dois para trás.

Ao chegarem nos grandes portões de ferro, um guarda brutamontes apontou a varinha para os três visitantes.

"Como vai, Albert?" cumprimentou Johnson. "Creio que o Ministro avisou sobre nossa visita, certo?"

"Vou bem e sim, senhor." o guarda, Albert, falou.

Com um complicado aceno da varinha dele, os portões começaram a se abrir magicamente.

"Entrem logo, não podemos manter o portão aberto mais do que alguns minutos." avisou Albert.

Narcisa e Draco entraram, acompanhando Johnson. Draco notou mais três guardas do lado de dentro da fortaleza poucos minutos antes de entrar. Ao entrar, sentiu o ar pesado do lugar. Embora não houvessem mais dementadores por ali, o lugar parecia tão sem vida quanto antes. Draco se perguntou como aqueles caras suportavam estar ali todos os dias.

Albert os guiou até um corredor onde havia somente uma porta no fim do corredor. O guarda bateu na porta e esperou. Segundos depois, a porta abriu e um homem robusto, de cabelos e barba grisalhos e vestes carmesim, apareceu.

"Boa tarde Sr. Pritchard, como o Ministro avisou esta manhã, os senhores estão aqui para visitar o detento Lúcio Malfoy."

"Obrigado Albert, está dispensado." agradeceu o velho bruxo. "Olá senhores, sou o Diretor de Azkaban, Richard Pritchard, sigam-me por favor."

Azkaban era um lugar terrível. As paredes de pedra, o chão de mármore, a falta de janelas e o frio inigualável formavam uma combinação assustadora. Draco percebeu que dali podia ouvir o barulho das ondas batendo agressivamente contra as paredes do prédio. Seu estômago embrulhou novamente e ele apertou as mãos em punhos.

Ao contrário dele, o Sr. Pritchard parecia levemente feliz por ter companhia. Tagarelava com Johnson sem parar até chegar a um lance de escadas.

"Que tal um breve tour pela prisão mágica mais forte de todas?" riu-se o Sr. Pritchard. Estava tão animado que deixou Draco ainda mais enjoado.

Subindo o primeiro lance de escadas, Draco viu-se em uma ala de prisioneiros. O silêncio era absoluto e as portas das celas eram grossas grades que pareciam inquebráveis.

"Essa é a ala dos detentos que cometeram leves delitos como roubos, ou feitiços impróprios. Geralmente passam um ou dois anos aqui antes de serem libertados."

Mais um lance de escadas os esperavam do outro lado do corredor. O segundo andar era novamente uma ala de detentos.

"Essa é a ala dos presos que cometeram ilegalidades. Animaglia clandestina, maldições imperdoáveis, feitiços na frente de trouxas ou em trouxas. Ficam por aqui no mínimo cinco anos."

As celas dessa ala eram distantes umas das outras, e embora parecesse menor que a anterior, ainda era impossível contar a quantidade de celas presentes por ali. As mesmas barras de ferro lacravam as entradas das celas para evitar a saída dos presos.

No terceiro andar, o ar parecia mais escasso. Draco não sabia se era pela altitude ou pelo fato daquele lugar conseguir ser mais assustador.

"Essa é a ala dos que cometeram homicídios, ou ao menos tentaram." comentou o Sr. Pritchard. "O Sr. Johnson já mandou bastante gente para cá se bem me lembro." o velho bruxo sorriu.

"É o meu trabalho senhor." concordou o auror em tom de tédio.

As tochas do corredor piscaram e apagaram por breves instantes. Draco estava apavorado. Quando as luzes reacenderam, Sr. Pritchard parecia irritado.

"Não se preocupem, isso acontece sempre, não sabemos o que causa isso, talvez devêssemos chamar alguém do Departamento de Mistérios."

"Falarei sobre isso com o Ministro, Sr. Pritchard." ofereceu-se o Auror Johnson.

"Seria ótimo, obrigado Johnson."

As celas do terceiro andar, o corredor dos assassinos, não tinham barras. No lugar, haviam portas de aço maciço e apenas uma brecha onde os que estavam do lado de dentro podiam olhar o corredor. Um barulho no fim do corredor chamou a atenção dos demais. Draco estava cada vez mais assustado e não entendia como sua mãe não parecia com medo. Só havia uma única explicação para isso: ela já havia ido até ali. Mais de uma vez. O sonserino não sabia como se sentir sobre esse fato.

"Não se preocupem, isto deve ter sido Doug Hamish. As vezes ele fica um pouco agitado mas faz isso há anos, então tornou-se normal. Vou mandar alguém vir aqui mais tarde para dar-lhe uma poção calmante."

Finalmente chegaram ao quarto e, aparentemente, último andar. Era ainda mais sombrio que o anterior, embora as tochas não apagassem. O ar era pesado e difícil de respirar. O corredor era mantido em silêncio absoluto e haviam dois guardas em cada extremidade do corredor.

"Esta ala é recente, tivemos que criá-la após o fim da guerra e a captura de centenas de seguidores de Lord Voldemort. Esta é a ala dos Comensais da Morte."

Draco sentiu a respiração engatar involuntariamente. As portas das celas pareciam de concreto e não havia nenhuma abertura que mostrasse o interior. Devido a isso, as celas eram nomeadas com nome e sobrenome. Com uma olhada rápida, Draco conseguiu ler pelo menos três nomes conhecidos: Antonin Dolohov, Scabior e Aleto Carrow. Os três haviam passado a maior parte do ano anterior em sua casa, na companhia do Lorde das Trevas.

"Normalmente nós não permitimos visitas aos prisioneiros desta ala, mas como foi um pedido especial do Ministro da Magia, me senti obrigado a permitir."

Sr. Pritichard andou até o fim do corredor, com os visitantes em seu encalço e parou de frente para a penúltima cela. Em letras garrafais, lia-se Lúcio Malfoy.

"Rodolph, por favor, faça as honras." pediu ao guarda que já havia se posicionado ao seu lado. "Os senhores terão apenas uma hora de visita supervisionada. Rodolph e Johnson estarão do outro lado da porta o tempo todo, por isso, não tentem nenhuma gracinha." avisou o diretor daquela prisão de segurança máxima.

"Você me conhece Richard, sabe que não farei nada, além do mais estamos sem nossas varinhas." falou Narcisa pela primeira vez desde que chegaram naquele lugar.

As palavras de sua mãe confirmavam sua suspeita de que ela já havia estado ali algumas vezes e provavelmente teria feito o mesmo “tour” que acabaram de fazer.

Rodolph brandiu a varinha, os olhos fechados, o rosto concentrado. Era previsível que aquelas celas eram mais difíceis de abrir do que os portões de entrada em Azkaban.

A porta rangeu sob seu próprio peso e começou a se abrir lentamente. Em apenas alguns segundos, ele estaria frente a frente com o único responsável por sua vida ter se tornado um completo inferno. Ele não sabia o que sentir ou como reagir.

Por isso, quando a luz fraca das tochas no corredor iluminou o interior da cela, mostrando um Lúcio Malfoy em suas piores condições, Draco continuou parado. Seus pés pareciam fixos no chão e seus olhos estavam vidrados.

Narcisa sorria mais amplamente do que quando chegara e já havia dado um passo em direção à cela.

"Apenas uma hora, não esqueçam." avisou o Sr. Pritchard.

A voz do diretor de Azkaban finalmente tirou Draco de seu torpor. Ele sacudiu a cabeça e com passos inseguros acompanhou Narcisa para dentro da cela. As tochas do interior da cela foram acesas e a porta de concreto fechada. Draco achou que fosse hiperventilar mas conseguiu manter a calma. Ele estava trancado dentro de uma cela de Azkaban, com a última pessoa que ele gostaria de voltar a ver na vida.

"Lúcio!" saudou sua mãe com alegria. Draco continuou parado de frente para a porta e de costas para o quarto, como se estivesse saindo e não entrando.

"Narcisa." reconheceu friamente Lúcio.

O lugar pareceu congelar e mesmo de costas Draco podia ver o sorriso de sua mãe morrer. Finalmente tomou coragem e enfrentou o quarto. Era pequeno. Pequeno demais para três pessoas. Tinha uma cama de aparência desconfortável e um vaso sanitário. Além de um buraco, tomado por grades de ferro, próximo ao teto, não havia nenhuma outra abertura. Era um lugar terrível até mesmo para Lorde Voldemort viver.

"O que fazem aqui?" a voz cortante de Lúcio voltou a ser ouvida.

Finalmente Draco olhou verdadeiramente para seu pai. Estava magro, quase esquelético, tinha os cabelos cortados na base do pescoço e suas roupas estavam imundas. Era difícil até olha-lo por um longo tempo.

"Viemos fazer uma surpresa de Natal!" contou Narcisa animada. "Lembra da última vez que estive aqui? Eu lhe prometi que traria Draco para vê-lo."

"Eu pedi para que nunca mais voltasse aqui." Lúcio rosnou para a mulher à sua frente. "Eu lhe disse que não queria vê-la nunca mais! Vocês dois envergonham nossa família se submetendo ao mundo ao qual lutamos para destruir!" gritou enlouquecido.

Narcisa murchou. De repente parecia cansada. Cansada e derrotada. Seu mundo tinha acabado de ruir por completo. A mentira feliz que ela havia criado em sua cabeça sobre sua família estava acabada.

Ela sentou no colchão sujo e chorou.

Draco cerrou os punhos. Seu sangue estava fervendo e todos os sentimentos ruins que havia escondido por tanto tempo estavam transbordando. Raiva, mágoa, dor, vergonha.

"Pare de chorar! Malfoys não choram! Não leve ainda mais o nosso nome para a lama!" continuou a gritar Lúcio. O choro de Narcisa ficou ainda mais alto aos ouvidos de Draco.

"Cale a boca!" gritou Draco para o pai. Suas unhas curtas perfuravam as palmas das mãos e um filete de sangue escorreu por uma delas. "Você foi o único que levou a nossa família para a lama. Você foi o único que destruiu tudo, o único que destruiu a mim, a minha mãe! Tudo o que você toca, desmorona! Você foi o único que quis se tornar um Comensal da Morte, arrastando a todos nós no processo… E a culpa de tudo é inteiramente sua! Então não trate a minha mãe assim quando tudo o que ela quer fazer é consertar as merdas que você tem feito durante a vida! Eu tenho vergonha de você e tenho vergonha de mim por um dia ter tido a vontade de me tornar um homem igual a você. Eu sinto nojo da pessoa que você é!"

"Draco…" tentou Narcisa, levantando para abraçar o filho. A veia em seu pescoço pulsava furiosamente e seu rosto estava vermelho. Seus olhos cinzas estavam escuros e as pupilas dilatadas. Parecia um lobo prestes a atacar sua presa. Narcisa nunca havia visto o filho assim e por um momento sentiu-se assustada.

O abraço funcionou. A raiva foi escorrendo lentamente do corpo de Draco e sua respiração começou a normalizar. Seus ombros ainda estavam tensos e seu maxilar travado mas ele se sentia melhor. Por fim, ele retribuiu o abraço de sua mãe, incapaz de olhar para o homem em silêncio à sua frente.

"Eu estou indo embora, se for sensata o suficiente virá comigo." falou para Narcisa que ainda estava agarrada a ele.

"Eu vou, filho."

Draco suspirou aliviado. Não haviam passado mais do que meia hora dentro daquela cela e já tinha vivido um dos piores momentos de sua vida. O desabafo o tinha libertado mas algo dentro do seu peito havia quebrado. Acima de tudo, Lúcio ainda era seu pai e foi seu herói durante longos anos. A verdade doía mas era necessária.

Draco levantou a mão e com os nós dos dedos deu algumas pancadas na porta de concreto. Alguns segundos depois, o barulho de alguma espécie de trava ressoou pelo cubículo e a porta foi aberta.

"Algum problema, Sr. Malfoy?" perguntou o guarda.

"Estamos indo embora." disse Draco.

Mãe e filho saíram da cela. Draco ainda parecia em uma pilha de nervos.

"Narcisa…" Os dois ouviram a voz de Lúcio e Draco foi o único a girar o corpo para ter um último vislumbre de seu pai. "Cissa…" tentou novamente.

Narcisa apertou o braço de Draco e continuou de costas para a porta. O guarda olhou para os visitantes. Draco acenou com a cabeça. A porta começou a fechar lentamente.

"Por favor…" foi a última coisa que Draco ouviu antes do barulho da porta pesada se fechando invadir o corredor.

(…)

O dia de Natal amanheceu escuro mas a nevasca prometida ainda não havia chegado. Hermione estava deitada em sua cama, enrolada nos edredons mas não havia dormido um minuto sequer durante a noite. Estar sozinha em casa trouxe de volta os pesadelos assustadores e ela tinha medo de fechar os olhos.

Quando as primeiras horas da manhã chegaram, Hermione levantou. Espreguiçou-se e calçou as pantufas de coelhinho que tinha ao pé da cama; eram ridículas mas quentes. Ela desceu as escadas e foi direto para a cozinha. Sentia-se cansada por não ter dormido na noite passada por isso preparou um café e bebeu até a última gota.

Pela vista da janela, viu que chovia fracamente lá fora. O vento balançava com força as flores do jardim as arrancando sem piedade. Era dia de Natal e provavelmente todos estariam sentados em frente a lareira com suas famílias, jogando conversa fora enquanto as crianças brincavam pela casa.

Hermione subiu, vestiu a roupa mais quente que encontrou junto com um casaco de moletom. Voltou a descer, pegou as chaves, o isqueiro de seu pai, a varinha e saiu.

O vento frio bagunçou seus cabelos, deixando-os mais rebeldes do que estavam. Hermione lançou um feitiço de aquecimento em si mesma e guardou a varinha no bolso do casaco.

Começou a andar pela rua, sem rumo. Algumas poucas pessoas na vizinhança estavam sentadas em suas varandas enfrentando o frio. Hermione acenou para uma antiga amiga da família, a Sra. Fierce, que retribuiu o aceno com um sorriso.

As ruas estavam vazias como ela imaginava que estariam. Ainda era cedo e poucas lojas estavam abertas, incluindo a padaria no fim da rua.

A estação de metrô ficava a poucos metros dali e Hermione resolveu ir a pé. Iria pegar um metrô para o centro de Londres e vagar por lá. Na volta para casa no dia anterior, percebeu que sentia saudades da sua cidade natal.

O metrô estava vazio, assim como todo e qualquer lugar por onde ela andava. Ela entrou e sentou-se em um dos bancos. Fechou os olhos por alguns momentos e sentiu o embalo do vagão passando pelos túneis subterrâneos. O metrô fez uma parada na próxima estação e Hermione abriu os olhos. Um casal de idosos entrou e sentou no banco em frente.

"O que uma menina faz sozinha por aqui em uma manhã de Natal?" perguntou gentilmente a senhora depois de uns momentos a observando.

"Dora, que mania de se intrometer na vida dos outros, deixe a menina em paz." resmungou o senhor ao seu lado. Hermione sorriu.

"Apenas espairecendo, tive uma noite difícil." contou. Era mais fácil confessar esse tipo de coisa para um estranho completo.

"Oh, querida, não se preocupe, eu tenho certeza que tudo irá melhorar. O Natal sempre nos traz grandes surpresas." disse a senhora sabiamente.

"Assim espero." suspirou Hermione.

"Próxima Estação: Queensway. Desembarque com cuidado." anunciou o metrô.

"Bom querida, essa é nossa deixa. Tenha um bom Natal." a senhora desejou enquanto levantava com a ajuda do senhor ao seu lado.

"Feliz Natal!" desejou de volta, vendo o casal sair pelas portas de ferro.

Hermione suspirou de novo e fixou os olhos na janela de vidro. As paredes do túnel passavam rapidamente formando uma mancha disforme. No canto da janela, havia um panfleto colado. Curiosa, Hermione fixou seus olhos nele. Em letras grandes e artísticas lia-se: Venham assistir a melhor banda cover dos Beatles, Os Garotos de Liverpool se apresentarão no pub White Hart, na 191 Drury Lane, Covent Garden. Não percam, será uma noite mágica!

Liverpool lhe lembrava alguma coisa. Com um clique, ela lembrou. Liverpool foi o lugar onde Mary Anne conhecera John, o tal garoto por quem havia se apaixonado.

Talvez pudesse voltar para casa mais tarde e ler mais do diário para ver o que poderia descobrir. Cinco estações depois, Hermione ouviu a voz da mulher do metrô avisar.

"Próxima Estação: Tottenham Court Road."

Seus nervos tremeram, trazendo de volta milhares de lembranças. Lembrou de quando seus pais costumavam levá-la ao teatro. Lembrou de quando havia fugido do casamento de Gui e Fleur e como no calor do momento havia os aparatado para lá. Hermione tinha passado tanto tempo pensando em seus pais e se eles estariam seguros. No fim, de nada adiantou.

Quando as portas metálicas se abriram, ela saiu. Havia algumas pessoas na estação mas nenhuma delas lhe pagou nenhuma atenção. Hermione saiu da estação e deu de cara com a neve. Era fraca e congelante. Ela reforçou o feitiço de aquecimento em si e seguiu em frente. Havia uma praça a poucos metros dali e havia algumas poucas crianças brincando com a neve.

Hermione sentou no banco e fechou os olhos. Os flocos cristalizados caíam em seu rosto e derretiam. Apesar do frio, o feitiço mantinha sua pele quente. Com o som das risadas das crianças ao fundo, Hermione deixou seus pensamentos vagarem.

Colocou as mãos no bolso do casaco e sentiu a frieza do isqueiro de seu pai. Ela tirou-o do bolso e acendeu. A chama azul brilhou e refletiu o branco da neve que começava a acumular nas calçadas.

Fazia dois dias que havia voltado para casa e não fazia outra coisa a não ser lembrar de Malfoy. Sentada ali, com um isqueiro na mão, o frio cortante e o céu cinza chumbo, ela suspeitou que não havia como evitar. O próprio inverno era um lembrete constante de Draco Malfoy. Mas ela não queria se deixar pensar nele, tinha medo.

Puxou a varinha do bolso, guardou o isqueiro e aparatou para a Toca.

Pousou milésimos de segundos depois no gramado congelado da família Weasley. Hesitando um pouco por não ser uma visita esperada, bateu na porta.

Lá de fora era possível ouvir as vozes. Provavelmente a casa estava cheia, como todo Natal. A porta abriu e o Sr. Weasley deu-lhe um sorriso caloroso.

"Hermione!" exclamou com alegria. "Não sabia que viria."

"Resolvi fazer uma visita surpresa." inventou.

"E que surpresa mais agradável! Venha, entre, saia desse frio!"

O Sr. Weasley deu espaço para que ela entrasse e fechou a porta.

"Pessoal, olha só quem está aqui!" gritou. Em poucos instantes o som de vários passos surgiram e uma multidão de cabeças vermelhas entrou em seu campo de visão.

"Mione!" chamou Ginny. "Vejo que resolveu vir!" a ruiva riu alegre.

"Sim, uma visita surpresa." repetiu.

"Feliz Natal, Hermione!" desejou Harry. O único distinto de todo aquele mundo ruivo.

"Feliz Natal, Harry! Feliz Natal, pessoal!" desejou abraçando um por um.

"Eu ouvi a voz da Hermione?" perguntou Ron do andar de cima.

"Sim, Ron." respondeu Hermione sorrindo.

Uma sequência de passos na escada e Ron estava em pé ao seu lado.

"Achei que tinha dito que não viria." ele comentou.

"Mas resolvi vir, aliás, feliz natal Ron." brigou.

"Feliz Natal, Mione." murmurou envergonhado.

"Bom, vamos todos voltar aos preparativos do almoço." chamou a Sra. Weasley.

"Posso ajudar, Sra. Weasley?" perguntou Hermione.

"Claro querida, venha."

Ginny puxou Hermione para a cozinha, sendo acompanhada por Fleur e Harry. Os outros permaneceriam na sala para conversarem.

"E então Mione, como foi a noite de Natal?" perguntou Ginny.

Hermione sorriu apesar do aperto no peito.

"Foi ótima. E a sua?"

"Diferente." comentou com um suspiro. "É o primeiro Natal que passamos sem Fred. Jorge se trancou no quarto e não quis descer. Mamãe chorou mas logo depois obrigou-nos a sentar na mesa e ceiar. Foi estranho."

Hermione parecia pensativa.

"Ginny?" ela chamou. "Posso subir e conversar com Jorge?"

"Ele não abre a porta para ninguém, mas se quiser tentar, boa sorte."

"Obrigada." agradeceu.

Hermione desvencilhou-se da amiga e subiu as escadas. Ela sabia qual era o quarto dos gêmeos e tinha certeza de que ele estaria lá.

Ela parou em frente a porta de madeira remendada e bateu. Não houve nenhum som indicando que alguém viria abrir. Ela bateu outra vez.

"Jorge, sou eu, Hermione, deixe-me entrar." ela pediu.

O quarto continuou em silêncio. Ela deu um suspiro frustrado e estava prestes a ir embora quando ouviu o clique da porta se abrindo. Ela segurou a maçaneta, girou e com calma, empurrou a porta.

O quarto estava uma bagunça completa. Não que isso fosse novidade. Jorge estava sentado encolhido na cama de cima da beliche que costumava dividir com Fred. Seus cabelos estavam maiores do que quando o viu na estação e parecia mais magro.

"Jorge?" chamou Hermione.

Ele esticou as pernas para fora da cama e desceu. Ajeitando as vestes, ele olhou para ela.

"Não sabia que viria para o Natal, Hermione." porque as pessoas continuavam a dizer isso?

"Resolvi de última hora."

Ela não sabia como abordar o assunto. Na verdade, não sabia bem o que havia ido fazer ali. Ela continuou parada em frente à porta que acabara de fechar, olhando o homem à sua frente. Sua tristeza era tão grande que doía olhar.

Hermione andou pelo quarto e abriu as cortinas. Um pouco de luz era sempre bom. No canto do quarto, um espelho grande estava coberto com um pano preto. Ela engoliu o nó na garganta.

"Você não parece bem, Jorge." comentou. Ele deu de ombros. "Sabe, eu nunca vi você assim e eu sei que deve ser difícil mas você precisa seguir em frente, para o seu próprio bem."

"Todos dizem isso." ele começou. "Todos acham que é fácil. Como eu vou seguir em frente quando não sou capaz de olhar meu próprio reflexo sem querer estar junto dele? Ninguém consegue entender isso. Ele foi embora e levou metade de mim.”

"Eu entendo, Jorge."

"Não entende! Isso é o que todos dizem, mas ninguém realmente entende!" ele exaltou-se. 

Hermione respirou fundo. O ruivo estava perdendo a cabeça rapidamente.

"Jorge, eu perdi meus pais durante a guerra. Eu entendo você." Ela confessou baixinho enquanto sentava na cama. "Todos nós perdemos parte de nós nessa guerra."

Ele continuou em silêncio olhando para a garota sentada na cama de seu irmão.

"Eu perdi meus pais mas eu estou seguindo em frente. Há outras pessoas com quem eu me importo e amo. Eu quero cuidar delas, protegê-las como não fiz com meus pais."

Jorge sentou ao seu lado.

"Sua família te ama e se importa com você. Eles estão preocupados e angustiados. Seria egoísmo fazê-los sofrer mais do que já sofreram. Não estou pedindo que supere isso da noite para o dia, estou pedindo para que tente."

Ela segurou suas mãos nas suas.

"Olhe para mim, estou seguindo em frente. Eu sei que meus pais estão lá em cima olhando por mim e querem que eu seja feliz. E eu sei que Fred espera o mesmo de você. Não nos esqueceremos deles, mas esqueceremos a dor e lembraremos das coisas boas. As lembranças boas e o amor é tudo o que temos deles para o resto da vida. E é isso que nos dará forças pra viver nossas vidas."

Hermione levantou.

"Nós queremos te ajudar, nós queremos estar nessa com você e podemos superar isso juntos. Pense nisso, tudo bem?"

Ele assentiu.

"Por que nunca contou a ninguém sobre a morte de seus pais, Hermione?" Jorge perguntou quando ela estava prestes a sair do quarto.

"Não contando a ninguém torna tudo menos real e doloroso. Foi a forma que eu encontrei de seguir em frente, ou ao menos tentar."

"Obrigado por vir aqui."

"Não há de quê." ela sorriu e fechou a porta atrás de si.

Uma hora mais tarde, quando todos se reuniram para o almoço de Natal, as conversas cessaram quando Jorge Weasley desceu as escadas e juntou-se à sua família. Ele e Hermione trocaram um sorriso de entendimento. Molly e Artur pareciam emocionados. A mesa redobrou o falatório e todos começaram a se servir.

Hermione observou todos os rostos. Todos mostravam um sorriso sincero, talvez o primeiro para muitos em meses.

O Natal sempre nos traz grandes surpresas.


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Notas finais do capítulo

PREVIEWS TIME!

'"Problemas com a falta de fogo?" ela perguntou. Draco sobressaltou-se e olhou para ela.

A morena estava parada no meio da Torre de Astronomia, os cabelos voando furiosamente em todas as direções, o nariz e lábios vermelhos pelo frio. Um isqueiro dourado brilhava em sua mão direita que estava levantada em sua direção.

"Não preciso disso, Granger." desdenhou. Hermione revirou os olhos.'