LOGAN ON:

Ok.

Eu sabia que contar a verdade não seria algo nada fácil. Também sabia que meu pai iria surtar e gritaria comigo (Muito típico da parte dele). Mas quando eu e Ashley decidimos finalmente contar, - durante o almoço na casa do meu pai, uma semana depois da festinha lá em casa - eu não sabia que as coisas sairiam tão do controle...

~FLASHBACK ON~

— Pai, eu e Ashley precisamos contar uma coisa a vocês... — digo. Seguro a mão de Ashley por debaixo da mesa, sinto que estou suando. Mas resisto a vontade se limpa-la na calça jeans.

— Ah, claro. Pode falar filho — meu pai fala descontraído.

— Eu e Ashley... Estamos namorando.

A mesa ficou em silêncio por um longo minuto.

Sra. Collins parou a colher de sobremesa no ar, como se estivesse sido congelada. Alice encolheu os ombros, certamente se sentindo um pouco culpada por já saber da história. Ashley apertou firme minha mão como se quisesse dizer “Estou bem aqui”. Finalmente olhei para o meu pai, ele me encarava com uma expressão confusa. Um misto de choque e surpresa.

— O QUÊÊÊÊ!? — ele se levanta rapidamente e bate com as mãos abertas na mesa, fazendo-a balançar.

Engulo em seco a sensação desconfortável que senti. Meu pai nunca havia me olhado desse jeito. Parecia que eu tinha acabado de dizer que estava usando drogas. Bom... talvez se eu tivesse dito isso, ele teria reagido melhor.

— Pai... — o chamo. Ele me ignora.

— Você sabia disso? — ele olha para Sra. Collins. Ela já havia colocado a colher sobre a mesa e apenas nos olhava com uma expressão confusa — SABIA TEREZA?

— Claro que não Eric... — ela respondeu no mesmo tom de voz baixo que usava sempre.

Meu pai volta a olhar para mim. Sua expressão está querendo dizer: “Eu não esperava isso de você”.

— Pai, eu...

— Logan — ele me interrompe — Vamos conversar lá no escritório. A SÓS! — disse em um tom sério e se levanta na mesa empurrando a cadeira com força para trás.

Apenas assenti com a cabeça. Olhei uma última vez para Ashley, ela me olhava com uma expressão vazia. Queria saber o que estava passando na sua cabeça agora. Segui papai até o escritório, ele abriu a porta e fez sinal para eu entrar. Entrei e ele fechou a porta logo atrás de si.

— Por favor, diga que você está brincando — ele falou enquanto andava de um lado para o outro. Respirei fundo.

— Nunca falei tão sério, pai — respondi.

— O que você está pensando? Ela vai ser sua irmã! Você entende a gravidade disso? — ele perguntou já alterado.

— Ela nunca vai ser minha irmã! Nós não temos nenhum laço sanguíneo. Eu não estou praticando incesto, se é isso que você quer dizer com “gravidade” — respondo.

— Por que você está fazendo isso? Está querendo me provocar, Logan? — ele perguntou passando a mão no cabelo.

— Claro que não, pai. Eu gosto da Ashley.

— Ah, por favor! Você só pode estar querendo me deixar de cabelos brancos antes do tempo! Você mesmo me disse que queria aproveitar a vida. Que não se “amarraria” em uma garota, como vocês jovens dizem hoje em dia. E então quando você decide gostar de alguém, tinha que escolher justo a Ashley? A filha da minha noiva?

— Pai, eu não decidi gostar dela... Aconteceu. Não se manda no coração. O senhor sabe disso.

— Eu sei... Mas você poderia ter evitado. Poderia ter se afastado dela enquanto tinha tempo — ele falou um pouco mais calmo — Me diz, para que tudo isso?Daqui a alguns meses você estará indo para a faculdade!

— Ir para a faculdade não impede nada.

— Ah, não? E como vocês vão se ver? Ela aqui e você em Nova York ou Londres? Como vai manter um relacionamento a distância?

— Eu não vou para Nova York, muito menos Londres. Eu quero... Fazer faculdade aqui em Los Angeles mesmo.

— Como? Você está trocando a oportunidade de estudar em uma faculdade de renome, só para poder ficar aqui? Os cursos de Medicina de L.A não são tão bons como das faculdade de Harvard, Yale ou qualquer outra.

— Bom, sobre isso... — comecei. Eu já estava ferrado mesmo, então é melhor aproveitar e soltar a bomba — Eu não quero fazer Medicina.

— O que você quer fazer então? Direito? Engenharia? — ele pergunta surpreso.

— Hmm... Nenhuma dessas. Quero Matemática.

— QUÊ!? — Ele gritou. Cedi a vontade de tapar os ouvidos — Como você tem coragem de me dizer um absurdo desses? Que futuro você vai ter fazendo Matemática? Queres passar a sua vida inteira sendo professor quando poderia estar salvando vidas?

— Pai, é uma profissão como outra qualquer. Eu posso não salvar vidas, mas pelo menos vou estar ensinando. Isso também é importante.

— Quando foi que você decidiu isso, e por que não me contou antes? — ele pergunta esfregando as têmporas como se estivesse com dor.

— Faz um tempo — expliquei — Eu não disse nada antes, porque sabia como você ia reagir. Pai, você nunca me perguntou o que eu queria fazer. Eu não vou ser feliz fazendo Medicina só porque você acha que é o melhor para mim.

— Certo, vamos falar sobre o seu futuro acadêmico mais tarde. Temos algo muito mais sério para falar agora... — ele disse colocando a mão no queixo pensando. Depois olhou para cima e só faltei eu ver uma lâmpada piscando em cima de sua cabeça como nos desenhos animados — Já sei! — ele falou mais para si mesmo do que para mim.

— O quê? — perguntei confuso. Ele finalmente olhou para mim como se tivesse acabado de lembrar que eu ainda estava ali.

— Vou ter dar uma segunda chance — ele disse dando um pequeno sorriso.

Segunda chance?

— Se você desistir dessa ideia maluca de namorar a Ashley, eu prometo que te dou um presente — ele prosseguiu — Posso tentar arrumar um show para a sua banda. Ou melhor, te dou aquela moto que você sempre quis! — ele parecia animado.

— Você não pode estar falando sério! — balancei a cabeça incrédulo — Está tentando me subornar? Você acha mesmo que eu vou me vender?

— Eu não disse isso. Veja bem filho, só estou querendo te ajudar.

— Ajudar? É assim que você quer me ajudar? — eu não acredito que meu próprio pai estava falando isso — Estamos falando da minha vida, e não um de seus casos jurídicos! Você consegue entender isso?

— É claro que sim! Por isso que estou te propondo essa ajuda. Logan, tem várias garotas interessantes por ai, você pode ter aquela que quiser. Não precisa ser justo a Ashley!

— Você não entende! — gritei — Eu não quero outro garota! Eu quero a Ashley!

— Não! Ela é praticamente sua irmã! Eu não vou aceitar isso debaixo do meu teto!

— Eu nem moro aqui! — exclamei indignado — O que eu sinto por ela não é um sentimento que um irmão sente por uma irmã! Eu a amo!

Deixei escapar um sorriso. E agora que eu tinha dito isso em voz alta, na frente do meu pai, sabia que era a mais pura verdade. Eu amo Ashley. Como eu nunca amei ninguém antes.

— Não pode ser! Você não pode amá-la! Eu quero que você termine com ela ou senão...

— Ou senão o quê? — o interrompi — Vai cortar a minha mesada? Faça o que você quiser. EU. NÃO. LIGO! — joguei as mãos para cima enfatizando que eu não estava nem ai para a opinião dele. Andei em direção a porta do escritório.

— Logan, volte aqui agora! Eu não terminei! — meu pai disse. Não olhei para trás, mas sabia que ele estava com os punhos cerrados sobre a mesa — Logan Phillip Mitchell, não ouse sair por essa porta!

Eu já estava com a mão na maçaneta. Girei e abri. Sai do escritório e bati a porta com a maior força que consegui. Andei rapidamente pelo corredor que levava até a sala de estar, parei por um instante e olhei em volta. Nenhum sinal de Alice, Sra. Collins ou Ashley. Escutei uma pessoa gritando e sabia que era meu pai. Sai da sala antes que ele aparecesse e continuasse com o seu sermão. E passei pela porta da frente.

Eu precisava ficar sozinho. E só havia um lugar onde eu poderia ir agora.

~FLASHBACK OFF~

E aqui estava eu.

No meu lugar especial, onde eu fugia do mundo. Onde meu pai não podia me encontrar. Era como se existisse apenas eu e Los Angeles debaixo de mim.

O único lugar onde eu me permitia chorar, já que ninguém iria ver. O me esconderijo do resto do mundo.

ASHLEY ON:

Assim que Logan e Eric foram para o escritório e se trancaram lá dentro, minha mãe foi para a cozinha. Quando cheguei lá , ela estava esquentando água e disse que faria um chá. Não estávamos na nossa casa, mas ela tomou a liberdade de procurar uma chaleira no armário. Alice estava sentada em uma banqueta alta, fazendo seus pés baterem no ar, e apoiou os cotovelos sobre o balcão de mármore enquanto observava nossa mãe. A partir do momento que eles se casassem, nós iríamos morar aqui. Vou sentir falta da minha casa, do meu quarto, o lugar onde me fazia lembrar do meu pai.

Minha mãe estava calma, como ela sempre foi. Não parecia que tinha acabado de saber que a filha estava namorado com o seu futuro enteado.

Perguntei se ela estava brava comigo. Ela respondeu que não, apenas surpresa com a noticia. Prometeu que falaria com Eric a respeito disso e tentaria convencê-lo que não fazia mal nós dois namorarmos. Fique aliviada em saber que minha mãe estava do meu lado, ela sempre foi muito compreensiva. Talvez já tenha visto uma situação parecida como essa com alguns de seus pacientes. Uma vantagem de minha mãe ser psicóloga: Ela sempre escutava sem me interromper, e só dava a sua opinião se eu pedisse. Eu amava isso nela.

Quando escutamos vozes e um barulho de uma porta se fechando com força, eu sabia que a conversa não tinha sido nada agradável. Escutei Eric chamando o nome do filho, mas não ouve uma resposta. Logo depois, ele entra na cozinha com uma expressão estressada e me encara, abaixo o olhar. Minha mãe fala para irmos para a sala e eu faço isso sem protestar. A única coisa que eu precisava agora era Eric me dando um sermão. Acho que eu começaria a chorar assim que ele aumentasse o tom de voz comigo.

Eu e Alice fomos para a sala de estar e eu sentei no sofá, me sentindo arrasada. Minha irmã vai até a janela e fica observando algo por um tempo, depois vem até a mim e diz que o carro de Logan ainda está na garagem. Então isso significa que ele não voltou para casa dos meninos.

Uma frase que Logan me disse no primeiro dia que eu vim aqui, apareceu na minha cabeça: “Eu sempre venho aqui quando eu quero ficar sozinho, botar as idéias no lugar. Daqui eu posso ver a cidade toda. É o meu esconderijo do resto do mundo”.

E então, eu sabia exatamente onde ele estava. Um lugar que além dele, só eu sabia onde era.

[...]

Sai da casa e caminhei pela rua com casas enormes e lindas onde Eric morava. Subi o pequeno morrinho e cheguei no tal lugar.

Lá estava ele. Sentando em uma enorme pedra, olhando para a cidade. Caminho em direção onde ele está, mas paro alguns metros antes.

— Logan? — o chamo. Ele não se mexe.

Chego mais perto e vejo que ele está usando fones. Mesmo a música estando muita alta, não consigo reconhecer a canção que ele ouve. Sento ao seu lado sem dizer nada. Ele finalmente olha para mim e dá um pequeno sorriso, tira o celular do bolso e pausa a música.

— Oi — ele diz tirando o fone do ouvido e enrola no celular.

— Oi. Como você está? — pergunto.

— Péssimo — ele responde. É claro que ele não estaria bem, foi uma pergunta um tanto tola para se fazer nesse momento — Meu pai não aceitou bem.

— Imaginei... A cara dele quando apareceu na cozinha, já dizia tudo.

— Ele falou algo para você?

— Não... Só me encarou. Logo depois eu e Alice saímos da cozinha, minha mãe havia preparado um chá e tentaria falar com ele sobre isso.

— Não acho que um chá e uma conversa vai fazer ele mudar de ideia — Logan vira a cabeça e observa a cidade abaixo de nós, como se estivesse apreciando a vista.

— Logan, talvez contar a verdade não tenha sido uma boa ideia. Estou me sentindo culpada — confesso.

— Não se sinta — ele volta a olhar para mim e toca minha mão que está sobre a pedra. Quando olho para o seu rosto, percebo que ele está mais branco do que o normal — Você não tem culpa de nada.

— É claro que tenho — protesto — Seu pai sempre falou tanto bem de você, nunca ouvi ele falar algo que não fosse um elogio. E agora... Vocês brigaram. Se eu não tivesse aparecido na sua vida...

— Ei!— ele me interrompe e passa a mão livre sobre o meu rosto. Sua mão está tão gelada que chego a sentir um calafrio com o toque — Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida nos últimos tempos. Nunca mais diga uma besteira dessas, ok?

Apenas balanço a cabeça em concordância.

— Assim que ele esfriar a cabeça, tentarei falar com ele novamente — Logan informa.

— E se ele não aceitar?

— Foda-se a opinião dele.

— Logan, não é bem assim. Ele é seu pai — comento.

— Ele nunca agiu como um — ele respira fundo — Foi por isso que eu fui morar com os garotos assim que viramos amigos. Porque eu não aguentava mais ficar sozinho naquela casa, enquanto meu pai passava uma semana, as vezes duas, viajando. Eu aprendi a cuidar de mim mesmo — ele prossegue — Na frente dos outros, ele parece um bom pai. Sempre me elogiando, dizendo que sou um bom filho, que só tiro notas altas. Mas é só eu ganhar um B que já faz um escândalo dizendo que eu não me esforcei. Você acha que isso é ser um bom pai?

Na hora, não sei o que dizer. Meu pai não acompanhou muito vida escolar, já que morreu quando eu tinha apenas nove anos. Mas ele nunca brigou comigo por ter ganhado uma nota baixa. Apenas dizia “Na próxima você estuda mais, ok?”. Eric era totalmente diferente e só agora eu sabia disso.

— Você tem sorte que seu pai ainda está aqui — deixo escapar e logo me arrependo. Abaixo a cabeça.

— Oh — Logan diz preocupado — Me desculpa. Eu não tive a intenção de dizer isso...

— Tudo bem — respondo encolhendo os ombros.

— Não, eu sei que não está. Você tem toda razão... Posso ter um pai rabugento, mas isso significa que ele se importa pelo menos um pouquinho comigo.

— Ele se importa muito com você... Só devia demonstrar mais isso.

— Pois é — ele responde dando de ombros — Mas e você?

— O que tem eu? — pergunto me sentindo um pouco perdida.

— Como foi a conversa com a sua mãe? Digo, ela gritou com você ou algo do tipo?

— Eu nunca vi minha mãe alterando o tom de voz, acho que ela nunca gritou na vida — digo me recordando da minha infância — Ela apenas disse que ficou surpresa pela noticia, mas aceitou bem.

— Que bom. Mas acho que preferia cinco Sra. Collins bravas do que apenas um Sr. Mitchell — ele dá um sorriso forçado.

—Vai dar tudo certo, não se preocupe — digo. Eu não tinha certeza disso, mas eu precisava acreditar que sim.

— Desde que você esteja ao meu lado, eu não preciso me preocupar com mais nada — ele esboça um sorriso, daqueles que fazem suas covinhas ficarem mais fofas do que o normal. Sorriu de volta e ele entrelaça nossos dedos — Eu te amo.

Devo estar sorrindo igual uma tola agora. Eu não podia estar mais feliz por ouvir isso, especialmente vindo dele. Sei, que Logan está sendo sincero. Seus olhos castanhos estão brilhando nesse exato momento, e ele me observa aguardando a minha resposta.

— Eu também te amo — me inclino em sua direção e o beijo.