Chovia forte do lado de fora do internato Lutwidge, o que forçava os alunos a permanecer dentro do local até que a chuva parasse. Irritava alguns alunos, mas não era o caso de Leo.

Elliot encontrava-se emburrado, sentado próximo ao colega, apoiado numa estante da biblioteca. Nem se importava em procurar por algum livro ou mesmo se distrair com um, apenas fitava o servo de um modo desagradável. Leo sentiu-se desconfortável, percebendo que estava sendo observado — por sinal, já fazia algumas horas.

Direcionou os olhos escondidos pelos grandes óculos redondos para o Nightray discretamente, de modo que o loiro não percebesse. Ainda fitando o jovem, virou a página do livro como se o lesse ainda. Abriu levemente a boca para dizer algo mas não permitiu que alguma palavra saísse. Logo fechou os olhos, abaixando a cabeça e mordiscando o lábio inferior.

Suspirou, para logo em seguida fechar o livro, fazendo Elliot questionar mentalmente o motivo da ação repentina do servo.

— Elliot, você não ia ler Holy Knight? - perguntou, num tom calmo.

— Não. - respondeu, seco.

— Você quem disse que iria ler. - rebateu, sem mudar o tom de voz.

— … - rosnou, irritado. - E-eu não disse isso. - cruzou os braços. Leo arqueou a sobrancelha esquerda, percebendo a hesitação do loiro. Pigarreou, chamando-lhe atenção.

— Hm, quer me dizer alguma coisa? - perguntou, esperando por alguma frase do Nightray.

— Não. - pronunciou irritadiço. Leo revirou os olhos, deixando o livro de lado.

— Aliás, sabe que dia é hoje?

— O quê? - o loiro indagou, confuso.

— Que dia é hoje. - repetiu.

— Seis. - respondeu, ainda emburrado.

“O que ele está querendo afinal?”

— De? - Elliot franziu o cenho. Talvez o garoto realmente não soubesse que dia era, mas Leo não saber que mês estavam já era estranho demais.

— Setembro. Aí, qual é o dessas perguntas?! - exclamou, cruzando as pernas e cerrando os olhos impaciente.

— Era apenas para confirmar uma coisa… - respondeu, num tom calmo — o que deixara Elliot ainda mais irritado.

— Que coisa? - estreitou os olhos.

— ...Nada demais. Isso muito provavelmente irritaria você, então não é seguro falar sendo que estamos numa biblioteca. Você levantaria o tom de voz. - suspirou impacientemente.

— Começou, termina. Eu vou levantar o tom de voz de qualquer jeito se você não falar! É o meu servo ou não?! - reclamou, levantando-se e aproximando-se de Leo, que não se moveu ao ver o mestre aproximar-se de si. Elliot fez um sinal com a mão para o garoto se levantar também.

O servo sentiu-se um tanto confuso com a ação do loiro, mas apenas fez o mandado e o acompanhou até a saída da biblioteca.

Leo observava os passos pesados do mestre que o guiava pelos corredores do internato, e já tinha ideia de onde o loiro estava o levando. Elliot era tão imprevisível e talvez fosse aquilo que deixava o servo tão vidrado na personalidade forte do loiro. Piscou um par de vezes, enquanto andava calmamente em passos largos atrás do Nightray.

Era incrível como apenas aquilo o deixara tão irritado. Tinha certeza que Elliot acharia aquilo tudo ridículo, caso contasse. Mas talvez nem devesse ter perguntado algo a ele se já tinha certeza do que aquilo representava.

E além de tudo, aquela data já estava deixando-o nervoso também.

O Nightray, perturbado com uma simples frase do servo, guiava-o em movimentos confusos e silenciosos pelo corredor. Sempre odiou que Leo escondesse coisas do mesmo e mesmo aquilo não parecendo de suma importância, fazia questão de entender sobre o que se tratava. Afinal, sempre forçou — até demais — a barra da relação dos dois por querer saber tudo sobre o mais novo.

Elliot andou até o quarto dos dois, abrindo a porta e fazendo um gesto para Leo entrar primeiro. Assim que o servo adentrou o cômodo, o Nightray fechou a porta — já dentro do quarto.

Elliot virou-se para si, de braços cruzados e um olhar desafiador.

— Não estamos mais na biblioteca. Poderia me dizer agora? - arqueou ambas as sobrancelhas, estalando a língua. Leo desviou o olhar.

— Por que está fazendo tanta confusão por causa disso, Elliot? Sério, não tem importância. - o servo já perdia a paciência com a insistência do mais velho, que ainda sim fazia uma batalha entre os próprios dedos nervosamente. Cerrou os olhos, irritado.

— Porque você sempre começa as coisas e não termina.

— Mas não tem importância, idiota. - murmurou a última palavra, rangendo os dentes.

— ...Você nem parece um servo. - sussurrou.

Leo estreitou os olhos, fitando o mestre.

— Só estava com uma pequena dúvida, mais nada. - deu de ombros. Elliot olhou-o nervoso, perante a calma do servo.

— Por que está tão calmo?

— Hein?

— Você normalmente é tão nervoso. - sussurrou, fitando o chão e abaixando as sobrancelhas.

— Ah. - pronunciou, seco. - Talvez seja porque hoje é Dia do Sexo. Se bem que isso não costuma me deixar de bom humor.

— … - Elliot encarou-o surpreso pela frase. - É o quê?! - o Nightray levantou o tom de voz, fazendo Leo fitar o loiro, sorrindo sem graça.

— Eu disse que você ficaria nervoso. - argumentou.

— Mas… dia do…

— Sexo. - completou, enquanto o outro parecia confuso. - Hoje é dia 06/09. Eu falei que não era nada importante.

— Ah…

— O quê, você não sabia? - zombou o servo.

— Hm? - o outro voltou para a postura inicial, sentindo seu rosto queimar por um momento. - C-Claro que sabia. - argumentou, cruzando os braços.

— Claro, claro… - disse, pouco convencido. - Eu vou voltando para a biblioteca então, ainda preciso pegar um livro. - Elliot assentiu, desviando o olhar. - Pode vir também, se quiser.

— Não, er… eu ficarei aqui. - o Nightray afastou-se um pouco do servo, passando os fios de cabelo que caíam sobre sua face para trás.

— Tudo bem então.

Leo aproximou-se do mestre, ficando cara a cara com o mesmo. Fitou seus olhos, ficando na ponta dos pés afim de ficar de seu tamanho, apoiando-se em seus ombros. Aproximou seu rosto do rosto do loiro, que ficou sem reação perante aquilo. O servo finalmente encostou seus lábios nos do mais velho, dando início e um rápido fim à um simples selinho. Afastou-se do Nightray como se nada tivesse acontecido, sorrindo levemente para o mesmo e acenando.

— Feliz Dia do Sexo. - pronunciou, antes de sair do quarto e fechar a porta, deixando Elliot sozinho.

O loiro, ainda não conseguindo ter nenhuma reação ao ato anterior do servo, passou os dedos pelos lábios, sentindo um estranho formigamento nos lugares tocados por Leo.

Afinal, aquilo chegava a ser normal. Leo sempre o deixava confuso, ao menos no final de todo dia. Num dia estranho como aquele, ainda mais sendo avisado pelo próprio servo de uma data que nem imaginava que existia, já fazia parte da rotina deixá-lo um tanto atordoado.

Talvez devesse ser melhor ignorar. Afinal, aquilo era coisa que melhores amigos faziam.

Ou algo a mais talvez.

Só talvez, mas em segredo.