POV SAMANTHA.

– Olá Nico... – Disse uma voz grossa que fez um arrepio percorrer duas vezes meu corpo inteiro. Minha alma foi e voltou. Quando olhei na direção da voz, e vi um homem alto com calça e jaqueta de coro e barba escrota. Esse é Hades? Ele não dá tanto medo assim.

Estávamos em uma espécie de sala, não era muito grande, fogo cintilava nas paredes. O som de fundo? Gritos e gemidos de almas perdidas sendo torturadas – Vejamos o que temos aqui... Meu filho, um sátiro patético, e uma garota... Quem é você?

– Samantha Hunter. Sou filha de Poseidon – Afirmei com um tom frio na voz.

– Não gosto do seu pai, que infelizmente é meu irmão – Comentou rolando os olhos. “Já ouvi isso antes” Pensei com raiva. – Bem que eu senti um cheiro de maresia. – Disse com desgosto. - Mais ora,ora,ora, então Poseidon teve mais um filho?

– Não, não, sou adotada! – Quando eu disse isso, Grover e Nico me olharam com cara de “o que DIABOS você ta fazendo?” 

– O que disse? – Perguntou Hades andando calmamente em nossa direção.

– Sabe, até que você não é tão assustador quanto eu pensei... – Disse eu cruzando os braços - Mas, não tem um pingo de senso de moda.

– Você é atrevida heim garota? – Ele disse parando a cinco passos de mim.

– Talvez eu tenha puxado o temperamento do meu titio – respondi – Ades. O famoso tio suquinho!

– Como? – Hades me olharou com fogo nos olhos.

– Já ouviu falar no suco da marca Ades? Mais não gosto muito deles, quem sabe porque o “nome” não me atrai... – Disse fazendo aspas com a mão. Abri um sorriso cínico que fizeram Grover e Nico estremecer. As narinas de Hades se mexiam constantemente de tanta raiva.

– VOCÊ QUER ENCARAR MINHA FÚRIA GAROTA? – Ele falou estranho, bem mais grosso, que me fez arrepiar. Sua pele começou a esquentar, fumaça saía por todo o corpo. Seus olhos eram chamas vivas.

– Pai, nós viemos em uma missão. Precisamos tirar daqui uma semideusa, ela precisa de ajuda – Interrompeu Nico enquanto Grover se colocara na minha frente me salvando de uma provável morte.

– Você está morta – Hades me ameaçou. Mais voltou ao seu controle. - Pelo jeito foi fácil passar pela porta não é? Eu senti a presença de vocês, mais eu queria testar o quanto vocês eram inteligentes. Projeto de Dédalo. Aquilo é só para forasteiros que pensam que podem entrar aqui sem mais nem menos. – Disse o deus dos mortos como se isso fosse relevante. Hades deu um sorriso cínico. – Eu sei que alguns dos semideuses viriam mais cedo ou mais tarde. – Ele me olhou - Enquanto você, filha de Poseidon, não fui com a sua cara garota. Quem sabe eu não te mato, e faço você também comandante do meu exército hãm? – Disse ele erguendo os braços para cima.

– Obrigado pela oferta. Mas terei de recusar. Então... quero terminar logo com isso. Vamos? – Foi quando Nico interrompeu.

– Pera i... “também"?

– Sim. Uma garota indefesa, sozinha, que não sabia o verdadeiro caminho da sua vida – Hades disse ironicamente. - Eu fiz um favor a ela, a garota...

– Cadê ela? – Perguntei rangendo os dentes encarando o deus dos mortos nos olhos. Eles eram intensos e sombrios. Lembravam... Nico.

– Nossa, a garotinha é petulante igual o pai – Ironizou ele novamente – Ela está ali... – Hades estalou os dedos e a nossa direita, encostada na parede, estava a garota enrolada em um emaranhado de correntes que saíam da parede. Estava desacordada. – Vocês não vão conseguir tira-la daqui.

– Como tem tanta certeza? – Perguntei estreitando os olhos.

– Eu andei pensando... – Disse ele pensativo sentando em uma cadeira que apareceu do nada atrás dele – Que tal fazermos um acordo? Eu amo acordos. Se vocês conseguirem vencer meus três guerreiros mais poderosos, vocês poderão levá-la e sair sãos e salvos por aquela porta. Agora, se perderem, você – Disse apontando para mim – Ficará aqui e comandará o meu exército.

Ele abriu um sorriso maligno.

Grover, Nico e eu ficamos em silêncio tentando absorver a proposta de Hades. Nico começou a balançar a cabeça negativamente. Isso não é bom.

– Eu topo – Eu disse sem pensar em nenhuma circunstância – Mas, eu irei lutar se deixar Nico e Grover fora disso.

– Hum... Obviamente eu não quero meu filho morto, eu posso precisar dele qualquer dia pra fazer alguma coisa insignificante. Esse sátiro não tem diferença, apesar de ter uma áurea um tanto... Diferente de outros. Eu já te vi? – Hades perguntou estreitando os olhos para Grover.

O sátiro balançou a cabeça positivamente.

– Ahhhh, você é aquele sátiro que desmaiou após a notícia que se tornaria... – Hades não terminou a frase e começou a gargalhar. Era até uma risada contagiante, mais eu não me atrevi mudar de expressão. Grover de amarelo ficou vermelho, que depois ficou roxo. - Então... está bem.

– Não, nem pensar, você está louca? Fazer um acordo com Hades? – Disse Grover com os olhos arregalados para mim.

– É, nem pensar... – Disse Nico olhando para frente – Pai, eu irei...

– NEM PENSAR SENHOR NICO DI ÂNGELO! – Gritei olhando para Nico que estava a minha frente - Eu irei e não discuta comigo.

– Eu também vou Sammy, sou seu protetor lembra? – Disse Grover colocando a mão em meu ombro. Assenti com a cabeça. Grover parecia determinado, não ia me deixar lutar sozinha e eu sabia disso. Mas eu queria mostrar que eu era capaz.

– Eu também vou – Disse Nico me olhando pelo canto dos olhos. 

– ÓTIMO! OS TRÊS... ACORDO FECHADO? – Interrompeu Hades num tom de voz alto fazendo as paredes tremer.

– Como você tem coragem de matar o próprio filho? – Perguntei de cabeça baixa e fechando o punho.

– Na verdade, ele vivo ou morto, não vai fazer diferença pra mim – Respondeu Hades sem encarar Nico. Eu não acredito no que ele disse.

– ELE É SEU FILHO, COMO PODE PENSAR ASSIM? APOSTO QUE NA HORA DO “TCHAM-TCHAM” – Fiz aspas com os dedos. - VOCÊ BEM QUE GOSTOU NÃO É? – Gritei.

– Deixa Samantha. Deixa pra lá – Sussurrou o filho de Hades. Sua voz tinha um tom triste.

– Vou perguntar mais uma vez – Disse Hades – Acordo fechado, ou não? Prometo pelo rio Estige – Completou-o com um sorriso cínico e com a mão erguida pra cima.

– Sim. Acordo fechado. Pelos três, juramos pelo Rio Estige – Disse Nico decidido atrás de mim. E o melhor, encarando seu pai olho a olho.

– CONHEÇAM SEUS OPONENTES – Gritou Hades. Ele estalou os dedos e três sombras foram se formando de pouco a pouco à nossa frente. Na frente do Grover apareceu um garoto, alto, moreno, ombros largos, forte.

Um trovão ribombou no alto, selando o acordo.

Hades sumiu.

– Charlie? – Sussurrou Grover.  

Na frente de Nico, apareceu outro menino, um pouco mais alto do que eu com cabelos cor de areia.

– Luke – Disse Nico com desprezo.

Mas quando a terceira sombra apareceu. Nico e Grover ficaram pasmos.

Era uma garota, um pouco mais alta que eu, cabelos pretos.

– Bi... Bianca? – Gaguejou Nico.

“Bianca? A Irmã dele?''.

Olhei Nico e ele estava tremendo.

– Eles não tem a pupila do olho – Disse olhando para o trio.

Tanta coisa pra reparar é claro que eu olho a que menos importa.

– Estão sendo controlados por Hades. É como se eles não tivessem consciência de si. Suas almas não estão aqui. Hades não escolheu os melhores lutadores, e sim, os que nos afetaria emocionalmente. – Disse Grover.

– Ei, ei, calma. Não é ela Nico – Susurrei para ele - Seu pai está controlando eles. Não se desespere, mantenha o foco.

– Se meu pai pensa que eu vou pegar leve só porque ele era um semideus, ele está muito enganado. - Sussurrou Nico pra ele mesmo. Sorri.

Fui mas á frente de Bianca. 

– Muito bem. Mas, esse não é um típico lugar de luta, não é mesmo? – Disse Hades reaparecendo e estalando os dedos, e em um piscar de olhos, estávamos no meio de uma rocha, e circulando ela, estava uma espécie de rio. Mas ao invés de estar passando água, passava almas. CÉUS, ALMAS! Não havia nada mais que isso. Então, ou morreríamos pelas mãos dos guerreiros ou afundados no Rio Estige. 

Maravilha.

Nós três num rápido movimento pegamos nossas espadas e nossos escudos. Arrepiei-me com aquele lugar – Muito melhor não acham? É pra deixar a luta mais interessante. COMEÇEM! – Finalizou Hades desaparecendo da nossa frente.

Arqueamos nossas espadas ao mesmo tempo e começamos a lutar, Grover com o tal de Charles, Nico com Luke e eu com Bianca.

Bianca era rápida, mais eu conseguia defender todos os seus golpes. Percebi que ela tentava golpes baixos, principalmente para me derrubar, então a minha preocupação tinha que ir para os meus pés. Vários tinir de espadas ecoavam pelo lugar.

Bianca num rápido movimento, mirou no meu pescoço e atacou, consegui desviar no exato segundo, mas perdi uma mecha de cabelo. Ficamos uns 5 minutos nessa brincadeira, mais eu já estava esgotada. De relance eu vi bem distante de mim, Grover tentando derrubar seu adversário no rio. “Isso! É só eu derrubar Bianca!” Pensei. Mas, sem me dar tempo de pensar, ela me atacou novamente, sua espada se chocou contra minha e estávamos medindo força, senti uma gota de suor correr pelo meu rosto. Bianca deu um sorriso sombrio o que me fez arrepiar, então ela me empurrou e eu cai para trás. Nesse momento ela correu em minha direção com a espada apontada para meu peito. Protegi-me com o escudo, fazendo ela se esquivar, senti um chute no escudo e levantei–me e não avistei Bianca em lugar algum.

Sinto um solavanco, quando de repente eu estava caindo em um abismo sem fim em direção ao rio, com Bianca di Ângelo agarrada a mim.

– SAMANTHA! - Ouvi a voz de Nico e apaguei.

POV NICO.

Eu estava lutando contra Luke, como sempre ele era um bom esgrimista. Sempre com os melhores golpes, mais eu também tinha me aperfeiçoado com o tempo. Quando avistei uma cena que sinceramente vou guardar para o resto da minha vida.

Raiva.

Desespero.

Medo.

Samantha havia caído no rio Estige, e eu só tive tempo de gritar seu nome.

Luke usou minha distração para dar um golpe em meu rosto, abaixei e rodopiei e no mesmo impulso, arquiei minha espada para trás, e voltando em direção a seu pescoço decapitando sua cabeça sem dó nem remorso e corri para a ponta da rocha onde estávamos. Gritei por Samantha mas provavelmente ela não estava mais me ouvindo. Talvez estivesse... Morta. Filhos de Poseidon podem dominar a água, mas não o rio Estige que é recheado de almas e controlados pelo Deus dos mortos.

Entrei em desespero. Chamei por Grover que rapidamente deu um jeito de se livrar da alma guerreira de Charles. Ele correu até mim e rapidamente entendeu tudo. Eu não respirava.
Minha voz não saía mais. Minha visão estava embaçada.

Minha única esperança era pensar que Samantha era esperta e sairia de lá viva.

– Filho, que bom ver você.  Onde está a garotinha petulante? Provavelmente fazendo partes de mais uma das almas que temos por aqui, não é? – Perguntou Hades que surgiu atrás de nós.

Levantei-me e encarei meu pai nos olhos.

– Pai, qual é o seu problema? – perguntei, minha voz saiu quase um sussurro.

– O que disse? – perguntou de volta.

– Traga ela de volta – agora minha voz saiu ameaçadora. Gostei disso.

– Trazer ela de volta? – ele riu – Fizemos um acordo. Ela está por conta própria e risco.

Mordi meu lábio inferior. Nunca tinha enfrentado meu pai, mas sentia vontade de fazê-lo.

– Ela ainda está viva, posso sentir isso – Afirmei.

– Sim, ela está mas, por quanto tempo? – perguntou meu pai, sua voz me deu calafrios. Grover não parava de tremer ao meu lado e nos encarar. Eu não conseguia pensar direito, por mais que Samantha estivesse liderando a missão ela ainda era minha responsabilidade. Desde o dia em que chegou ao acampamento senti que ela era propriedade minha. Eu não podia deixá-la morrer.

Nesse momento pensei em me jogar naquele Rio e afogar todas as minhas angustias de que aquilo não deveria ter terminado assim. Fechei meus punhos e abaixei a cabeça. Quando Grover pôs as mãos em meu ombro e vi meu pai de olhos arregalados.
Atrás de mim, ouvi uma voz.

– Desculpe senhor Hades, mas não será tão fácil se livrar de mim – Disse a menina que portava um tom de voz confiante.

Sorri.