O Filho Do Fogo & A Filha Da Água escrita por Latoya Lua, Glau Souza VI


Capítulo 42
Capítulo 42


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, aproveitem a leitura!!!



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POV NICO

Eu não conseguia pensar mais em nada. Meu coração palpitou mais uma vez e parou quando ouvi a resposta de Hades.

“Natália já não lhe avisou? Vim pessoalmente acertar as contas com você. Diga Adeus.”

Então ouvi um grito e logo depois um barulho alto, parecia algo caindo. Na verdade, desmoronando.

Silêncio.

Desliguei o telefone.

– Meus Deuses, não pode ser, não pode ser... - Eu continuei a correr. Lágrimas caiam sem parar dos meus olhos. Eu corria a velocidade que minhas pernas não aguentavam. Atravessei a rua na frente dos carros. Eu esbarrava em pedestres. Ouvia um som abafado da rua, das pessoas, mas era como se minha audição estivesse falhando. Ouvia tudo abafado. Eu não conseguia prestar mais atenção em nada, só nos longos 3 minutos que eu teria que percorrer até chegar no apartamento.

Então, sem nem ao menos pensar liguei para a emergência.

“Emergência, em que posso ajudar?”

Era uma mulher.

– Uma grávida, acho que ela se machucou no apartamento dela enquanto estava no telefone comigo. Preciso que um médico vá para lá, ela pode estar muito ferida... – Minha voz foi falhando. As lágrimas aumentando junto com meu desespero. Meu coração cedia a cada segundo e a distância parecia não acabar.

“Pode me dar o endereço do local, senhor?”

Merda, eu não sabia qual era o nome da rua, mas já avistava o condomínio dela. Não sei como, mas consegui aumentar o ritmo da corrida. Minha respiração totalmente descontrolada. Meu coração na boca.

“Senhor?”

A moça me chamou.

– Eu não sei o nome da rua, estou tentando ver o nome do prédio – Consegui dizer em meio a corrida.

“Senhor, tenha calma.”

– ESCUTA AQUI, ELA ESTÁ GRÁVIDA E PODE TER SIDO ATACADA DENTRO DO APARTAMENTO DELA, SE VOCÊ ME MANDAR TER CALMA MAIS UMA VEZ EU JURO QUE MANDO VOCÊ IR PRA... – Eu ia falar mais consegui avistar o nome do edifício. – Eventi, esse é o nome do edifício. Está no número 104, é próximo à 7ª Avenida. O número do apartamento é 243 – Com a minha dislexia a coisa ficou bem mais complicada mas eu consegui.

“Muito bem senhor, vamos mandar uma ambulância para lá agora...”

Não esperei ela dizer e já desliguei o telefone. Eu já havia chegado no prédio. Passei rapidamente pela recepção e eu não podia subir até o 24º andar pelas escadas, se não eu morreria.

– SEGURA O ELEVADOR! – Gritei avistando que a porta estava se fechando. A pessoa segurou.

– Nossa, pra que a pressa? – Olhei para a mulher que havia falado.

– Patrícia, graças aos Deuses... – Ela me olhou confusa e reparei que ainda estava com uniforme de enfermeira do hospital.

– Mas o que houve Nico? Porque você está chorando? – Ela passou as mãos pelo meu rosto. Eu não conseguia encara-la – Samantha? Minha filha... ONDE ELA ESTÁ NICO? – Ela se exaltou.

Respirei fundo. Eu emitia barulhos estranhos na tentativa de segurar o choro.

– Você vai ter que me ajudar Patrícia, Samantha pode estar ferida – Consegui dizer com a voz embargada – Eu a deixei sozinha por alguns minutos... E... E... Eu prometi que não ia deixa-la, eu prometi – Eu disse enquanto encostava na parede do elevador.

– Nico... Por favor, não me apavora, fala que é brincadeira – Os olhos de Patrícia começaram a marejar.

– Queria que fosse mentira... – As portas se abriram - SAMANTHA! – Eu gritei e saí em disparada deixando Patrícia pra trás.

Corri até a porta e ela estava entre aberta. Meu coração parecia que não batia mais.

Então eu abri a porta.

Isso com certeza, foi pior do que vê-la caindo naquele rio de almas no submundo. Me deu uma vontade de gritar, de quebrar tudo. Eu havia prometido que nada aconteceria à ela e nem ao nosso filho.

E mais uma vez tudo ficou em câmera lenta, minha audição falhara. Só eu e minha culpa agora.

Samantha estava caída no final da escada. Estirada no chão totalmente desajeitada no final dos degraus. Comecei a correr até ela.

– Sammy, por favor, não... Por favor... – Eu tentava dizer, mas minha voz não saia. Meus passos pareciam não ser rápidos.

Quando eu finalmente toquei em Samantha. Ela estava gelada, havia sangue por toda a roupa. Senti algo chegando perto de mim, mas não ligara.

Minha audição começou a voltar e foi fluindo o que realmente estava acontecendo. Então eu voltei a realidade novamente. Patrícia gritava desesperada ao meu lado. Chorando e gritando o nome de Samantha, colocou seu ouvido em seu peito e disse o que me aliviou um pouco.

– ELA ESTÁ VIVA, ESTÁ VIVA... – Patrícia gritava. Colocou suas duas mãos sobre o peito e começou a pressionar. Massagem cardíaca – NICO! – Ela me gritou. Eu não sei o que estava acontecendo comigo, meu corpo não respondia. Eu estava paralisado, olhando a cena, ajoelhado ao lado dela sem me mexer. Eu sentia que minha vida acabara ali. A razão dela estava morrendo... – NICO! – Eu finalmente olhei para Patrícia. Seus olhos estavam vermelhos e marejados, sua boca tremia, mas parecia firme – Preste atenção em mim, você está em choque então se concentre no que eu vou falar, balance a cabeça que sim, Nico...

Assenti. Ela mandou pegar algum pano e colocar sobre o corte que ela tinha na barriga para estancar o sangue. Arranquei um pedaço da minha camiseta. Quando eu levantei a blusa de Samantha, o corte era maior que eu pensava.

Patrícia olhou para o corte e começou a chorar novamente e continuando a gritar para que Samantha acordasse, mas não parou a massagem. Eu só pensei no meu filho naquela hora. Será que ele estava vivo? Tem que estar... Tem que estar.

Nessa hora eu senti um puxão pra trás e vi várias pessoas rodeando Samantha ao mesmo tempo. Levantei do chão, vi dois paramédicos enrolando uma faixa em sua barriga, outros pegaram um equipamento de oxigênio e colocaram nela, traziam uma maca amarela, enquanto imobilizavam o pescoço de Samantha. Tudo em uma incrível agilidade.

– Graças a Deus você chamou a emergência Nico, não sei quanto tempo eu aguentaria ali – Patrícia me disse enquanto acompanhavam os médicos ao lado da maca. Era muita informação pra minha cabeça.

Patrícia guiava eles, explicando o que haveria acontecido, já que ela era experiente no assunto.

Os soluços não paravam. Eu senti uma tontura, mas me mantive de pé. Samantha estava sendo levada pra fora e eu acompanharia. Eu só olhava para aquele rosto. Estava com um roxo em uma das bochechas, provavelmente pela pancada.

Ver a pessoa que você ama assim é como se o mundo não girasse direito. As pessoas tentavam se comunicar comigo. Mas eu não tinha forças a responder. Eu não queria responder. Eu quero Samantha bem de novo junto com meu filho.

Desceram pelo elevador de serviço enquanto alguns outros usavam o normal. Eu tive que me separar de Samantha naquele momento pois não havia mais espaço no elevador, então eu fui no normal.

Logo que eu entrei, um dos médico olhou pra mim e chamou a mulher que estava ao seu lado.

– Querido, quem é você? Você está bem? – A mulher perguntou docemente enquanto o homem pegava algo em sua bolsa médica.

Demorei um pouco para responder, fiquei processando a pergunta.

– Sou o namorado dela... Ela vai ficar bem? – Eu disse baixinho que ela teve que se esforçar um pouco para ouvir.

– Vai sim, ela vai fazer uma bateria de exames para ver se não aconteceu nada internamente em nenhum órgão – Ela respondeu. O homem pegou uma lanterninha de sua bolsa, e começou a passar pelos meus olhos me cegando por alguns segundos.

– Está em estado de choque – O homem murmurou, guardou a lanterna e sorriu – Amor jovem... Você foi corajoso garoto, mas vai ter que descansar antes que você tenha um ataque do coração e acabe com um problema sério.

Eu encarei o chão.

– Quantos anos você tem? – A mulher perguntou novamente.

– Ela está grávida. O bebê está bem também? – A mulher ficou rígida com a minha pergunta. Abriu a boca pra falar mas a porta do elevador se abrir. Senti que a mulher ficou aliviada mas não dei importância. Saí do elevador olhando para os lados e vi a maca já na porta principal do edifício.

Corri até ela enquanto colocavam na ambulância. Procurei por Patrícia e a vi ainda muito abatida subindo na ambulância.

– Patrícia, eu preciso ir também – Eu disse do lado de fora.

– Aqui não dá mais Nico, nós vamos para o hospital mais próximo daqui...

Ela parou de falar quando viu algo. Me virei instintivamente pra trás e senti um empurrão contra meu corpo.

– Samantha! Meus Deuses... – Era Percy olhando espantado para Samantha dentro da ambulância. Eu puxei Percy para trás e a porta do carro se fechou – Foi Natália não foi? Aquela...

– Percy, calma ae, ela está viva, pensa nisso – Eu reconheci a voz, era Grover.

– OLHA O ESTADO DELA GROVER! – Percy gritou. Mas Grover ainda tentava acalma-lo.

– Foi meu pai – Eu disse. Mas dizendo aquilo, só fez minha angústia voltar e meus olhos marejaram novamente. Percy finalmente me encarou e ficou assustado por me ver daquele jeito. Era uma novidade me ver em um estado lastimável. Eu sentia que ele procurava palavras para dizer algo mas não conseguia. Seus punhos estavam serrados – Meu filho... – Abaixei a cabeça e deixei as lágrimas rolarem.

Percy passou as mãos nos cabelos nervosamente e xingou os céus por tudo aquilo.

– Eu preciso ir para o hospital – Eu disse o encarando novamente.

– É melhor, vamos, eu vim com o Blackjack – Ele disse e começou a correr com Grover atrás dele.

A cara, logo o Pégasos. Digamos que ele não gosta muito de mim. Mas não importa, se era o jeito mais rápido de chegar.

Segui Percy até virar a esquina do prédio e lá estava ele perto da calçada “estacionado”. Mas ninguém podia vê-lo. O Pégasos, Blackjack, não mudara nada, com a pelagem preta, e aquelas asas imensas ao lado de seu corpo que lembravam a de um anjo.

– Bom, eu vou até aqui. Eu dou meu jeito de voltar para o acampamento. Me deem notícia de Samantha – Grover disse e eu o encarei antes de subir no cavalo.

– Pode deixar – Percy confirmou já em cima do Pégasos.

– E eu sei que a gente não se fala muito cara, mas Samantha e seu filho vão ficar bem – Ele disse dando um apertão de mão. Correspondi ao cumprimento com um “obrigado” apenas e subi no cavalo. Digamos que ele deu uma relinchada.

– Ele sente o cheio de gente morta... – Percy disse. Rolei os olhos e Percy decolou começando a sobrevoar por Nova Iorque.

– Como você soube? – Eu perguntei tentando não olhar pra baixo.

– Grover sentiu algo e Quíron confirmou que tinha acontecido alguma coisa ruim, eu vim o mais rápido que pude, achei que fosse Natália – Ele respondeu com voracidade na voz.

– Nós tiramos Natália da casa, ela veio confessar que foi ela mesma que atacou a Annie – Eu me arrependi de tal palavras. Blackjack começou a descer em queda livre, mas em alguns segundos Percy conseguiu controla-lo.

– Desculpe Blackjack, não pude controlar... – Percy disse acariciando a crina do cavalo que rejeitou o carinho. Parece que ficou bravo – Aquela... Aquela sem vergonha infeliz...

– Disse que estava sob pressão de Hades, que se não fizesse, morreria torturada – Eu disse com uma mão no peito tentando controlar minha respiração e manter meu coração no lugar. Odeio voar.

– Nada mais justo.

Eu tive que sorrir. A mesma coisa que Sammy falara com Natália. Os dois até que se pareciam em certos momentos... de raiva.

– Ali, o hospital – Eu disse apontando para o lugar. Me arrependendo novamente pois Percy desbicou com seu cavalo em queda livre até chegar perto do chão e pousar com completa perfeição. Eu desci do cavalo e minhas pernas estavam trêmulas e minha pressão lá em baixo, quase fui ao chão.

– Vamos Nico – Gritou Percy correndo para dentro do hospital. O segui.

Uma moça nos gritou na recepção e tivemos que parar.

– O que querem? – Ela perguntou com desdém quando nos aproximamos.

– Minha irmã foi atacada, preciso vê-la. O nome dela é Samantha Hunter – Percy disse apressadamente.

– Ah, a garota que chegou agora da emergência – Ela olhava pra baixo mexendo no computador como se não tivesse dando a mínima pra nós. Bati a mão no balcão assustando ela e algumas outras pessoas ali.

– E então, vai deixar a gente passar ou não? – Eu disse grosseiramente.

– Ela está em uma bateria de exames agora, vão ter que esperar, procedimento padrão – Ela disse me encarando assustada e com raiva ao mesmo tempo.

– Só que pra isso existe a “sala de espera”, onde é?– Eu disse sem paciência.

Ela não me respondeu. Ficou me encarando com um misto de raiva e surpresa.

– Em que andar ela está?– Disse Percy que também estava se irritando.

– Está no terceiro andar, no setor de emergência – Ela disse apontando o elevador. Viramos as costas e fomos pela escada. Chegamos meio ofegante ao terceiro andar.

A sala de espera era bem arrumada, ampla, com várias cadeiras e que eu já considero que tinha bastante gente no local.

Consegui avistar Patrícia que se encontrava sentada em uma cadeira com outras duas pessoas que a acalmavam.

– Patrícia, como Samantha está? – Eu disse me aproximando. Percy ao meu lado. Ela me olhou com os olhos abatidos e depois de um soluços conseguiu falar.

– Ela está fazendo mais exames, aparentemente está bem. O médico me disse que ia ver se não aconteceu nada com o bebê. Já me avisaram que minha casa está cheia de policiais, provavelmente a perícia.

“Mas já sabemos quem foi.” Pensei.

– Vai estar tudo bem com... – Percy tentou dizer mais foi interrompido por um chamado.

– Senhora Hunter? – Patrícia assentiu e o médico se aproximou – Samantha está bem, vamos dar remédios para os hematomas e para um osso da perna que se trincou, nada relevante. Estamos fazendo a drenagem e já estamos suturando a barriga...

– Drenagem? – Patrícia o interrompeu ficando pálida.

O médico respirou fundo.

– Infelizmente, não conseguimos mais ouvir o coração do bebê. Ele foi a óbito provavelmente por causa da queda, pois o corte que sua filha levara não acertou o bebê e nada vital para ele. Mas a queda foi fatal. Sinto muito.


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Notas finais do capítulo

Sinceramente, fiquei triste em fazer este capítulo... Mas a história continua não é?

Escrevam o que acharam nos comentários que vamos responde-los!

Até o próximo capítulo. Beijos!



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