*Hinata*

O dia amanhecera radiante perante meus olhos. Eu me sentia bem. Sentia a brisa suave ultrapassar a janela do meu quarto e bater contra meus cabelos. Sentia o calor dos raios solares a iluminarem minha pele. Eu sentia uma paz e sossego que a dias não sentia. E essa alegria tinha nome, sobrenome e aparência física.

Eu não sei bem o que aquele beijo poderia significar. Não queria me iludir. Muito menos iludi-lo. Poderia facilmente estar me enganando e eu poderia acabar machucando-o no final. Poderia acabar despedaçando seu coração.

As lembranças da noite anterior ainda rondavam minha mente. Seus toques. Seu perfume amadeirado. Seus beijos e carícias. Meus pelos do antebraço arrepiavam-se só com essa simples recordação.

[...]

― O que estamos fazendo? ― resmunguei quando nos afastamos para recuperar o fôlego perdido durante o beijo. ― Eu estou louca, não estou?

― Por que diz isso? ― perguntou-me o Uzumaki não compreendendo minha pergunta.

― Eu estou te prendendo. ― falei abaixando o olhar. Não conseguiria dispensa-lo se fitasse em seus olhos. ― Não existe uma previsão de futuro para nós. E eu não quero que você acabe magoado.

― Escolher se quero ou não me magoar é uma decisão minha, Hinata. ― sussurrou aproximando-se de mim e encostando sua testa a minha. ― Se eu estou aqui com você nesse momento, quer dizer que eu quero arriscar. A única coisa que me magoaria seria se não tentássemos nada por você ter medo que eu me machuque.

― Naruto... – sussurrei novamente antes de ter meus lábios novamente presos aos dele.

Após o termino do beijo, Naruto afastou-se lentamente de mim acariciando meus cabelos e retirando alguns fios da frente do meu rosto. Seu sorriso iluminado que me fazia muito bem. Seus lábios que até pouco tempo estavam encostados aos meus agora se repuxavam em um sussurrou de “adeus”. Sorri e acompanhei-o até a porta.

Eu queria tentar. De algum modo, as palavras do Uzumaki fizeram-me questionar o que eu acredito. O sonho de ter minha própria família. De ver crianças correndo pela casa me chamando de mãe. De receber meu marido ao final do dia com um beijo apaixonado. Eu queria tudo isso. E era por querer, que eu não podia simplesmente desistir por receio de magoá-lo.

[...]

Era uma sensação vívida que irradiava por meu peito todas as vezes que fios loiros e olhos azulados invadiam minha mente insana. Eu poderia ter passado o dia inteiro a relembrar-me desse momento, mas o som estridente e animador do meu toque de celular fez com que eu fugisse desse estado de estupor em que me encontrava e retornasse a realidade.

― Alô. – murmurei ao atender o aparelho. ― Pois não?

― Hinata, sou eu. Sakura. ― murmurou a voz do outro lado da linha. ― Ok, pode parecer meio estranho. Mas eu queria que você fosse comigo para a casa da fazenda do Sasuke no interior.

― Eu? ― sussurrei confusa. Nunca fui uma grande amiga da Sakura, quem dirá do Sasuke. Ser convidada assim do nada era estranho.

― Eu chamei umas amigas e elas decidiram levar os namorados. ― comentou a Haruno ― O Sasuke chamou o Naruto também, e como eu não queria que ele acabasse segurando vela e nem nada, eu achei melhor convidar você também.

― Casa de fazenda? Com você, Sasuke, suas amigas e o Naruto? ― repeti o convite em voz baixa enquanto ponderava minhas alternativas. Eu podia simplesmente dizer que não poderia ir, mas então o Uzumaki rapidamente correria atrás de mim e me obrigaria a ir com ele, ou então eu poderia aceitar e tentar me divertir um pouco. ― Claro. Acho uma ótima ideia. Quando iremos? ― decidi logo aceitar.

― Que bom que concordou. Partiremos nessa sexta-feira. O Naruto passa na sua casa e te leva para lá. Estaremos esperando por vocês. ― sussurrou a Haruno. ― Preciso desligar agora. A Harumi está aprontando todas aqui em casa. Beijos!

Ouvi o tom de final de chamada e joguei-me em cima da cama. O relógio na parede ecoava um tic-tac nervoso e irritante. Fechei os meus olhos para tentar não raciocinar sobre o que poderia vir a ocorrer durante esse final de semana. Suspirei. Eu realmente não faço a mínima ideia de onde estou me metendo.

*Naruto*

Observei os rabiscos sobre a minha antiga mesa. Um hobbie antigo, e hoje em dia esquecido por mim. Eram simples desenhos de personagens de animes e mangás, que eu costumava rabiscar quando criança. Deixei um mínimo sorriso brotar em meus lábios lembrando-me dos velhos tempos.

― Dobe. ― murmurou uma voz masculina da porta do meu quarto. Não precisava nem virar-me para encarar a pessoa que entrava no cômodo, já que o único que me chamava assim era o Uchiha. ― Eu quero falar com você.

― Diga. – sussurrei enquanto guardava os desenhos dentro de uma pasta amarelada e desbotada na mesa. O moreno olhou para eles e deu de ombros. ― Estou ouvindo.

― Sakura resolveu que deveríamos ir passar o final de semana na minha casa de fazenda. ― retrucou o moreno sentando-se numa cadeira. Eu caminhei até a minha cama e sentei-me no colchão. ― Não que fosse algo importante, nem nada... Mas ela resolveu que seria um encontro de amigos.

― Deixe-me adivinhar... ― sussurrei ― E como você não tem amigos além de mim por ser uma pessoa totalmente antissocial resolveu me convidar para ir. Estou certo?

― Deixe-me terminar, dobe. ― resmungou o Uchiha. Cruzei meus braços como sinal para que continuasse. ― Ela convidou umas amigas e essas amigas levaram os namorados.

― A resposta é não. ― declarei. Nunca que eu iria com eles apenas para segurar vela. Sasuke sabia que a única coisa que eu mais detestava depois de ver meu time de futebol perder era ser o único solteiro no meio de casais. ― Não vou com vocês para segurar vela.

― A Hinata vai... – sussurrou atraindo minha atenção. Ergui a sobrancelha em confusão. Se eu bem me lembro, a Hinata detestava tanto quanto eu servir de vela para os namorados. ― Sei o que deve estar pensando. Mas a Sakura disse para ela que você iria. Eu não queria decepcionar a Hyuuga dizendo que você praticamente gritou que não quer ir...

― Mas é lógico que eu vou. ― retruquei ficando em pé. ― Para ver como eu estou animado, vou preparar as malas nesse instante.

Sasuke sorriu de canto com a minha declaração. Olhei para a janela no canto do quarto e pude deparar-me com um céu azul e iluminado. Um fim de semana com Hinata. Tudo bem que eu teria que aturar os casais apaixonados e tudo, mas eu estaria com ela. Era tudo o que me importava.

O moreno saiu do quarto depois de despedir-se e combinamos o horário da viagem. Eu deveria pegar a Hinata com o meu carro e ir depois para a fazenda. Observei o relógio sobre a mesa. Marcava dez horas da manhã quando minha mãe entrou no quarto sem ao menos bater na porta.

― Estou saindo. ― resmungou olhando para mim. Eu ainda estava refletindo sobre o futuro final de semana. ― O que houve com você? Por que está com uma careta de idiota?

― Vou passar o final de semana com a Hinata. ― sussurrei baixinho, mas ela conseguiu ouvir. Mãe é assim. Quando teima em querer saber das coisas, escuta até o que não é dito.

― Que bom querido. ― disse, mas sua voz não parecera tão segura quanto era normalmente. Olhei confuso para a ruiva que mantinha o rosto abaixado. ― Eu vou indo. Tenho que encontrar a Yumi no shopping.

― Okaa-san. ― sussurrei chamando sua atenção. ― O que houve? Não pareceu feliz ou ao menos contente quando eu disse que iria passar o final de semana junto a Hinata.

― Não é nada. ― falou ― Mas você acha que poderia ter um futuro com ela?

Deixei o espanto e a surpresa tomarem conta de meu rosto. Lá estava minha mãe. Aquela que sempre fora a favor que eu reatasse com Hinata. Aquela que sempre sonhara em sua afilhada ser a futura nora simplesmente afirmando que tudo o que ela antes acreditava e confiava, não valia mais nada.

― O que quer dizer com isso? ― perguntei, mas no fundo eu já sabia a resposta.

― Você acha que poderia ter um futuro com ela? Ter uma família? Filhos? ― perguntou por fim ― Porque, sinceramente, eu não consigo ver um futuro para você ao lado dela, Naruto. Pelo menos, não mais.

― Eu a amo. ― murmurei ― Não me importa pelo o que ela esteja passando. Eu sempre estarei do lado dela, não importa o que os outros digam. Eu quero aproveitar o tempo que tenho com ela.

― Naruto...

― Ela sempre foi e sempre será o amor da minha vida, okaa-san. ― retruquei fazendo minha mãe arregalar os olhos brevemente. ― Se fosse o ottou-san no lugar dela, o que a senhora faria? ― perguntei-a e ela nada dissera. ― Pois é exatamente o que eu quero fazer.