*Hinata*

― Hinata. – gritou a Haruno entrando rapidamente na minha sala. Seu olhar transmitia certo pânico e em suas mãos havia um envelope marrom, o qual eu já suspeitava que deveria ser o motivo de Sakura estar totalmente irritada. — O que significa isso?

― Isso o que, Sakura? – murmurei fingindo desentendimento.

― Não finja como se não soubesse, Hyuuga. —resmungou a rosada aproximando-se da minha mesa e colocando o envelope sobre ela. — Esses são os resultados dos seus exames. Sabe, aqueles que eu te obriguei a fazer?

― E? — perguntei com desdém.

― Como assim “e”? – retrucou a rosada rapidamente – Hinata, você já sabia?

― Sim. – respondi.

[...]

Após a recuperação total de Hiro, eu fui obrigada por Sakura a fazer alguns exames básicos ainda em decorrência daquele último desmaio, onde ela mesma ditou as regras: ou você faz esses exames ou então nem coloque mais os pés nesse hospital. Não houve alternativa. Agora ali estávamos nós. Sakura parecia levemente desentendida com a calma em que eu havia dito que já sabia sobre o possível resultado do exame. Algo normal vindo das outras pessoas quando eu digo.

― Hinata, você tem leucemia. — resmungou a mulher a minha frente e eu acenei positivamente. — O que tentou fazer?

― Muitas coisas. – resmunguei. Eu odiava falar sobre os tratamentos e as infelicidades ao descobrir o resultado. — Eu não gostaria de falar sobre isso, Sakura, por favor.

― Não, eu entendo. – disse a rosada. Eu arregalei brevemente os olhos. Era a primeira vez que alguém dizia aquilo para mim. – Deve ser ruim falar sobre isso. Hinata... – murmurou meu nome e eu prestei bastante atenção nas palavras seguintes dela. – Eu sei que você tentou várias vezes. Quando eu li esse resultado pela primeira vez na semana passada, eu telefonei para a Universidade de Toronto.

― Você o quê? – perguntei confusa.

― Falei com seu antigo médico. – murmurou – Ele me disse os maus lençóis por quais você passou. Sinto muito por tudo isso.

― Obrigada, Sakura. – murmurei ainda perplexa com as palavras da Haruno. Considerando o modo como ela havia adentrado essa sala, eu realmente achava que seria mais um daqueles longos sermões. — É a primeira vez que alguém me diz isso.

― O Naruto já sabe? – perguntou-me e eu acenei que sim. – Como ele reagiu?

― Não foi a melhor reação do mundo. – respondi – Não converso com ele há semanas. Nem mesmo durante as visitas de Hiro eu o vejo. Normalmente o pequeno vem com a Hana, mas faz um bom tempo que... – fui interrompida pelo toque estridente do meu telefone celular. – Desculpa. – resmunguei para Sakura antes de atender. – Pode dar licença? – perguntei-a e ela acenou saindo pela porta. – Alô.

― Hinata, querida, sou eu, sua mãe. – disse a voz meiga e doce do outro lado da linha. – Estou lhe atrapalhando?

― Claro que não está, okaa-san. – murmurei – O que houve?

― Teremos um jantar aqui em casa. – respondeu a minha pergunta – O Naruto e a sua madrinha Kushina virão jantar aqui conosco. E como é um jantar entre a família e amigos, você também vai aparecer, né?

― Não sei se é uma boa ideia okaa-san. – sussurrei enquanto soltava um suspiro preso – Jantar?

― Você nunca mais apareceu aqui em casa. – disse raivosa – Pelo menos hoje, Hinata. Por Kami! Parece que você nem voltou do Canadá! Sempre está longe de sua família. Apareça hoje.

― Está bem. – respondi rapidamente tentando ao máximo evitar que a discursão se prolongasse. – Aparecerei hoje, mas não posso garantir ficar a noite inteira. Preciso desligar. Beijos.

― Beijos querida. – disse antes que eu ouvisse o telefonema cair.

Suspirei colocando o celular sobre a mesa enquanto tentava imaginar o motivo desse jantar. Nada vinha a minha cabeça a não ser as palavras do loiro. O prazo dado por ele havia terminado há tempos, mas até agora ele nada havia dito aos meus pais. Suspirei novamente pelo o que me parecera à centésima vez naquela noite. Ficar imaginando o que deveria ser não me responderia essa pergunta, mas sim me arrumar e aparecer lá.

*Naruto*

― Naruto, você deveria ter trazido o Hiro. – resmungava minha mãe enquanto caminhávamos do carro para a porta da mansão dos Hyuuga. – Eu queria que meu netinho estivesse aqui.

― Ele ainda não pode ficar andando demais, okaa-san. – retruquei tentando fazer com que a minha doce e amada mãe entendesse – Além do mais, hoje não é dia dele ficar comigo, e sim com a mãe dele.

― Mesmo assim. – resmungou enquanto via uma morena com alguns fios brancos a emoldurar os cabelos abrindo a porta. – Yumi, querida! Como você está?

― Bem. – respondeu tia Yumi. Sorri na sua direção e ela retribuiu o sorriso. – Obrigada por organizar esse jantar, Naruto, pois se não fosse por essa obrigação, duvido muito que a Hinata tivesse vindo.

― Ela já está aqui tia Yumi? – perguntei para a morena que apenas sorriu e acenou positivamente. – Vou falar com ela então.

― Claro. – respondeu – Ela está lá atrás no lago.

Acenei positivamente e caminhei em direção à parte de trás da grandiosa casa em estilo vitoriano. Como arquiteto, acho a estrutura do lugar realmente admirável, mas como um simples homem, algumas vezes considero aquela casa um exagero. Avistei mais adiante Hinata. Ela estava usando um vestido simples e negro. Os cabelos brilhavam em um tom azulado na presença da luz da lua. Ela estava sentada no píer de um lago artificial. Aproximei-me mais ainda dela até que ela me encara curiosa.

― Boa noite. – resmunguei para a morena que apenas sussurrou um “boa noite” quase inaudível. – Por que está aqui atrás sozinha? – perguntei sentando-me ao seu lado no píer.

― Eu estava te esperando. Sabia que viria aqui falar comigo. – murmurou sem olhar diretamente para mim. – Naruto... Obrigada.

― Pelo o que exatamente? – perguntei confuso.

― Por ter me dado aquele prazo de dois dias e não ter falado nada depois que eles passaram. – resmungou facilmente. A sua voz mantinha-se serena, mas eu podia sentir um pouco de emoção a embarga-la. – Deu-me um tempo para pensar.

― E?

― Decidi dizer a verdade. – respondeu – Você estava certo. Eles não gostariam de saber por outra pessoa. Eu não gostaria que isso acontecesse com nenhumum deles. Vou contar a verdade.

― Que bom que acha isso Hinata. – resmunguei olhando-a nos olhos. – Você tem muita coragem.

― Obrigada, Naruto. – sussurrou sorrindo minimamente.

― Como eu te disse naquele dia... – murmurei chamando sua atenção – Eu não desisto. E eu meio que ainda tenho aquele jeito narusteco de viver.

(flashback on)

– Sim. – falou enxugando as lágrimas. – Meu avô realmente era uma pessoa legal. Eu até acho você parecido com ele sabia? Ele era bem um jeito narutesco de viver.

– Jeito narutesco? – perguntei sorrindo – E eu posso saber que jeito é esse?

– Amigo, fiel. – falou – Protetor, assim como meu avô era. Além de ser uma pessoa especial que tem um dom especial de fazer as pessoas se alegrarem nos piores momentos.

– Então tá. – sussurrei – Então, eu Naruto Uzumaki te prometo. Eu sempre terei esse jeito narutesco de viver. E sempre farei você sorrir nos piores momentos.

– Obrigada Naruto. – falou abraçando-me.

(flashback off)

― Eu ainda sou seu amigo, Hinata. – resmunguei fazendo-a arregalar levemente os olhos. Lágrimas escorriam por seu rosto e eu facilmente as limpei com a mão. – E eu ainda mantenho aquela promessa para você. Sempre vou estar aqui para fazer você sorrir, mesmo nos momentos tristes e difíceis.

― Obrigada... – murmurou com lágrimas nos olhos enquanto me abraçava como havia acontecido quando éramos crianças. – Naruto...