*Hinata*

Cinco anos se passaram desde que parti de Konoha para Toronto no Canadá. Deixei muitas coisas para trás, mas agora após desembarcar do voo de seis horas até Tóquio, as lembranças do passado voltaram. Entrei na estação de trens-bala procurando o que me levaria de volta para casa. Havia terminado o curso de medicina há dois anos e conseguido um bom emprego numa cidade vizinha de Toronto, mas eu não estava totalmente feliz. Sentia falta de meus pais, de minha doce e maluca irmã caçula, de meus amigos queridos e principalmente, eu sentia falta de um loirinho hiperativo e cabeça oca, mesmo que eu não quisesse admitir.

Sentei-me nos confortáveis bancos estofados do trem e fui admirando a paisagem que passava rapidamente pela janela. Será que ele ainda pensava em mim após tantos anos? Será que já havia me esquecido? Será que tinha se casado e já tinha uma família? Balancei a cabeça me obrigando a esquecer desses pensamentos. Eu só poderia estar enlouquecendo. Fui eu que terminei com Naruto. Ele com certeza já deve ter seguido em frente, e recomeçado sua vida. Também tentei seguir. Investi em alguns relacionamentos enquanto estava no Canadá, mas nada que durasse muito. Mesmo que eu negasse sob tortura, eu não conseguiria mentir sobre meus sentimentos em relação à Naruto.

O trem parara e junto com ele, minhas malucas hipóteses se desfizeram. Caminhei até a saída da estação entrando em seguida em um táxi. Após dizer ao motorista o caminho que eu queria que ele seguisse partimos. Observei calmamente a cidade. Realmente, nada mudara nestes últimos anos. Depois de alguns minutos rodando, o carro para na frente de uma imensa mansão vitoriana. Desço do carro, pago ao motorista o dinheiro certo e agradeço. Pego minhas malas. Eu não avisei que voltaria para casa. Queria fazer uma surpresa para todos e torcia para que o segredo da fechadura continuasse o mesmo.

Abri a porta. Agradeci mentalmente a Kami-sama pela fechadura ter aceitado de bom grado minha chave extra. Entrei na imensa sala de estar. Não mudara nada desde dia em que eu parti cinco anos atrás. Coloquei minhas malas no chão e ouvi algumas falas vindas da cozinha.

– Ottou-san esqueceu alguma... – parou derrubando uma bacia de sorvete ao ver-me em pé no meio da sala. – Hi-Hinata?

– Como é Hanabi? – perguntei colocando um imenso “sorriso Colgate” no rosto – Não vai dar um abraço na sua irmã mais velha não?

Ela correu e pulou dando-me um gigantesco abraço de urso. Era tão bom ver minha pequena irmã novamente. Olhei em direção a porta da cozinha. Uma mulher alta de olhos perolados como os meus e alguns fios brancos espalhados pelo cabelo negro observava estática a cena.

– Okaa-san. – murmurei – Estou de volta.

Ela correu até nós e participou do abraço conjunto. Fechei os olhos. Era muito bom estar novamente em casa.

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– Hina-chan. – murmurou Hanabi enquanto estávamos sentadas na mesa da cozinha devorando um imenso pote de sorvete de chocolate. Eu já havia me instalado no meu antigo quarto. – Por que voltou para Konoha? Achei que estivesse trabalhando em uma cidadezinha do Canadá.

– Estava. – suspirei. – Mas eu não me sentia muito feliz e também morria de saudades de Konoha. Meu sonho sempre foi me formar e trabalhar aqui.

– Entendo. – resmungou enquanto enchia mais uma colher com sorvete. – Não perdeu quase nada aqui. A cidade continua a mesma.

– Percebi enquanto vinha para cá. – resmunguei lembrando-me que a cidade não mudara extremamente nada. – Mas me digam... E meus antigos colegas de turma? O que houve com eles?

– Ah. – suspirou minha mãe. – Kiba-kun esteve aqui há alguns dias. Ele está noivo de uma garota de Tóquio. – sorri bobamente ao lembrar-se disso. Kiba nunca fora um cara para se amarrar. – Sakura-chan e Sasuke estão casados há um ano e muito felizes pelo visto, ela é coordenadora de um dos hospitais da cidade. – fiquei feliz pela Sakura, ela e o Sasuke sempre foram um casal perfeito.

– E... – suspirei fundo. Era difícil perguntar isso. – E o Naruto? – perguntei enfim.

– Aquele loiro tá para endoidar a Kushina. – resmungou sorrindo. – Terminou o curso de arquitetura e disse que vai construir uma casa novinha para ela.

– Okaa-san. – falou Hanabi revirando os olhos. – Não é isso que ela quer saber. Ela quer saber se ele tá namorando ou se tá noivo, ou se tá casado, entendeu?

– Ah tá. – respondeu minha mãe revirando os olhos também. – Ele... Bom, é melhor você saber isso por você mesma. Que tal visitar sua madrinha?

– Seria bom mesmo visitar tia Kushina. – sussurrei. – Ela deve estar uma fera comigo desde que parti. Nunca mais nos falamos.

Após colocarmos o papo em dia eu subi para meu quarto e avistei em cima da cômoda do computador uma pequena recordação. Caminhei até lá e peguei o pequeno ursinho lilás com a orelhinha meio rasgadinha e sentei-me na cama o observando. Lembrei-me das férias na praia antes daquele dia. E uma pequena lágrima escorreu por meu rosto.

(flashback on)

Eu estava sentada numa rede observando o movimento das ondas do mar enquanto batiam nas imensas dunas de areia. Fechei os olhos aproveitando a brisa maravilhosa que fazia meus cabelos balançarem. Senti mãos rondando meus olhos e os tapando.

– Adivinhe quem é. – murmurou uma voz rouca nos meus ouvidos. Aquela voz era impossível de não se reconhecer. – Se acertar, eu te darei um presente.

– Naruto deixe de ser bobo. – respondi tirando suas mãos de meus olhos. – O que você quer?

– Feche os olhos. – ordenou e eu olhei incerta para ele. – Tenho uma surpresa para você.

– Tá. – falei fechando os olhos e sentindo uma pequena caixinha ser colocada em minhas pernas. Abri os olhos calmamente. – O que é isso?

– Abra. – ordenou com um pequeno sorriso no rosto.

Abri a caixinha e meu coração balançou rudemente dentro de meu peito. Lágrimas vieram ao meu rosto. Isso era uma surpresa e tanto.

– Naruto, não precisava. – resmunguei pegando um pequeno ursinho lilás de dentro da caixinha. – Realmente não precisava se preocupar em me dar um presente.

– Não é só isso. – falou – Abra o feche que tem nele.

Fiz o que ele mandou meio receosa. E minhas lágrimas apenas aumentaram ao ver o que tinha dentro dele.

– Naruto... – sussurrei chorosa – Isso é...

Ele pegou o pequeno anel de ouro e colocou em meu dedo dando um beijo em seguida.

– Hinata. – chamou-me. – Quer permanecer ao lado desse loiro idiota pelo resto da sua vida?

– Claro que sim. – falei abraçando-o e beijando-o.

(flashback off)

Esse fora o melhor dia de minha vida. Porém a alegria durara extremamente pouco tempo. No fim daquelas férias, eu recebi a resposta da Universidade de Toronto. Eu fui aceita para ingressar no primeiro semestre de medicina. Esse sempre foi meu sonho. Tentamos manter um relacionamento à distância, porém não durara. Aquele sentimento fora se desgastando e nós terminamos. E depois que eu descobri aquele fato, com toda a certeza aquilo foi à gota d’água e eu não queria ver Naruto se entristecer com isso. Até hoje eu me martirizo por essa decisão precipitada. Abri os olhos. Chega de chorar pelo leite derramado. Era hora de dar a volta por cima e refazer minha vida novamente no Japão. Deixei o pequeno ursinho novamente em cima da cômoda e desci as escadas sem avisar para ninguém que iria sair. Fechei a porta e corri até o ponto de táxi mais próximo da mansão e peguei o primeiro desocupado que encontrei.

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Minutos depois o carro parou na frente de uma grande casa em vermelho vivo. Tinha medo de bater na porta e saber que eles não moravam mais lá, mas na mesma velocidade que esse medo veio, ele foi embora. Desci do táxi pagando pela corrida e parando em frente à porta. Bati levemente três vezes ouvindo um “já vai” sussurrado de dentro.

– Olá. – murmurou uma ruiva alta de olhos quase azuis. – O que deseja?

– Você é a senhora Uzumaki? – perguntei receosa.

– Sim, sou eu mesma. – respondeu. – Você é?

– Oi madrinha. – falei sorrindo gentilmente. Como senti saudades de minha doce e maluca madrinha. – Não se lembra de mim?

– Hinatinha! – perguntou me abraçando. – Nossa como você está diferente. Veja só, já é uma mulher feita. – falou me puxando para dentro da casa. – Vamos querida entre. Quando voltou para cá?

– Cheguei apenas algumas horas atrás. – falei sentando-me com uma ruiva animada ao meu lado. – Como estão as coisas aqui?

– Está indo. – respondeu soltando um longo suspiro. – Depois que Minato faleceu, eu estou tentando seguir em frente. – parou de falar por longos segundos apenas observando a casa. – Naruto quer porque quer que eu me mude. Que deixe para trás essa casa e as lembranças que tenho daqui.

– Sinto muito madrinha. – sussurrei. Soube da morte de tio Minato quando estava para concluir a residência do curso de medicina. – Sei que foi uma grande perda. Mas me diga... – pausa – Onde está o Naruto?