Já estava na hora do crepúsculo, mas sem o Sol, pois a chuva havia tomado conta daquele dia. Tony olhava pela janela de sua sala — a grande parede de vidro que ele chamava de janela — e via as gotículas de água cair com força. À uma hora daquelas, ele tinha a impressão de que apenas ele estava nas Indústrias Stark. O dia anterior havia sido o dia mais louco da sua vida e ele não o trocaria por nada, pois um dia que parecia que iria acabar com uma mulher qualquer em sua cama enquanto ele procurava algum remédio para sua enxaqueca acabara com ele deitado em sua cama, sozinho, e agarrado a sua Bíblia.

Ele acordara de uma maneira diferente, como se fosse outra pessoa, como se algo dentro de seu peito tivesse mudado — o que de fato havia acontecido. Infelizmente ele quase não vira Pepper no decorrer daquela quarta-feira, pois ele havia estado em reunião atrás de reunião e mesmo com a chegada da hora de ir embora ele ainda se manteve em sua sala terminando de checar alguns documentos.

Depois de mais algum tempo ali, ele se levantou, recolheu seu paletó e saiu das Indústrias Stark, preparando-se para cantar pneus com seu carro e tomar uma ducha quente e relaxar um pouco antes de pedir a direção de Deus em relação a duas mulheres irritadas que adentrara a sua vida.

Todavia no decorrer de sua viajem até em casa ele não poderia ter visto pessoas mais queridas do que elas. Ele parou o carro em frente a uma panificadora e abriu a janela do passageiro.

— Oi! — Cumprimentou alegre.

Pepper estava segurando a mão de Rachel, que usava uma mochila rosa nas costas. Elas estavam um pouco molhadas, mas o fato de elas estarem ali, em frente à panificadora, impedia que a chuva continuasse caindo sobre elas. A loura havia acabado de pegar Rachel na escola.

— Oi! — Rachel cumprimentou de volta.

— Ah! Agora você está falando comigo? Que ótimo. — Sorriu.

— Eu sou criança. Crianças esquecem as coisas rápidas, elas perdoam com facilidade e isso é algo que eu peço ao meu Pai que continue em meu coração mesmo eu tendo que crescer. — Respondeu.

— Uau! Isso foi lindo. — Ele bateu palmas. — Você me emociona Rachel Potts.

Rachel segurou na ponta de sua saia rodada jeans e fez reverencia real para Tony, que riu.

— E ai? Querem uma carona? — Perguntou e aguardou por uma resposta que demorou para vir.

— Mamãe eu estou com frio, acho que seria legal se entrássemos no carro do Anthony, ele parece estar bem quente. — Comentou Rachel, fazendo Pepper a olhar com os olhos semicerrados, a loura ainda estava chateada pela filha ter virado casaca e ter falado com o moreno, mas mesmo ela tendo aquela atitude, a Potts não pôde deixar de ter orgulho de sua pequena.

— Isso é verdade, ‘ta quentinho e seco aqui dentro. — Tony colocou mais lenha na fogueira e Pepper acabou suspirando em derrota.

— Ok.

— Legal! — Rachel correu em direção a porta de trás e a abriu, pulando sobre o banco e fechando a porta. Logo Pepper fez o mesmo, mas com menos empolgação.

— Obrigada. — Disse a contra gosto.

— De nada princesa. — Respondeu e arrancou com o carro. — Ei Rachel sabe de uma coisa?

— O que?

— Obrigado pelo o que você me disse ontem. Algo maravilhoso aconteceu.

— Eu sei. — Respondeu terminando de colocar o sinto e Tony ajeitou o retrovisor de uma maneira que ele pudesse a olhar.

— Você sabe?

Pepper sorriu no banco da frente e passou os dedos entre os fios de seu cabelo.

— Aham. Você fez as pazes com Deus e Jesus voltou a segurar em sua mão, ah! E no decorrer dos dias você vai se encher mais e mais do Espírito Santo que habita em você. — Ela olhou pela janela. — Ah! Mamãe! Hambúrguer! Podemos comer um?

— Depois Ra... — Pepper não terminou de responder, pois a freada de Tony a interrompera. Ele estacionou o automóvel e desceu do mesmo, em seguida ele deu a volta no carro e abriu a porta de Rachel e depois a pegou no colo a levando rapidamente até a lanchonete. — Mas o que...? — Pepper ficou os observando de dentro do carro e com um grande ponto de interrogação na face.

— Como você sabe? — Perguntou intrigado a colocando no chão.

— Deus me mostrou. Sabe a gente conversa bastante. — Sorriu angelicalmente e sem que o moreno percebesse, seu queixo estava no chão.

— Vo-você conversa com Deus? — Ele gaguejou.

— Claro! Todos nós conversamos. — Disse arqueando as sobrancelhas rapidamente e depois riu. — Somos íntimos. Deus não tem filhos preferidos, mas há aqueles que O preferem mais do que a internet, um filme, uma festa, uma novela ou um vídeo game, quanto mais você conversa com Ele mais intimo d’Ele você se torna e ai você começa a contar coisas para Ele que somente Ele vai saber e vice versa.

— Você tem seis anos! — Tony disse em total choque. Quão graciosa era aquela garota? Quanta unção havia naquele coração?

— Aham! Sou uma garota de seis anos que quer um hambúrguer daquele que ganha brinquedinho! Vamos lá! — Ela o puxou pela mão em direção a entrada.

Pepper que ainda estava no carro não escutara a conversa, mas algo a dizia que entre sua filha e Tony uma forte amizade estava crescendo. Tony parecia atrair amizades para si, ela só esperava que ele não machucasse Rachel como ele fizera com ela, mas a mesma coisa que a alertava dessa amizade, também a dizia para não se preocupar, pois aquela amizade traria conseqüências boas, apenas boas.

— Acho que vou ao banheiro. — Rachel avisou pulando da cadeira e indo em direção ao corredor dos toaletes.

Na mesa ficara apenas Pepper e Tony. A loura desviou o olhar para um ponto cego ao lado direito, enquanto Tony olhava descaradamente para ela.

— O que? — Pepper perguntou assim que não suportou mais ser observada por ele.

— Nada, só estou tentando encontrar as palavras certas para te dizer.

— Palavras certas para me dizer o que?

— Eu nunca fui muito bom em pedir perdão, mas acho que a pratica vai me levar à perfeição.

— Do que...

— Pepper. — Ele a interrompeu e pegou a mão dela que estava sobre a mesa. — Me perdoe por ter ido embora no momento em que você mais precisou, me perdoe por eu ter mencionado a terrível ideia de você ter tido a escolha de abortar a Rachel, ela é o ser mais especial e puro que eu conheci em minha vida. Me perdoe por ter sido um completo idiota.

Pepper estava paralisada, pois durante aqueles segundos em que ela olhava dentro dos olhos de Tony e o ouvia dizer aquelas palavras, ela conseguia enxergar ali o seu antigo amigo, aquele que ela conheceu na igreja, aquele por quem ela havia trocado o primeiro beijo, ela conseguia enxergar ali o seu Tony.