Passou-se amanha e Pepper mal havia olhado para Tony e com Rachel não era muito diferente, ele tentava se concentrar em seu trabalho, mas era complicado quando se tinha dois pares de olhos o fuzilando sempre que ele começava a ler algum documento. Era culpa dele querer expressar sua opinião?

— Pepper leva essa documentação ao Richard, por favor, e pede a ele que assine e depois a leve ao meu pai. — Pediu terminando de arrumar os papeis e por fim os grampeou.

— Claro senhor Stark. — Sua resposta apenas confirmava o que ele havia se perguntado segundos atrás. Sim, era culpa dele.

— Obrigado, senhorita Potts. — Retrucou e a entregou os papeis.

As assistentes de Tony não possuíam uma sala para si mesma, elas ficavam em sua sala, pois a uma distancia boa de sua mesa havia outra um pouco menor, mas tão confortável quanto à dele, para elas ficarem. Então Pepper ficaria a grande parte do seu dia tempo junto com ele.

Assim que Pepper saiu da sala, Tony se levantou da cadeira de couro giratória e caminhou até seu sofá branco, onde estava Rachel, brincando com seu urso.

— Será que a madame pode me dizer o que foi que eu fiz pra você não querer falar comigo? — Perguntou sentando-se ao lado dela, que o olhou com os olhos semicerrados, ele apenas sustentou seu olhar, pois uma garotinha de seis anos não o colocaria medo, ainda mais se tratando de Rachel, uma criança tão pura e bondosa.

— Não. Sai daqui. — Virou-se de costas para ele e Tony arqueou uma das sobrancelhas. Ele não teria muito tempo para fazer as pazes com ela, pois logo Pepper estaria de volta.

— Escuta, como eu posso me desculpar com você se eu não sei o que eu fiz? — Questionou e Rachel o olhou.

— Você sabe o que fez.

— Se refere ao fato de eu não ter jantado com vocês ontem? — Ela empinou o queixo e alisou Jesus entre suas mãos. — Você pode me perdoar Rachel? Eu não fiz por mal.

— Fez sim. Você não quis jantar com a gente porque descobriu que minha mãe é a minha mãe. — O olhou com a testa franzida. Ele conseguiu detectar certa magoa no timbre da voz dela.

— Não é bem assim.

— Por que incomoda tanto o fato de eu ser filha da minha mãe? O que foi que eu te fiz? — Por um momento Tony achou que ela fosse chorar.

— Ei, não é nada disso. É complicado, você não entenderia.

— Experimenta. — Contra atacou.

Tony não podia dizer a ela que o que de fato o tinha instigado fora o fato de Pepper ter aceitado o crescimento de um fruto causado por um estupro. Ele gostava de Rachel e era maravilhoso o fato de Pepper ter a gerado em seu ventre, mas por quê?

— Eu não posso. — E não podia mesmo, pois aquele era um assunto delicado demais para tratar com ela. Ele não fazia ideia se Pepper havia contado ou não para ela, mas para ele o mais lógico era não, então não seria ele a contar a ela.

— Eu vi como você abraçou minha mãe, acho que tem alguma coisa entre vocês e você acha que vai ter que dividir ela comigo e talvez você não queira e se for isso eu vou ter que te considerar um inimigo, então para de falar comigo.

Primeiro, de onde ela havia tirado aquela história? De fato, mente de criança é fértil. Segundo, era tão obvio assim seu sentimento por Pepper — mesmo que houvesse passado tanto tempo — que uma criança conseguia saber disso? Parece que ele teria que disfarçar melhor. Mesmo depois de tantos anos e de tantos relacionamentos fracassados, ele nunca havia se esquecido de Pepper, então claro que reencontrá-la trouxe a tona sentimentos que estavam adormecidos em seu coração.

— Deixa de besteira garota. — Passou a mão pelos fios de cabelo dela, os bagunçando. — Não é nada disso, você é sensacional e a pessoa que quiser tê-la como inimiga é doida, muito doida. Você é uma das melhores pessoas que eu conheci Rachel, você é um anjo. — Ele sorriu para ela e ela acabou sorrindo de volta.

— Então o que houve? Conta pra mim, talvez eu te ajude e você não fique mais chateado, ai você vai poder convidar a mamãe e eu para jantarmos.

— Do jeito que sua mãe está brava comigo, eu duvido muito.

— Se você me contar o que aconteceu eu te ajudo.

Aquela fora uma oferta tentadora para Tony, mas ele simplesmente não podia dizer a ela o que estava martelando em sua cabeça como uma sirene da policia.

— É algo muito pessoal, não posso te contar.

— Por que tem haver comigo? — A garota era esperta, isso ele admitia até com certo orgulho.

— É.

— Hm e com a minha mãe, então, bem, ela me disse que conhece sua família e você desde a infância e acho que você gosta dela desde lá. — Tony estava boquiaberto. Ele que era fácil de mais de ser lido ou aquela garota tinha algum tipo de dom?

— Como você sabe disso tudo?

— Apenas concluir Anthony. — Disse como se fosse obvio e o fazendo se sentir como um lesado.

— Ah! Claro. — Revirou os olhos. — E em qual conclusão você chega depois disso tudo? — Perguntou curioso com a resposta que ela daria, pois dificilmente ele creria que ela fosse acertar, mas ele não sabia que entre ela e Pepper não havia segredos.

— Você conheceu meu pai, então você provavelmente tem raiva dele pelo o que ele fez com a garota que você amava, e vale constar que ainda ama. — Sua resposta foi sem emoção e em seu rosto o semblante estava sereno. Tony simplesmente não conseguia esboçar nenhuma reação.

Ele não estava acreditando que Pepper havia contado tudo a ela, pois logicamente ela não possuía dom e muito menos conseguiria concluir isso tudo de uma só vez.

— Sua mãe te contou. — Apontou.

— O que você acha? Eu sou a melhor amiga dela e confidente desde que eu era um feto. — Aquela frase tocou de um jeito tão profundo em Tony que o fez se levantar e sair dali, indo para ao toalete de seu escritório.

Flashback On

— Escuta uma coisa, Rach foi à coisa mais maravilhosa que me aconteceu em um momento difícil pelo qual eu precisava de um ombro para me consolar, onde eu precisava de um amigo que me fizesse companhia, mas você foi embora e Deus me compensou, não com um amigo, mas com uma filha e olha, eu estou muito bem, não preciso da sua compaixão por que eu virei mãe, Tony.

Flashback Off

Tony colocou as palmas das mãos ao redor da pia e abaixou a cabeça. Que ótimo amigo que ele havia sido, ele havia deixado sua melhor amiga no momento em que ela mais precisava de sua ajuda. Ele fora uma péssima pessoa, uma pessoa amarga e infeliz, mas ele não fora, ele simplesmente era.

~*~*~

— Onde está o Tony? — Pepper perguntou após entrar na sala e encontrar apenas Rachel.

— Ali. — Disse apontando para a porta do toalete que no mesmo instante foi aberta.

— Vocês já podem ir. — Tony anunciou enquanto pegava seu paletó que estava jogado sobre o encosto de sua cadeira.

— Ir? — Pepper franziu o cenho.

— Horário de almoço. — Ele vestiu o paletó e se preparou para sair com o pensamento de ir direito para qualquer lugar que tivesse uma bebida bem forte, mas uma mão o impediu de ir.

— Sabe o que lhe falta? O dom do perdão. — Rachel disse e Tony a olhou.

— E o que você sabe sobre isso? Você é só uma criança. — Respondeu com os olhos semicerrados, ele só queria sair dali o mais rápido possível e esquecer o quão miserável ele era.

— Surpreendente, não é? Eu, uma criança, com esses pensamentos que você deveria ter, você, um adulto. — Ele não acreditava no que estava escutando. Realmente havia uma garota de seis anos de idade, parada a sua frente com um urso nos braços lhe dizendo aquelas palavras?

— Não é fácil. — Justificou irritado.

— E você está dizendo isso para mim? Eu o perdôo todos os dias. — Seu tom de voz era ofendido, pois será que ele não parava para pensar que de todos daquela situação ela era uma das que mais sofria? Que as crianças na escola a zoavam? De que muitas vezes ela ficava sozinha por ninguém querer ficar perto de uma garota cujo pai estuprara a mãe? Que era ela quem tinha que conviver para sempre com a ideia de que seu pai agira de uma forma monstruosa com a pessoa que ela mais amava naquele mundo?

— E quantas vezes se deve perdoar alguém, alguém que fez algo tão desumano? — Perguntou indiferente.

— Até setenta vezes sete. — Aquela pequena frase de grande significado abalou a estrutura de Tony e o fez repensar para onde ele estava prestes a ir e não fora o bar que passara por sua cabeça.