26 de Outubro de 2023 33° Andar

O número de crimes em Aincrad aumentou muito nos últimos meses, principalmente depois que a linha de frente atingiu a casa do 40° Andar. Já se passou quase um ano que eu e mais 10 mil pessoas fomos aprisionados neste mundo, das quais pouco mais de três quartos ainda estão vivas. Um jogo da morte, literalmente, porque a morte aqui causa também a morte no mundo real.

Apesar de tudo isso, aqui ainda é um jogo do estilo MMORPG ao qual todo personagem tem sua função, seu estilo de jogo/classe e sua maneira de como jogar. Para escapar daqui e voltar ao mundo real foi imposto que explorássemos todos os 100 andares dentro deste castelo flutuante e derrotássemos o último Boss que reside no palácio de Jade Escarlate no último andar.

O sistema do jogo permitia que os jogadores aprendessem diversos tipos de habilidades e profissões. Como em todo RPG, era possível se tornar um ferreiro, boticário, alfaiate, artesão, cozinheiro, entre alguns outros. SAO era diferente, além de ter todas essas profissões também tinha incontáveis outras a mais, graças ás praticamente infinitas habilidades que era possível se aprender dentro do jogo.

Uma dessas profissões é a minha, caçador de recompensas. Quando alguém é roubado ou comete algum outro tipo de crime, a vítima pode emitir um mandato de captura do jogador criminoso em modo de missão ao qual o sistema reconhece e se automatiza completamente. É claro que o valor da recompensa quem paga é quem emitiu o mandato. O alvo tem que realmente ter cometido um crime, se não, o sistema não reconhece o mandato e anula o pedido. Qualquer jogador poderia emitir um pedido desses. Para isso é preciso pagar uma taxa além da recompensa que varia de acordo com o crime. Porém é estipulado um valor mínimo tornando opcional aumenta-lo de acordo com a necessidade, logicamente quanto maior o valor mais caçadores vão querer executar a tarefa.

“O Exército” (guilda com o maior número de jogadores de Aincrad e que domina os andares mais baixos) usa como quartel general o Castelo de Ferro Negro, localizado na cidade dos iniciantes no 1° Andar. São eles quem normalmente emitem os mandados de captura de jogadores problemáticos, entre eles os mais comuns eram os ladrões noturnos que se aproveitam de outros jogadores que acabavam adormecendo em praças das cidades ou em campos. Enquanto seus alvos dormem, esses ladrões mandam um pedido de negociação e manipulam a mão da vítima fazendo com que aceitem o pedido e sorrateiramente passem todos os itens e dinheiro do inventario da vítima para o seu. Mas também entre eles haviam os PK’s (Players Killers), jogadores que emboscavam outros jogadores para roubarem itens e dinheiro e que no final matavam suas vítimas por pura maldade, mesmo sabendo que a morte aqui causava também a morte no mundo real.

Para ser um caçador de recompensas não é necessário nem uma habilidade em especial. Para dizer a verdade qualquer um poderia se tornar um caçador, mas teria que ter em mente que ao estar nesse tipo de missão estaria arriscando muito mais a vida do que em outra missão comum que era dada por NPCs em cidade ou vilas. E é claro, ter habilidades e forças superiores às do seu alvo ajudam muito.

Cerca de meia hora de caminhada depois de ter completado minha última missão finalmente cheguei à cidade principal do 33° andar. Apesar de ser dita como cidade, era tão pequena quanto uma vila, porém era pavimentada com pedras muito bem feitas, o que dava um charme bem medieval e único contrastando com uma vegetação mediana. O sol estava começando a se pôr.

Fiquei quase dois dias caçando aquele moleque por causa de certos rumores de que ele estava envolvido com uma guilda PK bem conhecida nesses andares intermediários e que era de extrema importância a captura de seus membros que são perigosos e valiosos em recompensa. Como consequência fiquei sem ir à linha de frente durante todo esse tempo.

Ao passar pela entrada da cidade era possível enxergar o local onde se teleportava para outros andares que fica no meio de uma praça bem pequena. Rapidamente cheguei ao local e escolhi o 48° andar, onde a linha de frente se encontrava. Após dizer as palavras, minha visão começou a ser tomada por uma luz branca e forte. A cidade do 33° deu lugar a outra totalmente pavimentada e com construções bem maiores e escuras, pois ali o sol já havia se escondido. A praça de chegada estava meio movimentada a essa hora da noite, porque a maioria dos jogadores da linha de frente já estavam se reunindo nos restaurantes e hotéis da região.

“Ah, Hikaru-san!” me virei para ver quem me chamava e vi uma figura bem pequena vestindo uma capa marrom com capuz bem rudimentar, alguém que não aparentava ser muito forte. Para ser mais sincero não era possível deduzir muita coisa por sua aparência, nem mesmo dizer se era um garoto ou uma garota.

“Info-chan... já possui os mapas atualizados de hoje?” eu a chamava assim desde o beta teste, que foi onde a conheci e graças a ela que consegui chegar até o 6° andar durante os dois meses de teste. Ouvi dizer também que alguém conseguiu chegar até o 8° andar literalmente sozinho. Eu com certeza também teria conseguido acompanhar ou até mesmo passar essa pessoa, porém estava muito ocupado com os estudos para o vestibular da faculdade. Sem praticamente nada de tempo para jogar, com a ajuda dela consegui chegar até o 6° andar.

“É claro que sim! E algumas outras informações muito boas”

“Ótimo, vamos aos negócios então” Abri o meu menu e enviei 5k de Colls¹ como pagamento pelas informações de mapa “Hum... então ainda não conseguiram achar a sala do Boss deste andar ainda, pois bem... tenho que ganhar mais níveis antes da batalha, o último Boss que enfrentei, meus ataques não surtiram tanto efeito quanto gostaria”.

“Eh... Como se eles fossem o suficientes para arranhar o Boss” Fiz uma cara de agressividade enquanto ela fazia uma careta bem zombeteira. “Mas me diga Hikaru-san, quero saber seu segredo.”

“Ham? Não sei do que você está falando.” sinceramente naquela hora eu não havia entendido. Pelo que me lembrava eu não tinha nem uma informação importante para compartilhar ou até mesmo esconder de alguém.

“Estou perguntando sobre isso” respondeu ela apontando para meu braço esquerdo, onde eu possuía uma manopla diferente, sendo que na direita eu usava apenas uma luva normal que não cobria meus dedos. “Sei muito bem que você não gosta de usar escudos pois você diz que ‘eles atrapalham’, mas agora te vejo usando isso?”

“Bom não conheço muito sobre, mas comprei ela a dois dias em uma loja de um NPC deste andar, se você quiser saber onde o encontrar...” em minha mente já estava calculando por quanto eu iria cobrar por essa informação.

“Não, não. Eu sei muito bem onde achar, e também sei que mais nenhum outro NPC nos andares abaixo vendia tal tipo de item, e nem mesmo no beta teste havia algo assim. Porém...” ela estendeu a mão direita pedindo algo.

“Hump! ela não muda mesmo, sempre começa uma história e para na parte mais interessante para cobrar” Murmurei comigo mesmo bem baixinho enquanto tirava uma moeda de 50 Colls da bolsa e colocava em sua mão.

“Porém eu pessoalmente vi alguns jogadores testando isso, pelos status do equipamento ela chega a dar uma boa durabilidade e defesa sendo mais elevada do que um bracelete pesado, mas não chega nem perto aos status de um escudo do mesmo nível, e outra, para usá-la você precisa ter uma build² bem mista em força e agilidade³, se não, não será capaz de equipá-la, ou seja os jogadores baseados em força, não podem usá-la como complemento da armadura, pois não possuem agilidade necessária e jogadores leves baseados apenas no agilidade, não conseguem utilizá-la pois não têm pontos em força suficientes. Resumindo um item descartável que deve servir apenas para enfeite”

“Ara! Mas por que você estava me perguntando ‘qual era o meu segredo’ sendo que já sabia de tudo isso?!” perguntei a ela com uma cara surpresa me ressentindo por ter pagado por uma informação dessas.

Ela novamente estendeu a mão direita com um grande sorriso em seu rosto. “Ah! De novo não! ... poxa mas eu já entrei nessa história toda... agora vou até o fim!” Fiz uma cara de conformação bem impaciente, e retirei mais uma moeda de 50 Colls do bolso e a entreguei.

“Bom, essa loja vendia apenas três níveis deste tipo de equipamento, e os caras que eu vi testando isso utilizaram apenas o nível mais baixo, pois não tinham tantos pontos mistos em força e agilidade para utilizar o do mesmo nível deles, sendo que todos que tentaram eram jogadores da linha de frente. Porém você está utilizando a manopla de maior nível da loja...”

“Então por isso você me perguntou qual o meu segredo...”

“Sim... Fufufu... qual o seu segredo para ter uma build tão torta assim! Ahahahahaha” Fiquei vermelho de raiva depois de tal surpresa, e pior eu paguei-a para me zoar!!

“Ah! Nossa já está tão tarde assim?! Tenho que encontrar uma pessoa!”

“Es-espera ai!”

“Lamento mas a “Info-House” não aceita reclamações ou pedido de remuneração. Até mais Hikaru-san!” dizia em voz alta enquanto corria pela praça.

“Droga...” resmunguei baixinho, enquanto pensava em minha build.

“Sempre criei classes magicas nos MMORPG’s que eu costumava jogar, mas SAO não possuía tal coisa, todos os personagens eram físicos. Durante o jogo beta eu ainda não havia me decidido com qual estilo iria jogar, pesado ou leve, até fazer certa mistura e finalmente consegui jogar bem, será que por falta de experiência minha com classes físicas eu errei tão feio assim?”

Eu sabia que uma build mal feita só iria dar problema de verdade mais à frente no jogo, porém até este momento está distribuição “diferente” que eu usava era de bom grado. Mas a preocupação me abalava enquanto eu caminhava “Se minha build estiver mesmo errada eu poderia estar correndo um grande risco de vida na linha de frente e nas missões como caçador” Tentava ao máximo distanciar pensamentos como este, mas acabei desanimando e resolvi descansar de um dia longo, fui até um restaurante e comprei suprimentos bem básicos, logo depois fui procurar algum hotel com preço um pouco mais baixo para alugar um quarto.

Quando finalmente cheguei a um, paguei o NPC que me entregou a chave de um quarto que ficava no segundo andar. Após subir as escadas, fui até o meu quarto que era o segundo a direita. Um pouco pensativo sobre o que me havia acontecido durante os últimos dias, mas ainda feliz por ter sobrevivido até aqui, me deitei na cama e fiquei observando o lado de fora pela janela. Com calma revisei meus itens em meu inventario até finalmente conseguir cair no sono.

27 de Outubro de 2023 48° Andar

Quando abri meus olhos, os primeiros raios de luz do dia começavam a surgir no céu. Por um momento pensei em voltar a dormir, mas ao rolar um pouco na cama me lembrei que no dia anterior eu tinha ido dormir muito cedo, coisa que era extremamente rara. Abri meu menu e verifiquei o horário, eram 5:57 da manhã. Meus pensamentos ainda estavam um pouco desorganizados, mas me levantei e rapidamente me reequipei. Ir a esse horário para os labirintos era uma excelente ideia, pois a maioria dos jogadores da linha de frente entram lá apenas depois das 10 da manhã, e os jogadores noturnos, que domem durante o dia e jogam durante a noite, já estariam voltando para cidade.

Essa era uma vantagem para um jogador solo como eu, mobilidade, não depender de ninguém para fazer as coisas não sendo atrasado por ninguém. Sempre em todos os jogos eu participava sozinho e sempre mantinha um ritmo que quase ninguém acompanhava, pelo menos enquanto eu estava empolgado.

Saindo do pequeno hotel que fiquei durante a noite, abri meu inventário, peguei um pão normal e adicionei um creme alaranjado a ele. Não tinha ideia do que era feito este creme, pela cor e pelo gosto parecia ser de laranja, ainda que nunca tinha achado uma fruta assim neste mundo, continuava a ser muito gostoso e barato também.

“É.... novo dia! ...Nova aventura!” disse enquanto me alongava e rapidamente comecei a correr pela cidade indo em direção ao portão oeste onde o caminho levava para o labirinto do 48° andar. Monstros que ficam fora do labirinto são de níveis um pouco mais inferiores do que os que estão dentro, então se eu queria aumentar meu nível, teria que me enfiar neste lugares sombrios.

Ainda correndo pela cidade eu já calculava quanto tempo iria demorar para chegar até a base do labirinto deste andar, apesar de já ter os mapas atualizados, eu só havia entrado neste duas únicas vezes e não foi para explorar, então não sabia o que poderia me surpreender. Ao passar pelo portão da cidade segui caminho por uma estrada de terra bem acidentada, mas que era praticamente uma linha reta para o meu destino que estava bem ao horizonte “Certo, mais uns 40 minutos nesta velocidade já devo estar lá”.

Meus pensamentos voavam e me distraíam durante o percurso, eu parava apenas quando tinha algum monstro em meu caminho que compensava matar. Finalmente cheguei à base do labirinto. Parecia ser de granito bem esverdeado, na entrada dava pra senti o ar frio e misterioso que saia do portão. Confirmei o horário em meu menu que marcava 7:06 da manhã “Ótimo tempo!”.

O medo sobre a minha build voltou a bater, mas rapidamente me recuperei ao lembrar da minha margem de segurança, eu estava no nível 60. Faltando meio caminho para atingir o nível 61, olhei para meu braço direito com aquele equipamento diferente e me lembrei exatamente como jogo, sou um jogador que usa uma capa marrom escura bem gasta, porém não uso nem um tipo de armadura por baixo, sou baseado em agilidade, mas tenho bem mais pontos em for do que o normal, pois sei que não sou tão habilidoso para esquivas, então por isso investi bastante em for para poder bloquear mais firme com minha espada os ataques dos monstros sem perder muito HP e para ser forte o suficiente para vencer uma disputa de força quando as espadas se encontravam. Porém meu ataque ficava bem defasado por causa disso, o que fazia com que minhas batalhas fossem mais prolongadas.

O mais interessante era o equipamento diferente que estava em meu braço direito, uma manopla singular. Depois que a equipei, minha taxa de acerto crítical aumentou bruscamente, e agora que meu braço esquerdo está com uma defesa maior eu poderia até tentar bloquear alguns ataques como se fosse um escudo, ao contrário do que a Info-chan me disse no dia anterior, esta manopla tinha uma resistência maior que um escudo normal do meu nível, porém uma defesa um pouco menor, “será que as informações adquiridas por ela estavam erradas? ou estes status só eram habilitados após este item ser equipado?” após eu chegar a essa dúvida fiquei empolgado em ter descoberto algo que ninguém sabia e adentrei o frio e escuro labirinto.

Avancei rapidamente pela entrada, mas ainda com cuidado. Os mapas eram uma grande ajuda, principalmente quando não tinha ideia de como o lugar funcionava, como evitar perder tempo em explorar lugares que davam em becos sem saída e coisas do tipo.

Durante o percurso me encontrei com monstros que em grande maioria, eram insetos gigantes, mas também havia alguns esqueletos comuns e outros que estavam equipados com armaduras em péssimo estado, esse não eram muito difíceis de se matar. Caminhei até que finalmente cheguei a um impasse.

“Daqui para frente eu tenho que escolher” disse quando finalmente cheguei à parte em que eu não tinha mais dados sobre o mapa. Minhas escolhas eram voltar para a cidade, continuar pelas áreas que já estavam exploradas ou ir para o desconhecido.

Abri meu menu novamente para olhar o horário, marcava 13:39 da tarde. Apesar de não estar mais no mundo real minha mania de controlar meus horários ainda me acompanhava. Eu já estava bem cansado, mas meu pensamento de trabalho não concluído fazia com que meu corpo negasse o descanso, ainda mais que já fazia 9 dias que a linha de frente estava neste andar mas ninguém ainda tinha encontrado o salão do Boss. Sentia que podia ajudar, por isso comecei a caminhar para o desconhecido. O tempo que a linha de frente levava para zerar um andar variava muito de andar para andar, tiveram alguns que demoraram cerca de 15 dias, e outros como o 39° andar demoraram apenas três dias. Neste já estava mais do que na hora de zerar e como eu nunca havia contribuído com algo assim minha força de vontade foi renovada, fazendo com que continuasse o caminho.

Alguns minutos depois de ter entrado na área não mapeada meu sentido de direção começou a ficar mais confuso. Achar a sala do Boss era bem mais difícil do que eu imaginava, porém isso acabou me distraindo e sem perceber cheguei a um portão que dava acesso a um salão bem grande onde não havia absolutamente nada.

Comecei a escanear com a habilidade de busca procurando possíveis inimigos, mas nada encontrei, nem um rastro sequer. A atmosfera no local parecia um pouco diferente, como se fosse agradável demais para fazer parte do labirinto, algo me dizia para ficar apenas na porta, porém o local era grande demais para apenas observar da entrada.

O salão era feito do mesmo tipo de pedra que o restante do labirinto mas este estava claramente mais limpo e mais iluminado com tochas do que os outros lugares que eu visitei. Sem mais cerimônias, adentrei o imenso salão. Era impressionante a sensação que tomou conta de mim. Meu coração começou a bater mais rápido devido a ansiedade, pois algo com certeza parecia que iria acontecer.

Chegando ao centro do salão me posicionei estrategicamente, mas ainda sim nada aconteceu. Comecei a olhar em volta e do fundo das minhas memórias me lembrei que alguns andares abaixo existia lugares assim dentro dos labirintos e nesses locais normalmente continha uma criatura do tipo elite que tem um HP e status bem maiores do que os normais e é preciso enfrentá-los em grupo por causa de sua tamanha força. Eles não eram tão fortes como um Boss, mas ainda sim eram inimigos que não poderiam ser subestimados.

Fiquei alguns segundos imóvel olhando para todos os lados, mas o local continuava vazio. “Só há um motivo para isto, a criatura que estava aqui deve ter sido derrotada por alguém que não compartilhou o mapa com a Info-chan, talvez até mesmo eles tenham descoberto a sala do Boss” depois de ter chegado a esta conclusão relaxei meus músculos e me virei para deixar o local, mas...

“A saída! ... Onde está?!” entrei em pânico quando percebi que a porta em que tinha entrado já não estava mais lá. Olhei para todos os cantos do salão retangular, mas não tinha nada, nem saída, portas, janelas, realmente nada, apenas quatro paredes com aparência bem solida. Imediatamente retirei um cristal de teleporte e o ergui para cima dizendo as palavras para voltar para cidade segura, porém nada aconteceu.

“Não pode ser, achei que eram apenas rumores esses tipos de locais onde não era possível usar o cristal de teleporte” me achei muito idiota e muito sortudo por ter chegado quase na metade do jogo sem ter ficado preso em um local como esse, novamente comecei a olhar em volta, mas dessa vez procurando alguma maneira de tentar escapar daquele lugar.

“Não acredito que acabei caindo em uma armadilha como...” quando me toquei a palavra armadilha já tinha saído de minha boca “Armadilha... coisas assim são feitas para nos matar...” pensamentos como o de nunca poder sair dali, morrer de fome (se for possível) começaram a borbulhar em minha mente “Acalme-se!” gritei comigo mesmo, tentando manter a cabeça no lugar, neste momento a parede para onde eu estava olhando rapidamente deu uma pequena e quase imperceptível ondulação da direita para a esquerda. Posicionei-me em alerta total, com a minha postura de batalha.

“Tem alguma coisa aqui... não acho que eu esteja sozinho” poderia ter sido apenas minha imaginação, mas a realidade era clara, caí em uma armadilha e ficar preso para todo o sempre não parece algo justo, deveria ter uma maneira de escapar, sair dali, mas não havia nada para ser usado nem mesmo um oponente a ser derrotado... Neste instante mais uma vez vi de relance a ondulação, dessa vez na parede ao meu lado esquerdo, me posicionei de frente a ela e usei a minha habilidade de escanear ao máximo naquela área. De repente dois pontos verdes brilhantes apareceram de forma fantasmagórica e depois mais dois bem abaixo, totalizando quatro pontos brilhantes flutuando no ar. Ainda utilizando minha habilidade ao máximo, foi finalmente revelado um cursor vermelho e duas barras de HP que apareceram juntamente com o nome “Stealth Hunter”.

Novamente as ondulações começaram aparecer, só que desta vez estavam muito mais intensas, até que um corpo magro e extremante alto, chegando a ter cerca de dois metros e meio, apareceu em minha frente, era uma criatura horripilante aparentando ter uma couraça roxa com traços cinza escuro. Ela estava em pé com os braços cruzados em seu peito, porém na ponta de seus braços em vez de mãos tinham duas lâminas pequenas que serviam tanto para cortar quanto perfurar e atrás de seu corpo curvado, existia uma cauda fina mas muito bem articulada que ficava se movimentando constantemente e que era também protegida pela mesma couraça que o restante do corpo na qual a ponta dava para reparar claramente que também serviria com uma lança. Por último um crânio totalmente alongado onde os brilhos verdes que se revelaram primeiro estavam agora fazendo a função de olhos, talvez as cores verdes esmeralda eram para poder enxergar a noite, completando assim um perfeito caçador.

A criatura a minha frente me fitava por inteiro, imóvel com exceção a sua calda na parte de trás que balançava excitadamente semelhante a um gato quando encurrala um rato, me analisando e esperando meu movimento enquanto eu ficava paralisado com a imagem a minha frente. Apertei a empunhadura da minha espada que estava em guarda na altura da minha cintura, com a ponta levemente inclinada para cima. Impaciente, a criatura, que não dava para definir o que era exatamente, soltou um Rugido agudo extremamente alto, uma habilidade chamada “Fear”, que fazia com que os inimigos ficassem paralisados ou fugissem de medo, nesse instante senti um forte arrepio em minha espinha.

Inclinado seu corpo bruscamente a criatura partiu para o ataque, seu jeito de correr parecia demoníaco, em questão de um ou dois segundos ela cobriu os quinze metros que nos separava. Ao se aproximar do meu corpo, sem parar de correr, ela inclinou o braço direto para atrás com intenção de me perfurar com sua lamina/mão.

Num movimento tão aberto e tão previsível como esse, era evidente que ela achou que sua habilidade Fear tinha me paralisado por medo, mas para o seu azar aquilo não fazia efeito em mim Pelo menos não agora, pois eu estava empolgado com esta luta, me sentia diretamente ligado a ela pelo simples fato de seu nome. “Hunter, então vai ser caçador vs caçador” Pensei. A poucos milésimos de segundos antes do seu ataque me acertar, mergulhei no chão na direção do seu braço direto, senti enquanto estava no ar a lâmina passando poucos centímetros do meu corpo, até que atingiu o lugar onde a pouco tempo eu estava, fazendo com que o piso fosse destruído. Aterrissei no chão com meu braço esquerdo e rolei para frente ficando de joelhos com minha espada posicionada a minha frente, no canto da minha visão puder ver a criatura com seu braço direito fincado no chão. O sistema de SAO não simulava muito bem as emoções nos rostos de seus NPC’s ou monstros, principalmente as de surpresa ou raiva, no máximo elas simulavam uma cara assustadora e feia que que nos fazia correr de medo, mas eu sentia a surpresa e a raiva estampadas em seus olhos focados agora na posição que eu estava. Como retaliação a criatura balançou sua calda como se fosse um chicote para me acertar, porém eu já estava preparado quanto a isso e defendi com força o ataque com minha espada e empurrei novamente a cauda afastando ela do meu corpo, quando a sua ponta laminada encontrou-se com a lâmina da minha espada algumas faíscas pularam.

Recoloquei-me em pé e em posição, sem perda de tempo a criatura se virou de frente comigo desferindo diversos ataques com suas três armas naturais, dos quais alguns eu desviava e outros eu bloqueava e o empurrava com força novamente, este era o meu estilo de batalha ataques que eram feitos com pouca força eu bloqueava e empurrava de volta para fazer com que o inimigo perdesse a postura de combate abrindo sua guarda para um ataque letal meu. Trocávamos ataques consecutivos... sentia que estávamos destinados a lutar... “rápido!” Os cortes em vermelho sangue começaram a aparecer em nossos corpos... me sentia como se ela fosse a criatura que eu deveria vencer para meu trabalho aqui estar concluído ... “força!” ... quando nossas lâminas se encontravam faíscas explodiam e dançavam no ar ao frenesi da batalha ...Após um ataque lateral meu em sua coxa esquerda a criatura soltou um urro de dor marcando assim o final da sua primeira barra de HP. “Falta só mais uma.” Pensei enquanto olhava meu próprio HP que já estava na casa dos 60%.

Para a minha surpresa, depois que a vida do monstro Elite atingiu sua segunda e última barra de HP, fazendo com que fosse parar na cor amarela, ele aumentou muito a sua velocidade, com ataques frenéticos num padrão completamente diferente dos de antes, eu já não podia mais atacar, ficava apenas defendendo, eram três armas contra uma única minha, que estava ficando sobrecarregada, em pouco tempo eu estava apenas recuando, e meu HP já tinha atingido o amarelo “Droga se continuar desta maneira” neste instante dei um passo em falso para trás, fazendo com que meu corpo perdesse o equilíbrio e a postura, aproveitando essa brecha a criatura que estava de frente comigo singelamente empurrou com o braço esquerdo a minha espada retirando-a da posição defensiva fazendo com que meu peito ficasse aberto, enquanto isso seu outro braço, o direito, já estava vindo em direção para me perfurar. Neste momento meu mundo começou a ir em câmera lenta, eu via claramente, seu braço indo em direção ao meu coração, minha espada estava longe do outro lado do corpo, não havia tempo para bloquear, eu estava sem equilíbrio e não podia mais me esquivar, um ataque com aquela força me pegando em cheio e com meu HP atual seria o fim...

“Não... não aqui e nem agora... não! Eu não vou deixar este mundo me vencer!” subitamente fui tomado pelo extinto de sobrevivência, e mirando o braço que iria me perfurar, com minha mão esquerda desferi um soco com toda a minha força e vontade, com esperança que aquilo pelo menos desviasse a trajetória letal daquele impiedoso ataque. De repente um brilho amarelo dourado cobriu do meu punho até o meu antebraço esquerdo “Ativei... uma habilidade?” O meu soco atingiu bem a mão laminada da criatura, a alguns centímetros do meu peito, e fez com ela se contorcesse e quebrasse parando o ataque instantaneamente, e ainda escutei sons que poderiam ser confirmação de ossos quebrados. Relinchando por causa da dor a criatura recuou seu corpo mas o seu braço com sua mão quebrada ainda estava no alcance da minha espada que agora estava na posição baixa, e eu com o equilíbrio recuperado, ativei uma habilidade básica porém rápida, “Corte Vertical”, e desferi um golpe de baixo para cima, acertando em cheio o meio de seu antebraço, que por causa de um crítical, acabou sendo decepando, assim o pedaço inerte da criatura caiu no chão, explodiu e dividindo-se em vários polígonos brilhantes.

Eu não tinha a menor ideia de que habilidade eu tinha ativado ali mas sentia que podia repeti-la de novo. Agora com a guarda baixa por causa de seu braço decepado, a criatura ficou desorientada ao se defender ... “Mais Forte!” ... E novamente ataquei, a habilidade se ativou e acertei um poderoso golpe em sua barriga, com um relinche a criatura me fez pular para recuar, e com toda a sua fúria ela saltou para efetuar um ataque ao qual eu desviei por muito pouco mas acabei indo parar em baixo de seu peito “Agora!”. “AAAAHHHHHH!” e a habilidade misteriosa novamente foi ativada e com uma força que nunca antes senti acertei um gancho bem embaixo do queixo da criatura, fazendo com que ela ficasse com o corpo reto erguido por alguns instantes, e nesse momento minha espada na mão direito acompanhou a direção desferindo um ataque de baixou para cima fazendo um corte vermelho da barriga ao ombro, após minha espada ter saído de seu corpo, pulei para trás e a misteriosa criatura caiu de joelhos bem em minha frente sem forças para reação, seu HP ainda estava no vermelho quase acabando, rapidamente corri em sua direção para não lhe dar espaço para se recuperar, “Mais Rápido...” com meu pé esquerdo me apoiei no joelho em que ela estava usando como apoio para se levanta, e pulei com a minha espada levantando-a para o alto, a criatura virou a cabeça para o lado esquerdo e ficou me olhando, e em seus olhos pude ver o meu reflexo desferindo o ataque final, enquanto caia de volta mirei bem em seu pescoço, um som de corte e brilhos vermelhos encheram meus sentidos. Após eu aterrissar, minha espada bateu no chão produzindo um eco por toda a sala, e finamente ouve uma explosão de polígonos brilhantes que se espalharam pela área e depois sumiram.