Um Outro Conto de Fadas escrita por Ryuuzaki


Capítulo 13
Uma conversa muito esperada - parte 2




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***

 

Ele estava na cozinha já há algum tempo. Procurava incessantemente pelos materiais que precisava para o que faria a seguir, mas estava tendo dificuldade em sua empreitada. O recinto era um lugar bem arrumado, espaçoso e ao mesmo tempo compacto; apresentava balcões de pedra-sabão que ficavam à sombra de um armário preso à parede que crescia na horizontal – percorrendo toda a extensão das três paredes que compunham a parte delimitada à cozinha, formando um “U”– e continha materiais normalmente usados para fins culinários. Era nesses compartimentos que Owen realizava sua busca.

 

Já havia vistoriado a maioria das seções daquele armário e não encontrara nada parecido com o que procurava. Desceu da cadeira a qual usava para alcançar partes mais profundas daqueles compartimentos e suspirou. Era certo que já havia feito a parte mais complicada daquela noite: Matar a fada. No entanto estava longe de terminar suas tarefas e o próximo passo era particularmente tão importante quanto acabar com a vida daquele ser grotesco. Irritado por não encontrar o que era necessário, indagou a si mesmo sobre o porquê de não ter simplesmente pego o telefone da criatura, dado um cafuné na criança e caído fora dali, mas logo deixou isso para lá, sabendo que não poderia voltar atrás e que certamente não seu plano de celular não possibilitava mandar mensagens de graça para operadoras das “terras reais”.

 

Afastou o cabelo desgrenhado e pôs a mão na testa, tentando se concentrar. Ouvia ao redor de si risadas imaginárias, advindas de entidades inexistentes que insistia em enxergar como “leitores”. Normalmente tal tipo de alucinação não atrapalharia na desenvoltura de qualquer atividade que estivesse realizando, mas aquilo era um pouco diferente. Aquela sensação de perda... Aquele sentimento de procurar algo que não faz a mínima idéia de onde deixou e após muito se esforçar – vasculhando incessantemente as vastidões de onde o que procurava poderia estar – simplesmente não encontrar pista sequer do paradeiro era uma das coisas que conseguiam atingir e até mesmo chacoalhar sua – já irrequieta – alma.

 

Por alguns instantes a mente do caçador se ordenou. Foi como se por um momento ele ficasse são novamente, fazendo com que a desordem de pensamentos – sem a mínima das lógicas e sem menor aplicabilidade – que se sobrepunham – como que criando um tornado de idéias insanas que girava rapidamente e aumentava a cada instante, disputando o lugar principal na cabeça de Owen – desaparece. Era como se houvesse sido curado de sua loucura. Naquele momento a única coisa que tinha espaço em sua mente eram lembranças do passado.

 

Era um garoto. Quanto tempo havia passado desde aquele dia? Ele não lembrava. Nem tinha como manter uma contagem, na verdade. Estava na casa da avó. Sabia disso. Não lembrava onde era. Porque não lembrava onde era? Não importa agora. Era uma noite de histórias... E muitas histórias foram contadas. Tudo era ótimo, gostava do lugar. Mas naquela noite ele procurava por... Procurava por... Procurava... Procurava...


De súbito todos os pensamentos díspares voltaram à cabeça de Owen, quase fazendo com que desmaiasse tamanha a carga de pensamentos e emoções varias que tomaram conta de sua cabeça. A luta pela consciência não foi difícil, já estava acostumado a esse tipo de ataque. Mas as vozes... As vozes... Dessa vez não conseguiu deixá-las de lado, como há muitos anos fazia. Virou-se de supetão, olhando para fora da cozinha e então sibilou ferinamente, para entidades que habitavam sua mente insana, com a voz carregada de raiva.

 

– Prestem bem atenção... – falou entre os dentes – O que aconteceu é meu... Só meu. Vai vir à tona algum momento, mas ficar aí se indagando sobre meu passado não vai ajudar em nada. Vai apenas me fazer demorar ainda mais para achar o maldito azeite!

 

Owen virou-se para uma bancada à suas costas e, com os dois punhos cerrados, se apoiou, resfolegando de raiva. Tentou se acalmar tirando os pensamentos que permeavam sua cabeça. Não foi bem sucedido, nunca seria. Com as mesmas mãos que se apoiava bateu na superfície, com força, com raiva. Cerrou os dentes. Suas mãos tremiam. A vontade de puxar sua arma e atirar naqueles armários, em suas alucinações – os leitores – era imensa. Mas não... Não podia fazer aquilo. A mágica da fada a muito se fora e caso fizesse o que pretendia todos daquela rua – e de algumas ruas depois – ouviriam o poderoso estampido de sua ponto 45.

 

Tinha que se acalmar, juntar todo o material e então voltar para o quarto. Terminar o trabalho. A garota tinha uma ligação com ele. Uma ligação forte e ainda por cima parecia ser sensível a certas energias... Percebia coisas que não era para perceber, sentia coisas que não era para sentir... Owen sabia dessas coisas. E tinha a certeza de que isso estava causando um grande transtorno na mente da pequena... Temia pelos sentimentos que ela poderia estar concebendo. E estava certo de que, por mais difícil que ficasse de lidar com a menina, não poderia deixá-la sozinha. Afinal...

 

– Ela faz parte da história... – Disse baixinho, completando a voz em sua cabeça a qual nomeara “narrador”.

 

Ele suspirou, guardando dentro das profundezas de sua alma a raiva que sentira a poucos instantes.

 

Voltou a procurar...

 

***


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Notas finais do capítulo

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Acho que ficou um pouco confuso...
De qualquer forma, aguardo a opinião de vocês xDDD

Uma pontinha do passado de owen, muito da loucura do mesmo, e o inicio de uma explicação sobre o porque de Faye tanto devanear.