Um Outro Conto de Fadas escrita por Ryuuzaki


Capítulo 12
Uma conversa muito esperada - parte 1




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Parte 2: Sobre meninas e fadas

 

A madrugada continuava avançando com seu modo categórico e inexorável; trazendo a diversão, a vida e oportunidades no mesmo passo que tomava esperanças e retirava proteções ao liberar monstros de seus cárceres diurnos; mas ainda assim aproximando cada vez mais do novo e brilhante dia que não seria apreciado por todos os que estavam de olhos abertos àquela hora. Eram três da manhã e a cidade ainda fervilhava de atividade na maioria dos locais. Bares, botecos e boates mantinham suas luzes acesas, o burburinho corria selvagemmente, alcançando as ruas conforme pessoas interagiam em seus respectivos grupos e falavam mal das turmas alheias. Esses não eram, porém, os únicos estabelecimentos que se mostravam em plena atividade - embora de luzes apagadas e com paredes que abafam o som interior – os motéis da cidade apresentavam um tipo de interação pessoal ainda mais intensa que a maioria dos lugares agitados. Os teatros que ainda estavam abertos alternavam seu nível de iluminação e quantidade de barulho, mas, mesmo que as pessoas não se falassem, estavam ligados por toda a magia que envolve contar uma história, assim fazendo parte de uma interação cultural, que para alguns era tão vivaz quanto qualquer outra forma de integração que a cidade oferecia.

 

A despeito de todos os eventos que aconteciam na cidade, com suas muitas pessoas se falando, trocando experiências, vivencias e emoções, mesmo com a existência de seres escusos – que fugiam do conhecimento da esmagadora maioria dos que em Santa Felícia vivem – também se relacionando, tanto entre os seus quanto com mundanos... Nenhum desses encontros conseguia ser mais importante para o desenrolar dos planos da própria existência – talvez o chamado destino – quanto a conversa que acontecia no apartamento 403 do apagado edifício Reyes da Rua Forrest Anole... Ou pelo menos, que deveria estar acontecendo...

 

Pois Faye se encontrava sozinha em seu quarto.

 

Mesmo com toda seriedade e confiança que o príncipe encantado da menina havia dito suas ultimas palavras, fazendo com que a jovem suspirasse discretamente por saber que ficaria mais tempo com seu salvador, ele não ficou no quarto. Ao invés de começar a prometida e importante conversa que deveria ter com a garota, resmungou algo sobre ainda haver uma coisa essencial para completar e então saiu do quarto, pisando sobre o corpo morto do monstro e batendo a porta atrás de si.

 

Já havia se passado 10 minutos.

 

Todo aquele instante duradouro Faye se sentiu solitária e desprotegida. Não era de se espantar que esse sentimento a tivesse acometido, afinal, estava sozinha no mesmo recinto que o cadáver da criatura que pouco tempo atrás quase a mandara para o abraço acolhedor – porém não bem vindo – da morte. Não fosse Owen ela certamente estaria agora reduzida a pedaços semi-devorados... Owen?

 

Owen... Owen...

 

A palavra dançou na mente de Faye. Ela sabia o nome de seu príncipe. Sabia o nome de seu salvador. Ela não tinha idéia de como detinha aquele conhecimento, mas não se importou. Talvez ele fosse um mágico que tivesse atirado aquele saber para a mente da garota, ou quem sabe um rei guerreiro com poderes especiais... Ou quem sabe... Quem sabe... Quem sabe ele mesmo fosse a fada. Não uma criatura pequena e com asinhas coloridas que trocam dentes por moedas, mas SUA fada; a pessoa que iria tirá-la daquela casa. Quando esta idéia atingiu seu imaginário todo o medo e receio que sentia se evanesceu com a volatilidade do éter e ela suspirou relaxada.

 

Owen não havia a abandonado. Poderia demorar uma eternidade ou mais, mas voltaria por aquela mesma porta pisaria novamente sobre o corpo do monstro, agora inofensivo, e então iria sorrir... Ela tentou disfarçar um sorrisinho, mas não conseguiu. Ao lembrar-se de Owen percebeu também o quanto o achava bonito. Podia ser nova, mas certas questões e preferências de beleza já começavam a adentrar sua mente... E queria tanto beijá-lo...

 

Apertou os olhos e balançou a cabeça ligeiramente. O coração disparando e as bochechas ficando avermelhadas. Ficara envergonhada com o que pensara. Era nova e – diferente de algumas de suas colegas de classe – não era dada a beijos e namoricos. Não sabia por que tal pensamento acometeu sua cabeça, mas procurou concentrar-se em outra coisa. Portanto, olhou para o monstro.

 

Agora a medonha criatura não parecia assustadora. Ainda era feia, mais feia que a barriga peluda de seu tio Fred. Mas agora que tinha certeza de que não ficaria sozinha, de que Owen voltaria, e então não mais sentiu um pingo de medo... Ou pena. Com seus medos levados embora e olhando para o monstro que quase a matara, restou apenas com raiva perigosa para alguém de sua idade sentir, algo quase destrutivo, atroz. Aquele sentimento começou a corroê-la, fazendo com que seu rosto juvenil adquirisse um inimaginável toque intimidador conforme ela levantava os lábios e sentia seu peito ser corroído por uma comichão de ódio se espalhava; repuxando cada músculo de seu corpo...

 

Levou as mãos à boca rapidamente, assustada, Não entendeu como fora possuída por um sentimento tão forte, tão carregado. Nunca fora agressiva, sabia disso, mas a fada, mesmo morta, parecia ainda lhe fazer mal, aflorando a pior parte de seu ser... Um lado de Faye que seria necessário um dia... A garota fez força para suprimir aquele lado que sentia não apenas alivio, mas deleite em ver que o monstro sofrera antes de morrer, e, utilizando toda sua inocência infantil para suplantar aquela raiva, voltou apaixonadamente a pensar em seu salvador.

 

Não sabia o que as outras pessoas achavam do pistoleiro. Na verdade nem se importava, pois em sua mente ele era o mais lindo dos príncipes e em breve voltaria para salva-la... E isso era o que importava...

 

Sairiam juntos pela janela quebrada. Lado a lado cumpririam uma missão, que era fundamental para o andar das coisas... Tornariam a ver mais daqueles seres demoníacos que tentaram se apossar de seu dente... E iriam impedi-los. Precisavam impedi-los. A garota não entendia como tinha essas certezas, mas as tinha e elas se realizariam. Apenas sabia não o que fazer para que tudo desse certo. Mas aprenderia... E como aprenderia.

 

Owen...

 

A palavra ainda bailava em sua mente...

 

Como queria falar aquele nome!

 

 

***


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Notas finais do capítulo

 
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Pessoal, espero que tenham gostado deste capitulo. Acho que ficou um pouco corrido a questão da mudança de pensamentos da Faye, por isso espero reviews de vocês, leitores, para que eu possa ter um feed back.
 
Acha que a história merece indicação? Então manda uma o/