Broken Flower escrita por Fleur dHiver


Capítulo 35
Um pouco de ação


Notas iniciais do capítulo

Hello, cats. Mércurio está retrogrado então sextou. Porém não digam que eu não avisei sobre ler esse capítulo cedo demais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/409045/chapter/35

 

— E então? E depois? — questionou Naruto, colocando Boruto, que não parava quieto, em cima do trocador de fraldas. — O que rolou depois do beijo e do choro? — O Uzumaki viu perfeitamente quando Sasuke virou a cara para o outro lado após a pergunta.

Esperou por alguns segundos e nada, silêncio absoluto por parte de seu melhor amigo. Ele então soltou uma lufada de ar, e exasperado complementou:

— Por favor, me diz que você não fingiu que nada aconteceu. Por favor, Sasuke.

— Naruto...

— Você está me matando! — exclamou o Uzumaki, interrompendo o amigo e prendendo a atenção do filho, que deu uma risada logo em seguida pela expressão sofrida do pai.

— Naruto! Ela bebeu, ela estava estressada... E eu sei o que podemos nos arrepender amargamente do que fazemos quando estamos nesse estado, além do mais importante: ela. Quer. Assim. — Sasuke falou pausadamente para ver se o amigo entendia de uma vez por todas que as coisas não dependiam exclusivamente dele. — É difícil compreender isso? Eu não posso fazer nada!

— Não é verdade! — Naruto continuou a teimar

Sasuke suspirou, balançando a cabeça de um lado para o outro, era pior que falar com uma criança.

  — Sasuke, quando a Sakura te disse isso o Boruto tinha menos de três meses e ele já vai fazer um ano. Um ano! Sua filha não tinha nascido e ela já fica sentada sozinha. Nada é permanente e nesse meio tempo a Sakura pode, sim, ter repensado muitas coisas, como eu acho que repensou, e ter mudado de ideia, como eu também acho que mudou. — Sasuke sentou na poltrona que havia no quarto de Boruto, enquanto Naruto continuava a falar e a trocar as fraldas do filho. — Poxa, vocês fazem tudo juntos. E isso?! O que ela disse?! Ela não te repeliu, ela não pediu que parasse...

 — Não, ela só fugiu para o quarto da Sarada e ficou lá o resto da noite. — Ele disse em um tom áspero, descontente.

 Naruto soltou um suspiro, sentando no chão com Boruto no meio das pernas; o pequeno já tentava escapar e engatinhar para junto de seus brinquedos.

 — Ela não saiu de lá nem um minuto? — Sasuke continuava a evitar encará-lo e Naruto sabia muito bem o que isso, seguido do silêncio absoluto dele, significava. — Sasuke!

 — Ela só me olhou, ok? Ela saiu do quarto e me olhou, eu olhei para ela e fim! Nenhum dos dois falou nada e ela voltou. — Naruto jogou a cabeça para trás exasperado outra vez.

 — Você está me matando! Eu estou sendo obrigado a dizer isso de novo! — Boruto virou a cabeça para fitar o pai, que estava com o pescoço levemente avermelhado, a agitação do mais velho despertando a curiosidade da criança outra vez.

 

Sasuke apenas revirou os olhos, odiando estar tendo aquela conversa com Naruto e odiando ainda mais estar se sentindo tão embaraçado e idiota.

  — Por que você não fez nada?

— E se ela dissesse “não” outra vez? — Ao fazer a pergunta que rondava sua mente, Sasuke encarou finalmente seu melhor amigo. — Seria a terceira vez e eu ainda assim não teria aprendido? Sakura poderia querer me afastar e tudo o que temos até agora iria embora, eu não teria mais nada. — A última palavra que saiu de sua boca ecoou em sua cabeça lugubremente.

Naruto ficou em silêncio por um instante, observando o amigo repuxar um pouco da calça, na altura dos joelhos, perdido por um instante muito longe daquele quarto.

— Não acho que ela diria algo assim, não acho mesmo. — Naruto falou suavemente, inclinando o tronco na direção de Sasuke. — Se fosse um “não” o que ela queria dar, ela já teria dado, independentemente de você ter avançado de novo ou não. Sakura teria deixado bem claro antes que você chegasse perto dela o suficiente.

 Sasuke voltou sua atenção para o tapete acarpetado em que Naruto e Boruto estavam; o mais novo, completamente alheio aos dois adultos, encaixava seus pequenos legos, absorto em sua brincadeira, apenas entregando algumas peças ao pai de vez em quando.

 — Faça alguma coisa. Acho que você sabe que isso foi um aval, só está com medo. Ponha uma pitada de ação, sem compras e bebê, eu e a Hinata ficamos com ela. — Os olhos escuros do Uchiha se fixaram nos azuis calmos de Naruto, que logo desviou para a criança que exigia a sua atenção enquanto continuava a falar: — Se eu te dei uma nova chance, a Sakura também vai dar — Sasuke ergueu uma das sobrancelhas, em contrariedade daquela afirmação do Uzumaki, cruzando os braços em seguida.

— Você me deu uma nova chance?

— Sim! Depois da sua traição infame com o Kakashi-sensei! De segredinho com ele pela Vila, me deixando de lado. — Naruto completou seu comentário com uma careta azeda.

— Quê?

— É, não faz essa cara de cínico! Se eu estivesse sabendo de tudo desde o começo, gênio, metade dos seus problemas não existiriam, mas não, preferiu o outro... — Naruto, exclamou melodramático, e Sasuke soltou um suspiro, levantando-se.

— Me poupe, Naruto.

Um pouco de ação.

Os dias foram passando e essas palavras não saíam da cabeça de Sasuke. E cada vez que repensava, mais gostava da ideia. Sua atenção ia e voltava nesse mesmo tema toda a vez que Sakura aparecia e às vezes, mesmo quando ela não estava por perto, ele se via preso nas palavras do melhor amigo. E o pior, se via fantasiando com as milhares de possibilidades que uma simples frase poderia abranger. Não importava o lugar em que ele estivesse ou o momento, lá estava sua mente indo embora para uma noite bem iluminada, uma mesa em frente à janela, nenhuma refeição em cima, no lugar...

— Se quer comprar para a Sarada, os melhores são os pequenos. — A orientação de Sakura o tirou de seus devaneios.

Sasuke piscou duas vezes antes de voltar sua atenção para ela, que apontava para um pacote de macarrão com o formato de rolinhos logo abaixo dos que ele olhava. Ele acenou com a cabeça de leve, mas sem muita convicção, e ela logo estranhou a falta de reação dele.

— O quê? Vai começar a comer massa agora? — ela questionou, sorrindo e colocando os pacotes de biscoito que carregava dentro do carrinho. — Comia quase obrigado quando eu fazia.

— Não é bem assim, seu macarrão era bom — ele disse, ligeiramente envergonhado.

— Certo, então eu vou fazer qualquer dia para nós — Sasuke soltou um suspiro leve após as palavras dela, voltando a empurrar o carrinho de compras. Por alguma razão a reação dele a fez sorrir ainda mais, e Sarada, sentada na cadeirinha acoplada no carrinho, riu junto de sua mãe.

— Eu preciso comprar alguns legumes antes de sairmos dessa parte, você quer alguma coisa? — ele indagou e Sakura negou com a cabeça, retrocedendo.

— Não, mas tenho que pegar algumas papinhas, nos encontramos no corredor de limpeza?

Sasuke parou, fitando-a de soslaio.

— Papinhas? Eu comprei algumas no começo dessa semana. Deixei na sua casa, em cima da mesa. Não viu?

Sakura desviou o olhar, ruborizando logo em seguida.

— Sim, eu vi e elas já acabaram, ok?

Ele deu um sorriso mínimo e ela revirou os olhos, com um ar de riso também em seu rosto, voltando a seguir seu caminho. Sasuke continuou a empurrar o carrinho em direção à seção de hortifruti, como tinha comentado.

— Acho que ando comprando papinhas para mamãe, Sarada. Ela está nos enganando. — Ele tocou de leve a cabeça dela que o fitava com atenção enquanto ele falava. E a pequena, sorrindo, estendeu seus bracinhos para o pai.

(...)

 — Não me leve a mal, eu vou amá-lo. Mas sempre me imaginei com uma menininha fofa, tipo a Saradinha, para eu fazer vários penteados e colocar diversos vestidinhos cheios de babados. Eu me perco nas seções femininas infantis cada peça uma mais linda que a outra — disse Ino fantasiosa, passando a mão pela barriga já bem arredondada de seis meses. — A parte dos meninos é mais normal, casual. — Ela fez uma breve careta após o comentário. — Não tem muita variedade, só alguns macacões bem fofinhos. Para compensar comprei vários deles de bichinhos e já montei quase todo o enxoval na cor azul, em vários tons seguindo um degradê...

 Sakura balançava a cabeça volta e meia, mas estava mais atenta às opções do cardápio do que àquela conversa. Ino poderia falar a tarde inteira sobre tudo que já comprou e planejou para o bebê e não necessariamente precisava de plateia para isso. Se bobear a criança já tinha roupa para os próximos dez anos, quiçá para mais.

 — Você pensou nisso dos tons para a Sarada?

 — Na verdade, não. — Sakura fechou o cardápio, levando uma das mãos à nuca. — Não tive muito tempo, você sabe, foi tudo muito... atribulado.Para dizer o mínimo, pensou. Ela deu de ombros após a última frase, voltando sua atenção para o movimento fora do estabelecimento.

 Um silêncio desconfortável se estabeleceu entre elas. Após o encontro nada amigável, próximo à casa de Sai, Sakura foi atrás de Ino para saber o que exatamente ela queria dizer com aquela provocação besta. Porém sem querer dar o braço a torcer, não queria parecer de fato perturbada ou curiosa, pois sabia que Ino amava provocá-la, ainda mais quando se sentia no direito de fazê-lo. Sabia que a Yamanaka fazia isso como uma punição por ter escondido seu plano dela, por ter fugido sem dizer nada.

 Quando os ânimos se acalmaram ela contou tudo o que houve a Ino; não foi fácil e a reação dela foi tão ruim quanto a de Tsunade. Sua raiva era tanto para com Sasuke como para com Sakura, mas por essa em particular se sentia diretamente traída.

 — Você deveria ter me procurado, eu faria qualquer coisa para te ajudar. Como pôde pensar que eu não estaria sempre do seu lado?

 Foram semanas, meses de total silêncio e afastamento, Ino fingia nem vê-la pelos corredores do hospital. Não a julgava, se sentiria traída também se fosse o contrário, mas era tudo tão complicado. Complicado explicar que não houve descrença, desconfiança ou a falta de confiança; que quando se está no olho do furacão a lógica é bem rasa e a clareza falta. O plano dela foi horrível do começo ao fim e hoje Sakura tinha a total noção disso, mas naquela época ele era quase o céu.

Por alguma razão Ino a procurou já com a barriga começando a aparecer, em uma conversa quase casual, mas ainda em um tom passivo-agressivo. Um passo de cada vez foi dado e aos poucos voltaram a se aproximar. Não sabia o porquê, talvez fosse a gravidez que a amoleceu, mas esse assunto, esse tópico em particular ainda deixavam as coisas um pouco azedas.

Ino pegou um pequeno pãozinho em cima da mesa.  

— Mas ela fica muito bem de vermelho, violeta, azul escuro, tons vibrantes e fortes — afirmou Sakura, torcendo para que fosse o suficiente. Ino balançou a cabeça de leve.

— Verdade, eu a vi com o Sasuke um dia desses usando um macaquinho todo vermelho, a coisa mais adorável do mundo. — Sakura sorriu com um toque de orgulho do comentário feito pela amiga. Não queria se gabar, mas, sim, sua filha era a coisa mais fofa do mundo inteiro e se sentia até elogiada quando esse tipo de comentário vinha espontaneamente dos outros. Um orgulho bem próprio. — É engraçado ver o Sasuke com ela — emendou Ino, pegando mais alguns pãezinhos do cesto em cima da mesa. — Ela acaba se tornando um tipo de ímã, acho que até quem não o tinha perdoado acabou esquecendo ou esquece sempre que os vê juntos. Não tem uma pessoa que não vire o pescoço para vê-los no parque, ou caminhando por aí. Como se ele antes já não fizesse sucesso sem um bebê nos braços, agora…

Sakura também já tinha reparado nisso, até quando ela também estava junto ele era alvo de muitos olhares, mesmo no mercado entre rabanetes e papel higiênico. Mas, enfim, não cabia a ela dizer nada e preferia que Ino também não falasse sobre isso.

— Eu nem te disse que o vi no mercado essa semana — continuou a Yamanaka, um pouco animada demais. Sakura soltou um suspiro, não queria mais falar dele.

— Normal, Ino, as pessoas vão ao mercado — respondeu ácida, batendo os dedos em cima da mesa — Quando vamos pedir?  

A Yamanaka balançou a cabeça de forma negativa, dando um tapa de leve no braço de Sakura.

— Ele estava na seção de doces, com uma barra de chocolate em mãos. — Essas palavras tomaram completamente a atenção de Sakura, que cravou seu olhar na amiga, totalmente incrédula.

— O quê?

— Exatamente! Fiquei muito chocada e tive que me aproximar para ver o que estava acontecendo e a cesta que ele carregava também tinha outras coisas suspeitas e surpreendentes. Uma porção variada de frutas vermelhas, morangos, cerejas e até blueberries. — Ino sorriu cheia de malícia, inclinando o corpo para frente — Tem algo que está deixando de me contar?

— Não.

Sakura odiou o fato de seu tom ter saído mais desanimado e azedo do que desejava; tomou um pouco de água e voltou a olhar o cardápio, ignorando o olhar infame e acusador que estava recebendo da melhor amiga.

— Não tenho deixado de te contar nada e não sei o que está acontecendo com o Sasuke e tampouco é da minha conta.

— Ouvi-la falar isso me faz lembrar que eu tenho outro assunto para tratar com você e acredito que é algo do seu interesse... — disse Ino, com um sorriso aberto.

Sakura não a interrompeu, mas também não se mostrou interessada pelo que ela iria dizer, a última vez que Ino lhe trouxe “assuntos do seu interesse” só a deixou com a pulga atrás da orelha e por isso preferia evitá-los. Até porque a Yamanaka não parecia interessada em sanar nenhuma de suas dúvidas apenas em criar mais. 

 — Você soube que a Shizune aceitou ter um assistente, não é?

 — Hum, acho que o vi essa semana em uma cirurgia, parece um bom médico — Sakura deu de ombros após comentar. Não tinha prestado muita atenção no rapaz. Ino revirou os olhos.

 — Não sei se você é lerda assim ou se faz. Como trabalhando naquele lugar, estando bem mais próxima de toda a fofoca do que eu, você está por fora?

 — O quê? Ele é mais que aluno da Shizune?

 Ino negou o questionamento da amiga com pressa, dando uma risada em seguida.

 — Não. Ele andou perguntando por você — respondeu a Yamanaka com um sorriso matreiro, estendendo a mão para chamar o garçom. Sakura a fitou em choque e ela continuou: — Muito curioso para saber se você e o Sasuke realmente se separaram; quanto tempo faz; se tem alguma chance de vocês voltarem... — Ino soltou um suspiro, apreciando a expressão de surpresa da amiga — Ele não é de Konoha, veio se especializar. Não sei como alguém pode se interessar por uma pessoa com a testa como a sua, mas né? Até o Sasuke se rendeu por algum tipo de charme que eu não enxergo.

 — Pobre Sai, deve sofrer ao ter que ficar te ouvindo matracar dia e noite sem parar. Estou realmente penalizada, e essa criança? Nem nasceu e já sofre, pobre bebê. Tia Sakura está aqui para te dar forças. — Sakura estendeu a mão para acariciar a barriga da amiga, mas levou um tapa no meio do caminho.

 — Cala a boca e responde logo! E ai, testuda? Qual vai ser? Mando minhas fontes dizerem que você está livre e leve como uma pluma ou não?

 (...)

 Mesmo da calçada ela já podia ouvir o choro. Sakura abriu a porta às pressas, largando tudo que carregava no corredor e indo direto para o andar de cima. Assim que chegou no segundo andar, avistou Sasuke caminhando de um lado para o outro com o polegar envolvido em uma gaze. Sarada parecia estar sugando o dedo do pai, e quando fazia isso parava de chorar por alguns segundos, mas voltava logo em seguida, esperneando, agoniada nos braços dele.

— É o dente — ele disse assim que notou a presença de Sakura — A pomada não está adiantando muita coisa.

Sarada estendeu os braços em direção à mãe no instante em que a viu; Sakura a pegou para fazer exatamente a mesma coisa que Sasuke, mas a irritação era constante, e como ele disse o remédio não estava tendo muito efeito. Ela não parava de chorar nem um minuto sequer.

Queria chorar junto com ela, era horrível a sensação de não poder fazer nada. No desespero aliviou a dor dela com chakra, sabia que não podia fazer isso a noite toda nem sempre que ocorresse, mas ao menos por essa noite seria feito. Conseguiram colocá-la para dormir no meio da madrugada. Passaram boa parte da noite revezando o colo, pois mesmo sem o incômodo ela ainda continuava enjoada, acordando e choramingando sempre que a colocavam no berço. Quando Sarada apagou de vez, ambos estavam exaustos. Dormiram no chão do quarto da filha, com ela deitada no peito de Sasuke e Sakura com a cabeça apoiada em seu ombro.

Sakura acordou ao sentir uma mãozinha batendo em seu queixo. Sarada acordou primeiro que os dois e parecia bem melhor que ontem, a fitava com seus imensos olhos negros, agitando-se para se soltar dos braços do pai. Com cuidado para não acordá-lo tentou pegá-la no colo, mas ele acabou despertando no meio do processo.

— Bom dia — disse, enquanto entregava Sarada ao colo da mãe.

— Bom dia, vou levá-la lá para baixo para comer algo, quer que eu prepare um café? — Sakura questionou e ele negou com um aceno, se espreguiçando no carpete, as costas latejando pela posição desconfortável. — Mamãe está com tanta fome — ela brincou, balançando Sarada em seus braços. — Vamos comer uma frutinha gostosa com...

— Sakura! — ele exclamou.

Ela o fitou com espanto. Em um momento ele estava deitado no carpete, semidesperto, no outro estava saltando, agitado em direção à porta e a puxando pelo braço, como se quisesse impedi-la de seguir adiante.

— O que houve? Qual o problema? — ela indagou, preocupada com a exasperação dele.

— Fiquem aqui, eu pego algo para vocês comerem — Sasuke falou, já tomando a frente dela. Ele tentou fazer com que sua voz saísse calma e neutra, porém não teve sucesso.

— O quê? Por quê? — ela perguntou, já se preocupando.

— Ontem eu fiz uma bagunça na sua cozinha. Não precisa ir lá, eu vou limpá-la e trazer algo para vocês aqui em cima. — Sakura o fitou meio contrariada com a resposta obtida.

— O que tem isso? Eu te ajudo a limpar, não tem problema — ela respondeu. Sasuke pressionou os lábios até formarem uma linha franzida. Ela achou graça, mas nada disse ou fez, isso só aguçou ainda mais sua curiosidade.

— Eu prefiro lidar com a bagunça sozinho.

— Ok. Você lava enquanto eu preparo algo para a Sarada. — Respondeu calmamente, divertindo-se em vê-lo se debatendo por dentro. Estava claro que ele não a queria na cozinha de jeito maneira.

Apesar de claramente contrariado, Sasuke não protestou e tomou a frente, descendo as escadas de um jeito engraçado; estava com pressa e ao mesmo tempo querendo parecer despreocupado. Sakura o seguiu sem acelerar o passo, dando um pequeno espaço para quem sabe assim ele ficasse mais tranquilo para fazer sabe-se lá o que na cozinha. Se não estivesse tão confusa e curiosa, estaria rindo agora, pensando se a bagunça era tão grande assim para ele não querer de jeito maneira que ela visse. Duvidava muito, ele era uma pessoa metódica, conseguia conciliar várias atividades sem se desesperar, sem perder sua organização. Mesmo com a questão do dente tinha certeza que estava tudo sob controle, talvez apenas uma louça ou outra fora do lugar.

Quando ela chegou ao cômodo, como imaginado, não estava o pandemônio que ele queria que ela acreditasse. Algumas panelas no fogão, um pouco de louça suja, uns pacotes em cima da mesa e nada mais. Sasuke tinha colocado algo no escorredor e procurava uma vasilha para guardar o que tinha ali.

— Estava preparando o jantar? — Sakura pôde notar quando os ombros dele ficaram ligeiramente tensos assim que questionado por ela, para em seguida relaxarem outra vez. Ela colocou Sarada em sua cadeirinha, observando-o atentamente.

— Sim.

Ela se aproximou para saber o que era e se surpreendeu ao ver macarrão no escorredor. Talvez alguns hábitos dele tivessem de fato mudado, porém não era da conta dela se Sasuke tinha novas preferências. Deixou-o para lá e foi até a geladeira pegar uma maçã para Sarada, mas se espantou ao abrir a porta. Bem na prateleira de cima, reluzia uma torta de chocolate decorada com morangos.

Assim que a viu, Sakura fechou a porta da geladeira na mesma hora, em um ato impensado. Os ruídos de vasilhas sendo abertas e fechadas pararam; ela respirou fundo e abriu a porta outra vez, e sem esboçar qualquer reação pegou a fruta na prateleira do meio, ignorando todo o resto. Seguindo no automático, pegou um prato limpo, uma faca e uma colher, sob o olhar atento do Uchiha, porém não se virou para ele nenhuma vez sequer.

Ela não sabia o que pensar, sua cabeça estava uma confusão só.

— Sakura...

— Você fez isso para... — Uma palavra, só uma palavra de uma única sílaba, não saiu. O resto da sentença ficou preso na garganta de Sakura. Ela cortou a maçã no meio, respirando fundo; podia ouvir as batidas do seu coração ecoando profundamente. — Você gosta de doces agora? — Ela tentou soar natural, mas sabia que tinha falhado. Raspou com a colher a polpa de uma das metades da fruta em suas mãos e deu para Sarada comer.

Um silêncio tão pesado caiu no cômodo que os movimentos dela soavam bem mais altos que o normal, até mesmo Sarada ficou quieta, atenta às ações de sua mãe, esperando o momento que teria mais de sua fruta raspada.

— Não, não gosto.

Sakura ergueu a cabeça para fitá-lo. Sasuke estava de costas para elas, abrindo o registro da pia e começando a lavar as panelas que tinha sujado.

Sarada bateu no tampão de sua cadeira, esticando as mãozinhas em direção à maçã na mão de sua mãe. Sakura voltou a raspar a fruta, dando de comer para a pequena. Não sabia bem como processar o que estava acontecendo ao redor dela. Fitou as panelas que ainda estavam sobre o fogão, deveria ter mais comida ali; desceu o olhar e aparentemente tinha algo no forno também. Respirou fundo outra vez, raspando a maçã com força.

Ouviu o registro da pia sendo fechado. Não ergueu o olhar, mas, pela visão periférica, soube quando ele se virou e deu um passo em direção à mesa. Ela engoliu em seco.

Sasuke estava secando as mãos, seu olhar fixo em Sakura, porém ela estava atenta à ação que praticava, a tensão palpável no ambiente. A primeira polpa da fruta já tinha acabado, pegou a outra banda, mas Sarada já não parecia assim tão interessada na comida.

— Não... — ele começou a falar.

Ela ergueu a cabeça para olhá-lo, Sasuke não a estava encarando, os lábios dele se encontravam entreabertos e a mão na cabeceira de uma das cadeiras. Ele observava a bolsa vazia do mercado em cima da mesa, mas sua atenção não estava nela.

— Não sou bom em lugares públicos. Não me sinto totalmente à vontade, então eu pensei em... preparar um jantar...

— Por quê?

Ele a encarou e ela o encarou de volta e eles ficaram assim por alguns segundos. Sakura estava presa ao olhar magnético dele, sua respiração mais agitada que o comum.

— Por que quis preparar um jantar? Eu devo... — Abriu a boca para continuar a falar, mas não sabia o que dizer, então a fechou outra vez. Desviou o olhar e encarou a filha, que mexia no potinho de plástico que tinha posto em cima da bancada da cadeirinha. O cômodo parecia ter encolhido.

— É assim tão absurdo eu querer preparar algo para você? Para nós… passarmos... — Sasuke fez uma pausa longa demais para os nervos dela suportarem. — Caso eu tivesse pensado em ir buscá-la na saída do hospital, para um jantar na sua própria casa, só nós dois... teria algum mal? — Ele engoliu em seco.

Sem dizer nada Sakura largou a fruta sobre a mesa, afastou a cadeira, levantou e foi até geladeira, sob o olhar atento e curioso de Sasuke. Abriu a porta, pegou a torta e a levou até a pia, cortando um pedaço e se servindo.

 Cada gesto dela tinha sido acompanhado de perto por ele, tudo sendo observado minuciosamente. Vê-la fazer o possível para não encará-lo enquanto cruzava o cômodo bem na frente dele o deixava ansioso, mais ainda por ter a impressão de que ela estava igualmente ansiosa. Sakura se virou para ele e o fitou enquanto levava uma pequena garfada da torta à boca. Tentava parecer natural, casual, mas não estava, não estava nem um pouco.  

Ele prendeu a respiração, seu olhar não focou no bocado da guloseima que ela se servia, e sim nos lábios rosados e macios que abriram e fecharam bem lentamente na frente dele, quase em câmera lenta. Sasuke cerrou o punho quando ela passou a ponta da língua pelo lábio inferior para limpar uma lasca de chocolate. Ele queria ter pensado em outras coisas, em muitas outras coisas e não em Naruto, mas pensou. Pensou no que o amigo disse e no que ele sempre afirmava e o Uchiha se recusava a enxergar. Talvez estivesse ali, agora, presenciando um dos momentos que deixou passar tantas outras vezes. Seu coração acelerou, junto com a sua respiração. Sakura meneou a cabeça de forma positiva, desviando o olhar para o prato em suas mãos.

— Hum, está... — Ela não pôde terminar a frase, pois Sasuke logo cobriu o curto espaço entre eles, arrancando a louça das mãos dela, largando de qualquer jeito sobre a pia e a puxando para um beijo sedento. Suas bocas se uniram quase que com sofreguidão, fome, desejo, tudo mesclado e solto em uma fração de segundos.

Sakura não precisou pensar duas vezes antes de corresponder, ela passou ambos os braços em volta do pescoço dele, escorando-se na borda da pia. Ele soltou um longo suspiro e levou a mão à nuca dela, entreabrindo os lábios e aprofundando o beijo de forma lenta e intensa.  

O cheiro, o gosto, o toque, todo ele dominava os sentidos dela. Estava faminta por aquele beijo, por aquele toque, por aquele ardor que, até então, apenas ele tinha despertado nela. Deslizou os braços de uma ponta a outra das costas dele, abraçando-o pelos ombros e puxando-o para ainda mais perto de si.

O som de algo caindo no chão a trouxe de lentamente de volta; Sakura abriu os olhos vendo por sobre os ombros dele Sarada se agitar na cadeirinha com os braços estendidos em direção ao chão. Virou o rosto, sentindo a boca aberta de Sasuke encaixar em sua mandíbula, a respiração quente dele arrepiando-a, seus olhos quase se fechando outra vez. Ele fechou os lábios bem devagar contra a pele delicada, arrastando-os junto com a ponta da língua, e ela foi amolecendo bem lentamente. Sarada ergueu a cabeça para fitá-los, seu olhar encontrou o semiaberto de Sakura, que estava quase se perdendo outra vez, e a criança soltou um pequeno grunhido agoniado. A expressão da pequena era de puro desalento, e em seguida ela abaixou a cabeça outra vez. Sakura sabia o que viria depois daquela careta.

Ela segurou o rosto de Sasuke com ambas as suas mãos e, apesar de tudo em si querer relutar a essa ação, o afastou. Ele piscou, aturdido por alguns segundos. Ela ia dizer “agora não dá”, mas ele pareceu compreender antes que as palavras saíssem. Sarada ajudou um pouco soltando um sonoro “a” bem na hora, começando a chorar.

— Vou chamar o Naruto.

Ela ficou parada e confusa com a fala dele. Não era o que esperava ouvir, não era mesmo o que esperava.

— O quê? O Naruto? Por quê? — ela perguntou, afastando-se da bancada e observando-o apanhar o pote do chão. Ele o colocou em cima da bancada da cadeirinha antes de pegar Sarada no colo, que, assim que o viu indo até ela parou o choro, esqueceu logo o que queria e estendeu os braços para o pai.

— Ele se ofereceu para ficar com ela caso... a gente... quisesse privacidade — ele falou um pouco constrangido

Sakura arregalou um pouco os olhos, surpresa ao ouvir aquilo, sentindo suas bochechas esquentarem por um momento. Uma série de perguntas e possibilidades passou pela cabeça dela. Não queria pensar nas conversas que Sasuke e Naruto estavam tendo. Cruzou os braços em frente ao corpo, constrangida assim como ele.

— Ou você não...

— Não, não, não! Eu... — Engoliu em seco, fitando a filha com a cabeça escorada no ombro de Sasuke, olhando-a assim como o pai — ...quero. — Queria se estapear por ficar sem jeito. —  Só me sinto um pouco surpresa com essa parte pragmática. — Apertou um dos antebraços de leve. Encaminhou-se até eles, estendendo as mãos para pegar Sarada. Ele a entregou, e Sakura, quando a teve em seus braços, o encarou, piscando duas vezes e dando uma leve desviada de olhar, para em seguida encará-lo de novo. Em um gesto ligeiro, ela o segurou pelo queixo com uma das mãos e o beijou. — Você o chama e eu vou arrumar as coisas dela.

Assim que deu as costas para Sasuke sentiu seu coração começar a palpitar, seu pescoço a queimar. Estava acontecendo, estava realmente acontecendo, ou melhor, ia mesmo acontecer. Subiu as escadas ainda meio desnorteada, colocou Sarada sentada junto de seus brinquedos no chão do quarto e foi arrumando as coisas dela em uma bolsa no automático. Sua mente estava em outro lugar, e a cada novo pensamento dava uma risada nervosa.

O que ela estava fazendo?

Fitou a pequena no chão, mordendo um chocalho de borracha enquanto sacudia um ursinho em cima de uma pilha de outros brinquedos; completamente alheia à perturbação de sua mãe. Ela ia mesmo largar a própria filha para... Sakura soltou outra risada nervosa, deitando a cabeça no encosto do berço de Sarada.

— Desculpa a mamãe! É só que ela... — Parou de falar ao ouvir o som da porta de entrada abrindo e uma voz conhecida surgindo. Gemeu baixo, fechando os olhos. Como descer e encarar o Naruto? Mal podia encarar a própria filha que nem entendia o que estava acontecendo. — Eu preciso, Sarada. Preciso muito!

Ao ouvir seu nome, Sarada ergueu a cabeça e fitou Sakura praticamente deitada na lateral do berço. Esta, por sua vez soltou um suspiro, pegando a pequena no colo e levando-a para o banheiro. Arrumou-a, trocou a fralda, fez a higiene bucal das duas, por sinal, e fitou seu próprio reflexo no espelho. Seu rosto não estava com um aspecto maravilhoso, jovial e sensual. Muito pelo contrário parecia exausta, meio pálida e estava com olheiras pela noite praticamente virada. Passou a mão umedecida no cabelo para ver se dava um jeito enquanto saía do aposento, pegou a bolsa em cima do berço e desceu as escadas com pressa.

Naruto as esperava parado no meio da sala, e Sasuke se encontrava no canto contrário, a expressão fechada enquanto o amigo sorria. Ao ver a cena a vontade de rir de nervoso voltou, mas ela se segurou. Agora não tinha como.

— Bom dia, Sakura. — Havia uma certa provocação na maneira como ele falou o nome dela, mas ela se fez de desentendida, totalmente constrangida. — Sarada! Vem com o titio — disse, já em seu tom entusiasmado de sempre. Ele bateu uma palma, aproximando-se e estendendo os braços para a criança, que se jogou na direção dele, rindo, toda agitada. Sakura evitou encará-lo, podia sentir suas bochechas queimando. Pigarreou e o fitou de soslaio; ele continuava sorrindo para ela enquanto acariciava as costas da bebê. — A bolsa... — Naruto apontou com a cabeça e ela deslizou a alça pelos ombros.

— Naruto, tem alguns dentinhos nascendo, então se ela ficar muito enjoada você pode trazer de volta — disse, passando a bolsa para ele. Naruto balançou a cabeça em concordância, dando as costas para a amiga e caminhando em direção à saída.

— Relaxa, eu sei lidar com isso, já passei com o Boruto. Dá tchau, para mamãe, Sarada, que nós vamos nos divertir — Ele a sacudiu de leve no colo e ela adorou, rindo animada. Sarada adorava tudo que Naruto fazia. — Talvez a gente se divirta até mais do que o papai e a mamãe aqui sozinhos, brincando.

Queria sumir! Virou para trás só para ver a reação de Sasuke, e ele estava tão desconfortável quanto ela, com certeza se odiando por ter contado com Naruto para algo assim. Acompanhou-o até a porta, e ele se virou assim que colocou os pés para fora, fitando a melhor amiga e não dando chance de ela desviar.

— Levem o tempo que precisar, eu não vou estar contando. — Sakura revirou os olhos, as bochechas totalmente avermelhadas. Estava se sentindo uma adolescente; queria fechar a porta na cara dele, só não o fez porque sua filha estava junto.

— Cala a boca! E é sério, qualquer coisa a traga de volta — Naruto riu enquanto se afastava, pegando a mãozinha de Sarada e acenando com ela.

E vê-los se afastar primeiramente dava uma fisgadinha no coração de Sakura. Ela já estava há um tempo no hospital, Sarada já não chorava quando as duas se separavam, lidava bem, seja para ficar com Sasuke ou Naruto e Hinata. Isso era muito bom, óbvio, mas dava uma dorzinha, pois nem olhar para trás ela olhava. E segundo, bem, o seu coração disparou e um formigamento na nuca surgiu.

Agora era oficial.

Fechou a porta e escorou a cabeça na madeira maciça.

O que ela estava prestes a fazer, mesmo?

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai, ai, ai... O que eu falei sobre ler essa capítulo antes de ter a data do próximo? Agora surtem e por favor, surtem nos comentários que eu quero me deliciar kkkkkkkkkkk
O próximo capítulo já está pronta, porém, todavia, no entanto, está com a minha beta e ela é estilo eu na hora de entregar as coisas.
Vocês podem ficar no twitter junto comigo cobrando ela @fleur_dhiver. Me sigam para mais e frescas informações.