Broken Flower escrita por Fleur dHiver


Capítulo 25
Os Preparativos Para a Partida


Notas iniciais do capítulo

Olá, Maratona Day! BF lançado, feriado declarado! Dia 22/07/2016 entrando para a história com a... partida da Sakura.
Eu chorei escrevendo, não sei se pelo capitulo está realmente tocante ou por quase três anos depois a gente finalmente chegou nesse momento, mas chorei mesmo.
Mas não vamos falar muito aqui porque são momentos de tensão. O capítulo chegou. É agora ou nunca. ;x

Gostaria de dedicar a Fran que fez uma conta no nyah só por causa de BF #palmas
Uma boa leitura a todos;*



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Tomou um gole do chá, tentando ignorar os dois pares de olhos cravados nela. Já sabia que seria assim, que seu pedido geraria um desconforto, mas chegava a ser irreal que Naruto ficasse cheio de reservas com ela. Não era do feitio dele agir dessa maneira, ele costumava dizer o que não o agradava, ser claro e franco. Era com isso que ela estava familiarizada.

Revirou a torrada no prato e ergueu a cabeça, Hinata e Naruto até aquele momento tinham mantido suas atenções voltadas para a Uchiha, mas com o movimento dela desviaram o olhar. Fingindo estarem focados em suas próprias refeições, porém nenhum dos três tinha sequer dado uma mordida.

— Eu sinto muito por ter batido a porta de vocês àquela hora da madrugada — Quebrou o silêncio desconfortável e Hinata suspirou aliviada por alguém ter feito isso. Tocou a mão da amiga com suavidade.

— Não a nada com o que se desculpar. — A Uzumaki deu um sorriso singelo que Sakura tentou acompanhar, mas ficou só na tentativa.

— Eu não queria deixá-los em uma situação desconfortável — remexeu-se na cadeira, fitando de um ao outro —, mas eu realmente preciso de vocês e o que eu disse era e é sério. — Naruto parou de passar geleia em sua torrada para voltar a fita-la.

— Nós sabemos que é.

— Eu não vou mudar de ideia. — Naruto suspirou, passando as mãos pelos cabelos claros.

— Eu queria que você mudasse...

— Naruto... 

— Não! É sério! Sakura é um filho! Um filho que ele sempre desejou ter. — Esbravejou, segurando Sakura pelo ombro, os dedos cravados na pele alva, mas as palavras eram muito mais incomodas a ela que o aperto. — Se Hinata fizesse isso comigo, se o pai dela... — Naruto passou a mão pelo rosto. — Eu me sinto um traidor. — Despejou cheio de culpa. Hinata fitou de um ao outro, o tipo de situação e discussão que ela não podia intervir, apenas apoiar.

— E a mim? Você não se importa de trair? — A voz dela denotou um leve embargo e ele desviou o olhar, incapaz de encara-la. — Eu também sou sua amiga, sua irmã... — Naruto fechou os olhos, limpando o cantinho com a ponta do dedo. Dando um longo suspiro logo em seguida.

— Não sabe como me dói ter feito essa escolha. — Sakura coçou o nariz, fitando o teto, sua visão desfocou brevemente, mas não iria chorar.

— Sim, eu sei, Naruto. — Segurou os próprios joelhos, apertando-os com força. — Eu melhor do que ninguém sei a dor que você está sentindo. — O silêncio que caiu na mesa foi amargo, ressentido, enchendo o ar de tensão.

— E como exatamente está pensando em fugir? — Hinata interviu, se Naruto tinha tomado uma decisão era melhor que todos os detalhes fossem esclarecidos.

— Devido a gravidez vou poder tirar licença do hospital e depois de pedir a licença vou entrar com um pedido de férias que eu tenho acumulado. — Sua voz saiu baixa, encolheu os ombros, ainda mais constrangida do que estava há alguns minutos. — Passou as mãos pelos cabelos, nervosamente. — Tudo isso deve levar uns dois dias, nesse meio tempo vou enviar uma carta ao... kazekage — observou, de soslaio, o cenho de Naruto franzir com essa informação — pedindo abrigo a ele. Com o aval dele e a documentação liberada eu vou até minha casa faço a mala e deixou um bilhete ao Sasuke dizendo que sai em uma missão...

— E nós? Onde entramos nesse seu plano? — Sakura remexeu-se na cadeira voltando a desviar o olhar, apesar de se sentir mais confortável por ser Hinata a questiona-la ainda se sentia culpada por puxa-los para seu enrosco.

— Eu queria que a Hinata fosse ao hospital para entregar a minha licença. — Mordeu o lábio inferior. — É algo que eu poderia fazer, só... que se eu for vão querer me parabenizar e acho que se não me virem a história se espalhará mais devagar... eu não quero ir lá e... — Talvez não estivesse conseguindo explicar direito, as coisas eram ainda mais confusas em sua cabeça.

— Está tudo bem, eu vou sem problema algum. — Sorriu aliviada pela compreensão da Uzumaki.

— Ok e eu? — Sakura deu uma leve inclinada, não querendo bem dizer qual seria a função dele. Apesar de que pela entonação usada ela desconfiava que ele já sabia.

— É a única pessoa em Konoha que eu conheço que troca correspondência pessoal com o kazekage. — O suspiro de Naruto foi audível. Mas essa, Sasuke o odiaria para todo sempre caso soubesse.

— Por que o Gaara?

— Ele é um bom amigo — deu de ombros, ainda sem focar em Naruto —, ofereceu ajuda também. Por ser líder de uma Vila pode oferecer abrigo sem problema, eu acho. — Naruto apoiou os cotovelos sobre o tampão da mesa, deslizando os dedos para sua nuca, segurando alguns fios de cabelo. — E tem mais... eu preciso que faça o Sasuke acreditar que eu sai em uma missão médica.  

— Missão?

— Sim. Vai ter uma missão médica no próximo mês para cuidar de Vilas que não possuem assistência médica especializada, enfim, eu vou deixar um bilhete informando que sai em missão e se você, casualmente, comentar com ele que sabe o que fui fazer fica mais fácil. — Virou-se para fita-lo, Naruto observava os farelos sobre o seu prato, Sakura umedeceu os lábios. — Sasuke odeia o Hospital, ele só iria em último caso e, olha, é algo que eu não considero mesmo ele fazendo. Se você disser ele vai acreditar e não vai se importar...

— Sim — concordou com um aceno de cabeça e Sakura chegou a ficar feliz por ver que ele participaria sem problema —, ele vai acreditar em mim. Por que ele iria duvidar? Por que ele iria pensar que estou mentindo para ele?  

— Naruto, por favor...

— O que vai dizer ao pessoal do hospital?

— Nada

— Eles podem ir até o Sasuke e perguntar por você. — Sakura tomou outro gole do chá, negando com um movimento breve.

— Não vejo isso acontecendo. Não vejo mesmo um deles indo até o Sasuke para falar qualquer coisa. E se, hipoteticamente falando, essa possibilidade ocorrer, eu já vou estar em Suna e quem sabe até mesmo partindo de lá. — Naruto a fitou estupefato e Sakura apenas remexeu os ombros incomodada. — Eu não pretendo ficar por lá muito tempo. Só uma semana para a poeira baixar e eu conseguir me programar direito fora daqui e então partirei sem destino certo. Ele não pode me encontrar.

— E eu, Sakura? E nós dois? E Kakashi? Não vamos ter notícias suas? — Abriu a boca para responde-lo, mas o que diria? Que assim era melhor? Que se sentiria segura dessa maneira? Naruto não entenderia, não aceitaria, balançou a cabeça, coçando o nariz.

— Eu vou arranjar um jeito. É claro que você vai saber de mim. — Mas essa resposta não era o suficiente para ele e seu temores.

— Você está gravida! — Afirmou exasperado, apontando para a barriga da amiga como se isso pudesse traze-la de volta ao que ele considerava a razão. — Não pode sumir assim sem que ninguém saiba de você. E se algo acontecer? Nós não vamos poder nem mesmo tentar te ajudar.

— Eu sou médica, quer dizer, não posso fazer meu parto, mas acho que consigo me arranjar por um tempo. — Antes de que Naruto se levantasse Sakura segurou o seu braço. — Eu garanto que sempre vou procurar um lugar com assistência médica ou ao menos que tenha parteiras. Naruto, você me prometeu.

— Sakura...

— Duas vezes. No meu casamento e naquela manhã na minha casa. — O aperto dela era firme, o olhar cravado ao dele, quase suplicante. — Você me fez prometer que quando eu não aguentasse mais era para ir embora e que você me ajudaria.

— Não era assim! Eu te daria e te dou todo o suporte, mas fugir...

— Assim é o único jeito!

— Sakura...

— Ele me trai com a Karin... ele não se importa, é só, sei lá... — Respirou fundo jogando a cabeça para trás. — Não importa, Sasuke não liga e vai demorar a perceber. Quer saber posso garantir a você que não vai te perturbar uma vez sequer e quando você perceber que ele não liga não vai se importar em estar “enganando” a ele. Não me peça para volta, não me peça para desistir. Não dá, eu não consigo.

—Sakura, nós vamos te ajudar. — Foi Hinata quem disse, unindo sua mão a dela sobre o braço de Naruto. — Vamos fazer dar certo.

Apesar de Naruto parecer contrariado ele cumpriu sua palavra, estava nessa com ela, a ajudaria a fugir. Agora que todos já sabiam o que deveriam fazer Sakura foi resolver as primeiras de suas obrigações: pegar a licença do serviço e pedir suas férias. Após sair da residência Uzumaki seguiu no caminho oposto ao centro da Vila, em direção ao prédio da Hokage. 

Para tirar licença e férias não havia necessidade de subir até o escritório de Tsunade. A parte burocrática era toda resolvida no primeiro andar. Sentou-se em uma das cadeiras da entrada, observando os ninjas apressados passarem com suas missões recebidas ou relatórios de retorno.

— Sakura? —Kakashi a fitava, parado na entrada do prédio. Assim que o notou seu corpo gelou na cadeira. — O que faz aqui? — Abriu a boca fitando o exame de gravidez bem no topo de seus papeis. Colocou as mãos em cima da pilha, tentando esconde-lo, torcendo para que o Hatake não o tivesse visto.

— Eu vim entregar uma papelada necessária para uma missão. — Seu ex-sensei observou a bancada no final da sala com o pessoal da administração do prédio, nenhum ninja.

— Aqui embaixo? — Ele estava contrariado, era obvio, nenhum pedido ou recebimento de missão era feito ali. Sakura sorriu respondendo com um aceno de cabeça.

— É uma missão longa e tem algumas liberações a serem feitas e tudo mais. — Com um breve movimento de mãos fez pouco caso da situação, dando de ombros.

— Hum, missão longa... — o semblante dele franziu, ligeiramente — o Sasuke sabe que você vai sair em uma missão? — E dessa vez foi a expressão de Sakura quem sofreu uma drástica transformação, o sorriso desaparecendo.

— Bem, ele está em missão. Mas, de qualquer forma, eu não vejo razão para ter que pedir permissão a ele. — A resposta ácida o pegou de surpresa.

 — Não, longe disso. É só que... isso provavelmente vai contra os planos dele, não é mesmo? — O Hatake coçou a nuca em claro sinal de desconfortou e Sakura ergueu uma das sobrancelhas intrigada.

— De que planos você está falando? — Kakashi a fitou por um tempo, mas logo balançou a cabeça em negação.

— Nada, eu... estou confundindo algumas coisas. Enfim, boa sorte na sua missão, Sakura.

— Obrigada

Com um breve aceno ele se despediu e seguiu em direção a sala da Hokage, Sakura manteve sua atenção no seu ex-sensei até ele sumir da sua vista. Aquela conversa tinha sido totalmente desencontrada. Ao que tudo indicava Kakashi andava ciente dos “planos” de Sasuke, bem mais ciente do que ela. Suspirou voltando a fitar seu exame de gravidez, ainda bem que não recorreu a ele no final das contas, teria lhe entregado no ato. Talvez a entregasse mesmo que não tivesse voltado a ter uma boa relação com Sasuke. Kakashi dificilmente concordaria com essa ideia de fuga, diria que ela tinha que enfrentar a situação de frente. E mesmo estando certo a teoria era muito mais fácil que a pratica.

Para a felicidade da Uchiha não demorou a ser chamada e como previu a licença do Hospital foi rapidamente elaborada, e despachada. Só precisava entregar no Hospital e voltar daqui a dois dias para buscar sua liberação das férias. E então poderia sair de Konoha sem transtorno.

— Naruto? Hinata? — Tirou as sandálias na entrada correndo até a sala. O primeiro a aparecer foi seu amigo, tinha um pergaminho em mãos parecia estar ledo alguma coisa.

— Conseguiu.

— Sim, deu tudo certo. — Ele concordou com um aceno de cabeça, tentou sorrir e parecer contente como ela, mas fraquejou e Sakura deu de ombros. Ela o entendia, de verdade, não cobraria felicidade dela por isso, jamais. — Hinata está ai?

— Não, ela foi visitar o pai e a irmã. — Sakura deixou sua licença sobre a mesa, junto com os documentos que levou

— Ok. Acho que vou começar a elaborar a carta. — Naruto concordou e sumiu no corredor de sua residência. Sakura largou-se no sofá, fitando o quadro de casamento de seus amigos, era sempre engraçado vê-lo tímido e acanhado ao lado da Hyuuga. — Naruto? — Respondeu ao chamado a distância e Sakura continuou: — Sabe me dizer se o Sasuke tem algum plano em mente?

— Plano? Que tipo de plano? — Naruto voltou a aparecer, trazendo em mãos um tinteiro e folhas para ela. Sakura caminhou em direção a mesa puxando uma das cadeiras.

— Não sei, encontrei com o Kakashi-sensei e falei com ele que iria sair em uma longa missão e ele disse que isso poderia atrapalhar os “planos do Sasuke”. — Deu de ombros, fitando o amigo fazer uma cara intrigado.

— Não faço ideia do que possa ser, Sasuke não comentou nada comigo.

— Comigo também não — deu de ombros, fitando o jarro de flores no centro da mesa —, de qualquer forma quando eu demonstrei não saber de nada ele desconversou. Acho que nunca vamos saber o que é isso. Mas é a segunda vez que ele dá a impressão de saber algo que o Sasuke tá tramando? Acho que tem algo a ver com a reforma do clã?

— Reforma do clã? — Naruto ergueu a cabeça, fitando Sakura.

— É, o Sasuke comentou algo assim que queria reformar, não lembro direito, não prestei atenção. Mas isso não me impediria de sair em uma missão.

— Hum. Então agora eu vou ter que mentir para o Kakashi-sensei também? — Sakura deu um longo suspiro, revirando os olhos e arrumando as folhas a sua frente.

— Tenho certeza que ele não vai vir te procurar atrás de explicações, ok? — Fitou a folha em branco, mordendo o lábio inferior. — Acho que eu deveria chama-lo de kazekage?

— É o correto, mas é uma carta informal. — Naruto apoiou o cotovelo na mesa e o rosto em sua mão, olhando para os papeis também. — Eu nunca o chamo assim quando mando correspondência.  

— É... seria estranho. Será que devo mencionar a carta que ele me escreveu? — Naruto voltou sua atenção para ela.  

—  O que falava nela? Você nunca me disse. — Sakura umedeceu os lábios, encolhendo os ombros. 

— Ele meio que se desculpando e me contou sobre uma coisa que viu... — Naruto a fitou com uma sobrancelha levantada.

— Ok. Eu não estou gostando disso, mas você quem sabe sobre mencionar essa carta ou não. — Suspirou deixando Naruto de lado e se pondo a pensar o que diria e como diria o que queria ao kazekage.

 

            Caro Gaara,

 

Eu li sua carta e queria poder dizer que aquelas palavras não me afetaram ou que é nula a possibilidade das coisas descritas serem reais, todavia eu já imaginava metade delas. Tê-las comprovadas não poderia ser mais doloroso do que já é, porém, sem dúvida alguma, foi o que eu precisava para tomar uma decisão definitiva. Eu irei deixar Sasuke.

 Mas, suponho que imagine, não é tão fácil, muito menos simples. Por questões pertinentes a nós dois, ele não me deixaria partir facilmente, talvez nunca deixe e a separação viraria uma bola de neve que só me machucaria ainda mais e eu nunca estaria completamente livre de Sasuke e da dor que tudo isso pode me causar.

 Por essa razão decidi parti de Konoha, por um tempo, para não só que a poeira baixe, mas que as coisas se acentuem dentro de mim, para que eu consiga dar um basta definitivo que só é possível estando longe. Eu me sinto envergonhada em dizer, mas vou precisar da sua ajuda, para que isso seja possível.

 Seria mais seguro que em primeira estancia eu fosse a algum lugar conhecido e com pessoas de confiança para me abrigar por um curto tempo, prometo não abusar de sua hospitalidade, caso me seja dada. Muito menos trazer problemas a você com Konoha, minha saída da Vila será legal e dentro dos conformes. Só quero ficar longe dele.  

 Existe a possibilidade de você me ajudar? Pretendo partir no mais tardar em quatro dias e peço que me responda antes disso.

Afetuosamente,

Haruno Sakura.

 

Sentiu um formigamento estranho ao assinar com seu nome de solteira. Era oficial, tudo aquilo estava mesmo acontecido e ela estava mesmo dando um basta. Ficou por alguns instantes absorvendo essa percepção que o sobrenome causou para enfim entregar a carta a Naruto. Como quem assiste uma peça, observou-o dobrar e arrumar o pergaminho, preparando-o para ser despachado. Aérea como se aquilo não fosse dela, não participava da cena, só assistia a vida de outra pessoa mudar completamente.

Passou o resto do dia enjoada, ficou no quarto de hospedes deitada na cama agarrada ao travesseiro. Naruto bateu a porta uma vez para ver se ela queria comer alguma coisa, mas não insistiu para que ela saísse do quarto quando Sakura recusou sua oferta. Ele também parecia querer ficar longe dela e não o recriminava, também queria ficar longe de si.

Quando Hinata chegou mais tarde forçou-se a descer e jantar com eles. Comeu e falou pouco, mas respondeu com carinho todas as vezes que a amiga tentava manter um assunto para que o silêncio não pesasse entre eles. Recolheu-se logo após o jantar, dispensando a sobremesa, porém não dormiu, rolou na cama até o dia estar quase amanhecendo.

No dia seguinte Hinata levou a documentação de sua licença para o Hospital, não tinha nada para elaborar ou fazer, agora estava na pior parte da história: esperar. Maçante e cansativo.  

— E se o Gaara disser não.

— Eu parto mesmo assim.

— Para onde?

— Não faço ideia, mas ele vai ajudar. — Naruto não a convenceu do contrário voltou sua atenção para a frente e ambos voltaram a ficar em silêncio. Nem treinar ele tinha ido, estava tão ansioso quanto ela. — Eu sei que vai.

E estava certa, a resposta de Gaara chegou no mesmo dia em que ela buscou a liberação das férias. Bem a noitinha, todos já tinham jantado e estavam se preparando para ir dormir. Quando Naruto lhe informou o que tinha recebido a resposta, Sakura correu para ler e como já tinha previsto Gaara aceitou ajuda-la, até ofereceu uma escolta, ela só precisava responde-lo. Mas não fazia questão, além do que escolta a atrasaria e o tempo corria contra ela.

— Mas Sakura? E as tempestades de areia? Talvez fosse uma boa aceitar a escolta. — Naruto a fitava preocupado, mas ela balançou a cabeça.

— Naruto, vai dar tudo certo, ou melhor, já está dando. Não preciso de escolta. — Com a resposta de Gaara tendo chegado tão cedo ela também podia agilizar todo o seu plano e partir de uma vez.

Outra noite mal dormida, estava ansiosa pela viagem e ansiosa por ter que voltar a sua casa pela última vez, não conseguiu pregar o olho um minuto sequer. Durante o dia ela passou a tarde toda em uma agitação sem fim, preparou o café da manhã, o almoço. Estava quase limpando a casa, mas Naruto a impediu.

— Queria treinar, preciso extravasar.

— Sem chances, você está grávida. — Ficou nessa agonia até a noite. Tinha decido que era melhor assim a movimentação na Vila era menor e ninguém a veria saindo com uma bolsa do clã Uchiha.

— Quer que a gente vá com você? — Perguntou Hinata a porta de casa, Sakura fitou os dois amigos e respondeu com um aceno negativo.

— Não, obrigada. Eu posso fazer isso sozinha.

Entrar na residência Uchiha pela última vez foi uma sensação estranha e não confortadora como imaginava. A primeira vez que pensou naquele plano achava que se sentiria leve ao deixar aquela casa que nunca sentiu sua, mas agora, aquelas paredes pareciam gritar que ela estava traindo seu lar. Respirou fundo, não era o seu lar, não estava traindo nada.

Passou direto pela sala e foi ao quarto. A cama ainda estava desfeita e as coisas que Sasuke tinha largado enquanto montava sua bolsa de viagem ainda estavam pelos cantos. Recolheu-as uma a uma e as devolveu para seu devido lugar, arrumou a cama, trocou até os lençóis. Foi até o closet, sua mochila ninja já estava semi-pronta, pegou-a da parte de cima. Colocou mais algumas roupas dentro da bolsa e seu material nin, separou alguns que levaria e os outros escondeu no mesmo compartimento onde estavam as coisas para o bebê.

Pegou as pecinhas, fitando uma a uma. Não tinha como levar todas, mas não conseguiu se deixar de separar as que mais gostava, colocando-as dentro de sua bolsa também. Com suas coisas arrumadas, saiu do quarto e foi direto a cozinha, seu ponto final.

Preparou duas refeições e as colocou na geladeira. Separou alguns alimentos para levar em sua viagem. E parou fitando o pequeno bilhete em cima da mesa e a casa vazia, sua mão tremeu quando o colocou o papel na geladeira preso com um imã. Seu corpo parecia ter ficado pesado do nado, um peso que não era da bolsa que carregava. Colocou a mochila nas costas e partiu, sem olhar para trás, pois se olhasse estaria perdida.

Voltou para a residência dos Uzumaki a tempo de ver uma cena bem fofa, Hinata estava sentada no sofá com Naruto ao seu lado, inclinado sobre a barriga ainda pequena, quase imperceptível uma curva delicada. Ele a acariciava com delicadeza e falava algo que fazia com que Hinata risse, os olhos brilhando em uma felicidade tão puta e genuína.

Uma cena tão feliz, tão pura que Sakura se sentiu ainda pior por estar ali, por estar fazendo o que estava fazendo e por invejar o que seus amigos tinham. Desviou o olhar, não conseguia permanecer a encara-los, muitos menos por um fim naquele momento tão maravilhoso entre eles.  

Apoiou a bolsa no chão e votou para o hall, escorando-se no móvel que havia ali, apenas ouvindo as risadas cumplices que eles volta e meia davam.

— Sakura? Você está ai? — Foi Naruto quem a percebeu, pela bolsa no canto da porta. Ela passou a mão pelo rosto, secando-o.

— Não queria atrapalhar. — Sorriu, fitando-os, mas ambos não pareciam incomodados com ela ali.

— Você não incomodada. Pretende partir agora?

— Não, pretendo partir quando o dia estiver clareando, mas acho que vou esperar na entrada da Vila, só vim me despedir de vocês e agradecer por tudo. — A voz dela saiu roca, mas não ligou, àquela altura não tinha como esconder que tinha chorado. Naruto e Hinata levantaram para abraça-la. Hinata foi a primeira a abraça-la. — Eu nunca conseguirei agradecer o suficiente, espero que tudo ocorra bem com o nascimento do seu bebê. — Quando soltou-se de Hinata ela tinha lágrima nos olhos e Sakura as limpou dando um beijinho em cada bochecha dela

— E eu espero que você volte, antes que ele nasça. — Quando foi abraçar Naruto ele se afastou com um aceno de cabeça.

— Não vamos nos despedir agora.

— Como?

— Vou ficar lá fora com você. — Ele não a encarava, mantinha seu olhar no teto, os olhos azuis brilhando pelas lágrimas contidas.

— Naruto...

— Não tem assunto, Sakura. Eu vou! — E sem dar chances para retaliação pegou a bolsa do chão e saiu de casa. Sakura fitou Hinata abriu a boca para se desculpar, mas a Uzumaki a calou.

— Ele precisa te dar tchau do jeito dele, foi algo que decidimos juntos. — Hinata sorriu e Sakura a abraçou outra vez.

— Obrigada.

Quando Sakura saiu da residência Uzumaki, Naruto a esperava há alguns metros à frente, assim que a viu começou a caminhar. E desse jeito eles foram, Naruto na frente, Sakura um pouco atrás pelas rua desertas. Ao chegarem na via principal para saída da Vila Naruto desviou e se enfiou no meio das arvores, Sakura o seguiu por meio da vegetação, há uns 20 metros da saída ele parou em frente a um carvalho com raízes altas.

— Podemos esperar aqui? — Concordou, ele deixou sua mochila ao lado do corpo e se sentou em uma das raízes, o acompanhou, sentando-se bem ao seu lado. Escorando as costas no tronco, puxou a capa que usava para cima, se mantendo bem aquecida. O silêncio permaneceu entre eles por um tempo, mas nada incomodo, era confortável estar em silencio com ele, talvez porque a presença de Naruto sempre lhe foi o suficiente e também porque nunca pensou que um dia teria que se despedir dele.

— Já é de madrugada, não?

— Sim, quando saímos lá de casa já eram duas e meia. — Naruto abaixou a cabeça, chutando um matinho. — Você... deixou o bilhete?

— Sim. Uma refeição e um bilhete. — Naruto deu um sorriso mínimo que Sakura não viu. Se a ironia pertencesse a sua natureza ele seria agora.

— Alguma vez já falou com o Sasuke sobre essas desconfianças? — Sakura tocou na raiz com a ponta dos dedos, pressionando-os na madeira maciça.

— Não são mais desconfianças. E sim, uma vez e ele disse que eu era única na vida dele. — Deu uma risada anasalada. —  Talvez a única idiota.

— O Sasuke não mente.

— Mas omiti e omissão também é mentira.

— Não existia uma razão para você ficar lá em casa, não é mesmo? — Sakura ergueu a cabeça fitando os grandes olhos azuis do amigo e logo em seguida desviou, respondendo com um aceno negativo. — Então por que ficou? — Apertou a capa contra o corpo, soltando um longo suspiro.

— Porque se ficasse na minha casa eu... — respirou fundo, sacudindo os ombros — talvez não conseguisse. — Fungou e Naruto a puxou para os seus braços. Ela enfiou o rosto no ombro do amigo, deixando que o choro corresse livremente, apertando-o contra ela. — Eu sei o que você pensa e as vezes eu também acho que vou me arrepender. Mas eu não quero ficar e ouvir desculpas. Prefiro me arrepender tendo feito do que ficar e me lamentar por não ter ido. Você entende?

— Entendo. — E ela ficou ali nos braços dele chorando tudo que tinha para chorar.

— Nunca pensei que um dia eu me despediria de você.

— Eu nunca pensei muitas coisas, Sakura. E a primeira delas seria em ver você abandonando o Sasuke.

— Naruto...

— Você disse que ele não se importa, que ele é indiferente e não vai ligar, mas e se ele importar? E se ele correr atrás e se ele quiser você?

— Então você me conta, pois sabe onde estou.

Quando o dia começou a clarear eles saíram do abraço que tinham formado. Secaram as lagrimas e sorriram, apenas para se abraçar outra vez.

— Cuida bem da Hinata

— E você se cuida e me chama, me grita se precisar.

Sakura partiu a vista do primeiro patrulheiro do dia, sabendo que no escritório da Hokage estaria assinado sua saída de férias para uma viagem. Cruzar o portão de Konoha deve ter sido a coisa mais difícil que fez em toda a sua vida. Sua bolsa e pernas pareciam pesar tanto que a puxavam para trás. Ao dar os primeiros passos precisou olhar para traz e se certificar que tinha mesmo saído da Vila, do seu amado lar. Apertou a alça da mochila mantendo-a bem junto ao seu corpo, tinha feito e não voltaria atrás.

Agora seu destino era Suna e o que mais a aguardasse.

 

Página: Fleur D'Hiver

Enquete: Fanfic do Mês

 


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Notas finais do capítulo

PARA TUDO BRASIL! ACONTECEU! Mais aguardado que o HEXA do Brasil.
E ela fugiu mesmo!! Para quem não estava acreditando pode acreditar. Sakura saiu de Konoha rumo a Suna. Três anos para essa fuga, nossa, nossa. E ai? O que acharam do capítulo? Gostaram dos diálogos entre a Sakura e o Naruto e das situações em geral?

Tá rolando uma enquete, vocês já sabem como funcionam. Votem em uma fanfic que quer que tenha um capítulo duplo no mês que vem. Geralmente fica aberto um mês, mas dessa vez vai ser só uma semana então CORRAM!

Agora, queridas, vem a parte mais gostosa. O Sasuke vai voltar para casa e a desgraça vai acontecer.
Obrigada por acompanharem essa história.
Aguardo vocês nos comentários, até o próximo;*