Desta vez o sonho veio diretamente.

Estava novamente na floresta, agora com a diferença de estar totalmente branca. A neve havia encoberto os rastros de destruição que cortavam a mata, porém, como eu já tinha caminhado por essas mesmas arvores me recordava do caminho.

Flocos de neve caiam lentamente enquanto eu me guiava entre os grandes troncos que estavam ali a milhares de anos. Minhas roupas não haviam mudado e mesmo no meio de toda aquela neve eu me sentia aquecida, logo que cheguei ao grande pinheiro e encontrei o mesmo garoto desfalecido, imóvel e sobre ele pairava uma pálida luz azul que aparentemente o protegia da neve. Bom, não estava dando muito certo, pois a neve continuava a cair e a luz ficava cada vez mais fraca.

Aproximei-me dele e ficoando de joelhos para estar no mesmo nível de altura, ele tremia levemente de uma forma que se eu não estivesse tão próxima não perceberia. Seu peito acompanhava a respiração de uma forma contínua e estável, alguns fios de cabelo estavam jogados sobre seus olhos, sobre a cabeça havia alguns flocos de neve e agora ele parecia mais pálido que antes. Continuo sem saber o que fazer, devo ligar para a policia? Nem ao menos sei o que houve aqui. Chamo a ambulância; não sei onde estou, e primeiros socorros; não lembro nem o que eu comi ontem como vou lembrar-me de primeiros socorros, Tento acordá-lo? Posso tentar.

Pigarreio e digo:

– Hum... Oi, como vai? – Ah muito bem Magah! Só to aqui desmaiado no meio da neve por diversão! Para de ser idiota que apresentação patética eu sei, mas nem sei se ele me escuta- B-bom eu sou Magah e seria bem legal se você acordasse.

Ele continua imóvel.

– Não sei se você sabe – continuo-, mas tem uma luz bizarra sobre você. Poxa vai me deixar falando sozinha mesmo? Abre os olhos!

Digo pegando em seu pulso para despertá-lo, sua pele está completamente gelada e instintivamente solto o seu pulso. Ele começa novamente a tremer.

– Não sei quem você é e nem o porquê estou aqui – digo despindo meu sobretudo e cobrindo-o de maneira que ele ficasse protegido do frio -, mas sei que de alguma forma estou ligada a você e morrer de frio não vai solucionar nossos problemas, querido.

Arrumo a gola do sobretudo para não o incomodar e sem querer encosto em seu rosto, que não estava menos frio que meus dedos. Aproveito para acariciar seu rosto de uma forma meiga.

Sento-me ao seu lado encostando minhas costas no tronco do pinheiro. Parei para observar os flocos de neve, sabe, sempre achei o movimento que eles fazem muito parecido com um tipo de dança com milhares de bailarinos.

Olho-o de canto de olho, parece que apenas está dormindo.

– Eu sempre quis que fizessem isso comigo – digo ainda olhando para a neve- que em um dia de neve, “o alguém” com um gesto de cavalheirismo me cedesse o agasalho, sei que isso soa muito antiquado e até meio brega, mas é bem fofo. Eu nunca fui o tipo de garota que espera seu príncipe encantado chagar em seu cavalo branco nem procuro um cara tão romântico assim, pois sei que não existe mais. Agora que paro pra pensar eu estou fazendo exatamente isso com você, só que ao contrario – Sorrio para ele - então se sinta lisonjeado, pois não costumo fazer isso com frequência. Fico pensando que tipo de homem será você, Aquele que te faz perder tempo ou aquele que te fazer perder a noção do tempo?

Ele não demonstrou nenhum tipo de reação e quando decidi desviar a minha atenção dele percebi um movimento repentino, ele lentamente fechou os dedos da mão que estavam sobre a neve levando consigo um punhado da mesma.

Parei novamente em frente ao rapaz com os olhos arregalados. Afinal ele me assustou, - Fiquei tanto tempo tentando desperta-lo – ou pelo menos provocar alguma reação nele e nada, mas quando fico falando a toa – coisa que faço com facilidade- ele reage assim.

Pego sua mão e retiro a neve acumulada entre seus dedos e novamente ele fecha a mão, agora segurando a minha com firmeza. Ficoosem reação e corada também, admito claro não é todo dia que um cara lindo aparentemente desmaiado segura a minha mão do nada.

Encosto-me novamente na árvore sem deixar de segurar a mão dele- ou ele segurar a minha- realmente ele esta provando ser surpreendente. Acho até que posso descobrir que tipo de homem ele é.

Dream off

Abro lentamente os olhos e percebo que estou na beira da cama toda esparramada e sem o maldito travesseiro com qual Holly preguiçosamente se aconchega. Vida de gato deve ser muito boa mesmo, Preocupações, trabalho e todas as chatices; 0. Comida, água fresca, carinho e travesseiros a hora que quer; 10.

Dou uma olhada para o despertador- 07h02min de quarta-feira- ahh, mais um dia norm... PERA, 7hs? O que diabos eu estou fazendo acordada duas horas antes que o normal e ainda por cima sem um pingo de sono! Até Holly dorme tranquilo.

Sento-me na cama esfregando os olhos. Lembro do sonho que tive e imediatamente um sorriso involuntário surge em meu rosto. Posso sentir até seu toque em minhas mãos - Gente o que está acontecendo comigo! Lembre-se Magah, você não vai virar uma adolescente gordinha que tem como base alimentar chocolate e sonha com príncipes.

Só agora percebo que estou sem meu sobretudo e não me recordo de ter tirado ele. No sonho eu cobri o rapaz, mas foi só um SONHO. Ain... Acho que estou dormindo ainda.

Levanto de vez e tomo um belo banho – rápido ok, o planeta agradece- me visto e coloco um blusão de frio azul presente de Heera e que é muito quentinho. Saio do quarto e nenhuma das meninas estavam acordadas, pensando bem quem acordaria essa hora se não for um idoso que gostasse de esportes...

–Vó-Char – digo abraçando-a assim que ela abra a porta do apartamento dela- que saudades!

Ela me olha com surpresa.

– Esta com saudades também querida! Mas o que houve pra você esta acordada há essa hora, caiu da cama? Entra, entra!

Assim que entro no Apê sinto cheiro de pudim, maravilha! O apartamaneto da Vó-Char é do mesmo tamanho que o nosso com a diferença de ter uma decoração que combine mais do que a nossa – não que eu ache anime, doramas e o resto das nossas coisas um bagunça - As paredes são de um tom coral e todo o resto da mobília puxa mais pra um lado francês - descendência da Vó-Char, aliás.

– Não cai da cama, Vó – digo sentando-me na bancada da cozinha super arrumada dela- perdi o sono.

Ela começa a tirar do forno o pudim do banho Maria e coloca em cima da bancada, minha boca se enche de água.

– Você perder o sono, a coisa é seria! – diz ela rindo, algumas rugas aparecem em seu rosto. Nunca cheguei a considerar a Vó como uma pessoa velha até por que ela tem um espiro bem jovem, mesmo que tenha todos os cabelos brancos com um tom lilás e use roupas de academia- Teve pesadelos?

– Não, foi somente um sonho é a segunda vez que sonho com ele- digo.

–Ele? – pergunta ela sentando em minha frente e demonstrando curiosidade.

– E-ele? Eu disse ele?- disfarço.

– Ahann! – confirma ela com um aceno de cabeça enquanto coloca um maravilhoso pedaço do pudim em um prato ensopado de calda e me servindo- agora conte-me como foi esse sonho.

Olho pro prato e em seguida para Vó-Char, isso é maldade! Começo a contar pra ela tudo dobre o sonho dividindo minha atenção entre a história e o pudim, não escondo nada. Ela é sempre uma boa ouvinte e eu adoro compartilhar tudo com ela, sempre recebo bons conselhos ainda mais quando ela da uma de filosofa.

Ela escuta pacientemente toda a história e diz:

– Minha flor, você já pensou em escrever um livro só com seus sonhos?- sugere ela rindo- e você pode achar que eu não percebi mas você está com um novo brilho nos olhos.

– Brilho nos olhos?- pergunto- sei não. Mas sobre o livro não descartei essa possibilidade ainda! A senhora acha que foi coincidência?

– Ah, com certeza não- diz ela convicta- coincidências são muito difíceis de ocorrer Magah, e isso que aconteceu com você não foi uma.

– Então eu estou pirando?

– Quando eu a vi acordada a essa hora do jeito que você dorme foi à primeira coisa que passou pela minha cabeça – diz ela rindo, e concordo se eu me visse acordada há essa hora pensaria a mesma coisa- Sobre o sonho, você não está pirando, sabe Magah tem gente que acredita que sonhos não passam de imagens aleatórias da nossa mente. Eu não acredito nisso e ouso dizer que essas pessoas nunca tiveram um sonho de verdade, se fosse só isso onde ficaria a emoção e a magia? Pra mim sonhos são e podem ser um vislumbre do que você mais deseja, e quem sabe até mensagens.

– Mensagens tipo telepatia?

– Os jovens são engraçados e é por isso que eu gosto tanto de conviver com eles – diz ela sorrindo- eu já vi de quase tudo nessa vida e não duvido de mais nada, Telepatia... quem sabe? Aprenda a deixar a mente aberta e acima de tudo...

– Tenho que parar de ser tão doida?- adivinho o final da frase dela.

– Não, siga o seu coração!

– Hunn, uma boa idéia também- digo sorrindo- a senhora disse que pode ser um vislumbre do que eu mais desejo, mas eu não desejo um rapaz inconsciente perdido no meio de uma floresta.

Ela solta uma gargalhada.

– Como você pode saber? O destino prega peças e já passou da hora de você arranjar um namorado viu! Por falar nisso com andam as meninas? – pergunta ela.

– Andam enroladas com uns caras chamados Castiel e Dimitry, eles salvaram elas de uma enrascada, enfim o Castiel tira Heera do sério e o Dimitry irrita Molly. Resumindo feitos sob encomenda pra elas!

– Fico muito feliz em saber disso, mas será que eles têm facebook quero dar uma olhada pra ver se eu aprovo – diz ela rindo.

– Você não existe Vó! – digo rindo junto aproveitando pra me levantar- vou ter que ir, as horas passam correndo quando falo com você.

– É uma pena- diz ela- quer levar um pedaço de pudim?

– Sim tenho um plano pra ele – sorriu “Molliciosamente” quer dizer maliciosamente.

– Cuidado viu – alerta-me ela.

Ela embrulha o pedaço de pudim e me leva até a porta. Agradeço por tudo, pelos conselhos e ainda mais pelo pudim.

Entro em casa e sou atacada por um abraço de sufocar da Heera, quase derrubo o meu precioso pudim. Lanço um olhar assustado pra Heera com um grande ponto de interrogação flutuando em cima da minha cabeça - ta não tinha, mas imagina que sim.

– Preciso perguntar?

– Ta, primeiro eu acordo e vou ao seu quarto não encontro N-I-N-G-U-É-M, você nunca acorda cedo a não ser que seja em caso de extrema necessidade. Passaram mil coisas na minha cabeça, desde você ter encontrado uma passagem pra Nárnia até uma abdução alienígena! Tentei acordar Molly pra procurar você comigo, mas ela me deixou no vácuo - explica ela, reparo que ela está com os cabelos desgrenhados e de pijama. Ai você descobre que é verdade por que a Heera é aquele tipo de pessoa “comercial de iogurte” que acorda sempre de bom humor, penteada e aparentemente maquiada.

– Pode ficar calma, perdi o sono e fui dar lá na Vó-Char. Obrigado por se preocupar tanto comigo e entendo completamente a sua reação, mas amiga vai se arrumar por que você ta um bagulho- dou uma gargalhada.

– Sua má- reclama ela passando a mão sobre o cabelo tentando arrumá-lo- Ei, isso é pudim?

– Uhunn!- Confirmo com a cabeça-, mas você pode chamar também de vingança doce ou despertador da Molly – Percebo a cara de “não entendi nada” da Heera e explico- sabe ontem ela comeu todos os Cookies e não deixou nem uma migalha pra mim. VINGANÇA!

– Sei, quero ser cúmplice, ela merece depois do vácuo que me deu hoje!

– ok, espera ai – peço.

Vou para cozinha e divido o pedaço em dois – parece que a Vó mediu o pedaço para três pessoas- dou um para Heera e seguimos para o quarto da Molly

– É o seguinte, a gente começa a comer o pudim na frente da Molly e lógico com o perfume do pudim e o olfato ninja dela vai despertá-la na hora! Quando ela acordar a gente sai correndo devorando o Pudim! – explico.

– Maravilhosamente Maldoso- cometa Heera, com um sorriso travesso no rosto.

Entramos no quarto andando na ponta dos pés. Abaixamos até ficar a altura da Molly esparramada na cama, começamos a comer o pedaço de pudim. Molly começa a despertar no momento em que estamos na metade. Ela abre os olhos e vira o rosto pra nós.

–Pudim – fala Molly um pouco sonolenta- PUDIM!!!!!

– Corre!!! – grito pra Herra no momento em que Molly desperta de vez.

Ela sai correndo atrás de nós, mas quando nos alcança já havíamos acabado de comer. Viramos as duas no mesmo tempo e fazemos caretas pra Molly toda descabelada arfando atrás da gente.

– S-suas... Malditas- xinga ela se apoiando nos joelhos.

– Você merece hahahaha – Digo dando risada da cara dela- pelos meus Cookies.

– E pelo vácuo que você me deu hoje!- completa Heera rindo.

– Voces... Me pagam!

Pois é mais um dia normal quando se mora com essas doidas.