Inalcançável escrita por Gaia


Capítulo 7
Cicatrizes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/408259/chapter/7

Naruto entrou na sua casa relutante, seria bem melhor ficar no quarto de Hinata, mas até ele sabia o quanto aquilo seria inconveniente. Apesar de tudo, ele ainda tinha seus princípios e não entraria no quarto de Sakura ou Sasuke sem eles saberem, era simplesmente errado.

No fim, tudo o que sobrava era a sua casa e o seu quarto abandonado. Ele odiava cada segundo que tinha que passar naquele lugar, mas, ao mesmo tempo, sentia necessário para que não enlouquecesse. Afinal, era o único lar que conheceu.

Atravessou a porta da sala hesitante e tentou evitar olhar para a sala, onde sabia que iria encontrar seus pais discutindo. Desde sua morte, era assim quase toda a noite. Ele sabia que os dois se amavam muito, mas lidar com a perda de um filho devia ser insuportável.

- Minato, como você pode pensar em se mudar agora?! – sua mãe gritava a plenos pulmões. Seus cabelos ruivos pareciam reagir ao seu humor enquanto ela falava, Naruto sempre achara aquilo engraçado, mas agora era simplesmente assustador.

- Kushina, para de fingir que tudo nessa cidade, nesse bairro e nessa casa não te faz lembrar dele. – Minato respondeu calmamente. Ao contrário de sua mãe, o pai de Naruto era paciente e conseguia manter-se no controle em todas as situações.

O mais novo suspirou, seu pai falava dele como se fosse uma peste que deveria ser eliminada.

- E fugir é a melhor solução? – a ruiva retrucou, claramente impaciente. – Eu sinto falta dele todos os dias e tudo me lembra dele, sim, mas você quer deixar tudo pra trás? Fingir que nunca tivemos um filho?

Naruto queria sumir, mas não do jeito que já estava. Ele queria nunca ter existido. Assim seus pais não estariam sofrendo por ele. Mais do que nunca, quis não ter voltado para casa naquela noite, mas agora já tinha cometido o erro e sabia que se fosse para o seu quarto, ouviria tudo de qualquer jeito, então apenas ficou onde estava.

- Não estaríamos fingindo nada, apenas seguindo em frente. Do que adianta guardar as coisas dele em um quarto e reviver todas as dores toda vez que você for limpar? Temos que superar isso, Kushina. É impossível esquecermos dele, mas fingir que ele está aqui conosco é errado também.

Naruto percebeu como era impossível para eles dizerem seu nome. Aquilo doía mais do que tudo. Queria gritar que estava ali, que nunca tinha ido, que não era a intenção, que se desculpava...

Ele odiava ser invisível. Odiava não ter voz, odiava ter que ver todo o dano colateral que ele tinha deixado. Às vezes ele pensava que aquilo era a punição que prepararam por todos os seus pecados e se todo mundo ao morrer passava por aquilo.

- Eu sei que ele não está aqui! – Kushina gritou de modo desesperado, com lágrimas nos olhos e Naruto quis abraça-la imediatamente. – Só não quero... Não quero deixa-lo... Eu...

Antes de morrer, ele nunca tinha visto sua mãe ficar sem palavras, mas depois, era muito comum ela não saber o que dizer. Era como se ele tivesse roubado todas as suas frases prontas e entusiasmo de falar.

Já faziam seis meses que ele tinha morrido e seus pais continuavam tendo as mesmas brigas como se nenhum tempo tivesse passado. Pelo menos, tinham parado de chorar tanto e sua mãe tinha voltado a trabalhar. Não que isso deixasse Naruto mais feliz, mas ele tinha que se agarrar nos pontos positivos, afinal, era tudo culpa dele.

Minato aproximou-se da ruiva e envolveu-a no abraço que Naruto queria dar-lhe. Felizmente, seu pai sempre soube como lidar com ela.

- Vamos passar por isso juntos. – ele disse, acariciando os cabelos longos e ruivos da mulher. – Se você quiser, ficamos o tempo que você quiser.

Naruto segurou seus soluços e pulou os degraus subindo as escadas. Ele tinha que descobrir o que estava o mantendo naquela dimensão, tinha que saber se Sakura gostava dele. Odiava ter que depender de outra pessoa para conseguir o que queria, mas era sua única chance. Hinata era a única resposta que tinha no momento, tinha que confiar nela.

Mas tinha que ter alguma coisa que ele pudesse fazer... Se ao menos pudesse escrever um bilhete e fazer Sakura perceber que ele ainda estava lá e que precisava de sua ajuda, talvez resolvesse.

Pensando nisso, Naruto passou a noite inteira tentando pegar uma caneta.

No dia seguinte, já tinha conseguido algum progresso, mas nada muito significativo. Ainda tinha que esperar que Hinata conseguisse com que Sakura falasse para ela. A pureza e inocência da morena tornava tudo muito mais difícil, mas pelo menos ela era uma pessoa agradável de estar por perto e estava tentando ao máximo, o que era notável, já que ela nem o conhecia direito.

- Bom dia! – ele exclamou ao vê-la na sala de aula. Ela sorriu e ele fez o mesmo de volta, era simplesmente impossível não se sentir cativado por aquele sorriso gentil e genuíno.

Ele encarou os seus amigos na primeira fileira. Levavam a vida como se ele não estivesse ali. Talvez aquilo fosse melhor mesmo, mas ele odiava se sentir esquecido. Mesmo sabendo que era egoísmo, não podia deixar de sentir-se assim de vez em quando.

Lembrou-se de todos os momentos que passaram juntos e todo o esforço que teve para conseguir e manter seus amigos. A verdade é que sofreu muito até ser respeitado por todos e odiava ter perdido todo o seu trabalho árduo.

Aproximou-se de Sasuke e Sakura que estavam conversando antes de começar a aula e ouviu:

- Depois ele disse que não ia mais pagar a escola porque é inútil, já que eu tenho vaga garantida na empresa Uchiha. – o moreno bufou.

- Sasuke, isso é ridículo! – a outra exclamou, indignada.

- E você acha que eu não sei? Mas ele está gastando todo o dinheiro com o meu tio psicopata, aparentemente isso é mais importante que a minha educação.

Naruto bufou, ele odiava a família de Sasuke e não entendia como ele ainda não tinha se rebelado contra todos como seu irmão fez. Queria dizer para o amigo que ele tinha que se livrar daquilo... Queria pelo menos mostrar sua indignação perante a situação, mas tudo o que podia fazer era encará-lo e ser invisível.

- O que você vai fazer? – Sakura perguntou, agora com um tom de preocupação. – Sua mãe sabe disso?

- Sabe. Você sabe que ela faz tudo o que meu pai manda... - Sasuke suspirou. – Eu provavelmente vou ter que ir para uma escola pública e começar a traficar drogas.

Naruto riu sozinho, sabendo exatamente qual seria a reação de Sakura, que exclamou, inconformada:

- Isso não tem graça! Sério, o que você vai fazer?

- Eu não sei, Sakura. Não é como se tivéssemos o nosso gênio de ideias idiotas para me ajudar. Não faço ideia do que vou fazer. – ele retrucou, ficando sério de repente.

Naruto sentiu uma pontada.

- Uma ideia idiota seria perfeita agora... – a outra concordou e baixou o olhar.

Depois, pegou na mão do namorado e ficaram um tempo quietos, apenas consolando-se silenciosamente.

O loiro bufou, aquilo era ridículo, ele estava ali, podia dar quantas ideias idiotas eles quisessem. Insatisfeito com a própria inutilidade, voltou para o lado de Hinata, sabendo que a próxima aula já era a que ela tinha a oportunidade de falar com a Sakura. Aquilo tinha que acabar logo.

Hinata levantou-se e foi se juntar a Sakura e Sasuke, que já estavam com as mesas arrumadas em trio. Dessa vez ela não podia falhar, tinha que arranjar um jeito de saber o que Sakura pensava de Naruto antes dele morrer.

- Oi, Hinata! – Sakura cumprimentou-a, mudando seu tom imediatamente. Naruto e Sasuke perceberam imediatamente a facilidade que ela tinha de mascarar a sua dor, mas não falaram nada.

- Oi. – a outra respondeu gentilmente e sentou-se, abrindo o seu caderno e livros. Teria que esperar uma hora em que Sasuke não estivesse por perto, afinal, não queria criar problemas para o casal, trazendo a tona um potencial romance antigo.

Hinata tinha quase certeza que Sakura não sentia nada por Naruto, mas ela não podia dizer isso para ele sem ter certeza absoluta, ele era simplesmente muito teimoso.

- Ontem a noite já começamos a fazer os slides, mas precisamos ter uma noção do que você está escrevendo para não parecer tão desconexo. – a de cabelos rosas disse. – Precisa de ajuda com alguma coisa?

A morena negou com a cabeça.

- Temos tempo, Sakura, relaxa. – Sasuke comentou, descontraído. Ele estava fazendo a lição de casa de história que Hinata tinha feito na noite anterior. Como ele conseguia deixar tudo para a última hora e não ficar desesperado? Ela não entendia como aquelas pessoas conseguiam ser tão desencanadas, talvez ela devesse ser assim também...

- Eu prefiro me livrar desse trabalho logo para não ter que gastar o fim-de-semana. Você não quer...

Sakura foi interrompida pelo professor, que apoiou a mão no ombro de Sasuke, fazendo-o encará-lo.

- Uchiha, estão te chamando na diretoria. – ele disse, encarando-o com uma face de pena que Hinata reconheceria em qualquer lugar. Ela já tinha recebido aquela expressão mais do que deveria.

- Que mer... Droga você fez agora, Sasuke? – Sakura perguntou, impaciente, contendo seu palavrão apenas pela presença do professor.

- Nada! – o outro retrucou, agora também irritado. Hinata não pôde deixar de pensar que eles se completavam completamente.

Sasuke se levantou e foi a contra gosto para fora da sala, deixando as duas sozinhas novamente. De novo, era uma ótima oportunidade para Hinata tocar no assunto, mas antes que ela pudesse falar qualquer coisa, o professor levantou a voz e discursou:

- É com muito pesar que informo que um de nossos alunos faleceu na noite de ontem em um terrível acidente de carro.

Hinata engoliu um seco, aquilo soava extremamente familiar.

- Itachi Uchiha era uma aluno exemplar e certamente vai deixar muita saudade nessa instituição, peço que por favor respeitem sua família e rezem pela sua paz.

Um silêncio sufocador tomou conta da sala imediatamente e ninguém ousou nem suspirar. O ar comprimido parecia sumir cada vez mais e tudo pareceu parar no tempo, tornando-se mais cinzento e congelado.

Que sensação era aquela no estômago de Hinata? Ela simplesmente não entendia como alguém podia morrer assim. Itachi Uchiha. Ela já tinha ouvido falar dele. Ele estava no último ano, estava sempre presente em todas os eventos escolares e era sempre citado como exemplo de um ótimo aluno.

Como alguém assim simplesmente tinha sumido? Por uma coisa tão banal como um acidente de carro? Hinata procurou urgentemente os olhos azuis de Naruto, mas não os encontrou, ele não estava ali. Claro que não estava.

Conteve um soluço, já não estava mais ouvindo as palavras consoladoras do professor, tudo o que podia pensar era em como aquilo podia estar acontecendo e porque. Então, fez uma coisa pela qual se arrependeu imediatamente: olhou para os olhos esmeraldas de Sakura.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oooie, cap novo (:
Ele está mais emocional de propósito, hihih
Enfim, gostaram? ♥

:*