Inalcançável escrita por Gaia


Capítulo 4
Barreira




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Hinata não conseguiu conter um pigarro. Do que ele estava falando? Como aquilo iria fazê-lo seguir em frente? Não fazia sentido nenhum.

- Pensa comigo, pensa comigo. – ele começou, claramente entusiasmado. Hinata percebeu que ele se entusiasmava muito com várias coisas e isso era adorável. – Eu meio que gostava dela. – ele corou e coçou a cabeça.

Hinata apenas piscou.

- Eu nunca tive a chance de falar pra ela, porque... Bem, eu morri. E então, ela ficou com o Sasuke. Talvez se eu estivesse vivo ela quisesse ficar comigo, é por isso que eu não consigo seguir em frente! Eu preciso saber!

A morena suspirou, aquilo seria mais difícil do que ela esperava. Ela pensou que aquilo seria um motivo plausível para ele não conseguir seguir em frente, mas fazer Sakura se apaixonar por alguém morto não seria nada fácil, ainda mais quando ela tinha um namorado do qual parecia gostar muito.

Ela quase se arrependeu de ter se oferecido para ajudar o loiro, mas o seu olhar entusiasmado acendia uma luz dentro de Hinata que ela simplesmente não podia ignorar. Aquela inocência e determinação era simplesmente admirável, era tudo o que ela queria ter e ser.

- É... Eu não acho que... – Hinata começou, corando. Ela não queria dizer que aquilo seria difícil ou até impossível.

- Eu sei que talvez não dê certo, mas temos que tentar! – ele exclamou e o “temos’ fez a morena sorrir. – Mas primeiro vamos pagar a conta que eu fiquei devendo, talvez isso seja um dos motivos também...

Ela acenou com a cabeça e continuou a procurar algum dinheiro perdido pelo quarto, ela tentava ignorar o fato de que estava sozinha em um quarto com Naruto, mas às vezes corava ao lembrar-se. Finalmente conseguiu achar algumas notas embaixo da cama do loiro. Apesar da bagunça, o quarto estava impecavelmente limpo e ela imaginava se a mãe de Naruto o limpava pessoalmente.

- Isso dá? – ela perguntou e o outro acenou, sorrindo.

- Vamos!

Hinata desceu as escadas e viu a ruiva na cozinha. Resolveu não interrompê-la e abriu a porta da frente, como ela tinha instruído, perguntando-se quantos outros amigos do Naruto fizeram o mesmo caminho, incomodando a pobre mãe.

Eles chegaram rapidamente no mercadinho e Hinata ficou pensando no que diria para o vendedor. Era fácil para Naruto inventar uma desculpa qualquer, mas ela nunca fazia isso e tinha se sentido tão mal ao mentir para a mãe dele, não queria ter que fazer aquilo de novo, mas não tinha escolha.

- B-bom dia. – ela disse, com seu tom de voz característico.

O homem de trás do balcão nem se deu ao trabalho de responder, ele nunca gostara daquele trabalho e estava cansado de jovens menores tentando comprar bebidas ilegalmente.

- Ele sempre foi grosso assim, mas você acostuma. – Naruto comentou e por um instante, Hinata sobressaiu-se, pensando que o homem podia ouví-lo, mas então lembrou-se que não era possível.

- Senhor... Eu... Eu achei esse dinheiro no quarto de Naruto. – ela falou imediatamente. Aquilo pelo menos não era mentira. – Tinha um bilhete em cima falando que... É...

- Que era para eu quitar a dívida do mercadinho! – Naruto exclamou por trás dela.

- Que era para eu quitar a dívida do mercadinho! – ela repetiu roboticamente. – Quer dizer, para ele! Para ele quitar!

Naruto gargalhou com a confusão de Hinata, que apenas corou de constrangimento.

- Naruto? – o homem finalmente falou, erguendo o olhar pela primeira vez. – Aquele moleque loiro que não ficava quieto por nada nesse mundo?

Naruto bufou.

- Você que é um velho rabugento! – exclamou, olhando diretamente para o senhor. Se tinha uma coisa que ele odiava em ser um fantasma era a invisibilidade. Ele odiava ser completamente ignorado e não ter suas opiniões escutadas.

Sem saber o que fazer ou dizer, Hinata apenas acenou que sim com a cabeça. Ela não queria concordar com o senhor, mas também não podia negar.

- Ele realmente estava me devendo um monte! – o homem disse, agora com um quase sorriso em seu rosto. – Aquele pirralho era o meu cliente número um...

Hinata notou o tom melancólico do senhor e preferiu não prolongar a sua angústia. Ela sabia que ele sentia falta de Naruto, assim como todos que o conheceram. Ela também sentiria, não tinha como não sentir, ele tinha uma presença tão confortante que iluminava qualquer ambiente.

- Aqui. – ela colocou o dinheiro no balcão, mas o senhor não se mexeu para pegar. – Por favor pegue, ele iria querer que você pegasse.

Naruto, que estava tão inquieto, finalmente parou de se mexer e esperou. Hinata viu a hesitação do homem e apenas soltou um sorriso. Ela não percebeu, mas esse gesto foi o que fez o senhor erguer a mão e pegar o dinheiro, porque, ali, naquele sorriso, ele reconheceu a bondade de Naruto que tinha pensado estar perdida para sempre.

- Obrigada. – ela disse, desnecessariamente, enquanto o homem a fitava perplexo. Aquela menina tinha uma aura quase espiritual de bondade e parecia não ter noção nenhuma daquilo.

Sem dizer mais nada, Hinata saiu do estabelecimento e suspirou, aliviada por ter concluído sua tarefa. Naruto sorriu para ela e exclamou:

- Você foi demais!

Corando, ela não entendeu o elogio. Ela tinha feito exatamente o que ele tinha mandado e nada demais.

- Eu... Eu não fiz nada. – falou, com um sorriso tímido.

- Como não?! – retrucou. – Pena que não funcionou, porque ainda estou aqui...

Hinata tentou ler sua expressão, ele não parecia triste por ainda estar ali. Na verdade, ele parecia exaltado e feliz, como sempre.

- Bem, pelo jeito teremos que falar com Sakura! – concluiu, com um sorriso.

A morena suspirou, ela tinha a esperança de que ele esquecesse essa ideia, mas pelo jeito ele era teimoso. Não querendo ser vista falando sozinha novamente nas ruas, ela escreveu:

Pode ser amanhã? Eu tenho que ir para casa estudar, minha mãe deve estar preocupada.”

- Sério? Não tem mesmo como ser hoje? – ele resmungou e Hinata negou com a cabeça, com uma expressão de desculpa.

Além de ter que estudar, ela precisava de um descanso psicológico, tinha absorvido muito naquele dia e precisava refletir sobre tudo o que tinha acontecido. Tudo tinha sido uma loucura e acontecido muito rápido, talvez ela ainda estivesse sonhando.

Faria sentido se aquilo tudo fosse um sonho, afinal, fantasmas não existiam e certamente não seria ela quem poderia vê-los se existissem. Mas então, ela pensava em Naruto e percebia como ele era real. Com seu sorriso, determinação e presença, mesmo não fisicamente presente. Não tinha como aquilo ser um sonho, Hinata não tinha a capacidade de sonhar com alguém tão perfeitamente real.

Desculpa. Mas amanhã a gente se encontra depois da aula e decidimos o que fazemos”, ela escreveu e soltou um sorriso

- Mas e se você não puder me ver amanhã? – Naruto perguntou, de repente sério. Ele tinha sido invisível para tudo e todos por seis meses e tinham sido os piores meses de sua vida, ou melhor, morte. Não queria que isso voltasse a acontecer, ele finalmente tinha sido notado, ouvido, não podia perder isso.

Hinata não tinha certeza de muitas coisas na vida, mas isso era tão claro para ela. Ela tinha certeza que iria conseguir vê-lo no dia seguinte e por muito tempo depois. Por alguma razão, ela simplesmente sabia que ele era muito importante para simplesmente sumir assim.

Se eu não puder te ver, eu tento falar com Sakura mesmo assim”, escreveu por fim.

Naruto sorriu, mas foi embora amargurado, Hinata sabia que ele estava com medo, mas não tinha como garantir que iria conseguir vê-lo de qualquer jeito. Foi para casa finalmente em cima de sua bicicleta e, dessa vez, não caiu nenhuma vez.

- Filha, por onde esteve? – sua mãe perguntou aflita, assim que a morena entrou pela porta. – Fiquei preocupada, normalmente você vem direto para casa!

- Desculpa, mãe. – disse simplesmente, não querendo mentir. Ela sabia que a mãe iria insistir, então mudou de assunto rapidamente: - Cadê a Hanabi?

A mais velha suspirou.

- Sua irmã também não voltou... Vocês duas ainda vão me enlouquecer. – murmurou impaciente e foi para a sala de estar, deixando Hinata ir para o seu quarto no andar de cima.

Fechou a porta e deixou toda a descarga emocional bater de frente. Tudo o que tinha acontecido tinha que ter algum sentido, por que Naruto tinha aparecido só pra ela? Aquilo era certamente muito estranho para a mente correta de Hinata assimilar. Até ontem ela estava tentando acreditar em Deus e agora existiam fantasmas? Por mais que ela pensasse, não conseguia chegar em uma alternativa e simplesmente desistiu, sentando-se na cama exausta.

Olhou para os livros semi abertos em cima de sua escrivaninha e percebeu que não tinha estudado, nem feito o seu dever de casa. Tinha passado o dia inteiro preocupando-se em tentar ajudar Naruto que esqueceu completamente das coisas que fazia todos os dias.

Hinata nunca tinha deixado de fazer qualquer coisa. Ela sempre fora super exigente consigo mesma nesse aspecto, afinal, ir bem na escola era o único dever dela, não podia simplesmente ignorar isso. E ali, simplesmente em um dia, tinha esquecido os seus deveres para ficar tentando ajudar um fantasma. O que ela estava pensando?

Sentindo-se completamente culpada, começou a fazer o dever, mesmo sabendo que nunca conseguiria terminar antes de ficar sonolenta. Ela dormia sempre no mesmo horário, então seu corpo já se desligava caso ficasse acordada até mais tarde.

Depois de jantar, conseguiu adiantar bastante alguma coisa, mas mesmo assim não podia deixar de pensar que tinha sacrificado a sua tarde a toa. Naruto era legal e ele merecia ajuda, mas ela não podia deixar de fazer as suas próprias coisas. Quanto mais rápido ela falasse com Sakura, mais rápido podia voltar para a sua vida normal.

Pensando nisso, foi dormir, exausta pelo excesso de informação do dia. Hinata sonhou com os olhos extremamente azuis e cabelos loiros e bagunçados de seu novo amigo, mas não se lembrou do sonho ao acordar.

- Eu soube que o seu primo apanhou de novo ontem, Hinata. – a mãe dela disse, na mesa de jantar, enquanto estavam tomando café-da-manhã.

A morena acenou com a cabeça, já sabendo exatamente o que viria a seguir.

- Você sabe que tem que ficar de olho nele, filha.

Hinata não disse nada. Ela não tinha que cuidar dele, ele era mais velho, se alguém tinha que cuidar alguém, seria o contrário. Ela poderia dizer tudo isso, mas preferia não causar conflitos, afinal, sabia que estava certa e era isso que bastava.

- Mãe, o Neji é um retardado, não é culpa da Hinata se ele não tem miolos. – Hanabi murmurou.

- Hanabi! – a Hyuga mais velha alertou-a.

- É verdade... – a mais nova sussurrou e Hinata sorriu pra ela. Mesmo sendo mais nova, ela tinha a coragem e honestidade que Hinata sempre quis ter. Muitas vezes, se sentia uma irmã mais velha muito inútil ao pensar que Hanabi não podia contar com ela para defendê-la de situações como aquela que tinha se passado.

- Eu vou tentar falar com ele. – Hinata disse, apenas para satisfazer a mãe, que acenou sorrindo, fazendo Hanabi bufar.

Algum dia ela iria se impor como sua irmã fazia e iria dizer o que realmente achava, mas por enquanto a sua timidez e submissão era maior do que qualquer causa. Pelo menos até Naruto surgir em sua vida.


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Notas finais do capítulo

Oooi, cap novooo, aeae
Sei que não aconteceu nada demais nesse cap, é mais um de construção de personagem mesmo. Daqui pra frente as coisas começam a ficar mais emocionantes :D

Gostaram? *-*

Beeijos ♥