Inalcançável escrita por Gaia


Capítulo 3
Explicações




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Hinata derrubou a bicicleta de novo. Morto? Ele realmente era mais louco do que ela esperava. Ela tinha que chegar em casa logo para livrar-se daquele sujeito. Por que aquelas coisas estranhas estavam acontecendo logo com ela?

— C-certo. – ela respondeu, sem conter um gaguejo.

— Eu sei que é loucura, mas é verdade! – Naruto disse imediatamente. – Eu posso provar pra você! Eu estudava na mesma escola que você, eu morri nas férias de verão em um acidente de carro. Vocês até fizeram um memorial para mim e tudo o mais. Não acredito que você não lembra!

De repente, o nome “Naruto” pareceu surgir na mente de Hinata com toda a força. É claro que ela lembrava, eles realmente tinham feito um memorial para um garoto que tinha sofrido um acidente e morrido durante o verão. Tiveram que fazer um minuto de silêncio e usar preto por uma semana...

Aquelas memórias vieram como uma pancada para ela, que simplesmente voltou o olhar para o loiro e os arregalou, completamente inconformada. Era certamente Naruto, não tinha como esquecer aquelas fotos do garoto sorridente que morreu cedo demais.

Mas... Não podia ser realmente ele. Quer dizer, ele estava morto. Como podia estar ali na sua frente?

Pensando que tinha finalmente enlouquecido, Hinata deixou seus joelhos cederem e caiu no chão, desmaiada. Naruto, exaltado, tentou em vão impedir que ela caísse, mas seus braços atravessaram o corpo dela como ar.

Já faziam seis meses que ele tinha morrido e mesmo assim ainda não tinha se acostumado com a sua condição. Sempre se sentira que não devia estar ali, que devia estar em outro lugar, mesmo sem saber onde. Ele tinha tentado, em vão, comunicar-se com os seus amigos, mas ninguém o ouvia.

Então, sem mais nenhuma opção, simplesmente resolveu fingir que estava vivo e continuou fazendo as coisas que costumava fazer. Acordava, ia para escola e voltava para a casa depois da hora de dormir, apenas para não ver seus pais chorando toda noite.

Mas então, finalmente alguém tinha o ouvido. E agora visto. Ele estava feliz, certamente, mas não entendia. Por que aquela menina e não seus pais ou amigos próximos? Aquilo não fazia sentido, mas ele não se importava. Ele queria se sentir pertencente de alguma coisa novamente, queria ir para o outro lado ou qualquer lugar que não fosse naquela dimensão, onde estava completamente sozinho.

Hinata continuava caída no chão e tudo o que Naruto podia fazer era observá-la. Talvez não tivesse sido uma ideia tão boa falar aquelas coisas daquele jeito. Era óbvio que ela ia surtar ao lembrar-se dele.

Mais rapidamente do que ele esperava, Hinata abriu seus olhos lentamente e levantou-se com a mão na cabeça. Ainda bem que estava usando capacete, se não a dor iria ser bem maior.

O seu olhar focalizou e ela enxergou Naruto sentado ao seu lado, estava prestes a gritar novamente, quando ele disse:

— Olha, eu também não queria que as coisas fossem assim. – agora ele parecia cabisbaixo e ela não entendeu como aquela pessoa expansiva e alegre de antes tinha se tornado aquele ser vulnerável tão rapidamente.

Ela não sabia porque, mas algo sobre o olhar e sua expressão fascinou Hinata imediatamente.

— Eu também não entendo porque eu estou aqui, nem porque você está me vendo, mas deve ter alguma razão, né? – completou e abriu um sorriso que poderia iluminar uma sala.

Se seu olhar profundo fascinou Hinata, seu sorriso fez seu estômago explodir e um sorriso inevitável brotar em seu rosto meigo. Ali estava um garoto que estava morto há mais de seis meses, ele poderia estar chorando, ele poderia nunca sair de casa, mas não, ele estava sorrindo.

Toda essa nobreza e otimismo fez com que a morena quisesse ajudá-lo, mesmo sem saber exatamente como.

— Sim. – ela disse baixinho. Apesar de tudo, ainda era tímida demais para realmente falar tudo o que estava pensando.

— Me desculpa por te fazer cair várias vezes. – ele disse, rindo e levantou-se. Hinata achou engraçado ele erguer a mão para ajudá-la, então fingiu pegá-la e ergueu-se.

Ele sorriu novamente e ela fez o mesmo, era simplesmente impossível não sorrir junto com aquele sorriso.

— Como eu posso te ajudar? – a morena perguntou, agora andando lado a lado com o fantasma. Ela levava sua bicicleta ao seu lado e tentava não falar muito alto para ninguém perceber que estava falando sozinha.

Se alguém tivesse visto a cena toda, provavelmente acharia que ela estava bêbada ou que tinha perdido a cabeça.

— Eu acho que ainda estou aqui por algum assunto inacabado... Pelo menos é isso que eu sempre vi nos filmes do terror. – ele disse, tentando não parecer tão patético quanto soava.

Hinata ficou séria de repente. Aquilo era sério... Quer dizer, realmente tinha uma pessoa morta pedindo-lhe ajuda para ir para o outro lado. Não era uma ilusão e nem um sonho. Preferindo não pensar muito em como isso aconteceu ou porque com ela, apenas prometeu para si mesma que iria fazer de tudo para ajudar aquele menino.

Ela tinha que ter um propósito na sua vida pacata. Ela sempre estivera satisfeita em estudar e não ser um fardo para os seus pais, mas ajudar as pessoas sempre foi o que ela mais quis fazer, desde sempre. Ali estava a sua chance de realmente ser útil para alguém além de si mesma.

— Naruto. – ela disse de repente, com uma coragem súbita. – Vamos descobrir o que ainda te mantém aqui não importa como, ok?

O loiro acenou com a cabeça rapidamente e sorriu, como sempre fazia. Seus olhos fecharam-se por um segundo enquanto mostrava os dentes e tudo o que Hinata pôde pensar era em como ele conseguia ser tão sorridente se estava morto.

Ele fez o sinal de “ok” com a mão e ela sorriu.

Começou a perceber que as pessoas estavam notando a sua conduta estranha e pensou em ir para algum lugar onde pudesse falar com Naruto sozinha, mas só seu pensamento a fez corar. Não tinha como isso acontecer, ela sabia que se ficasse sozinha com ele não iria conseguir falar uma palavra se quer.

— Se você preferir, pode escrever pra mim. – Naruto falou, notando os olhares cautelosos que Hinata soltou para as pessoas que passavam pela calçada.

Ela limitou-se em acenar de leve com a cabeça. Sim, aquilo seria perfeito, afinal, ninguém era tão tímido no papel e assim eles podiam ficar em algum lugar público sem que ela se tornasse um pimentão toda vez que ele abrisse um sorriso.

Eles encontraram um banquinho em uma praça perto da casa de Hinata, onde ela sentou, enquanto ele sentou-se no chão, a sua frente. Aparentemente Naruto não se incomodava com as pessoas atravessando ele de vez em quando e Hinata finalmente começou a acostumar-se com o fato dele ser translúcido.

Rapidamente, ela pegou o seu caderno e escreveu um questionário.

Certo, primeiro eu preciso saber se você lembra de alguém com quem você brigou e nunca fez as pazes, ou se você tinha alguma coisa para fazer e não conseguiu, coisas do tipo.”

Mostrou o papel a ele, que fazia algumas caretas engraçadas enquanto lia.

— Se eu lembrasse dessas coisas, não estaríamos aqui! – ele exclamou, divertindo-se. – Ok, deixa eu ver...

Hinata tentou não encarar muito enquanto ele pensava, mas era simplesmente inevitável não se impressionar com o jeito daquele loiro. Mesmo morto, ele tinha uma energia inigualável e era como se completasse a energia fraca que a morena liberava.

— Eu não paguei a conta do mercadinho do lado de casa! – ele exclamou de repente e Hinata sobressaiu-se.

Ela não achava que era realmente isso, mas ele parecia tão entusiasmado com a própria descoberta, que ela não conseguiu dizer o que achava.

Então vamos lá pagar. Mas como?

— Acho que tem que ser com o meu dinheiro, mas você podia ir por mim e falar que encontrou o meu dinheiro e um bilhete de lembrete escrito por mim, dizendo que eu ia pagar ou alguma coisa do tipo! – ele exclamou, agora completamente exaltado. – Vamos! Vamos!

Por impulso, Naruto tentou pegar a mão de Hinata, que permaneceu exatamente no mesmo lugar. Com um suspiro, ele apenas sorriu e fez um gesto para que ela fosse com ele.

Espera, como vamos pegar o seu dinheiro? Não está na sua casa?”

— Sim, mas você pode entrar pra falar que quer ver meu quarto ou alguma coisa assim, as pessoas faziam isso. Meus pais não vão achar estranho, eles não gostam de ver nenhuma ligação que tenha a ver comigo, então vão querer se livrar de você rapidinho! – respondeu, prontamente.

Hinata engoliu um seco ao perceber o tom tão casual da voz do loiro. Ele estava morto e seus pais tinham que conviver com aquilo todos os dias, como ele podiam dizer aquelas coisas com tanta facilidade? Como ele conseguia se quer olhar para os pais dele todos os dias, sem poder falar com eles?

Olhou para a face entusiasmada a sua frente e tentou não parecer tão triste por toda aquela situação. Ela acenou com a cabeça e levantou-se, seguindo-o.

O caminho foi feito em silêncio, mas Hinata conseguia notar a felicidade do outro. Ela nunca tinha mentido para ninguém antes, mas também sabia que não podia simplesmente dizer para os pais de Naruto que ele estava ali ao lado dela sem parecer completamente louca.

Entendia que aquela era a única forma de fazer o que ele queria, mas estava nervosa e sabia que iria gaguejar e falar alguma besteira.

Só espero que ele não me odeie depois disso”, pensou, receosa.

Tocou a campainha dos Uzumaki e esperou. Uma mulher ruiva com cabelos longos atendeu a porta, apesar de sua aparência cansada e olheiras nos olhos, Hinata achou que ela fosse extremamente bonita e se sentiu culpada por ter que fazê-la lembrar-se de seu filho morto, mesmo se fosse por alguns instantes.

— Boa tarde, srta. Uzumaki... – Hinata começou com a sua característica voz fraca. – Será que eu poderia... É... Será que eu poderia... hmm

— Entrar e ver o quarto do Naruto? – ela perguntou com um tom de voz cansado. – Pode, entra. Depois das escadas, é a segunda porta a direita.

— Muito obrigada! – falou, tropeçando nas letras. A ruiva apenas acenou e saiu da frente, fechando a porta depois que Hinata passou.

— Não faça cerimônias para abrir a porta quando quiser ir embora. – a mãe de Naruto falou enquanto a morena subia as escadas. Sentindo-se mal por estar mentindo, ela entrou no quarto do loiro, que continuava atrás dela sem dizer uma palavra.

— Estou morto há seis meses e ninguém se deu ao trabalho de arrumar essa bagunça! – exclamou, ao ver o quarto exatamente do mesmo jeito que estava antes dele morrer.

Hinata quis dizer que era provavelmente muito difícil para os pais deles rever todas aquelas memórias, mas preferiu ficar calada e começou a olhar ao redor por algum dinheiro.

— Eu acho que tem dinheiro em cima daquele criado-mudo, mas agora que eu parei para pensar, não acho que meus pais iam deixar dinheiro aqui... – ele falou, depois de um suspiro. – Como eu sou burro!

— Eu... Eu também não pensei nisso... – Hinata disse baixinho, frustrada. Mesmo assim, seguiu até o móvel e viu as coisas que estavam ali em cima.

Um abajur quebrado, um telefone, alguns cartões-postais que tinham fotos de um sujeito estranho de cabelos brancos, alguns papéis de bala e um porta retrato. Sem pensar muito, ela pegou o objeto e analisou a foto. Lá estava o congelado, mas mesmo assim caloroso sorriso de Naruto, do lado de uma garota que ela reconheceu como Sakura, a que estava discutindo com Neji. Do outro lado de Naruto, ela conseguiu reconhecer Sasuke, o garoto moreno que tinha defendido Sakura.

Eles pareciam todos tão felizes que era triste. Hinata tentou conter o soluço que veio em sua garganta e colocou a foto de volta, tentando não pensar muito no fato de que aqueles três nunca mais iriam tirar uma foto juntos.

— Ei, é isso! – Naruto exclamou, por trás dela. Ela pulou, como sempre, ainda não estava acostumada com a ausência de passos e respiração que a faziam notar quando alguém aparecia por trás. – A Sakura!

Ela virou-se e olhou confusa para ele.

— Já sei como eu posso seguir em frente... É, acabei de perceber que eu não sei seu nome. – completou, de repente com uma expressão de confusão.

— Hinata. – ela respondeu.

— Já sei como eu posso seguir em frente, Hinata! – berrou de novo. – Temos que fazer Sakura se apaixonar por mim!


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Notas finais do capítulo

Ooie, cap novo pra vocês (:
Espero que gosteem!
Reviews? *-*

:*