Inalcançável escrita por Gaia


Capítulo 22
Fênix




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Depois de terminarem de ler o arquivo, Hinata e Naruto se encararam em silêncio, ambos com terror no olhar.

– Esse cara é louco! – foi o primeiro comentário de Naruto, que levantou-se inquieto.

Hinata não sabia o que pensar, certamente era muito para absorver e ela se perguntava se era realmente possível executar tudo o que estava escrito ali. Uma coisa era transplante e doação de órgãos, mas aquilo era loucura. Refazer o próprio corpo, usando partes de um mais jovem?

– Eu não acho que isso seja possível. – ela murmurou, enojada.

– Está tudo aqui! – Naruto retrucou, angustiado, apontando a página que continha a sua foto e outras informações. - Esse cara me matou sem querer e agora está usando meu corpo! Está roubando meus órgãos saudáveis e...

Ele hesitou, não conseguia colocar em palavras e tornar real toda a repugnância daquilo tudo.

– Vai saber quantos outros corpos estão naquela sala! – exclamou, apontando para a porta. – Talvez até Itachi esteja ai!

– Itachi está... – ela começou, tentando manter-se calma.

– Morto?! E eu não?! – Naruto estava histérico, já não conseguia imaginar a existência de alguém que faria aquilo e saia ileso.

– É diferente, Itachi teve um enterro, Sasuke viu o corpo dele no caixão, não acho que... – Hinata tentou argumentar, mantendo a gentileza presente em sua voz.

Naruto chutou a cadeira e pousou as mãos em seu rosto. Em toda a sua vida, ele teve que se adaptar, alcançando Sasuke, tentando conquistar Sakura, sendo bom para os pais, virando um fantasma... E agora, novamente, via-se em uma situação onde tinha que se adaptar. Já não aguentava a mudança frequente de coisas que pareciam constantes na sua vida.

– Naruto... – Hinata criou coragem e se aproximou, apoiando a mão suave em suas costas.

– Não, faz todo o sentido! – ele retrucou, ainda com seu tom sério de decepção. – Eu fui cremado, disseram que meu corpo estava irreconhecível depois do acidente. Madara pensou em tudo. Olha aqui.

Naruto mostrou o arquivo de novo, dessa vez na página que dizia os detalhes de sua morte.

– Eu morri em um acidente de carro e Sasuke estava comigo. Isso não pode ser coincidência. Aposto que ele queria matar Sasuke e ao invés disso...

Hinata engoliu um seco e o encarou assustada. Fazia sentido. E mesmo o plano inicial de matar Sasuke dando errado, Madara se aproveitou da situação e pegou o corpo saudável de Naruto para o seu experimento.

– Eu achei que eu estivesse vivo. Talvez minha missão fosse só encontrar o meu corpo. – ele falou de repente, melancólico. Hinata pensou que ele fosse começar a chorar, mas a expressão de Naruto era de uma estranha determinação, enquanto ele cerrava os punhos com força. Era como se ele estivesse frustrado consigo mesmo por pensar de forma otimista.

Ela não sabia como confortá-lo, porque também tinha essa esperança. Achava que ele estava escondido em algum lugar e que o estado de fantasma em que se encontrava era só temporário, que ele estaria sólido a qualquer momento...

Hinata suspirou, pensando que devia dizer alguma coisa confortante, mas que se falasse qualquer coisa, saberia que era mentira. Então, se deparou com uma solução que não tinha pensado antes, que talvez fizesse tudo ficar bem.

– Talvez você esteja. – ela afirmou, dessa vez sem dúvidas, sem tirar sua mão confortante. – Já faz muito tempo desde do acidente, mas não o suficiente para Madara ter que tirar um órgão vital de você.

Naruto ergueu a cabeça e a fitou, com uma nova dose de curiosidade em seus olhos azuis.

– Eu duvido muito que ele precise de um novo pulmão ou coração em menos de um ano. – ela lembrou-se das aulas extra curriculares que fazia no hospital e como aprendeu sobre transplantes e outras coisas de medicina. – Fora que ele não deixaria seu corpo apodrecer se vai reutilizá-lo. No arquivo diz para fazer o uso máximo de um corpo, ou seja, ele deixaria os órgãos vitais para o final...

Naruto agora a encarava com receio, como se estivesse com medo de deixar-se acreditar que aquilo era possível e decepcionar-se novamente.

– Mas então... Eu estaria em um estado...

– De vida ou morte. – ela concluiu, dando um sorriso contido.

Ele suspirou, hesitante.

– De qualquer forma, você vai conseguir paz. – Hinata disse. – Se a sua missão for encontrar o seu corpo, você pode finalmente seguir em frente. E se você não estiver morto, voltará mesmo assim. Não há lado ruim.

Finalmente, ela conseguiu o efeito que queria. Que ele voltasse a ser esperançoso e otimista como sempre fora e que acreditasse sempre que tudo ia dar certo e no bem de todos.

Como uma nova dose de esperança, ele sorriu e exclamou:

– Certo! Vamos entrar!

Naruto estava com a sua melhor expressão de determinação que ela tanto gostava e se inspirava. Hinata encarou o sorriso radiante e os olhos faiscantes e suspirou. Era por aquele Naruto que ela tinha se apaixonado.

Pode-se dizer que a última coisa que ela queria era se apaixonar. Se tornar vulnerável e passar a pensar nele todo o tempo. Ter que abdicar de tudo para fazê-lo feliz e ainda correr o risco de se magoar depois. É, com certeza se apaixonar estava por último em seus planos tão bem formados.

Mas era mais complicado que isso. Quem dera fosse apenas se apaixonar... Não, a vida tinha mais obstáculos do que isso e ela certamente não estava pronta para eles. Ninguém estaria pronto para eles...

Não que ela merecesse, porque definitivamente ela não merecia. Ela, que sempre fora tão certinha e tímida, que já sacrificou tanto da própria felicidade para os próximos. Não, certamente ela não merecia.

Mas as coisas acontecem e as pessoas não tem muito controle sobre elas. Tudo o que podemos fazer é erguer a cabeça e seguir em frente e foi isso que ela fez, por muito tempo. Mas tem coisas que nem o tempo pode curar.

Um coração partido, talvez... Uma mágoa, também... Mas isso não, o tempo não podia trazê-lo de volta. Ela não podia regressar e ignorar ele naquele dia. Não, isso o tempo não podia fazer.

Não tinha um dia no qual ela não se perguntava o motivo daquilo tudo estar acontecendo com ela. Por que ela? Por que não alguém que realmente merecesse?

Não que ela estivesse de fato reclamando, porque apesar dos pesares, ela nunca tinha se divertido tanto na vida e nunca tinha sido tão feliz quanto foi com ele. O fim era o que a preocupava.

Porque não tinha um fim que faria com que aquilo desse certo, uma opção se quer. É, talvez ela estivesse perdida, e talvez ela nunca superaria aquele problema, mas pelo menos tinha valido a pena.

Ou ainda ia valer.

– Certo. – Hinata interrompeu seus pensamentos -no mínimo masoquistas- e disse para o loiro a sua frente. – Eu espero que isso realmente dê certo...

– Vai dar! – Naruto exclamou de volta. – Chegamos até aqui, não deve ser tão difícil.

Hinata suspirou. Realmente, eles tinham chegado até ali, mas não fora uma jornada rápida e nem fácil. E com certeza ele estava sendo otimista ao dizer que não seria tão difícil. Mas esse era Naruto, sempre otimista.

– Eu não acredito que eu estou fazendo isso... – ela disse, antes de abrir a porta. – Eu espero que o seu corpo esteja mesmo aqui. – completou com um sorriso meigo, olhando para a aparência translúcida do seu amigo fantasma.

– Espera! Eu... eu não sei se quero encontrar meu corpo... – ele murmurou, de repente, tornando-se apreensivo. Seu tom de voz mudou de acordo com o seu humor e ela não entendeu o que era aquela insegurança repentina. Há segundos atrás ele estava entusiasmado para isso.

– Como assim? – ela perguntou, sem entender.

– E se eu for para um lugar pior? E se eu nunca mais puder ver ninguém ou se eu esquecer de tudo?

A morena apenas piscou algumas vezes. Ela tinha repassado essas mesmas perguntas em sua mente por muito tempo, mas nunca deixou suas inseguranças chegarem em Naruto, mas agora ela viu que foi tudo em vão. Ela não tinha respostas, ela não sabia o que ia acontecer, não poderia ter certeza de que tudo iria ficar bem porque ela tinha os mesmos medos que ele.

Então, ao invés de dizer mentiras bonitas, Hinata apenas respondeu:

– É melhor se arrepender de ter feito algo do que se arrepender por nunca ter tentado e não saber o que poderia ter acontecido.

Naruto apenas a fitou por alguns segundos, absorvendo o que ela tinha acabado de dizer, como se decifrasse cada palavra. Logo, soltou seu famoso sorriso e colocou a mão na nuca.

– Você está certa, como sempre. – falou por fim, fazendo-a corar. – Vamos. – completou, segurando sua mão.

Entraram juntos onde parecia ser um laboratório de algum filme de ficção. Com as luzes acesas, podiam ver várias camas de hospital mal cuidadas espalhadas pelo cômodo, que continha diversos aparelhos de medicina e estantes com milhares de remédios espalhados.

Hinata engoliu um seco, tinha mais camas do que esperava. Aquele homem era de fato um psicopata. Ela encarou Naruto para ver se ele estava repensando o assunto, mas ele parecia tão surpreso quanto ela perante a quantidade de pessoas.

– Isso é nojento. – ele murmurou, claramente irritado.

Ela acenou com a cabeça na mesma hora, imaginando quantas vidas tiveram que ser arriscadas para aquele experimento prosseguir e quantas pessoas estavam sendo privadas de um filho, um pai ou um irmão por causa de um psicopata ambicioso.

– Está pronto? – ela perguntou e ele acenou que sim.

– Antes de me encontrar.... – ele disse e riu com o próprio comentário de forma adorável. – Queria dizer muito obrigado por me ajudar!

Hinata corou imediatamente, querendo responder, mas sendo impedida pela sua timidez, que a congelou momentaneamente.

– Eu... É... – tentou.

– Foi muito bom te conhecer, Hina. E se eu não lembrar de você ao acordar, pode me bater e contar tudo, ok?! – ele perguntou fintando-a diretamente, como se estivesse pedindo por uma promessa. - Ou se eu finalmente for pra sei lá onde eu tenho que ir... Eu sentirei saudades.

Hinata conseguia sentir seu rosto queimando e completamente vermelho, sem ao menos ver-se. Aquilo era tudo o que ela queria ouvir e estava mais do que satisfeita por ter o reconhecimento de alguém como Naruto. Ela queria dizer que também sentiria saudades, que nunca fora tão feliz e que o amava, mas não era capaz.

– Eu também! – foi tudo o que conseguiu soltar, de forma abrupta e repentina, fazendo-o rir e segurar a sua mão com mais força.
Então, em silêncio, foram de cama em cama, olhando a ficha do lado de cada cama, para ver se achavam a de Naruto. Evitavam olhar por de trás das cortinas e encarar os olhos de qualquer pessoa que estivesse ali, mas prometiam que iam voltar por elas.

Finalmente, encontraram. Acharam a cama onde Naruto estaria deitado em um estado que não tinham como previr e que definiria o futuro de ambos para sempre. Se entreolharam e suspiraram juntos antes de abrir a cortina.


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Notas finais do capítulo

Cap novo pra vocês lindocos,
gostaram? S2

beijão :*