Inalcançável escrita por Gaia


Capítulo 18
Sombras




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–Todo mundo entendeu a sua parte? – Sasuke perguntou por fim, depois de passarem um bom tempo elaborando o plano para entrar na casa de seu tio. Tudo parecia extremamente frágil e se não fizessem tudo como o planejado, colocariam tudo a perder.

Todos acenaram com a cabeça. Era claro que tudo parecia dar certo quando posto em palavras. Hinata pensava em todas as variantes que poderiam dar errado, mas tinha aprendido a ser otimista. Os dois se despediram do casal e foram para a casa dela, que durante o caminho ficara repassando o plano em sua mente, enquanto Naruto balbuciava coisas sem sentido ao seu lado.

Chegaram em sua casa e ela o chamou para entrar, como de costume, sem realmente pensar que não tinha nenhum motivo para convidá-lo.

– Onde você estava? – Hanabi perguntou, assim que Hinata entrou em casa. A morena recuou e desviou o olhar, tentando manter-se firme.

– Eu... É...

– Esquece. Papai está furioso, ele está te esperando no escritório. – a irmã menor falou, revirando os olhos. Ela era completamente impaciente perante o jeito contido de Hinata. – Você nem sabe o que fez, né? – perguntou, vendo a expressão de pânico no rosto da outra.

Hinata acenou que não roboticamente, já com as mãos suando. Ela não tinha feito nada de errado, tinha? Quer dizer, além de invadir uma empresa e roubar um arquivo confidencial. Mas isso não tinha como o seu pai descobrir, certo? Respirou fundo, e andou em direção ao escritório, esquecendo-se pela primeira vez de Naruto, que resolveu sentar na escada e esperar do lado de fora.

– Hinata. – o pai a cumprimentou com um aceno frio de cabeça.

A filha mais velha se curvou com respeito e sentou-se quando ele apontou que poderia. Ela estava mais nervosa do que o normal, tentando fazer a mão parar de tremer.

– O que você anda fazendo no seu tempo livre? – ele perguntou calmamente, mas em um tom cheio de suposições, que não passou batido.

– Estou... Estou... – Hinata começou a gaguejar, enquanto encarava suas mãos. – Ajudando um amigo. – concluiu. Não era mentira.

– Que ótimo, filha. Esse seu amigo deve ser bem importante para você, já que está jogando todo o seu futuro fora por causa dele. – o pai ralhou de forma ríspida e Hinata se encolheu, um tanto aliviada, mas ainda assustada. – Não pense que eu não notei como as suas notas caíram nessas últimas semanas.

Hinata não disse nada, ela reconhecia aquilo, sabia que era verdade. Desde o começo sabia o que estaria arriscando para ajudar Naruto e não se arrependia. Ela tinha percebido que haviam coisas mais importantes do que estudar.

– Você tem noção do que isso quer dizer? – o pai perguntou, aumentando o tom de voz de repente, fazendo-a estremecer. – Você não se importa com o seu futuro, Hinata? Não se importa com o dinheiro que eu estou gastando em uma educação de primeira para que você possa se formar com louvor e ser alguém na vida?! Como pode ser tão ingrata?

Ele começara a gritar e ela já não conseguia processar o que ele estava dizendo, sua repressão sempre a silenciava de forma plena, ela nunca conseguia reagir de nenhuma forma e apenas se conformava com a sua situação inferior.

Seus olhos começaram a lacrimejar e ela se condenou por ser tão fraca. Queria ter a força para responder, para explicar-lhe o que estava pensando, para reagir...

Depois de alguns minutos presa em seu casulo, o pai finalmente calou-se e a mandou para fora de sua sala, depois de fazê-la prometer que iria mudar de comportamento. Ela diria qualquer coisa para sair daquela situação.

Não conseguiu encarar Naruto quando subiu as escadas, sendo seguida por ele mesmo assim.

– Ei, o que houve?! – ele perguntou, sem entender. – Seu pai brigou com você?

Ela apenas acenou, ainda sem encará-lo. Naruto não sabia o que fazer, ele nunca fora bom com conselhos, às vezes não sabia como seus amigos achavam conforto em suas palavras. Ele sentou-se na cama dela e ficou encarando os cabelos negros e lisos de Hinata, que soluçava silenciosamente de costas para ele.

– Meu pai sempre foi do tipo de sentar e conversar, ele nunca gritou comigo. Era só eu contar uma piada e já era, ele nunca conseguia ficar bravo por muito tempo. – ele murmurou, sem saber muito onde queria chegar. - Não como a minha mãe pelo menos. Ela gritava tanto que eu achava que ia explodir. E no fim ela sempre acabava chorando e me abraçando, falando pra eu não fazer qualquer besteira que eu tivesse feito de novo. Acho que é porque ela se importava demais.

Hinata não se virou, mas sua cabeça tinha parado de se mexer, ela parecia ter parado de soluçar.

– Acho que os nossos pais fazem o melhor que podem. Seu pai deve te amar bastante, Hinata, se não ele não brigaria com você. – ele continuou e sorriu sozinho, lembrando-se de seus próprios momentos com os seus pais e pensando em como não os teria de volta. – E você ainda tem a sua vida inteira para deixá-lo orgulhoso.

Ela finalmente virou-se, com dor em seu olhar. Ele tinha razão, claro que tinha.

– Você está certo. E seus pais com certeza tinham orgulho de você. - ela afirmou, sorrindo fracamente.

Naruto sorriu e coçou a cabeça.

– Com certeza, eu era um filho excepcional! – ele exclamou, voltando ao seu estado de espirito comum. – Eu já te contei sobre a vez em que Sasuke e eu fomos pegos tentando resgatar o sapo que costumávamos usar para dissecação?

Hinata riu e disse que não, agradecendo por ter Naruto ao seu lado para fazê-la se sentir melhor. Passaram o resto do dia desse jeito e ela esquecera completamente da repressão que tinha levado anteriormente.

No dia seguinte, foi surpreendida por Sakura em sua porta.

– Vamos as compras! – ela disse, em um tom descontraído.

Hinata piscou algumas vezes, sem entender. O que era aquilo tão de repente?

– Vamos usar a festa de gala de Madara como forma de entrar na casa dele, né? - ela perguntou sorridente. – Precisamos de roupas a altura. Ah, e não chame Naruto! Só garotas hoje.

A outra sorriu, por um momento tinha esquecido que concordara com aquele plano louco que tinham formado no dia anterior. Enquanto andavam em direção a loja, pensou que aquela era a oportunidade perfeita para perguntar sobre seus verdadeiros sentimentos perante Naruto. Apesar de já saber da resposta, ela devia isso à ele, tinha prometido ajudá-lo, mesmo que isso custasse perdê-lo.

– O que acha desse? – Sakura perguntou, segurando um vestido verde claro de alcinha, que ficaria simplesmente impecável em sua figura alta e esbelta.

– Perfeito. – Hinata respondeu sinceramente. – Tudo ficaria bem em você, Sakura.

– Você é tão doce! – a outra respondeu, sorrindo. – Bem melhor fazer compras com você do que com a Ino. E tudo ficaria bem em você também! Quer dizer, olha para o seu corpo!

Hinata corou, escondendo seu sorriso entre os dois vestidos que estava segurando.

– O tomara que caia, com certeza. – Sakura ajudou. – Não desperdice as suas curvas!

Ela sorriu, corando ainda mais. Separou o vestido lilás tomara que caia que estava segurando e o experimentou. Hinata não era o tipo de pessoa que ia em festas ou costumava sair a noite, então ao se olhar no espelho, não se reconheceu. O caimento curto do vestido favorecia seu corpo magro, acentuando suas pernas magras e seus peitos perfeitamente simétricos e avantajados. A cor de seus cabelos lisos mesclavam-se com o lilás do vestido, formando uma paleta agradável, que combinava com os seus olhos.

– Uau! – a amiga exclamou, ao vê-la. – Naruto vai babar! – ela completou, piscando o olho direito maliciosamente.

– E-eu... O-o que? – Hinata murmurou confusa.

– Você está linda! – Sakura repetiu, sorrindo, mesmo sabendo que não era a isso que a outra estava se referindo.

– Obrigada. – ela respondeu contidamente, sem fitá-la diretamente. – Sua vez.

Sakura demorou alguns segundos no provador, antes de sair com o seu vestido verde claro. Algumas camadas mais claras fazia o tecido fluir e criava uma textura suave.

– Ficou ótimo! – Hinata exclamou, sincera. Sakura era incrivelmente bonita, ela nunca iria passar despercebida. Era compreensível porque Naruto gostava tanto dela, era impossível não gostar.

– Você acha que Sasuke vai gostar? Ele normalmente não gosta de vulgaridade. – ela perguntou e Hinata franziu a testa.

– Você não está nada vulgar! – ela exclamou prontamente. – E não devia se importar com o que ele quer ou não, vista-se como gosta.

Hinata sabia que estava sendo hipócrita, ela era a primeira a se importar com o que os outros pensavam, mesmo sabendo que não devia. Talvez algum dia, por repetir tanto os seus conselhos, ela passaria a seguí-los.

– Eu sei. – Sakura sorriu. – Mas é que Sasuke está tão mal, não quero dar outra coisa para ele se irritar.

Hinata sorriu junto, não tinha pensado nisso. Sakura conseguia ser bem apreensiva quando queria, mesmo se escondendo atrás de sua máscara forte que usava ao lidar com o seu namorado.

– Principalmente agora que Naruto voltou. Sabe, ele não quer lidar com o fato de que irá perdê-lo de novo. Ele está sob a impressão de que ele ficará aqui pra sempre...

A outra suspirou, reconhecendo-se na fala de Sakura. Ela também estava sob essa impressão.

– Às vezes eu lembro de quando ele estava vivo e parece tão distante. Eu fico com medo de perder essas lembranças, de um dia esquecer seu tom de voz ou a forma como seus olhos se fechavam quando ele gargalhava. – ela continuou, desarmando Hinata, que não esperava tamanha sinceridade tão de repente.

– Você gostava muito dele, não é? – a morena perguntou, sem pensar em sua missão, mas com honesta curiosidade. Sakura apenas acenou e a fitou logo depois, sorrindo fracamente.


– Claro, ele era meu melhor amigo. Mas não se preocupe! Ele é seu! – ela exclamou, fazendo a outra corar.

– C-como assim? – Hinata gaguejou, sem fitá-la nos olhos.

– Eu percebo como você olha para ele. É estranho porque pra mim você está encarando o nada, mas você me entendeu. – Sakura esclareceu em um tom mais descontraído e levantou-se, erguendo seus cabelos rosas para ver como ficaria com o vestido. – Mas Hinata... Nunca daria certo, você sabe, né?

Hinata encarou o chão.

– Por que ele gosta de você? – ela perguntou baixinho. – E você dele?

Sakura a encarou surpresa, erguendo as sobrancelhas bem definidas.

– Não! O que? – perguntou, exaltada. – Hinata, ele é... Era como um irmão pra mim, eu nunca o vi a mais que isso. Eu quis dizer que nunca daria certo porque ele está... Bem... Morto.

Hinata tentou se conter, mas não conseguiu, soltou uma risada de alívio. Uma parte dela já sabia que Sakura não gostava de Naruto e nunca gostara da forma como ele acreditava, mas era bom ouvir para ter certeza. Por um instante, ela realmente achou que tinha chances de ficar com ele, ignorando o fato de que ele era invisível.

– Claro. – ela concordou, feliz e encarou-a pelo espelho. Sakura era tudo o que ela sempre quis ser. Corajosa, irreverente, extrovertida e sincera. Uma pessoa como ela nunca ficaria calada sob as repressões do pai, nunca choraria a toa ou se sentiria tão inútil.

– Se Naruto tivesse vivo, você seriam perfeitos um para o outro. – Sakura murmurou espontaneamente, enquanto se arrumava. – Mas sabe, eu acho isso tudo muito estranho.

– O que? – Hinata perguntou, preferindo ignorar a primeira suposição.

– Que só você consiga vê-lo. E por que só agora? Além do mais, eu não acho que fantasmas normais consigam mexer em coisas e falar com outras pessoas. – a outra comentou, ainda brincando com penteados no seu cabelo.

Hinata acenou com a cabeça, também pensava bastante em tudo isso, mas nunca tinha encontrado respostas que pareciam plausíveis, então desistiu de supor. Mesmo assim, resolveu compartilhar o que sabia com Sakura, quanto mais ajuda, melhor. Ela contou-lhe que ele achava que tinha um assunto pendente, mas não disse qual.

– Naruto é lerdo, ele nunca saberia qual é esse motivo. - Sakura suspirou. – Você tem alguma ideia do que seja?

– Não. – Hinata respondeu honesta. Nunca achou que Sakura gostar ou não dele fosse um motivo tão forte para mantê-lo no mundo dos vivos. Ela sabia que ele achava que se não tivesse morrido, eles pudessem ficar juntos, mas não parecia suficiente.

– Bom, depois de nos virarmos com Madara, a nossa próxima missão vai ser essa. – a outra comentou firme e a morena acenou sorrindo, estava feliz por conseguir ajuda, nunca quis ter toda a responsabilidade sozinha. – Naruto merece ser feliz.

Hinata acenou, concordando. Ela deu uma última olhada em si mesmo pelo reflexo do espelho e sorriu com a figura, podia não ser tão bonita quanto Sakura, mas pela primeira vez, viu-se pelo que era, não pelo o que os outros achavam.

– Vamos logo, ainda temos sapatos para ver. – Sakura mencionou, já entrando no provador para se trocar.

Então, Hinata viu de relance uma figura loira saindo de trás de uma arara de vestidos pelo reflexo do espelho e engoliu um seco. Não seria possível que Naruto estivesse lá o tempo todo, seria?

Ela respirou fundo e repassou a conversa que tivera com Sakura em sua mente, tentando conter a lágrima que já corria involuntariamente por seu rosto. Tinha estragado tudo.


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Notas finais do capítulo

Ooie, amados. Apesar de estar chatiadissma por não termos Naruto hoje, eu postei, hahaha.
Ta aí mais um cap pra vocês, espero que tenham gostado S2
Reviews? Pedras?

:**