Bilhete De Um Naufrágio escrita por Shianny


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/408229/chapter/1

Meu nome é Jeannie Winstom.

No momento que escrevo estas linhas que lentamente são manchadas por minhas lágrimas que deslizam na suavidade de uma mera pluma por sob minha face, tenho a consciência de que minha memória provavelmente fará parte de uma história destroçada ao longo dos anos. Não se enganem; Hoje, sou conhecida. E muito. Porém, nada posso comentar em respeito ao futuro. Afinal, o mundo dá muitas voltas.

Minha própria situação atual é prova disto.

Ah, claro. Deve estar questionando-se sobre o que estou falando, não é verdade? Digo, se é que realmente alguém pode estar lendo tais palavras. Apenas posso dizer que uma grande festa de inauguração, a primeira viagem de um glamoroso navio metamorfoseou-se em uma tragédia que possivelmente abalará milhares de famílias pelo mundo inteiro.

Creio que agora ficou claro do episódio em que me encontro, não é verdade? Ou este assunto apagou-se ao longo dos... Anos?... Que se passaram? Bem, de todo modo, creio que pode ser importante frisar: A data atual, considerando apenas o ano... Estamos em 1912.

Não tenho muito tempo, disto tenho consciência. O único apoio de minhas mãos pálidas resume-se em barras gélidas de ferro que margeiam todo o casco do poderoso navio que antes rasgava imponente as águas do oceano. É irônico pensar que tal transporte majestoso fora tão vilmente destroçado por um mero pedaço de gelo, fazendo de sua grandeza a sua ruína, agora em constante submergir contra o manto escuro que banhava as costas dos continentes.

É ao meu leitor – Torno a questionar; Existirá, algum dia, uma criatura que passará suas orbes por tais escritos em leito de morte? – que admito algo inútil: Deste mundo, carrego diversos arrependimentos. Se bem que de nada vale citá-los aqui, neste mero pedaço de papel. Eu... Apenas desejaria ter uma única chance de obter perdão. Implorar àqueles que dominam meu peito para que enfim pudesse ter paz, para que meus atos vândalos pudessem ser esquecidos.

Incluso meus homicídios e tentativas de suicídios que a muitos feriram internamente.

Porém, de que adianta mencionar tais fatos enquanto os ponteiros do relógio, que antes corriam, começam a parar lentamente quando a frieza das águas se aproxima cada vez mais? De que serviria para um simples desconhecido qualquer, saber das antigas dores de um cadáver possivelmente congelado no fundo do oceano?

Ah, está tão perto, afinal. Nunca pensei que um dia obteria a chance de ver a própria vida correr diante de minhas simples pupilas, sem que fosse um fato proposital para abandonar este planeta parasitado por tão imundas almas humanas. É algo que deveria apreciar em puro deleite, porém, o instinto de sobrevivência está correndo por cada milímetro de minhas veias destacadas nas partes de pele desnuda. Sinto o roçar do líquido da vida logo acima de meus tornozelos; Talvez não o houvesse percebido antes por culpa dos cerrados sapatos enegrecidos.

As letras começaram a obter uma opacidade falha; A tinta que utilizo para rabiscar cada traço neste papel em branco se esvai da caneta onde jaz contida. Um infeliz sorriso emoldura meus lábios tremidos enquanto lentamente sinto minha epiderme mergulhar naquela extensa prisão gélida que por toda a viagem admirara para por fim ser traída deste modo pelo destino. Os botes há muito sumiram de minha vista, e por isso tenho a certeza de que não por muito tempo resistirei neste corpo.

O salitre invade-me os pulmões e o néctar da vida luta para tomar o lugar do oxigênio que resta em tais bolsas de ar, fazendo-me lutar entre tosses e ofegos enquanto busco a superfície. Tarde demais para admitir a qualquer um que não faço a mínima ideia de como mover-me de modo a nadar para algum local que pudesse mostrar-se como minha salvação. Pude apenas apoiar-me por alguns segundos em um resto da carcaça do navio que jaz por sob a água.

Quando finalmente afundo e desapareço nestas águas indelicadas, o bilhete transcrito por mim flutua com lentidão e movimenta-se com calmaria à origem de ondulações marinhas na superfície da água.

Neste mundo, minha mente não mais existirá. Porém, de minha memória, tenho certeza:

Desta, deixei para trás as sobras de um simples pedaço de papel.

A prova de minha existência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Mereço reviews? ;w;



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bilhete De Um Naufrágio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.