– Me desculpe Loki. - Falou com a mão contra a boca - Eu me excedi.

– Tudo bem, eu gostei. É melhor que abraçar.

– Só... só, me dê um tempo. -Virou-se e antes de ir falou baixo- Eu também gostei.

Partiu deixando o outro só e confuso. Feliz, mas confuso.

(...)

Thor voltou direto para a cabana. Tinha passado pela festividade vendo os asgardianos de um lado comemorando empolgadamente enquanto os Gigantes, comedidos. A música tocava forte com tambores, palmas, pandeirolas e cantorias que lhe pareciam estranhamente alegres.

Entrou no quarto e tacou-se na cama, estava se sentindo zonzo. Não sabia o que tinha lhe dado para fazer tal coisa. Uma única palavra resumia seu arrependimento: Sif. Esbravejava contra o travesseiro sentindo a algo na cabeça gritar que estava errado. Mas o que podia fazer agora? Já tinha cedido àqueles olhos curiosos, àquela pele que parecia queimar-lhe sem haver contato e àqueles lábios que nada lembravam os de Sif. Apesar da textura ser macia como os da mulher, a forma como se movimentavam inexperientes contra os do loiro torturaram-o.

Martirizou-se por muito tempo até adormecer, antes de Frandal chegar.

(...)

Puxava Loki em meio a floresta. Sem protesto, sem resistência. Atirou-o em um tronco qualquer ouvindo um baque alto. Abaixou e segurou seu rosto.

– O que pensa que estava fazendo?

– Experimentando a vida, Tyr. -Falou baixo, sem olha-lo.

– Não! Estava se comportando como um qualquer! -Bradou socando a árvore- Loki ele é homem!

– Não me importo com isso! -Respondeu alto, com os dentes trincando, ainda com o olhar baixo- Vai fazer o que? Contar para seu pai?

– Exatamente. Vou contar a todos que é um mundano! Um imund-

Fora interrompido e não se deu conta de quando havia caído no chão, mas estava imobilizado pelo moreno que insultava há tempos atrás. As mãos estavam no seu pescoço apertando fortemente. Encontrava-se com feições sérias, suas pupilas se dilataram ao ponto de os olhos ficarem quase negros. Folhas que repousavam serenas no chão agora voavam pesadas e afiadas como navalhas, chocavam-se nas árvores.

– Você não ousaria abrir a boca. - Falou Loki a poucos centímetros de distância de Tyr.

– O que está acontecendo com você? Me solte ou vou te machucar. -Ordenou autoritário.

– Como se você pudesse. -Apertou a mão no pescoço do outro- Não brinque com o perig- Quase fora atingido por um soco, mas agilmente segurou a mão do maior. -O que foi isso? Acha que sou tolo? Estou sempre um passo a frente. Sempre. -Sussurrou.

(...)

Mais um dia começou e logo todos tomavam o café-da-manhã. Thor encontrava-se distraído atraindo a atenção de Balder, que o chamou e convidou-o num pedido mudo a ir para o lado de fora. Concordou e deixou a mesa, pois ninguém iria notar sua presença, pareciam cansados demais e alguns cochilavam sobre suas tigelas. Ao chegar na pequena varanda que havia, logo foi indagado o motivo da distração. Respondeu que não era nada. Outra pergunta lhe foi feita, mas dessa vez algo que o fez travar.

– Thor, te vi saindo atrás da moça que dançou. Traiu Sif com ela?

O que iria dizer? O desespero o tomou, suava frio e salivava com mil opções de resposta na ponta da língua. No final não precisou falar nada, porque sentiu uma mão no ombro e um sorriso amigo.

– Não vou te julgar. Admito que também fiquei fascinado com seu modo singular de encantar. Só espero que não repita isso, pois Sif te ama muito e sei que você a ela também. -Riu- Então, vamos ao trabalho?

Assentiu, feliz e aliviado. Balder era o tipo de amigo que parecia saber de tudo sem ninguém precisar falar nada e também era aquele que fazia todos se sentirem melhor sem precisar dizer uma palavra. Voltaram, pegaram suas ferramentas e foram para a área de construção. Orgulhava-se do trabalho. Todos eram bastante habilidosos, por isso as obras estavam correndo bem.

Após um certo tempo, Loki e outros Gigantes chegaram, logo começando a ajudar. O menor fazia as coisas perto do loiro pois estava sobre a cautela deste. Juntos trabalharam bastante até a hora do descanso. O moreno havia levado frutas nativas para o asgardiano provar. Comiam em silêncio, cada um preso em seus pensamentos, até que incomodado o suficiente, Thor levantou-se e chamou o outro para um local mais reservado.

– Loki - iniciou receoso - quero me desculpar por ontem.

– Desculpar? Por que?

– Por te forçar a fazer coisas... Que deveria fazer com... -Parou pensando em como poderia continuar. O moreno o olhou incentivando-o a prosseguir. -Fazer com pessoas que gosta.

– Que bobeira Thor, eu gosto de ti e admito estava errado ao pensar que era má pessoa. -Aproximou-se- Você é especial.

– Não gostar desse jeito! -Falou encarando-o notando que este estava com os cabelos detrás da orelha, deixando a mostra o par de esmeraldas.

– De que jeito então? Você me mostrou que o mundo é muito mais do que tristeza. -Colocou as mãos na lateral do rosto do asgardiano e encostou suas testas. -Toda manhã quando olho meu reflexo no rio e vejo esta cicatriz me lembro da angústia que senti naquele dia que... Você sabe. -Desconversou- Mas quando estamos juntos, tudo parece parar, você me faz sentir melhor, seguro.

– Não deveria ser tão sincero. Isso pode machucar. -Suas respirações já se misturavam e ambos estavam com os olhos fechados.

– Machucar ?

– Sim. Pode machucar você.

Seus lábios roçaram. O loiro quis se separar, mas sentiu braços ao redor do seu pescoço. Não conteve-se mais e com delicadeza guiou Loki até o encostar num tronco iniciando um beijo calmo. Ficou extremamente surpreso quando sentiu que o moreno queria aprofundar o contato. Assentiu e em poucos instantes tudo tornou-se intenso ao ponto do ar faltar e mãos começarem a passear pelo corpo imaculado do Gigante que ofegavam produzindo pequenos sons guturais.

Ouviram alguém se aproximando e isto fez com que parassem abruptamente o que faziam. Olharam-se e Loki saiu correndo deixando o asgardiano sozinho.

– Thor. -Ouviu uma voz grave o chamar.

– O que quer Heimdall? -Disse virando irritado para encarar o outro.

– Só vim avisar-lhe de uma coisa. Seu pai chegará em quatro dias. -Comunicou sério. -Quer ver como estão as coisas.

O príncipe concordou vendo todo seu bom-humor se esvair.

(...)

Corria em direção do rio assustado com o quase flagrante, mas o que mais lhe incomodava era a sensação de prazer que sentiu e que parecia ter se focado num ponto em específico. Jogou-se na água fria, sem saber o que fazer. Buscava ar com certa dificuldade, com o coração acelerado. Baixou a cabeça vendo seu reflexo e sentindo-se bem, até que notou uma movimentação atípica na água. Ficou sério.

– Fiquei surpresa com o que fez com Tyr. Tirar a mão direita dele?*

– Oh, Hela... Não há motivos para espanto. -Virou-se lentamente com a feição sarcástica- Você que me fez assim.

– Foi apenas uma troca, Loki. -Caminhava sobre as águas límpidas incendiando-as sob seus pés. -O poder da Pedra de Seidhr em troca de receber todo o mal que esta oferece. E a propósito, o motivo disso tudo está perto. Chega em quatro dias. -Falou calmamente. - Aguardo curiosa para ver como vai usar tudo que recebeu.

– Da forma mais sábia esteja certa. -Disse com os olhos faiscando- As linhas do destino já estão traçadas e eu vou achar a melhor maneira de desvendá-las e usá-las a meu favor.